quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

INSCRIÇÃO BEM BOLADA

A mando de LUIZ XIV construíram em Paris um CHAFARIZ em cuja base gravaram o seguinte pensamento atribuído ao poeta latinista JEAN DE SANTEUIL (1630-1697): "QUAE DAT AQUAS SAXO LATET HOSPITA NYMPHA SUB IMO SICUT, CUM DEDERIS, DONA LATERE VELIS". No século passado um jornal de Lisboa publicou essa inscrição traduzida para a língua portuguesa: " A NINFA ACOLHEDORA QUE DÁ ESTAS ÁGUAS ESTÁ ESCONDIDA NO MAIS PROFUNDO DESTA ROCHA, ASSIM COMO DEVES QUERER FICAREM OCULTAS AS DÁDIVAS QUANDO DERES". Em outras palavras: "Não deve saber a mão direita o que dá a mão esquerda". O referido jornal português publicou também a tradução francesa, de autoria de BOSQUILLON: "LA NYMPHE QUI DONNE CETTE EAU AU PLUS CREUX DU ROCHER SE CACHE; SUIVEZ CET EXEMPLE SI BEAU DONNEZ SANS VOULOIR QU`ON LE SACHE" ("Dominus Tecum", de Artur Bivar, Porto).

terça-feira, 29 de dezembro de 2009

"AOS HOMENS POR ELE AMADOS"

Comentando ainda o artigo de Carlos Heitor Cony na Folha de São Paulo de 27/12/09, esclareço que a justificativa que apresentei no blog anterior para a substituição das palavras "aos homens de boa vontade" pelas atuais "aos homens por Ele amados" no cântico dos anjos anunciando o nascimento de Jesus Cristo, eu a encontrei nas "Praelectiones Biblicae", vol.1, Novum Testamentum, da autoria dos redentoristas R.P.Hadriano Simón e R.P. Guglielmo G. Dourado, ano 1947, Itália, pág. 315, n. 226. Se tal substituição teve origem de natureza exegética ou machista ou até de natureza exegético-machista não sei dizer, pois me faltam meios de aprofundar a questão. Aproveitando a ocasião e corroborando em parte o pensamento de Cony, lembro que tanto no latim como em nossa língua, as palavras HOMO e HOMEM têm o sentido de "gênero humano", de "humanidade". Quando queremos especificar o ser humano de sexo masculino, temos em latim a palavra "vir" e em português a palavra "varão" ", (donde "varonil", "virilidade" etc.); quando queremos referir-nos ao ser humano de sexo feminino, usamos o termo "mulier"em latim e "mulher"em português. Reflita sobre estas palavras pronunciadas pela Igreja na quarta-feira de cinzas: "Memento, HOMO, quia pulvis es et in pulverem reverteris!" Embalados numa "onda de modernismo bobo", segundo expressào de Cony, os dirigentes do país, de uns quinze anos para cá, adoram dizer "brasileiros e brasileiras". Ah! como me soa muito mais enfaticamente e profundamente e inesquecivelmente a saudação de Getúlio Vargas dirigindo-se à nação no dia 19 de abril de cada ano, dia de seu aniversário natalício, naquele típico sotaque gauchesco: "BRASILEIROS!!!"

domingo, 27 de dezembro de 2009

" AOS HOMENS DE BOA VONTADE"

Na "FOLHA DE SÃO PAULO", de 27/12/09, na página A2, CARLOS HEITOR CONY, no artigo HOMENS E MULHERES, confessa: "não aprecio a mudança que a igreja introduziu no cântico "Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens de boa vontade", canto litúrgico este que refere a saudação dos anjos aos pastores de Belém, anunciando a Boa-Nova do nascimento de Cristo. Segundo me consta, houve, sim, uma alteração na interpretação do termo grego "eudoxias" constante daquele cântico (que era traduzido por: "de boa vontade") mas que, na atualidade liturgica, foi traduzido pela expressão "por ele amados. É que alguns autores referem a palavra "eudoxías" ("en antrópois eudoxias" = "aos homens por Ele amados") a DEUS ("eudoxías"= beneplácido divino), interpretando-a no sentido objetivo-universal (paz a todos os homens que JÁ não são filhos da ira, mas da graça, que Deus ama e acompanha com benevolência); mas ha outros autores que interpretam a palavra "eudoxías" num sentido subjetivo-restritivo (pax àqueles homens que são de boa vontade para com DEUS ("eudoxías"= aos homens DE BOA VONTADE" para com Deus).

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

SEGUIDORES MUI AMIGOS

FIEIS, SIMPÁTICOS, GENEROSOS, SOLIDÁRIOS, PATRIÓTICOS, PACIENTÍSSIMOS SEGUIDORES DESTE VELHO MINEIRO DA DIÁSPORA, aceitem meu abraço natalino e minha prece ao DEUS MENINO para que "LEVE O VELHO ANO OS DESENGANOS E O NOVO TRAGA ESPERANÇAS". JAIR BARROS.

N A T A L

Natal! Natal! Que alegria!
Que noite cheia de luz!
Em humilde estrebaria
Nasceu Menino Jesus!

Senhor de toda grandeza
A linda criancinha loura
Teve com muita pobreza
Como berço a manjedoura!

Todo luxo recusou,
Não quis pompas, não quis nada;
Ricos palácios trocou
Por humilde água-furtada.

Mas teve JESUS no entanto
Tesouro de mais valia:
O beijo mais puro e santo,
Doce beijo de MARIA!

Com a licença do VOVÔ FELÍCIO, aos netos Gael e Giovanna nesta Noite Feliz ofereço este poema ("ANEL DE VIDRO"por Vicente Guimarães, 1956, Rio de Janeiro).

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

A ESTREBARIA NA VISÃO DE PAPINI

Jesus nasceu numa estrebaria de verdade. Numa Estrebaria real que é a casa dos animais, a prisão dos animais que trabalham para os homens. Não o pórtico com pilastras e capiteis, não a cavalariça científica dos ricos ou a choupana elegante das vésperas de Natal. A Estrebaria são quatro paredes grosseiras, um lugarejo sujo e um teto de traves e de lastres. Escura, imunda e fétida. De limpo só tem a mangedoura onde o patrão prepara o feno e a alfaia. Esta a verdadeira Estrebaria onde Jesus viu a luz. Lugar o mais sujo do mundo foi o berço do único Homem puro entre os nascidos de mulher. Não foi por acaso que Ele nasceu numa Estrebaria. Não é o mundo uma imensa estrebaria onde os homens deglutem e defecam? Sobre a terra, pocilga efêmera para a qual não valem embelezamentos e perfumes, certa noite apareceu Jesus, nascido de uma Virgem sem mácula , e vinha armado só de inocência. Seus primeiros adoradores foram animais e não homens. E entre esses os simples,e entre os simples as crianças, e mais simples e mais dóceis do que as crianças os Animais domésticos, os asno, o boi... Até então reis e povos se haviam inclinado diante de Bois e de Asnos. Jesus, porém, não nascia para reinar sobre a terra nem para amar a Matéria. Com Ele acabará a adoração do Animal. Os brutos de Jerusalém hão de matá-lo, mas por enquanto os de Belém o aquecem com o seu hálito. Quando Jesus chegar para a última páscoa Ele montará um asno. Mas Ele que veio para salvar todos os Homens não retrocederá de seu caminho, ainda que todos os asnos de Jerusalém relinchem contra Ele!
Esta a Estrebaria na visão de Giovanni Papini em seu livro "HISTÖRIA DE CHRISTO", A. Tisi & Cia. - Editores - 1924 - São Paulo.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

VIRGÍLIO, DA ENEIDA, UM PROFETA?

VIRGÍLIO, célebre poeta latino, nascido em Mântua, Itália, no ano 71 antes de Cristo, é autor: das "BUCÓLICAS", obra mística, escrita em 42 antes de Cristo, e dedicada ao imperador Otávio pela promessa por este feita de não ser espoliado de sua propriedade em Mântua, depois da batalha de PHILLIPES no ano 41 antes de Cristo; das "GEÓRGICAS", obra filosófica e religiosa, fundada na ideia da luta do homem contra a natureza, escrita no ano 37 antes de Cristo; da "ENEIDA", 29 antes de Cristo, obra inacabada em 12 cantos, com base num tema supostamente nacional, narrando o combate de Eneias contra os gregos no cerco de Troia.
VIRGÍLIO, embora não cristão, pois morreu 19 anos antes de Jesus Cristo nascer, costuma ser lembrado nesta época natalina, porque no século XVI o padre português PEDRO ÂNGELO SPERA publicou a PAIXÃO DE N.S.JESUS CRISTO, escrita com versos extraídos das obras escritas por VIRGÍLIO e que começam justamente com os fatos ocorridos na época do nascimento de Jesus Cristo ("Dominus Tecum", escrito por Artur Bivar, edições ouro ltda., Porto):
"Ó TU QUE NASCESTE DO ETERNO PAI, ENQUANTO OS ASTROS TRAZIAM A NOITE; TU QUE NASCESTE AO MESMO TEMPO DE UMA VIRGEM DIVINA, A ÚNICA QUE DE TI FOI DIGNA; TU QUE COM A LEI ETERNA MODERAS O MAR, A TERRA E TODAS AS COISAS DOS HOMENS E DOS CELÍCOLAS, CONCEDE FÁCIL CAMINHO AO MEU CANTO E PROTEGE A MINHA AUDACIOSA EMPRESA DE MODO QUE ME SEJA LÍCITO FAZER CONHECIDOS OS TEUS GLORIOSOS FEITOS".
A vinda dos magos e adoração deles guiados por uma estrela:
"CONHECERAM VESTIDO DE CORPO O DEUS QUE DEU ÀS ESTRELAS O NÚMERO E O ESPLENDOR; ALGUNS PRÍNCIPES DO ORIENTE TRAZEM E OFERECEM DONATIVOS PRECIOSOS. A MÉDIA TRAZ PARA O REI A SUA MIRRA, OS SABEUS OS SEUS INCENSOS E O OURO OFERECE AQUELE QUE ESTÁ PRÓXIMO AO FARETRADO PERSA. E EM CLARO ESPLENDOR REFULGIU UMA ESTRELA COMO SE FOSSE FAROL CONDUTOR. E OS OLHOS QUANTO PODIAM COM A PRÓPRIA AGUDEZA A OBSERVARAM E TOMARAM O CAMINHO DE TERRAS REMOTAS.
Morte dos inocentes:
Ö CRUEL ÓDIO DE UM TIRANO TEME DE TUDO, AINDA DAS COISAS MAIS INOFENSIVAS; NEM SUA PERFÍDIA DIVULGADA POR TODO O ORBE PÔDE PERMANECER OCULTA, QUANDO UM INFAUSTO DIA VOLVEU EM HORRÍVEL MORTE INOCENTES QUE AINDA NÀO TINHAM CONSCIÊNCIA DA PRÓPRIA VIDA E ARRANCADOS DO SEIO MATERNO, CRUENTOS UNS NO MUITO SANGUE DOS OUTROS".
E tu, seguidor que leste, que comentário tens a respeito?

