sexta-feira, 31 de maio de 2013

NOSSA   SENHORA

AUGUSTO  DE  LIMA  JÚNIOR, autor de "História de Nossa Senhora em Minas Gerais", assim escreveu no prefácio: "Foi assim que a Rainha dos Céus sempre recebeu  seus tributos na terra. Todas as nações a invocam, cada qual dando-lhe uma denominação a seu modo, das quais umas se universalizaram, outras, ficando como referência puramente local. Ora, em nosso caso,  sendo terra que foi desbravada e colonizada pelos portugueses nossos antepassados, dos quais herdamos  a língua, a religião e os sentimentos, recebemos no culto a Nossa Senhora as suas mais antigas e tradicionais denominações, sendo até mesmo um roteiro seguro para estudos de origens de povoamentos, as invocações  e oragos de capelas primitivas e matrizes antigas. Tão numerosas são realmente as dedicações de templos e altares à Virgem Maria nesta bela terra de Minas, que podemos  denominá-la terra de Nossa Senhora. Que de variedades e quantos carinhosos e históricos nomes lhe damos nestas nossas montanhas e nesses extensos sertões onde vive e trabalha a nossa gente!" Augusto de Lima a seguir nos dá a explicação de tantas diferentes invocações dadas a Nossa Senhora, citando um poema do "imortal"Luiz Carlos:
NOSSA  SENHORA  E  AS  ROSAS

DISSE-ME UM DIA UM VELHO ATEU SORRINDO:
"Nossa Senhora, se é uma só, por que há de
Haver desfigurando-lhe a unidade,
Tantas Nossas Senhoras? Era lindo

O dia. Em torno estavam colorindo
Um jardim no esplendor da virgindade
Rosas... e quantas; que de variedade!
Todas voltadas para o azul infindo!

Eu não lhe respondi.  Mostrei-lhe apenas
Aquelas rosas que, de tão serenas,
Ainda me pareciam mais formosas.

E o velho ateu, vendo-as, em sã consciência,
Na forma, várias, mas iguais na essência,
Viu que Nossa Senhora é como as rosas".

("História de N.Senhora em Minas Gerais", Augusto de Lima Júnior)

quinta-feira, 30 de maio de 2013

NAPOLEÃO    LAUREANO,  MÉDICO

Faz mais de 60 anos que o dia 31 de maio me traz à mente a figura do médico paraibano, NAPOLEÃO LAUREANO.  Foi nesse dia que ele faleceu no Rio de Janeiro, depois de longo sofrimento causado por um câncer que foi acompanhado com emoção pelos leitores do jornal do Rio, TRIBUNA  DA  IMPRENSA, dirigido pelo jornalista CARLOS LACERDA. Embora com dificuldade, eu conseguia burlar a proibição da leitura desse vespertino carioca, "que escrevia o que pensava porque pensava o que escrevia".  Explico-me:  aluno interno num curso superior sob a supervisão de uma entidade religiosa, um colega amigo, que frequentava no Rio uma faculdade de filosofia, me emprestava na surdina o célebre e bastante requisitado jornal do político udenista, posteriormente governador do Estado da Guanabara, Carlos Lacerda. Daí a simpatia que compartilhei com centenas de leitores da Tribuna no calvário que viveu Napoleão Laureano até o seu falecimento no dia 31 de maio de 1951 no Estado da Guanabara. Napoleão Laureano, natural da Paraíba (22/08/1914), diplomou-se em 1943, tendo-se filiado ao Serviço Nacional do Câncer no Rio. Político, lutou em Recife pela União Democrátca Nacional, elegendo-se vereador em 1947. Já atacado e em tratamento contra um câncer, uniu-se aos que se lançaram nos preparativos para a fundação do Hospital do Câncer  na capital da Guanabara, em 1951, ano em que sucumbiu ao mal que dele se apossara. Laureano faleceu no Rio no dia 31 de maio de 1951. Seu corpo foi exposto na igreja da Candelária, sendo no dia seguinte trasladado para João Pessoa. Confesso que até seu ingresso no movimento que criou a ditadura de 1964 no Brasil,  segui com interesse a atividade do político Carlos Lacerda, brilhante e inteligente jornalista que esteve ao lado de Napoleão Laureano até os últimos momentos de vida.
COMO    FRANCISCO   LEMBRA   JOÃO   XXIII!