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

CIDADE MARAVILHOSA

Posso ou não poso afirmar que Saint-Exupérry, além de piloto e de poeta, é também um místico, um filósofo, um psicanalista, e a caminho até de um místico? Senão, leia o que ele escreveu para você em "Cidadela":" Acabo de escrever o meu poema. Resta-me corrigi-lo". Meu pai ficou zangado! " Acabaste de escrever teu poema e depois disto o corrigirás! Pergunto-te eu: escrever o poema não é o mesmo que corrigi-lo? Que é esculpir, modelar a argila senão corrigir a argila? Por isso digo: de correção em correção sai o rosto, e a primeira dedada já era correção ao bloco de argila! Escuta: quando eu construo, levanto uma cidade, outra coisa não faço senão corrigir o terreno, a areia. Em seguida continuo a corrigir a minha cidade. E é assim que, de correção em correção, vai-se armando a minha cidade e EU CAMINHO PARA DEUS!" Deus começou e eu o vou substituindo, cidadão que sou, no soerguimento dessa cidade. Por isso é que de repente ouço a me sussurrar o poeta beneditino, tradutor do "PEQUENO PRÍNCIPE", Dom Marcos Barbosa: 'VARREDOR QUE VARRES A RUA TU VARRES O REINO DE DEUS!" Sim, todo cidadão é responsavel pela conservação e progresso da cidade que lhe põe à disposição os meios de sobrevivência. E você, Carioca, privilegiado habitante desta joia engastada na sombra do Cristo Redentor, internacionalmente admirada e não sem razão batizada de CIDADE MARAVILHOSA, cheia de encantos mil, jardim florido de amor e saudade, ninho de sonho e de luz, coração do meu Brasil!", não se esqueça de quem a fez, de quem assim lhe assentou as bases, do criador de sua moldura, de sua topografia, enfim de seus encantamentos mil! A resposta está plantada no pico do Corcovado! Foi Deus! Por isso é que nosso filósofo pontificou que, enquanto nossa cidade progride, EU CAMINHO PARA DEUS, e eu completo: EU VOLTO PARA DEUS. Conservá-la, porém, transmiti-la como o criador no-la confiou e com as correções necessárias aos nossos filhos e netos exige-se que haja o HOMEM e que este HOMEM ponha as mãos responsáveis na massa. Ha dias nosso prefeito deu uma de Moisés. Ergueu o seu diploma de alcaide desta maravilha de natureza, por Deus a nós legada, e soltou o verbo do cimo da Pedra da Gávea: "Tão logo amanheça o mais radiante sábado deste mês, muito vos assustará o seu "lendemain"! A COMLURB não vai acordar. As nossas praias disputarão com o lixo por nós ali abandonado, espalhado, cada centímetro de areia visível. Então, quem sabe, despertará em cada um de nós o HOMEM (o ser humano, isto é, o "vir", o macho, e a "mulier", isto é, a "femina"). A cidade nos foi dada, cabe a nós, ao HOMEM, cultivá-la, corrigi-la. Acompanhe de novo o nosso piloto e filósofo e místico: "Lembrei-me de que meu pai tinha dito: para construir a laranjeira, sirvo-me de adubos e de estrume e de enxadas na terra. Pouco depois surgem os ramos, e a árvore sobe, pronta para receber flores. E eu, o jardineiro, revolvo a terra sem me preocupar com as flores nem com a felicidade. Para que haja uma árvore florida é preciso haver antes uma árvore, e para haver um homem feliz é preciso haver em primeiro lugar um HOMEM. Ó cidadela! eu bem te construí, diz o Senhor, como um navio. Preguei-te, aparelhei-te e depois te abandonei ao tempo, que afinal não passa de um vento favorável. Navio dos HOMENS sem o qual eles não acertariam com a ETERNIDADE. Não ignoro as ameaças que pesam sobre o meu navio, sempre atormentado pelo mar escuro lá de fora. E pelas outras possíveis imagens, como por exemplo, a ingratidão , a desfaçatez, a preguiça, a negligência, a estupidez, a bestialidade, a maldade, a ignorância vencível ou invencível, a cegueira moral, a falta do senso de solidariedade, de respeito à natureza, enfim, a eficiente e consciente e indispensável colaboração do ser humano a quem a natureza confiou a tarefa de sem quebra de continuidade ser o CAMINHO DE DEUS PARA DEUS. "VARREDOR QUE VARRES A RUA, TU VARRES O REINO DE DEUS"!

domingo, 29 de novembro de 2009

C I D A D E L A

Neste livro "CITADELLE" Zepérry como que se esqueceu de ser apenas um piloto, ele quis ser mais e se tornou um filósofo, um místico, um teólogo quase. Abro a esmo o capítulo LXIX e aceite como tema de meditação neste início de um ano que agoniza. Mais uma vez me vem à cabeça a ideia, a imagem de um tempo que suponho que terei ganho! Ganhei? Mas em nome, em favor de que? Em favor de sua cultura! Como se cultura se adquirisse por meio de um exercício vazio, se é que isto existe! isto é, sem esforço. Pense-se numa mulher que dá de mamar aos filhos. Que limpa a casa e cose a roupa. Um dia, resolvem libertá-la dessas servidões. Sem ela se preocupar mais com tais afazeres, como por encanto os filhos são alimentados. A casa é varrida. A roupa é cosida. Muito bem! Agora trata-se de lhe encher esse tempo supostamente ganho. Invento um canto de amamentação e lhe faço ouvir. A amamentação transforma-se em cântico e poema da casa. E a mãe sente a casa no coração! Acontece, porém, que a música, a recitação do poema a faz bocejar, por quê? Porque faltou a participação dela. Ao lhe falarem de "casa", nada conseguem despertar nela, pois sua casa não foi construída com seu tempo nem com seu fervor! Ela não saboreou o vai-e-vem da poeira ao abrir a porta ao sol, para expulsar o pó juntado pelo desgaste das coisas. Nunca teve um reinado sobre a desordem que gera a vida ao cair da tarde: a marca dos calçados dos amigos, as xícaras servidas dentro das bandejas, as brasas extintas na lareira ou no fogão, as fraldas sujas do filhinho adormecido. A vida é, sim, humilde por isto maravilhosa! Ela não se levantou cedinho para reconstruir cada dia uma nova casa ou casa nova, como fazem os passarinhos manhãzinha pousados nas árvores refazendo os bicos e lustrando as asas, não dispôs os móveis numa embora frágil disposição. Ela se esqueceu de que sua casa é uma massa, uma cera flácida, ao amanhecer e ao entardecer não passará de um álbum de recordações.

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

NULLA DIES SINE LINEA

O Dicionário "LAROUSSE" nos ensina que estas palavras foram aplicadas ao pintor grego APELES, que viveu na corte de Alexandre Magno, século IV A.C., pelo naturalista romano PLÍNIO "O ANTIGO", autor de uma HISTÓRIA NATURAL em 30 volumes (0 Colégio do Caraça tem um desses livros, editado em 1489). Se você esqueceu, recorde-se de que APELES foi aquele pintor que um dia ouviu um sapateiro pôr um defeito na sandália de um personagem que pintara. Sem perda de tempo, corrigiu o defeito. No dia seguinte, o mesmo sapateiro passou a estender suas críticas a outras partes do quadro. De um pulo, APELES deixou seu ateliê e lhe disse: "Sapateiro, não vá além dos sapatos! Ne sutor supra crepidam!" Privando-me hoje a canícula da coragem para pensar, e me censurando a consciência pela preguiça de escrever alguma coisa, valeu-me aquele "nulla dies sine linea" que tão bem PLÍNIO "O ANTIGO" aplicou a APELES que não deixava passar um dia sequer sem traçar uma linha, isto é, sem pintar. Assim sendo, a FOLHA DE SÃO PAULO, de 26/11/09, informa que por muito tempo NELSON FORTUNATO pelo alto-falante da rádio-comunitária de Nova Europa anunciava as mortes ocorridas no lugar. Anteontem, porém, sua voz foi ao ar para dar conhecimento ao povo da própria morte, da seguinte maneira: Ëstou anunciando o meu falecimento. Falecimento de Nelson Fortunato. Como foi gravado com antecedência, não tem a hora do enterro, mas o mais importante é que todos saibam que morri!" Que admirável "fair play! Outra coisa: num dos escritos passados, escapou-me um "lapsus calami". Falei, de determinado objeto, que era "insipido, inodoro e sem sabor". Apague o "sem sabor"pois sem sabor é o mesmo que insípido. Eu queria dizer, mas não escrevi, incolor! Também escrevi "atoa", falando de Paulo Setúbal. Mas o dicionário Houaiss escreve à-toa". Quando aluno no Caraça, um colega resolveu ler o dicionário Séguier. E gostou da palavra canícula. No primeiro exercicio de redação que tivemos ele usou o vocábulo! Só não ganhou o apelido de canícula, porque era palavra feminina! CANICULA; período do ano em que Canicula ( tb dita Sírio) se encontra em conjunção com o Sol. Por extensão: calor muito forte. Última notícia: Em 1863 Abraham Lincoln estabaleceu a data do Dia de Ação de Graças na quarta quinta-feira de outubro. E em 1941, em plena guerra, Roosevelt transformou a data em feriado nacional, depois de já ter mudado o feriado para a última quinta-feira de novembro. E amanhã é dia de Nossa Senhora das Graças ou da MEDALHA MILAGROSA. E faz 63 anos que, terminado o curso de humanidades no Caraça, deixei o Santuário do Irmão Lourenço (1941-1946).

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

S I N O S D E N A T A L

TATUÍ, Estado de São Paulo, 25/12/1936. Terminada a "Missa do Galo", a família reuniu-se em volta do presépio. E distribuíram-se os presentes. Mas a filha pequena, 12 anos, não pedira ao pai presente de natal. Que entretanto lhe deu uma bomboneira pequenina, de louça barata. A garota desatou alegre a fita cor-de-rosa, lentamente abriu a caixinha, topando encantada com a prenda. Em vez de bombons, porém, encontrou dentro um punhadinho de cinzas. Atinando de imediato com o caso, abraçou-se com o pai que emocionado lhe disse: "Não foi este o presente de natal que você pediu?""Sim, papai, foi este!" Em 1943, aluno do segundo ano no Colégio do Caraça, foi nosso competente professor de história pátria o Padre Francisco Guerra. Conquistou logo de início nossa atenção e interesse pela matéria lecionada, reservando a parte final das aulas para, encantamento de nossa imaginação adolescente, a leitura de páginas referentes aos assuntos estudados. A novidade era que seu autor sabia com "engenho e arte" romancear fatos históricos importantes, daí os títulos de algumas de suas obras: "Maurício de Nassau", "Alma cabocla", "A Os Irmãos Leme", "Bandeira de Fernão Dias", etc. Tal foi nossa admiração por esses livros que se tornou preocupação nossa imitar o estilo solto, diáfano, saltitante do ilustre "imortal" paulistano. Fazia na época uns quatro anos do falecimento do romancista que, "como uma de suas derradeiras despedidas...pede a táboa sobre a qual , sentado, costumava escrever, táboa chã, mas que recebera as confidências de sua pena"("Confiteor"). Três meses antes daquela noite natalina, em outubro de 1936, regressando da igreja, foi ao quarto de sua filha de 12 anos saber como passara a noite. A pequenina estava adoentada. "Papai, eu queria pedir um favor para Papai! Eu queria que Papai rasgasse aquele livro que Papai está escrevendo!" "Por que esse pedido, filha? Por que quer que eu rasgue o meu livro? "Não sei. Há uma coisa aqui dentro que me pede, desde ontem, que Papai não deve publicar aquele livro. E quero tanto que vou propor um negócio para Papai. Papai me dá todos os anos um presente de natal, é o presente que eu mais gosto na minha vida. Neste ano, Papai vai fazer o que eu pedi: rasgar o livro". O livro que se chamaria "O Filho" já estava quase a caminho da editora, apesar dos protestos da esposa que lhe datilografara os originais e lhe condenara o conteúdo bastante pornográfico para a mentalidade da época. "Basta, minha filha, basta! Você ganhou o seu presente de natal". ",E os dois ali no quarto picamos em mil pedaços as trezentas páginas do livro. Logo a seguir, no canto do meu quintal, uma pequena fogueira devorava o montezinho de papeis rasgados. Eu vi, com júbilo, a labareda subir das laudas em tiras. A chama que rompia alegremente do calhamaço como que atiçava um fogareu de contentamento no meu coração. Na minha felicidade, sem que ninguém reparasse, guardei comigo um punhadozinho daquela cinza"("Confiteor"). 26 de dezembro de 1936."Natal bucólico, transcorrido em pleno campo, nesta arredada e quieta chácara em que vivo ( o autor já estava bastante doente). Tudo tão íntimo, aconchegado, lindo. Até a árvore pareceu-me mais bonita que a dos outros anos. E tinha bugigangas como nunca teve. E enfeites de ouro. Lanterninhas e bolas. E laçarotes de toda cor. Uma festa. As crianças receberam o presente que pediram. Só a pequerrucha de 12 anos não pedira presente de natal. Mas o Papai lhe deu uma bomboneira de louça barata, cousa atoa. Encontrou lá dentro, com surpresa, um desenxabido punhado de cinza. Compreendeu imediatamente. Olhou-me com um olhar fulgurante. Olhar em que fuzilava chispa a mais eloquente. Acercou-se apenas de mim, beijou-me e, trêmula, abraçou-me com um abraço apertado. Eu lhe disse a meia voz: Foi este o presente de natal que você pediu, não foi, minha filha? Foi, Papai! E abraçou-me de novo" ("Confiteor"). Dois livros o imortal "PAULO SETÚBAL não viu impressos: "O FILHO", que ajudou a rasgar e queimou, e "CONFITEOR", obra póstuma, cujo derradeiro capítulo traz a marca sábia, santa e elegante do filósofo Padre Leonel Franca (1893-1948), jesuíta, um dos fundadores da PUC do Rio de Janeiro e seu primeiro reitor.

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

A PULSEIRA DO ZEPÉRRY

A gratificante surpresa que tive, quando, há um mês, visitei com o neto Gael a exposição do "PEQUENO PRÍNCIPE" na OCA em São Paulo, foi dar de cara, de repente, com a PULSEIRA usada por SAINT-EXUPÉRRY ao ser metralhado pelos aviões nazistas. Notícia do fato eu já tivera, bem como já ouvira de meu irmão Plínio que em Santa Catarina existia uma aldeia chamada ZEPERRY, alcunha bem brasileiramente derivada do nome do aviador-poeta que por aquelas bandas gostava de fazer uma parada. Mas tocar com os olhos a PULSEIRA, presente da esposa, e por 58 anos guardada no fundo do mar e hoje em solo brasileiro, causava-me uma sensação semelhante a que me possuiu, quando, do alto de uma montanha de Petrópolis, vislumbrei, primeira vez, a Cidade Maravilhosa e seus esparramados mares. Dias depois, indo meu filho a Paris, a trabalho, pedi- lhe me encontrasse o livro mais recentemente publicado sobre Saint-Exupérry. E me trouxe o "ST-EXUPÉRRY L`ULTIME SECRET", de Jacques Pradel e Luc Vanrell. Estes escritores narram uma história parecida com outra ocorrida no Brasil no século XVIII. Ordenou-se lançassem no rio Paraíba uma rede a fim de se recolher o alimento para o almoço do conde de Assumar. Mas as águas estavam em greve. Depois de algumas tentativas infrutíferas, já sabemos o que trouxe a rede: a imagem tisnada de Nossa Senhora Aparecida, padroeira hoje de nossa pátria. Na França era uma segunda-feira, 7 de setembro de 1998, onze anos atrás. Do oeste do porto de Marselha, o "L`Horizon" parte em direção do arquipélago de Riou. Após hora e meia de mar, o barco de pesca é colocado em ponto morto. Na cozinha de bordo, enquanto se pragueja contra o mau tempo, sorve-se um café quente, dirigindo-se o "L`HORIZON"para Considaigne onde a rede será levantada. Ativa-se o sarrilho. Esvazia-se a carga dos peixes e dos detritos: pneus, garrafas pedaços de metais, sobre o convés. Regressando-se ao porto, rejeitam-se as pequenas presas, armazenando-se os peixes em tinas. Habib, um dos dois pescadores, apanha uma concreção enegrecida. Ao tentar devolvê-la ao mar, um ponto brilhante lhe chama a atenção. Coloca o objeto no torno, quebra a ganga, exala-se um odor nauseabundo. Surge um bracelete quebrado, com uma placa de identificação enegrecida, de prata, parece. O outro pescador, Jean- Claude, pergunta: "Tudo bem aí atrás?" " Olhe o que achei", responde Habib. Minutos depois, na cozinha de bordo, raspada e lavada, a placa revela um prenome: Antônio. Jean-Claude dá uma gargalhada: "Sem dúvida algum pescador do lugar. Os Antônio sempre perdem tudo. É seu segundo prenome como o do seu falecido avô. Mas Santo Antônio de Pádua é também quem tudo encontra, por menos rezas que se lhe dirigem". Súbito, aparece o nome por inteiro: ANTOINE DE SAINT-EXUPÉRRY. Lê-se a seguir CONSUELO, o prenome da esposa do escritor, seguido da menção:C/O REYNAL AND HITCHCOCK INS. 386 4TH AVE. N.Y.C.U.S.A. Primeiro desejo de Jean-Claude: oferecer essa joia a seu neto para ele guardar uma particular recordação de seu avô. A avó, porém, aconselha entrar primeiro em contato com alguém que conheça a história de Saint-Exupérry.

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

CAMPOS SALLES = SÃO VICENTE DE PAULO

CÂMARA MUNICIPAL DO RIO DE JANEIRO _ O presidente desta edilidade, por iniciativa do vereador REIMONT, convida para a Solenidade em Comemoração ao Centenário da ESCOLA MUNICIPAL CAMPOS SALLES, primeira escola de Educação Infantil do Rio de Janeiro, e ao cinquentenário do COLÉGIO SÃO VICENTE DE PAULO, Rua Cosme Velho, a realizar-se no dia 16 de novembro de 2009, à 10 horas, no Palácio Pedro Ernesto, na Cinelândia. Arredio pela idade e por temperamento a esse tipo de congraçamento, atendi ao gentil convite intermediado pelo Padre Lauro Palú, diretor do São Vicente, não esquecido, ademais, de que quase três anos de minha vida passada eu bliquitara naquele estabelecimento, "noblesse", portanto, "m`obligeait" sem dúvida. O salão (Plenário Teotônio Villela) fervilhando de uma centena de crianças e adolescemtes do Colégio São Vicente e da Escola Municipal Campos Salles, contagiando com suas posturas irrequietas e famosa alegria carioca a turba numerosa de professores e professoras e familiares destes e de alunos, muitos dos quais se contentavam em assistir a tudo de pé. Foi um espetáculo à altura de uma coletividade civilizada, que preza a escola, que valoriza os mestres. O pronunciamento do vereador Reimont, pela sua atualidade didática, pelos conceitos sobre educação à Padre Paiva, à Marçal, à Almeida e, sem bajulação, à Lauro Palú, sem me esquecer do senador Cristovam Buarque, constituiu a chave de ouro de abertura do inesquecível encontro. Muito feliz o diretor do São Vicente abrindo as páginas dos feitos da comunidade do colégio seguindo as pegadas do Grande Santo do Grande Século, Vicente de Paulo, narrando no tom singelo de quem nada parece transmitir de extraordinário, causou profunda impressão benéfica no coração da diretora da Escola Municipal Campos Salles. Que não se contendo de emoção, confessou-se encantada com o belo trabalho apostólico exercido pelo Colégio São Vicente de Paulo. Angelical o coral mirim da Escola Campos Salles! Lamentei não ter podido meu filho, José Eduardo, participar comigo da homenagem aos 50 anos do colégio donde, com seu irmão Luiz Augusto, saiu preparado para ambos se formarem na PUC. José Eduardo teria se emocionado bastante ouvindo as peças executadas pelo coral de sua escola, ainda e felizmente sob a batuta de Patrícia! Parabéns à Escola Municipal Campos Salles detentora, a julgar-se pela juventude de seus membros dirigentes, de um promissor potencial de crescente prosperidade! Parabéns ao Colégio São Vicente de Paulo que, aos bem vividos 50 anos, já adquiriu a simpatia da família carioca pela silenciosa missão formadora de agentes de transformação social.

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

COMLURB + LIGHT

Registre-se esta data: 12-13 de novembro de 2009. Porquê? Porque a PRAÇA RADIAL SUL, no final da Rua Eduardo Guinle, em Botafogo, Rio, viveu nessa data dias históricos. Mas antes um pequeno preâmbulo. A Praça Radial Sul, timidamente escondida numa curva tão perigosa que mal dá ao motorista que a contorne o prazer de um volver de cabeça para lhe fotografar a cara e memorizá-la, não fora batizada sem razão com o nome que tinha (ou que ainda tem!): "Radial Sul. Esse nome lhe fora cravado, porque, há uns 40 anos atrás, estava nos planos da administração da época de, ligando a Praia de Botafogo ao Jardim Botânico, construir ao pé do morro do Corcovado, paralelamente à Rua São Clemente, uma extensa e moderna avenida, a que se daria o nome de RADIAL SUL, a fim de se descongestionar o trânsito da referida artéria São Clemente. O plano gorou e foi substituído pela abertura do Túnel Rebouças. Como recordação aquela pracinha que lhe ficaria à margem reteve a denominação insossa, inodora e sem sabor de Radial Sul. Sem a denominação de uma pessoa ou de algum acontecimento histórico que a caracterizasse ou personalizasse, tornou-se a Praça Radial Sul, naturalmente, uma presa fácil a qualquer candidato a uma função eletiva que, na ânsia de mais alguns votinhos na urna, prometesse trocar-lhe o nome pelo de alguma personalidade influente nos entornos, caso chegasse a ser eleito. Assim, no início deste século uma vereadora, conseguindo dentro dos trâmites legais a substituição do nome corrente da praça pelo nome do ex-vereador e deputado federal (duas vezes) e senador e jornalista MARIO MARTINS, presidiu a inauguração de uma placa que lá ainda se encontra, bastante mal tratada, com a nova denominação: PRAÇA MARIO MARTINS. Na placa gravou-se o seguinte pensamento do homenageado: "Todo inimigo dos meus filhos é meu inimigo". Mas vejam como até no Rio as máquinas administrativas, por vezes, giram, funcionam, numa supina e lamentável ignorância da existência de outras que com elas estreitamente se relacionam. Na minha típica ingenuidade mineira. solicitei um dia à gerência de uma revista que substituisse meu antigo endereço (Praça Radial Sul) pelo recém instituído (Mario Martins). Não recebendo mais a revista, reclamei. E veio logo a resposta: "O nome da avenida indicado por V.S. não consta da lista de endereços de logradouros da cidade". Pior: o Senhor Laje, que mantém um comércio de flores ao lado da pracinha, revelou-me hoje que foi há pouco tempo informado de que o nome agora da praça é Praça João Fortes! Terminado o preâmbulo, repito: registre-se a data: 12-13 de novembro de 2009. Foi nessa data, mediante a intervenção da COMLURB, podando galhos das árvores da Praça Radial Sul, que finalmente, depois de quase seis meses acesas dia e noite cerca de uma dúzia de lâmpadas ganharam o direito de descansarem DO NASCER AO PÔR DO SOL.