Depois dessa não resisto à tentação de dizer que FRANCISCO é quase outro JOÃO  XXIII! Em carta de Tristão de Athayde à filha Madre Tereza, 06/04/1963, eis o que leio para "gaudium magnum"!:  "Se nesta segunda fase do Concílio chegamos às conclusões que penso, inclusive à constituição, junto ao papa, de um CONSELHO  DE  CARDEAIS  PERMANENTE, que representará, em Roma, o EPISCOPADO  UNIVERSAL, e foi a MAIS  REVOLUCIONÁRIA  PROPOSTA apresentada para "internacionalizar a Cúria"(esta continuaria com os poderes implícita ou explicitamente  muito reduzidos) - será tão bom que não creio que se possa conseguir". Mas Francisco cerca de dois meses atrás realizou esse sonho! "E no entanto, seria o passo mais acertado e prático, no sentido de verdadeiramente ecumênico. Já te disse que  fora essa a preocupação de Hildebrando Accioly, quando embaixador em Roma, passou dois anos "prisioneiro"no Vaticano, durante a guerra. Seria fazer  com a Cúria o que já se fez com o Colégio Cardinalício, passando-a de romana a universal, como a Igreja.  É um passo INDISPENSÁVEL  PARA SE DAR À ORGANIZAÇÃO DA IGREJA UMA PERFEITA CONSONÂNCIA COM SUA NATUREZA". E mais: em carta de 10/04/1963 à filha monja escreveu: "O Papa assinou ontem DE PÚBLICO (pela primeira vez, pois todas as Encíclicas são sempre assinadas no seu gabinete privado, o que mostra mais uma vez como o nosso João não se prende a rotinas e protocolos e gosta sempre de falar claro e em contato com o povo)  a nova Encíclica Pacem in  Terris que se anuncia como tão importante ou mais do que a Mater et Magistra". E numa sucinta análise das duas citações acima, numa carta anterior (23/03/1963), Tristão escreve: "... aliás, cada dia aparecem novas provas do espírito "renovador"da Igreja, ou antes, dos fieis, padres e bispos, que devem arrepiar os reacionários e quem sabe preparar para o futuro uma reação violenta como aquela que redundou, depois do início liberal do pontificado de Pio IX, no "Syllabus". Externo com incontida satisfação e euforia o modo tranquilo, humilde, paternal, seguro com que Francisco, à João XXIII,  mas sempre a seu modo,  "vai tocando a barca da Igreja com o vento contrário da história, navegando através do oceano agitado do tempo. Mas o Senhor está presente e vem no momento oportuno. "Vou e venho a vós":esta é a confiança dos cristãos, a razão da  nossa alegria"("JESUS DE NAZARÉ", BENTO XVI).

quarta-feira, 29 de maio de 2013

QUEM   PODE   MINISTRAR   O   BATISMO?

Segundo a doutrina católica, nós herdamos dos primeiros pais, além da morte da alma, pois nascemos privados da graça divina, isto é, privados da filiação divina, da santidade original, e também com o vício instalado nos instintos (a concupiscência) e a sujeição à morte. Se, pela desobediência de nossos primeiros pais, todos fomos constituídos pecadores, o mistério da Redenção através do qual o sangue de Jesus Cristo nos purificou,  nós fomos  introduzidos  numa vida nova. Através do sacramento do BATISMO é que se é introduzido nessa vida nova. O fruto do batismo é o perdão do pecado original e de todos os pecados pessoais cometidos antes do batismo, bem como de todas as penas devidas pelos pecados cometidos.  Por ele o ser humano se torna filho adotivo de Deus, templo  do Espírito Santo, incorporando-se à Igreja Católica, corpo de Cristo. O batismo imprime na alma um sinal espiritual indelével, o caráter batismal. Podem ministrar o batismo: o bispo, o sacerdote e o diácono.  Em caso de necessidade, como em perigo de morte, qualquer pessoa, mesmo não batizada,  que tenha a intenção de fazer o que a Igreja faz quando batiza e aplica a fórmula batismal trinitária, derramando a água na cabeça do candidato, dizendo: "(Fulano) eu te batizo em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo", pode ser ministro do batismo.

terça-feira, 28 de maio de 2013

SÃO   VICENTE DE   PAULO   FUNDADOR  DE  SEMINÁRIOS

Um dos decretos do Concílio de Trento (1545-1563) de importância salutar sobre a Igreja foi o relativo à instituição dos seminários. No começo do século XVII os jovens aspirantes ao sacerdócio eram tíbios, preguiçosos, viciados e só ambicionavam as dignidades sacerdotais, sem ideal da virtude nem zelo pelos deveres canônicos. Em França a obra dos seminários se tentou, mas uns quatro apenas duraram mais de vinte anos. A causa em parte decorria da ruína da igreja  devido às guerras de religião que tinham como consequência igrejas e conventos incendiados, os rendimentos das dioceses delapidados. Os primeiros ensaios frutuosos tiveram como cabeças quatro padres: o cardeal de Bérulle, fundador do Oratório, o padre Bourdoise, fundador dos Nicolaitas, o padre Olier, fundador dos Sulpicianos e SÃO  VICENTE  DE  PAULO. Tendo como lema "não colocar o carro adiante dos bois", na bula solicitando ao papa aprovação da congregação que fundara, não mencionara o problema.  Pressionado, porém, por vários bispos e pelo arcebispo de Paris, fez um primeiro ensaio em 1635 no Colégio des Bons Enfants, recebendo meninos de 12 a 14 anos com vontade de ser padres. Sem resultados palpáveis, em 1642 São Vicente percebeu a causa direta do fracasso das tentativas: a convivência dos alunos de teologia com os que ainda estudavam humanidades, submetidos ao mesmo regulamento e disciplina. Resolveu separá-los: teólogos no colégio des Bons-Enfants e meninos em uma casa comprada na vizinhança de São Lázaro que ficou sendo conhecida como  seminário de São Carlos. Donde a criação do seminário MAIOR e do seminário MENOR na dupla forma apresentada até antes do Vaticano II. Julgava-se que o êxodo dos seminaristas era devido à liberdade de se chegar ao sacerdócio por dois caminhos: o do  seminário sob a severidade da regra e da disciplina e o da vida fácil e livre do mundo.   Vicente de Paulo concebeu um meio  engenhoso de tolher essa liberdade de receber as ordens sacras sem a devida preparação de dois a três anos de vida reclusa.  Recebeu no seminário maior doze alunos gratuitos, já teólogos, mediante o contrato de permanecerem internos em Bons-Enfants durante dois anos. Mais tarde jovens sacerdotes solicitaram ingresso no Bons-Enfants, mediante pensão,  querendo consagrar-se mais estritamente à piedade, mediante a promessa de ficarem ao menos um ano na vida regular do seminário. A inauguração do primeiro seminário maior nos moldes assim estabelecidos, dirigido pelos Lazaristas, congregação fundada por Vicente de Paulo, foi no dia 22 de janeiro de 1642. Poucos dias depois, a 09/02, pregou-se o primeiro retiro espiritual aos teólogos. Deus abençoou o espírito prudente e tenaz do grande reformador do clero francês, SÃO  VICENTE  DE  PAULO. Tanto floresceu esse primeiro seminário que serviu de modelo de todos congêneres que foram sendo criados posteriormente na França e fora dela. São Vicente de Paulo, terno pai dos eclesiásticos, rogai por nós! Ó Deus, que, para obter a salvação e o alívio dos pobres e sustentar a disciplina do Clero formastes,  por vosso bem-aventurado servo Vicente de Paulo,  uma nova família na vossa Igreja, fazei que animados de seu espírito, amemos o que ele amou e pratiquemos o que ele  ensinou. Amém.
INCÊNDIO    NO   COLÉGIO   DO   CARAÇA