terça-feira, 10 de novembro de 2009

LIÇÃO DO PEQUENO PEDESTRE"

Embora nascido em 1938, "O  PEQUENO  PEDESTRE" ainda é um mestre muito atual. Seu autor, VICENTE  GUIMARÃES, dirigindo naquela época em Belo Horizonte um Suplemento Infantil, adquiriu algumas centenas de fãs  mirins. Entusiasmado, fundou a revista "CARETINHA"que, remetida a seu sobrinho JOÃO  GUIMARÃES ROSA, dele mereceu um valioso empurrão: "Tive boa impressão da revista e penso que o filão está sendo bem trabalhado...preencherá brilhantemente  as suas finalidades, e, mais do que isso, evidencia sua capacidade de escritor, especialmente no difícil caminho da literatura para crianças. Parabéns".  Estimulado, VICENTE  GUIMARÃES escreveu e publicou 71 anos atrás  "O  PEQUENO  PEDESTRE", o que o habilitou a ser enviado ao Rio de Janeiro em 1939 para participar da "Semana do Trânsito"como representante do prefeito de Belo Horizonte, Juscelino Kubitscheck. Antes disto, porém, promoveu  entre as crianças um concurso para saber que nome elas gostariam de escolher para ele que tantas histórias lhes contava. Por unanimidade cravaram no voto a palavra "VOVÔ". O "FELÍCIO" nasceu de uma carta que recebera de uma das crianças que havia perdido o avô chamado "FELÍCIO". Assim nascido e registrado nos corações da infância mineira,  o VOVÔ  FELICIO quis ensinar seus netinhos as principais regras  para andarem nas ruas com bastante atenção e segurança. Foi esta a missão do livro que publicou em 1938:  "O  PEQUENO  PEDESTRE". Uma lição entre outras muitas nele contidas diz o seguinte: "UM  PEDESTRE INTELIGENTE  TEM  SEMPRE CALMA  E  ATENÇÃO, ANDA  OLHANDO  PARA A  FRENTE  E  JAMAIS VAI  CONTRAMÃO", ilustrando com um sugestivo desenho a confusão causada no passeio de uma rua entupida de pedestres indo e vindo sem atenderem ao mais racional princípio que devem seguir as pessoas que andam nas ruas de nossas cidades maiores. Daí: "SE,  NA  RUA  TODA  GENTE  DESOBEDECESSE A  MÃO,  TERÍAMOS  CERTAMENTE  ESTA  HORRÍVEL  CONFUSÃO". Infelizmente não existe  um código de trânsito de pedestres. E no entanto há mais de 70 anos atrás, VOVÔ FELÍCIO já havia contribuído - e quanto! -  para a diminuição do estresse dos transeuntes nos passeios e calçadas de nossas megalópoles brasileiras. Claro que essa regra de ouro consta de nosso Código de Trânsito Brasileiro: "Art 29. O trânsito de veículos nas vias terrestres abertas à circulação obedecerá às seguintes regras: I - a circulação far-se-á PELO LADO DIREITO DA VIA, admitindo-se as exceções devidamente sinalizadas." PELO  LADO  DIREITO  DA  VIA! Se você, pequeno pedestre, não entender bem o que significa isto, recorra aos seu vovô que se sentirá muito feliz de lhe explicar! Talvez já naqueles idos se dava mais valor aos carros do que aos pedestres pequenos e grandes! "Mutatis mutandis", o princípio do Código de Trânsito vale igualmente para os que andam nos passeios ou calçadas das nossas ruas. E quem diz que é isso o que acontece? Procure cada um de nós caminhar pelos passeios da Avenida Rio Branco, por exemplo! Quase sempre o recurso é sair ziguezagueando que nem uma barata tonta, porque saber andar na mão e não andar na contramão em passeios e calçadas das ruas, qual a criança de hoje que ouviu falar ou que tenha lido isso nalgum manual de boas maneiras ou de instrução cívica? Para finalizar este assunto, confesso orgulhoso que, além de "O  PEQUENO  PEDESTRE", acompanha-me um livro, editado em 1919 pela Livraria Francisco Alves, Rua do Ouvidor 160, Rio de Janeiro, vigésima segunda edição, intitulado "LEITURA  MANUSCRIPTA", LIÇÕES  COLIGIDAS  POR  B.P.R., aprovado  e adoptado pelo Governo para as Escolas Publicas do Estado, com 126 páginas, reproduzindo textos MANUSCRIPTOS de vários autores com as respectivas maneiras de grafar as letras dos vocábulos e nos ensinando que "devemos escrever correctamente, com estylo, com elegancia... e com calligraphia". Uma hora por semana  os alunos deviam empregar na leitura oral do texto de algum autor, para aprenderem não apenas a escrever corretamente, com estilo, com elegância... mas também para se exercitarem no esforço de decifrarem o conteúdo das palavras escritas, por exemplo, numa receita fornecida por um médico! E ESPECIALMENTE  COM  CALLIGRAPHIA! "A calligraphia é um bom dote no homem, não é por certo o mais precioso, entretanto merece bem que não seja desprezado"("Leitura Manuscripta", pag. 10).   

domingo, 8 de novembro de 2009

O PEQUENO PRÍNCIPE NA OCA

Parque do Ibirapuera - Pavilhão Lucas Nogueira Garcez - OCA - São Paulo. No dia 4 de novembro próximo passado, às 10 da manhã, esquecidos da tranquilidade da avenida Higienópolis, penetramos no portão 03 da av. Pedro Alvarez Cabral, s/n. Munidos dos devidos passaportes, meu filho LUIZ AUGUSTO e ESPOSA MARIANA, e este octogenário, que tudo daria para não perder essa viagem de mágico encantamento, apertamos logo o passo para podermos acompanhar o neto GAEL que não cabia em si de ansiedade para descobrir e ver a encantadora história que mal começava no interior daquele monumental museu paulistano.  Ele, o neto GAEL,  já conhecia de vista noturna e de vista diurna o perfil do personagem que começava a visitar: ANTOINE DE SAINT-EXUPÉRY.  De vista noturna, sim, porque não admitia dormir sem a fronha e o lençol com os mágicos desenhos do poeta-pintor-aviador, presente de aniversário da avó paterna LÉA  MARIA . De vista diurna também, porque de segunda a sexta, sozinho fazia questão de atravessar quase marchando ou apostando corrida com algum coleguinha o longo corredor do colégio, onde estudava,  até desaparecer na entrada da sala  da Tia Renata.  Mas  -  e  eis o pormenor  -  sempre dependurada  nas costas a mochila do PEQUENO  PRÍNCIPE  bem visível, vestido de amarelo, pairando no ar e arrastado  por um cordame puxado por onze pássaros com a seguinte explicação: "Je crois qu`il profita, pour son évasion, d`une migration d`oiseaux sauvages". Com a mais infantil simplicidade e com a mais acurada perfeição os organizadores da exposição souberam atingir as mais profundas e delicadas linhas do encantamento e da curiosidade das crianças pequenas e grandes que no sonho vivido naquele museu estão lendo, mais com a imaginação e com a sensibilidade do que com os olhos, cada uma das páginas do livro " O  PEQUENO  PRÍNCIPE", escrito pelo poeta- aviador ANTOINE DE SAINT-EXUPÉRY.  Uma quase "fábula lírica e profunda, com um dos mais amados personagens de ficção, o principezinho, que vem de um planeta distante para ensinar os homens a viver de verdade".  Eis o conselho apontado pelo folheto recebido pelo visitante ao adentrar nesse mundo encantado: "Vamos descobrir essa história  como quem entra numa fábula. Deixe-se levar, com a alma em liberdade, como se o país da infância  nunca pudesse se afastar de você. Se você é uma criança, lembre-se do que acha importante hoje. Guarde esses valores intactos para quando for uma pessoa grande. Se você já é uma pessoa grande, deixe fluir a criança que existe dentro de você". De minha parte, um conselho não pedido, nem querendo eu ser intrometido embora já o  sendo:  podendo, vá visitar a exposição! E guarde com a máxima fidelidade as paisagens gravadas em suas cordas sentimentais as mais humanas, para que, se as percorrerdes um dia e se, à vista de uma delas, uma estrela no céu lhe chamar fortemente a curiosidade, não prossiga, detenha-se sob sua luminosidade. E se uma criança se aproximar de você, se sorrir, se tiver cabelos de ouro, se interrogada nada lhe responder, você já sabe quem ela é! Então seja gentil! Não me deixe continuar mergulhado em tamanha tristeza: escreva-me depressa que ela voltou! (Fecho do livro "O PEQUENO  PRÍNCIPE").   

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Com a devida permissão

Autorizou-me o amigo Vicente Guimarães Júnior, filho do VOVÔ  FELÍCIO, autor do "PEQUENO  PEDESTRE", a transcrever aqui alguns tópicos de uma conferência que pronunciou em Belo Horizonte, no dia 30 de junho de 2007.  Tratava-se de uma homenagem ao primo e padrinho JOÃO  GUIMARÃES  ROSA,  cujo centenário de nascimento, em Cordisburgo, se comemoraria no dia 27/06/08.  No seu pronunciamento o conferencista, voltando-se ao início dos anos 60, quando da visita do "imortal" a seus pais no Rio de Janeiro, revelou aos seus ouvintes o que naquela ocasião ouvira do importante escritor mineiro: "Se a morte é o que há de mais certo no nosso futuro, por que não nos organizamos para o inexorável? Eu treino para morrer. Deito-me às vezes bem tranquilo em ambiente escuro e silencioso, concentro-me no pensamento de que estou perdendo as forças, que não posso mover-me, aos poucos a vida se esvai. Já quase não enxergo, a respiração falha". A aparente morbidez da conversa não me levava a querer mudar de assunto, ou sair da sala, e em vez disto minha atenção e interesse aumentavam. A frase do Joãozito  (nome com que tratavam em família o famoso escritor) "Tenho saudade do ceu!" me ficou gravada de maneira literal e indelével e me pareceu poesia pura, de um bom gosto e profundidade que não mais esqueci. Tudo isto  reapareceu com intensidade em minha memória, quando Joãozito, muito tempo depois,  após ser eleito  para a Academia Brasileira de Letras,  adiou por vários anos sua posse por temor (eu estava certo?) de que poderia falecer. O que realmente  aconteceu: poucos dias, menos de uma semana depois da posse, veio a morrer de repente, confirmando sua própria profecia. Não sei  como foram seus últimos momentos de vida, mas suspeito que não tenha sido possível colocar em prática o treinamento descrito.  
"Eleito em agosto de 1963 para a ABL, João Guimarães Rosa tomou posse  a 16 de novembro de 1967 como sucessor de João Neves da Fontoura na cadeira número 2 de que é patrono Álvares de Azevedo, tendo  então pronunciado um discurso em que afirmava que "as pessoas não morrem, ficam ENCANTADAS. Durante a solenidade manifestou os primeiros sinais do enfarte que três dias depois lhe tiraria a vida" (Dicionário Biográfico de Minas Gerais, volume 2, pág. 598). Quero crer que pela expressão "ficam encantadas" João Guimarães Rosa admitia a vida eterna e a ressurreição dos "que dormem".  As frases "DORMEM EM PAZ" e "A DOR É BREVE MAS A ALEGRIA É ETERNA", gravadas respectivamente nos túmulos de TRISTÃO DE ATHAYDE e de LYSANDRA DE ANDRADE, ex-aluno do Caraça, muito bem caracterizam o espírito cristão e católico dessas pessoas.