No dia 28/05/1968 chegou ao Rio a notícia de incêndio no Colégio do CARAÇA.  Alguém dos alunos teria deixado , por esquecimento, um aquecedor elétrico ligado, durante a noite.  Isto provocou o incêndio no quarto da encadernação, no andar térreo.  Alunos na enfermaria despertaram,  deram o alarme que acordou os alunos do dormitório no andar superior, que conseguiram salvar-se, embora tenham perdido grande parte de suas roupas e outros pertences. O  fogo se alastrou rapidamente e destruiu totamente o grande prédio da parte esquerda da igreja. No dia seguinte cedo tomei o avião até Belo Horizonte, seguindo imediatamente para o Caraça, aonde cheguei antes do meio dia. Logo após o incêndio, os coirmãos que ficaram no Caraça enviaram todos os alunos para suas famílias,  encerrando defitivamente o funcionamento da Escola Apostólica do Caraça. Diante do fato consumado, nada restava senão pensar como, no ano  seguinte, retomar, se possível,  em outros moldes, a formação inicial de candidatos ao sacerdócio. Aliás surgiu naturalmente em meu espírito a interrogação:  para que serviria a Escola Apostólica do Caraça?  Pois desde o ano precedente tinha-se fechado o Seminário de Petrópolis. Os estudantes foram enviados para Belo Horizonte sob a liderança dos padres Argemiro Moreira Leite e Geraldino Ferreira.  Após certo tempo fui a Belo Horizontee, e depois de conversar com os estudantes e com o padre Argemiro, resolvi dar-lhes a liberdade de deixarem a Congregação da Missão (esta foi a narração dos fatos, no livro "RECORDAÇÕES", escrito pelo Padre José Paulo Salles Junior, C.M. então provincial da PBCM). "Durante 63 anos a Escola Apostólica  do Caraça abrigou 2.322 alunos, dos quais 178 chegaram ao Sacerdócio (8%), e os outros 92% exercem hoje atividades as mais diversas.  Alguns ex-alunos  mais agradecidos e sensíveis aos problemas da Escola Apostólica fundaram em 1945 a Associação dos Ex-alunos dos Lazaristas e Amigos do Caraça (AEALAC). A Asssociação prestou relevantes serviços na melhoria da Casa e no auxílio a seminaristas pobres". Um dia, porém, senhores... 28 de maios de 1968 pavoroso incêndioa destruía o prédio destinado aos alunos, fechando assim as portas do CARACA. Era o educandário mais antigo e duradouro de quantos existiram no País, com 150 anos de serviço a Deus e à Pátria"("Nossa Senhora e a História do Colégio", pe. José Tobias Zico, C.M.). Fato muito sensível ao coração de todo ex-aluno do Caraça: "Passando pelo sótão da igreja padres e alunos aparecem  no dormitório dos pequenos, jogando água nas escadas, enquanto outros lançam  pela janela colchões, cobertores, lençois e camas.  POR  MEIO  DE  CORDAS CONSEGUEM  DESCER  DO  DORMITÓRIO  A  BELA  IMAGEM  DE   NOSSA SENHORA  DAS GRAÇAS, aos gritos dos que se acham em baixo". Aos pés dessa imagem todo aluno, ajoelhado, confiava seu sono reparador à SENHORA  MÃE  DOS  HOMENS  do CARAÇA, DEPOIS DE LHE BEIJAR OS PÉS.