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

cemitério - campo santo

Se você crê, como reza no Credo: creio na Comunhão dos Santos, na RESSURREIÇÃO DA CARNE, na VIDA ETERNA, você está afirmando que o fato conhecido como MORTE, falecimento, não pode ser um 'FINAR" (consumir-se, perder as forças, morrer, falecer). Você está, sim, coerentemente com a fé que professa, confessando que a alma se separou do corpo. Que este vai voltar a ser o que era, como você ouviu recebendo as cinzas na testa na quarta-feira de cinzas: "Lembra-te que és pó e ao pó te tornarás". Que a alma, um perfeito espírito, que deixou de animar, de informar o corpo, não "fina", isto é, não morre, não falece, mas continua a viver, a levar o gênero de vida que mereceu, que conquistou com a graça de Deus. Se houve apenas uma separação provisória das duas realidades: alma e corpo, com sua licença o termo FINADOS não me parece legal. Pois você rezou no credo que crê na RESSURREIÇÃO DA CARNE, isto é, que um dia alma e corpo transfigurado de novo se unirão. Além disto, o termo NECRÓPOLIS (de necrós"=morto e pólis=cidade) também eu poria a escanteio. E finalmente eu continuaria, "ad usum delphini", a denominar de "cemitério" esse espaço de terra onde guardamos os corpos dos nossos que se foram desta para a outra vida. Aprecio também a expressão "campo santo" de conteúdo bastante conforme ao que Jesus Cristo nos deixou nos Evangelhos. Dizendo alguém certa vez ao chefe da sinagoga que a filha dele tinha morrido, Cristo imediatamente lhe disse: "Não temas, crê somente. Ela não MORREU, está DORMINDO! E disse à criança: "Levanta-te!" Ela ficou de pé e Cristo ordenou lhe dessem de comer (Lucas, 20, 27). Doutra feita, as irmãs Marta e Maria procuraram aflitas o Mestre, dizendo que seu irmão Lázaro havia morrido e cheirava mal. Jesus lhes disse que, nada disto, que ele DORMIA e que iria DESPERTÁ-LO, como o fez: "Lázaro, vem para fora! Desatai-o e deixai-o ir embora!" (João, 11, 1 a 43). Como o "DIA DAS MÃES" devia ser cada um dos dias de nossa existência, assim o dia 2 de novembro deveria também ser objeto de nossa atenção cristã cotidianamente. Breve nos juntaremos aos que nos deixaram. Por que os abandonamos esquecidos no túmulo, embora em parte apenas ali presentes, o corpo ou só os ossos depois, sem pensarmos que aquele corpo vai ressuscitar um dia, transfigurado e unido à respectiva alma, o que acontecerá também com cada um de nós, não lembrados nós dos tão numerosos laços que em vida nos uniam de formas as mais diversas e queridas, daí as saudades que deles nos ficaram! Fui aluno do Colégio do Caraça durante a segunda guerra mundial. Numa aula de catecismo, o professor Padre MontÀlvão contou-nos que um general brasileiro foi com os soldados nossos fazer um estágio nos Estado Unidos antes de partirem para a Itália. E no hotel onde se hospedou declarou por escrito ser católico. Na igreja católica o pároco reservou-lhe um lugar de honra para participar do santo sacrifício da eucaristia nos domingos. Mas o general não apareceu! Que fez o pároco? Foi ao hotel perguntar-lhe se estava por acaso doente ou se por outro motivo não pôde estar presente na igreja! Com certeza ficou então sabendo que no Brasil se podia ser também católico não praticante. País católico, que nossas autoridades civis e eclesiásticas não se esqueçam da existência de nossos cemitérios, dos DORMITÓRIOS dos nossos irmãos que foram desta para a melhor. Alguém escreveu que pelos cuidados e atenções dados aos nossos cemitérios se pode ter uma ideia dos habitantes que em torno deles vivem! Que as flores que depositamos sobre os túmulos de nossos parentes e amigos simbolizem com perfeição o amor e carinhos cristãos que de fato lhes votamos! Lembremo-nos deles em nossas preces de cada dia! Sobre o túmulo de Trystão de Athayde e de sua esposa está escrito: "DURMA o SONO da PAZ".

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Pequeno Príncipe - Pequeno Pedestre


Títulos de dois livros. Um francês - "Pequeno Príncipe". O outro mineiro... perdão! brasileiro - "Pequeno Pedestre". Eu escrevi "mineiro", porque, além do sentimentalismo bairrista que pigmenta o espírito dos habitantes das Alterosas, sua edição em Belo Horizonte, em 1938, muito provavelmente não ultrapassou as divisas do Estado das Gerais. Com os meios de transporte muito primitivos -  embora Juscelino Kubitschek já sonhasse, prefeito nomeado de Belo Horizonte em abril de 1940, com o famoso "cinquenta em cinco anos"- com as principais nações do mundo em estado de gestação adiantada rumo ao indesejado deflagrar de mais uma guerra mundial (1939-1945), o autor do "Pequeno Pedestre" deve ter-se virado para a publicação de sua primeira obra , sabendo-se, ademais, que então o papel já era  objeto de difícil importação. Foi seu autor o  então jovem advogado e jornalista VICENTE DE PAULO GUIMARÃES, natural de Cordisburgo, terra natal também de seu sobrinho João Guimarães Rosa. Na época mantinha no jornal católico "O Diario" da capital mineira o "Suplemento Infantil" que breve se transformaria numa revista mensal infantil chamada "Era Uma Vez". Depressa crescendo-lhe os "netinhos", seus mini-leitores e apreciadores, pôde subir mais um degrau nas hostes literárias, iniciando uma série de livros infantis pela publicação de "O PEQUENO  PEDESTRE". Folheando-o hoje, após uma procura de quase setenta anos, confesso que com indescritível emoção, foi o primeiro  ou segundo livro que li na vida, o outro foi o "Jeca Tatu"de Monteiro Lobato, fico imaginando a influência cívica que exerceu sobre as crianças da época, sobretudo as da capital mineira que de repente se povoava de centenas de crianças advindas da interlândia em busca de melhores condições de vida. Contemporaneamente ao nascimento no Brasil do "PEQUENO  PEDESTRE'  em 1938, o "PEQUENO  PRÍNCIPE", irrompendo na França, invadia o mundo no início da década de quarenta, totalizando hoje  uma venda de 8 milhões de exemplares em 118 línguas. ANTOINE DE SAINT-EXUPÉRY escreveu sua obra-prima, "O Pequeno Príncipe", nos Estados Unidos, pouco tempo antes de partir para a guerra  e desaparecer, no mar, no dia 31 de julho de 1944, ao largo da Córsega, a uns cem quilômetros  ao norte de Bastia, sendo provável que seu avião tenha sido destruído  por aviões de reconhecimento alemães.  Dois livros, dois escritores primorosos, ícones de meu singelo altar de criança ontem, de adulto octogenário agora, qual deles levaria a palma, caso eu quisesse escolher hoje aquele que mais influiu na minha formação geral, a que mais indelével sentimento de gratidão  dedico pelas luzes de sadio humanismo que me iluminam a vida? De SAINT-EXUPÉRY, entre tantas lições que muito espiritualmente me falam, transcrevo aqui e agora aquela de sabor místico que Cristo, Deus humanado, assinaria em baixo: "Amigo é aquele que não julga. É aquele que abre a porta ao mendigo, à sua muleta, à sua bengala encostada num canto, é aquele que não lhe  pede para dansar a fim de julgar sua dansa. E se o mendigo descreve a primavera  no curso de sua jornada, amigo é aquele que recebe em si a primavera. E se fala do horror da fome na cidade donde vem, amigo é aquele que sofre com ele.  Juízes encontrarás aos montes mundo afora.  Se te quiserem modelar à sua maneira, deixa isto para teus inimigos que saberão fazê-lo com perfeição, do mesmo modo que sabe fazê-lo a tempestade que esculpe o cedro.  Teu amigo é feito para te receber. Quando fores a um templo, aprende com Cristo que não mais te julga mas te acolhe ("Cidadela"). 

sábado, 24 de outubro de 2009

Por que onze apóstolos?

Há uns três dias fui ao centro do Rio. Na rua Rodrigo Silva entrei na igreja de Nossa Senhora do Parto. Colocada bem no coração da cidade, sem aparência externa de templo católico, sob a forma de um quadrilátero, com ar refrigerado, bancos confortáveis, um altar central no fundo e dois laterais, além de uma capelinha à direita do altar-mor onde se conserva o Santíssimo, há mais de trinta anos tornei-me seu frequentador, pois durante esse período lecionei na Universidade Cândido Mendes, bem pertinho dela. Nunca a encontrei vazia. Creio até que um ou outro cristão encontre ali um bom refúgio nos dias de muito calor ou apenas para ler seu jornal, como observei algumas vezes. Aposentado como professor, levei meses sem visitá-la. Notei, agora,  os melhoramentos introduzidos para torná-la mais funcional e atraente, o que por certo muito agradou a Nossa Senhora do Parto. Chamou-me, porém, a atenção a existência de um vitral de cores bastante vivas cobrindo todo o fundo do templo, atrás do altar-mor. Reprodução da Santa Ceia do pintor italiano Leonardo da Vinci. Examinando-o com atenção, logo percebi a ausência de um dos doze apóstolos. Pensei que fosse Judas. Mas sua presença facilmente se descobre, pois não traz na cabeça a costumeira coroa da glória celeste, além ter sido pintado quase que à margem dos demais discípulos de Cristo. Nunca perdi de vista a Ceia de Mestre Ataíde, desde fevereiro de 1973 colocada na tribuna da esquerda da igreja do Caraça," bastante visível do meio da nave central". E ali os doze estão presentes, "formando quatro grupos de três, dando à ceia a majestosa solenidade que lhe convém. Impressiona o contraste entre as atitudes de São Pedro e Judas cujos rostos são muito parecidos" ("Guia Sentimental do Caraça", Sarnelius, pg. 151).  Hesitante sobre o real número deles, consultei o velho manual de Hadriano Simon Prado , C.SS.R., em suas preleções sobre o Novo Testamento. Felizmente, apesar do latinório bastante acadêmico do autor, ao ponto de meu colega de seminário Jarbas Ornelas me ter na época confessado que, se casado um dia, colocaria no filho o nome dele, verifiquei que de fato doze foram os apóstolos presentes na Ceia de Cristo e na pintura de Leonardo da Vinci. Eram eles: São Pedro, André, João, Tiago Maior, Felipe, Bartolomeu, Tomé, Mateus, Tiago, filho de Alfeu, Tadeu, Simão Cananeu e Judas Escariotes. Gostaria de saber por que motivo (e pode existir algum que eu desconheça) 0 número dos apóstolos presentes na Ceia de Cristo baixou de doze para onze no vitral da igreja de Nossa Senhora do Parto da Rua Rodrigo Silva no Rio de Janeiro. 

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Eureca! Pedestre descoberto!


Só me faltou ontem estourar um champanhe e gritar como Arquimedes: " Eureca!" Depois de mais de 50 anos de indagações e de buscas, bateu-me à porta,  infantilmente sonhado, o pedestre pequenino que nunca mais esqueci.  Costuma-se perguntar:  "Quem não  se lembra do primeiro beijo dado, do primeiro amor que teve, do primeiro cigarro experimentado?" Se,  de bastantes primeiras emoções ando à distância, de uma sempre meu íntimo conservou a lembrança e "em berço esplêndido": o encantamento que me marcou, indelével,  o primeiro livro que li, "O PEQUENO PEDESTRE"! Verdade seja dita, entretanto, que hesito em afirmar se foi mesmo este ou o livro de Monteiro Lobato, "O  JECA  TATU", o primeirão.  Aquele, porém, foi o que mais povoou o despertar de minha infância, presente que ganhei do VOVÔ  FELÍCIO, escritor de Belo Horizonte, fundador da revista: "CARETINHA", e do  SUPLEMENTO INFANTIL de O DIARIO, e da revista  "SESINHO" , mas especialmente da revista mais  querida minha e de meus irmãos, a " ERA  UMA  VEZ"!  Vovô Felício era o pseudônimo de Vicente de Paula Guimarães, tio de João Guimarães Rosa. Eu tinha dez anos quando me apaixonei pelo Pequeno Pedestre. Menino de Bonfim, uma quase roça que, por sinal, antes se chamara ROCINHA, o deslumbrante livrinho, dedicado às  CRIANÇAS   DE  MINHA  TERR A, isto é, de MINAS  GERAIS, revelou-me, através de suas cores, de seus encantadores desenhos, e sobretudo da simplicidade de seus conceitos expressos em forma de versos quase todos, me contou, repito, no silêncio de meu quase êxtase que, além da Rua de Baixo onde eu morava, do Sapé  que me roubava horas preciosas de nada fazer, existia pedestre, e bonde, e sinais luminosos, verde, vermelho e amarelo, e inspetor de trânsito, e regras muitas para se obedecerem, quando se atravessa uma rua! E como me dava o desejo de ir a Belo Horizonte para testar o que aprendera! Nunca esqueci o que li logo na abertura do livro: "Você, criança inteligente e sadia, muito cuidado, muita atenção quando andar pelas vias públicas. As ruas foram feitas para o trânsito dos veículos, e as calçadas para o dos pedestres. Este livro é para que você seja um bom pedestre e para que esteja sempre atento. Ele é para você. Aí está em suas mãos. Leia-o e siga seus conselhos". Ontem foi para mim um dia inesquecível. O dia do reencontro com o meu "PEQUENO PEDESTRE", graças à amizade que me liga a Vicente Guimarães Junior,  filho do VOVÔ  FELÍCIO. Tenho dito!

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Recordar hoje minha mãe, aniversariante do dia!

Como me faz bem recordar hoje minha mãe! Recordar minha mãe hoje, no seu centésimo oitavo dia de nascimento, é contemplá-la  ajoelhada, desatando  a fita que me prendia as mãos recendendo a santos óleos e lhe dando minha primeira bênção de padre recém ordenado! Recordar hoje minha mãe é escutar-lhe longe a voz imperativa me gritando: "Lulu! Lulu!"e eu a ouvi-la assustado, sentado no salão de estudo no Caraça, menino de 12 anos de idade! Recordar hoje minha mãe é estar ainda a ouvir silencioso o tlac-tlac do tear, manejando rápidos pés e mãos reumáticos, fazendo brotar ativamente colchas as mais lindas que já vi! Recordar minha mãe hoje é observá-la na cozinha colhendo do forno tabuleiros cheirosos de bolos e biscoitos, e das panelas e tachos compoteiras de doces saborosos! Recordar hoje minha mãe é vê-la a caminho de nosso sítio, o Sapé, trouxa de roupa usada na cabeça prateada, chinelos de pano grosso nos pés, acolitada quase por 2 ou 3 ou mais rebentos que ensinava cedo a trabalhar! Recordar minha mãe hoje é apreciá-la comentando com comadres ou compadres as fofocas quentes da cidade! Recordar minha mãe hoje é descobri-la sentada à tardinha, findas as labutas, inteirando-se da política do país e do estado nos jornais até do Rio que assinava! Recordar minha mãe  hoje é sentir-lhe por vezes e foram tantas as mãos pesadas no afã de  afastar-nos da preguiça e malandragem! Recordar hoje minha mãe é viver com ela o prazer santo em receber em casa a Senhora Visitadora e botar-nos a rezar com os adultos, aflitos pelo momento dos comes e bebes! Recordar hoje minha màe é experimentar nos braços seus beliscões, quando em vez de "Te rogamus audi nos", cândida e molecadamente respondíamos: 'Torrão cai no olho de nós!"Recordar hoje minha màe é presenciar sua coragem diante de quem ousasse passá-la para trás. Que o diga o Pedro Militão, fiscal da prefeitura que ordenou um dia a seus mandados lhe cortasse uma  bougainvillea enfeitando externamente nosso sobrado: "Se você é homem, corte, seu sem vergonha!"E lhe mostrava da janela a mào de pilão que o esperava. Recordar hoje a mãe, assim é que a chamávamos, é só ter convivido com sua máscula proteção até aos 12 anos de idade, quando ela conseguiu para mim a internação gratuita no colégio do Caraça! Recordar hoje minha màe é ter recebido  dela o recado de que eu não a considerasse mais minha mãe, quando soube que eu deixara o sacerdócio! Recordar minha mãe é ter sido eu recebido por ela  um ano depois, no dia da morte de meu irmão Getúlio, apertando-me as mãos e dizendo sorrindo:"Que bom, Lulu, você ter vindo!" Recordar minha mãe é, saindo do Rio com a família para celebrar seus 80 anos no dia 19 de outubro de 1981, encontrá- la hospitalizada em Belo Horizonte, donde o bom Pai a transportou para o Céu, onde recebe o prêmio pelos 17 filhos que trouxe ao mundo! Parabéns, mãe!

domingo, 18 de outubro de 2009

Curiosidade

Ontem, sábado, fui à missa na igreja do Colégio Santo Inácio. Aprecio o estilo do atual encarregado dessa capela. Lembra-me o Padre Sílvio Batista Martins, lazarista: pela cor, pelo físico, pelos modos mais comedidos de gesticular, pela simpatia e simplicidade no contato com o auditório. Os frequentadores me parecem satisfeitos, a frequência cresceu. Introduziu o costume dos pastores evangélicos: posta-se à porta do templo no final da missa e vai cumprimentando os que saem. Confesso que não aderi a tal ritual importado, bem como ao costume pós-vaticanista segundo de os fiéis se cumprimentarem por ocasião da PAZ , antes da distribuição da eucaristia. Léa Maria me contou que, quando esteve na Polônia, participou da celebração eucarística numa igreja católica. No momento chamado "da Paz" os fiéis longe de perturbarem  o ambiente com apertos de mãos e com sinais outros, com sorrisos e palavras e abraços e até deslocamentos de bancos, como se vê no Brasil, desde que não haja gripe suína, apenas movimentam levemente a cabeça em direção ao vizinho da direita e da esquerda, pronunciando baixinho a saudação: "A paz esteja contigo!" Ontem, porém, na missa eu me diverti um pouco, depois da comunhão,  face à cena vivida no altar com a participação do celebrante e de três ministros da eucaristia. Durante cerca de 5 minutos, os 4 nos proporcionaram um mini-balet silencioso, religioso e sério através de uma múltipla permuta de posições, de lugares, de movimentos e de ações recíprocas que chamariam a atenção de um estranho que o reparasse. Cálices eram levados à boca, ora de um ora de outro, todos cuidadosos de passar uma espécie de lenço (sanguíneo) na borda dos recipientes usados. De vez em quando alguém derramava água nos vasos e o movimento  de novo se repetia. De repente todos sossegaram e reparei que o ministro da eucaristia mais idoso se demorara bastante a sorver o conteúdo do seu cálice! E a missa prosseguiu. A cena facilmente se explica. Quando o sacerdote consagra o pão e o vinho em virtude do poder que Cristo lhe outorgou pela ordenação, sob as espécies do pão e do vinho a substância  do Corpo e do Sangue de Cristo está realmente presente no lugar das substâncias naturais correspondentes a essas espécies de pão e de vinho,  e permanece presente  verdadeiramente, realmente e essencialmente, durante todo o tempo em que permanecerem aquelas espécies, inteira e indivisível (a substância) sob cada uma das espécies como em cada uma de suas partes. Daí ter o celebrante, depois da consagração do pão e do vinho, pronunciado as palavras: "Mistério da Fé!" E então por que aquela cena no altar? Simplesmente porque, tratando-se do vinho consagrado, isto é, do sangue de Cristo, não podendo as espécies do vinho se conservarem por longo tempo, daí a prudência de não se guardar o sangue de Cristo no sacrário.  Os cálices, continentes do sangue de Cristo, uma vez sacramentalmente bebido o seu conteúdo, isto é, o sangue de Cristo, devem ser purificados por meio de água e enxugados por meio do sanguíneo, para que gota alguma do sangue de Cristo neles permaneça.

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Faz hoje 58 anos!

Em seu livro de memórias "Pourquoi suis-je moi?"Julien Green diz que "as lembranças vivem como pessoas que esperam  num salão vizinho prontas para entrar.  A  plena luz do sol do presente, porém,  as eclipsa e elas continuam a permanecer como sombras em redor de nós, atentas ao menor chamado". Há 58 anos, na manhã do dia 15 de outubro de 1951 eu  confiava ao amigo Marçal Versiani dos Anjos uma carta, pedindo-lhe que a lesse e depois a encaminhasse ao correio de Petrópolis.  Sabendo da doença séria de meu pai, escrevera em quatro folhas de papel, duas delas encontrei depois  nos pertences de minha mãe, palavras de filial exortação  a que ele confiasse muito em Deus.  Marçal fixou-me os olhos por alguns segundos misteriosos, pensei eu pelo inusitado do pedido,   mas logo balbuciou um enigmático sim. Na manhã seguinte, antes do início da oração da manhã,  às  4,30, o Padre MontÀlvão me comunica que meu pai falecera no dia anterior, donde o susto do meu amigo Marçal já conhecedor do fato, quando o procurei na véspera. Eu cursava, então, a teologia no Seminário São Vicente de Paulo, em Petrópolis. Nascido em 18 de junho de 1895, o Quive, como o tratávamos, faleceu com 56 anos. Meu último contato com ele ocorreu em janeiro de 1947, quando dei entrada no noviciado do seminário dos padres lazaristas na Cidade das Hortências.  

Ainda sobre o Sapé.

Meu caro João. Por três vezes tentei responder ao que você escreveu sobre  Sapé que deixou para sempre de ser nosso.Fisicamente, materialmente, pois memorialmente não desaparecerá. Gostei de sua complementaçào e de seus justos comentários. Nào pude deixar de sorrir do poder imperialista atribuído por você aos nossos genitores. Com certeza observou que me lembrei de suas palavras descrevendo nossa vida no Sapé. Nào me processe por apropriaçào literária indevida, pelo amor do Quive e da Màe. A esta altura do dia, você deve estar se encaminhando para o Caraça. De trem também? O Gauthier saiu daqui do Rio bem cedo com o mesmo destino seu. Abraços pra todos da casa do Joào Grande! E continue a enriquecer seu blog... ou o meu! 

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

11 de outubro - Dia da Senhora Mãe dos Homens.

Em muito breve,  nova obra lítero-sentimental vai pôr em relevo a grandeza passada e presente do nunca por demais decantado Caraça. Dos vários e saudosos brindes ali erguidos, um particularmente sobressai em que a personagem, visitando pela primeira vez o milagroso santuário, assim  nos relata: "Na noite do meu primeiro dia no Caraça, trouxe para a cama os vários livros que comprei na lojinha do Santuário. Abri um ao acaso e li: No tempo do Irmão Lourenço celebrava-se a festa da padroeira aos 29 de agosto. Era exatamente  o dia 29 de agosto, dia da minha chegada ao Caraça! " Como fui eu deixar passar despercebido o dia 11 de outubro próximo passado, esquecendo-me da homenagem à Senhora Mãe de Deus por nós chamada Mãe dos Homens, denominação a "mais bela de todas as que lhe foram dadas?! Logo eu que sob seu manto divino-maternal ali vivi por dez anos longamente abençoados. Sou muito agradecido ao Caraça que no meu canhenho faz uma coisa só com Nossa Senhora Mãe dos Homens, a tal ponto que  a só ideia, expressa pelo bispo Dom  Vicente Zico a Dom Miguel Angelo Freitas Ribeiro, bispo de Tocantns, perguntando-lhe se eu  falava mal do Caraça no opúsculo Antes que Anoiteça,  confesso que teria ficado triste, se Dom Vicente já não me tivesse escrito e envaidecido com as palavras que me dirigira. " Ele, escreveu-me o bispo de Tocantins, interrogou-me com certa tristeza nos olhos; acho que desta tristeza de Minas que não sai e todos carregamos: "fala mal ou bem do Caraça? "Disse-lhe que até onde havia lido, embora Padre Lauro Palú diga dos seus demônios, senti como uma declaração de amor, às vezes um pouco doída, mas amor. Não sei se acerto. Mas, antes que anoiteça, escreva mais..." Ó minha Nossa Senhora Mãe dos Homens, continue a sua bênção sobre mim, sobre meus filhos, meus netos, amigos e fale com a Léa Maria que em cada recanto de nosso lar sua transfigurada presença nos conforta.  

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Dona Nadir e Dr. Luiz

Ontem fez 7 anos que Da.Nadir se mandou: 13/10/02. E venho agora do SãoJoão Batista.Logo na entrada do cemitério topei com o Marco Aurélio. Ele continua, Léa Maria, a cuidar dos leitos de nossos falecidos. Contou-me que no início deste mês serviu de guia a uma senhora que procurava o túmulo d0 Dr.Luiz desde bastante tempo, pois fizera os partos de seus cinco filhos. Lá chegando, encontraram ainda fresquinhas as duas rosas, vermelha e branca, por mim deixadas e por ela fincadas então na terra de pequeno vaso ali existentes.Ontem eu e Penha nos lembramos de sua mãe, Léa Maria. Conheci-a quando com sua recomendação me tirou as medidas para a Meirinha me fazer um pulôver. Encontrei-a em casa ao lado da Fernanda, pequenina, sete anos talvez, foi em 65 ou 66, de vestidinho comprido. Quatro anos depois, no dia do pouso do homem na lua eu me apresentava a ela e a seu pai, para uma exame do bicho do mato que planejava roubar-lhe a filha. E nos casamos e adquiri um lar e, com a anuência virtual da mãe, também novo pai, o Quive já tinha morrido, e uma segunda mãe, a Dona Nadir. Quanta emoção deve ter causado aos anjos do céu o seu reencontro com eles e com o Zé Mario, seu irmão, e com a Paulinha, sua sobrinha, sob os aplausos de todos os demais parentes e amigos já do lado de lá, hem, Dona Léa Maria? Benza-os Deus!

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Adeus, Sapé!

Acabo de saber do sobrinho Júlio César que o Sapé não existe mais! E ao dizer-lhe, aliviado até, que afastamos de sobre nós um peso até certo ponto estressante, respondeu-me numa lacrimejante e quase abafada voz: "em parte sim, tio, em parte não!" Foi o bastante para eu cair na real. Em parte sim, falo por mim, porque, residindo há 40 anos no Rio, por mais que sonhasse, impossível era tirar proveito do pedaço de terra que ali herdamos de nossa mãe e de nosso irmão Luiz. E quanto mais o tempo se diluía, mais difícil se tornava ocupar com saudável e gratificante finalidade aquele torrãozinho que era por direito e por escolha um pedaço de nós. Em parte não, e por quê? Faz 70 anos exatamente que o Quive e a mãe compraram o Sapé. A partir de então nosso lar se duplicou, tornando-se com o sobradão dois irmãos gêmeos. Como nossa existência se modificou! A metade do dia passávamos no Sapé. Saíamos do grupo escolar, almoçávamos e... Sapé de sobremesa!  A mãe punha a trouxa de roupa usada na cabeça já embranquecida, a gente carregando o balde de lavagem das criações, um outro irmão com a marmita do Antônio e assim troteando silenciosos rodeando a mãe tomávamos a rua do Vira-Unha, atravessávamos a pinguela do Sô Bismarque, a Santa Casa em construção à nossa direita com a casa do Carlindo à esquerda e depois ainda à direita a casa do Rosa e chegávamos ao Sapé. E nenhum de nós ficava à toa. Varrer a casa, o terreiro, caçar ninhos de galinhas no terreno do Lulu defronte da casa, dar comida para as galinhas e patos e perus e ajudar a tratar dos porcos. Mais à tardinha, molhar as plantas: canteiros de alface, de repolho, de ervilha, de tomate, de couve comum e de  couve-flor, de almeirão, de cenoura, de nabo, de rabanete, de cebolinha e de cebola de cabeça e de alho e de que mais, santo Deus? Debulhar milho. Cuidar dos coelhinhos, habitantes do porão da casa. E de vez em quando, ajudar na busca de alecrim para limpar o forno onde a mãe assava as saborosíssimas quitandas com que nos alimentava. E a mãe ainda achava tempo para fazer polvilho, farinha "de munho"com fubá torrado misturado com nacos de toucinho, que delícia! e o fubá saía do moinho de pedra vizinho do monjolo, tocados pela água que descia da casa do Lulu. Foi no riozinho no fundo do terreno que pesquei o primeiro peixe de minha vida. Era nossa rara distração quando chovia muito e o córrego enchia e a água avermelhava. Mas a gente ficava doido para voltar pra "casa da rua"! E a mãe, findas as tarefas essenciais, se perdendo filósofa a cuidas das rosas e flores várias que enfeitavam as hortaliças, sem nem desconfiar do mal estar da gente que não via a hora de encerrar o expediente. E se era o mês de maio, que dor no coração quando começava a escurecer e nada de regressar para a reza na matriz e para ver as garotas que já paquerávamos no largo, depois da coroação de Nossa Senhora! Sinceramente, eu não gostava do Sapé! Foi, porém, a maneira, estou quase certo, que o Quive e a mãe encontraram para alimentar seus doze filhos criados. Perdoe-me, César, por ter esquecido tudo isto, quando lhe disse que com a venda do pedaço do Sapé que a mim e meus filhos e a Léa Maria tocava tínhamos sacudido um peso dos ombros, sem ouvir os soluços de nossos corações  agradecidos e saudosos! Adeus, Sapé! A ingratidão, que coisa mais feia!

Visita com atrazo

Dia 11/10/09, domingo, encontrei fincadas num vasinho da sepultura da Léa Maria as duas rosas que no dia 03/10/09, aniversário do Tuca, ali deixara. Duas surpresas: encontrei-as ainda, murchas embora, convencendo-me assim que faço mau juízo, quando julgo que quase tudo que se leva aos mortos mãos  reais mas invisíveis surripiam. Outra surpresa: falava com nossa amiga distante (a verdade é que está agora muito mais perto de nós, em outra dimensão, é claro!), quando descubro a uns 30 metros, sobrevoando uma imagem de Cristo de braços abertos um casal de borboletas grandes, de um colorido amarelo claro, realçado por um sol quente matinal, circunvolando uma penca de rosas vermelhas em volta do ícone. Lembrava a Léa Maria a misteriosa apariçào da borboleta  na varanda de nosso rancho em Petrópolis há um mês, com o número 80 bordado nas asas, e de repente o sorridente casal levanta um voo ziguezagueante e certamente nupcial, visào que de novo me trouxe o que há dias pensei. Se já gostava de visitar os cemitérios, muito bem mais motivo tenho agora de predileção pela sua companhia. É que ali se acha, aguardando a ressurreiçào, o casulo donde se desprendeu a borboleta que os anjos faz onze meses em leito de rosas e coroas gotejando saudades conduziram até o trono do Pai que  muito nos ama. Continue a dormir o sono da paz, Léa Maria!  

sábado, 10 de outubro de 2009

Onze meses! 10 de outubro de 2009!

Como o Cristo que ela jamais esquecia Léa Maria teve sua Semana da Paixão. Quinta-feira, dia 6 de novembro: operação no Pró-Cardíaco. Tudo deu errado! Sexta-feira: ela me confirma o que ontem me revelou com o indicador mudo da mão direita presa. Foi o segundo dia do seu Calvário. E o sábado foi o terceiro dia: hemodiálises, transfusões, e afinal o dia da Ressurreição. Nosso bom Anjo da Guarda e Nossa Senhora carregaram-na para junto dos parentes e amigos que a esperavam. "Venha, Léa Maria, tomar posse do cantinho celeste que você soube conquistar!"E hoje nós a confiamos à màe terra. Aí repousa o casulo, a borboleta transfigurou-se. Ficou-nos a saudade, as lembranças dos tantos bens que nos fez, a certeza de que mais lá do que aqui nos protege e nos ama de uma maneira muito mais eficiente  e de que vive a mais perfeita felicidade junto da Trindade que a plasmou na terra. Consolemo-nos:  sua vida não nos foi tirada, mas apenas transferida para morada mais digna de quem passou seus dias espargindo bondade, dando o máximo de si pelos seus. 

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

9 de outubro de 2009. Onze meses!

O Tuca, a Mariana, a Penha, o Gael estava no meu colo rindo, muito longe de tudo que se passava, quando a Nariana te chamou, Tuca, lá no quarto e você voltou rapido e me falou: Pai, a mÃe acabou de morrer! E logo me levaram o Gael lá pra dentro e ficamos nós dois num silencioso abismo de desolação. Tudo na vida é mistério. Ela se foi porque queria ficar mais perto de nós!

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Teu natal numa explosão de brasilidade, Tuca!

Tua màe e eu, Tuca, no fusquinha saimos voando para a casa de saude São José. Um pouco antes do portão de entrada o sinal fechou e Léa Maria nervosa gritou ao guarda lhe abrisse caminho pois estava na hora. Ela subiu para a sala de operação e eu entrei na capela. Avisado, procurei o quarto de sua mãe. Na porta um cartão com algo desenhado e as palavras: é homem! E assim você pousara no Rio, mais ou menos às  5,15 da tarde do dia 2 de outubro de 1973. Maria do Sebastião Trigueiro, visitando-nos um dia, confessou que em casa só faltava filho e flores. COM VOCÊ, Tuca, o trio nos tornou uma família. Em casa seu padrinho e avô, Dr. Luiz, lhe deu o primeiro banho e lhe impôs a camisa do Fluminense que não muito depois seria trocado pelo Flamengo. E seu pai o faria dormir toda noite reclinada a cabecinha no seu ombro direito e ao som da música Magnific. E você se tornou criança e adolescente e jovem e engenheiro e músico e ficou bobo e casou. E hoje, grisalhando-lhe já as madeixas, é pai do Gael. Parabéns, Tuca, e procure desfrutar das alegrias de hoje ao lado da Mariana e do molequinhio que os Santos Anjos da Guarda (homenageados hoje pelo calendário litúrgico) ssempre lhe servirão de guia, além de participar também da explosão de brasilidade pela escolha de sua cidade natal como sede das olimpíadas de 2016. Fui ao cemitério e depositei sobre o nome de sua mãe uma rosa vermelha, símbolo de nossa saudade, e outra de cor branca, que sempre lhe haverá de lembrar a gratidão por tudo que soube fazer por nós. Amanhã aí estarei, se Deus quiser! Uma bênção do velho pai.

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Nenzinho, meu irmão!

Primeiro de outubro de 1938. Você,  Nenzinho, foi o ante-penúltimo rebento de Dona Neném a  trocar nesse dia o cálido e misterioso mundo de tranquilidade do ventre generoso de nossa mãe  por um mundão a tal ponto desconhecido que logo te deve ter feito chorar. No ano seguinte, 1939, o dia eu não arquivei,  brotou o penúltimo rebento, a Elza Maria, cujo corpinho angélico, dez dias depois, criancinhas vestidas de branco confiavam à mãe terra, reclamado que era pela mãe do Céu. Finalmente , no dia 26 de novembro de 1940 a fonte generosa de nossa corajosa introdutora no mundo atingiu o zênite de sua fecunda missão: dezessete partos não eram o bastante? O último rebento chamou-se Getúlio. O nome era a homenagem de nossa mãe ao então chefe da nação, Getúlio Vargas, pela instituição de um abono aos pais de famílias numerosas. Anualmente o calendário me traz à mente e à saudade o dia natalício de cada um de vocês três, habitantes que já se tornaram das planuras celestiais. Assim, Nenzinho, sobre a lápide de seu túmulo - que o é também de nosso pai, de nossa mãe, de nosso sobrinho Yuri, filho do mano Plínio, de nossos irmãos Luiz e Getúlio e de nossa irmã Anita - fraternalmente e sentido por não lhe ter sido além de um irmão ali deixo, nessa tarde primaveril carioca de primeiro de outubro de 2009, o meu pedido de proteção até que para mim se apague a luz do sol e a alvura  da lua e o repouso das estrelas.

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

80 na borboleta

Era uma vez em Petrópolis. Uma tarde como só a cidade de Pedro sabe brindar-nos. A chuva amainara, o frio fugira do sol dadivoso, a natureza engalanada de pássaros em coloridos gorjeios. De repente, uma borboleta atrai nossa atenção. Não pelo tamanho, pequenina, mas pela ousadia de nos interromper o assunto animado e,sobretudo, pelo ziguezagueado insistente em nossa volta na ânsia, por certo, de despertar-nos a curiosidade. Quem descobriu primeiro? José Eduardo, a Paola ou o velho que te convida a partilhar da misteriosa visão? A garota visitante num florido meneio de asas matizadas logo pousou num dos braços da espreguiçadeira da varanda. E num incessante bambolear de asas ofereceu-nos aos olhos a mais misteriosa inscrição em cores salientes, pela natureza pintada em cima e em baixo de cada uma das inquietas asinhas. Num lampejo de tempo, lamentamos o esquecimento no Rio de uma testemunha inequívoca do menos sonhado dos fenômeno: uma filmadora ou máquina fotográfica. Apenas pensamos e mal tentávamos tê-la nas mãos,  para espanto de todos quantos fossem informados do fato, quando retomando o gracioso bamboleio nos deixou a ver não navios, mas bem visível, por sobre e por baixo de cada uma das asas, traçado pelas divinas mãos o número 80, em caracteres grandes e negros!  Dois meses fazia que eu completara 80 anos! Seria mais uma da Léa Maria?
 

terça-feira, 29 de setembro de 2009

Dia do Ancião: 27 de setembro.

Acabo de receber uma aula do Tuca via internet. Ensinou-me a gerar o famigerado til. Creio que não mais esquecerei o meio de fabricá-lo. Aprendi também como se fala pelo "skype". Esqueci de  esclarecer que o dia 27 de setembro é conhecido e celebrado como o dia do ancião, e isto porque ao morrer São Vicente de Paulo tinha 81 anos no dia 27 de setembro de 1660. Era, parece que ninguém duvida disto, um idoso! Mais um motivo de minhas celebrações nesse dia: caminho rápido para os meus 81. Até breve!

Saindo do atoleiro!

Anteontem, dia 27 de setembro de 2009, caí num atoleiro de tal forma que fui até o fundo e desapareci quase, mas não de todo ainda! De fato, nesse dia 27 conseguira redigir algo do que me impressionara então. E o que aconteceu então? Ao tentar postar no blog o fruto de minha rica inspiração, sumiu tudo! Ontem, dia 28, diante do fato consumado, pus-me a reproduzir as idéias perdidas. De novo, deu tudo errado. Encerrei então o expediente, com a cabeça a estourar pela tensão que a torniqueava: motivo: não consegui de novo botar o til no respectivo leito! Fui dormir chateado, às portas com certeza de um enfartamento!
Eureca!!! creio que aprendi a cravar o til ! Poso, pois, prosseguir na narração que iniciara ontem na tentativa de resgatar o que perdera no dia 27 de setembro. Eu me detivera no "pãobão". Fui à missa na capela onde o Zé meu, o Zé não, o Tuca se casara, capela dedicada ao Menino Jesus de Praga. Escolhi participar da celebração, em pé todo o tempo, postado na soleira da porta de entrada, mas de maneira a não barrar ou dificultar a passagem de alguém. Um domingo houve em que o celebrante avisou antes de iniciar o sacrifício: "tem muita cadeira aqui na frente, não gosto de ninguém em pé na minha missa!" A assistência quase toda virou o rosto para trás. Fiz que nem era comigo! Como nesse dia se comemorava Ö Dia da Bíblia", uma moreninha saiu rebolando quase que do começo do templo em direção do altar erguendo com os braços a Santa Bíblia. O valor desta foi realçado de passagem pelo celebrante, padre franciscano, que fez uma explanação teológica prática sobre o conteúdo do texto do evangelho do dia, embora um tanto longo, de que gostei, Tratava-se com certeza de um professor de teologia do seminário dos franciscanos de Petrópolis. Acabada a missa, antes do nhem-nhem-nhem, porém depois da bênçÃo final, procurei o caminho de regresso a casa. E eu tinha 12 anos e saíra e casa e me hospedara na casa da tia Aurora e passara fome por ser bicho-do-mato, e às quatro e pouco da manhã de segunda-feira, dia 29 de setembro de 1941, meu pai me deixava num dos carros do trem de ferro que me levaria até Santa Bárbara, o dia nem amanhecera ainda. Gostaria de ter conhecimento dos sentimentos de meu quando então, descobrindo meninos como eu que buscavam o mesmo destino, ao pai de um deles confiou a minha guarda! Mais ou menos às 10 horas saltamos em Santa Bárbara. Dois sacerdotes lazaristas, Padre Torres e Padre Saraiva ou Rabelo, não me recordo, nos receberam, com sorrisos e brincadeiras, claro, vãs tentativas de nos tapear ou encobrir ou trocar o negrume misterioso e indizível da alma, conduzindo-nos ao Hotel Quadrado! Terei provado de alguma comida? E na carrocria de um caminhão ford, 1929 ou por aí, sem lona, debaixo de muita chuva em cima e sacos e malas e outras bigigangas mais, depois de uma parada em São Bento para um trago de vinho na casa de um amigo do Caraça, Olinto Squarcio, um tapete de terra batida e comprido de 20 quilômetros nos começou a enrolar o estado de alma e de espírito e de coração de nós todos desmamados de pai e mãe e irmãos e lares e cidades e mundo conhecido em troca de que, Deus meu? Às 6 horas fui recebido pelo superior do Caraça, Padre Antonio da Cruz, que me contemplando me foi dizendo: Ölá, seu inglês disfarçado!" Havia somente 68 anos que eu chegara ao Caraça!

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Aqui deixo meu mais vibrante protesto! Segure lá!

Ontem voltei queimado do sol de dois dias sem chuva em Petrópolis. Fui dia 18 de setembro e regressei dia 27. E vejam só: sentei-me diante deste rinoceronte "soi-disant "inteligente e nele despejei minhas emoçoes do dia (27 de setembro de 2009). Logo cedo, a turma roncando ainda, assei o pão que em casa na minha infancia era apelidado de "p``ão" . Confesso-me ignorante de pai e mae. O til é mesmo meu inimigo figadal e fidalgal! Boa noite!

domingo, 27 de setembro de 2009

27 de setembro de 2009! sabado em Petrópolis, encerado no Rio desde as 19 horas. Dia de muitas recordaçoes! Às 4,30 da manha (botar o til) desse dia no ano de 1660 Sao (til) de Vicente de Paulo falecia em Paris sentadinho numa cadeira depois de dar uma bronquinha num padre d sua congregaçao (til) que o cansava e incomodava de tanto rezar em voz alta. Por causa do ocorrido nesse dia, de uns tempos para cá celebra-se hoje o DIA DO ANCIAO (til). E a garotada nas ruas a mendigar balas! Dia de Cosme e Damiao, coroado o segundo de til. DIA DA BIBLIA também, daí saiu do fundo da capela de Menino Jesus de Praga, na Dias de Oliveira, uma mocinha moreninha requebrando-se e erguendo uma biblia sagrada que entregou ao celebrante. E para te cansar, benevolo leitor desocupado, a mais importante recordaçao com til: pela manha acompanhado do pai e do til eu partia para Belo Horizonte - era um sabado 27 de setembro de 1941, dois meses e poucos dias antes da destruiçao (?) da frota americana pelo Japao (til) no Pacifico, em busca de um mundo desconhecido!AMANHA TEM MAIS.

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

17 de setembro de 1946

Amanhã, 18 de setembro de 2009, eu me volto à mesma data do ano de 1946. Nos meus 17 anos de idade, eu ainda estava internado no Caraça, prestes a deixá-lo no fim daquele ano, depois   de 5 anos ali vividos. Que aconteceu naquele dia 18 de setembro? Simplesmente a promulgaçao da primeira Constituição que nosso país teve, depois da queda do Estado Novo, que entrou em vigor em 10 de novembro de 1937 com o golpe de Estado entao instituído por Getulio Vargas. Essa Constituiçao regeu os destinos dopaís até o ano de 1967, quando novo golpe de Estado em 1964 criou uma nova ConstituiçÃo Federal. Modificada pelo governo militar em 1969 perdeu seus efeitos no dia 5 de outubro de 1988. Por enquanto segue seus caminhos, embora com algumas poucas alteraçoes, Por que nem sempre consigo digitar o til? Só parando!!!
                                   Rio, 17 de setembro de 2009.

Era Uma Vez!...

Sábado passado, 12 de setembro de 2009, nasceu no Rio o primeiro neto do Vicente Guimarães Junior. Este é o filho mais novo do Vovô Felicio, afilhado do escritor renomado João GuimarÀes Rosa. Mora em Porto Alegre, RG Sul. Conhecemo-nos por ocasiào da morte da irmà Miretinha, em 2003 se bem me lembro. Vou parar por aqui. Gastei uns bons quinze minutos para encontrar um til... sou mesmo ignorante de pai e de mais alguém cujo nome omito pois já escrevi que tenho fobia por til Era Uma Vez era o titulo da revista infantil criada pelo pai do Vicente Guimaraes Junior (coloquem o til onde estiver faltando, s`il vous plait). O bisneto dele se chama Iuri que em russo equivale ao nosso Jorge, segundo me informaram. 
                   Rio, 17 de setembro de 2009.   

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Inauguração do

terça-feira, 15 de setembro de 2009

Este sou eu em uma foto tirada numa recente viagem a argentina.

Primeira postagem

Estou aqui no meu micro novo, um lindo mac  sugerido pelo meu filho mais bonito, sem desfazer da beleza do outro irmão José Eduardo. 
Quem sabe não me inspiro e escrevo coisas bem legais neste novo espaço.