segunda-feira, 27 de maio de 2013

TRISTÃO  DE  ATHAYDE   E   JOÃO   XXIII

Desde a ascensão de nosso vizinho, FRANCISCO, ao bispado de Roma, prendo-me bastante à releitura de "JOÃO  XXIII"pelo nosso teólogo leigo, ALCEU AMOROSO LIMA. Em carta à sua filha monja, escrita em 31/05/1963,  extraio o seguinte: "Como é que só agora é que falo nele ( João XXIII), em agonia, quando sua morte é para mim pessoalmente uma perda tão grande que hoje, ao voltar da cidade, de manhã, depois de ouvir pelo rádio que entrara em coma, surpreendi-me no volante, em plena Rua do Catete, com risco de me meter numa enrascada  qualquer, surpreendi-me ridiculamente, as lágrimas correndo pelo rosto abaixo, como uma criança infeliz aos 70 anos, na Rua do Catete!  Já se viu que coisa! E com tudo isso, aquela Paz,  aquela estranha Paz que me visita nas horas graves e peço a Deus que seja a que me assista na hora da morte. E no entanto, ao perder esse duplo Pai - do Coração e do Espírito - tenho lágrimas mas não tenho tristeza. Antes, de novo, aquela visita, a única que me alegra totalmente, a visita da Paz, como em Washington, em abril de 1951, dia primeiro, quando você (Maria Thereza) entrou para o mosteiro. Já temos por quem torcer, evidente. Não foi à toa que assistimos juntos, em Roma,  por 3 vezes sucessivas, dois olhos soltando chamas num amor de capelinha oval,  e cor de tijolo, em 1950. Como estará  vivendo estas horas o nosso Montini?  Por todos os motivos, vão com ele todas as minhas esperanças. Mas tenho... medo de pedir por ele. A tal frase supersticiosa me persegue: "Quem entra papa no conclave sai cardeal". E seja qual for o sucessor, nenhum será tão de casa como o que está se despedindo para a Grande Viagem! A DEUS  JOÃO!!!

sexta-feira, 24 de maio de 2013

VOVÔ   FEZ   CENTO   E   SETE   ANOS

Foi   a data comemorada ontem, 23/05, por todos os seus netinhos, hoje noventa por cento atingindo uma idade mínima de sessenta anos! Nascido e registrado "VICENTE  GUIMARÃES", resolveu consultar seus leitores de uma página infantil do jornal católico "O Diário", de Belo Horizonte, que apelido lhe dariam a ele que tantas e tão belas histórias lhes contava quinzenalmente, com o rosto de uma pessoa idosa e amiga. Por quase unanimidade, votaram no mais gostoso e espontâneo monossílabo brotado do imaginário infantil: "VÔ!" "VOVÔ"! O  "FELÍCIO", "VOVÔ  FELÍCIO", veio numa cartinha  de uma criança que lhe comunicara ter perdido o avô chamado "FELÍCIO".  Tudo isto trazido na memória de uma época de infeliz recordação "Segunda Guerra Mundial (1938-1945). Nascido em Cordisburgo, MG, (23/05/1906-02/06/81), dirigiu por mais de vinte anos a revista das crianças "ERA  UMA  VEZ". Mudando-se para o Rio de Janeiro, fundou o "SESINHO". Minas Gerais logo o escolheu como patrono de seus clubes de leitura em dezenas de grupos escolares, seus livros infantis, elogiados por Monteiro Lobato e por seu sobrinho João Guimarães Rosa, corriam de mãos em mãos, despertando o gosto pela leitura na criançada do Brasil. Entre as dezenas de obras que produziu, recordo e sinto presente sob meus olhos de garoto de cidade interiorana mineira  "O  PEQUENO  PEDESTRE", dando-nos dicas de como enfrentar uma cidade grande. Com poesias ao alcance da gurizada, com pequens narrações apropriadas, aprendemos através de desenhos coloridos o sentido de palavras tais como "sinal", "mão e contra-mão", na imaginação descíamos e subíamos em "bondes"! Com que emoção releio esse livro onde aprendi que andar na-mão e na contra-mão deve funcionar também quando se perambula numa calçada ou passeio público, coisa que duvido algum transeunte saiba. Enfim, ontem foi aniversário do "VOVÔ  FELÍCIO".  Ainda me vejo com dez, onze anos de idade, catando nas ruas esburacadas de minha cidade natal, Bonfim do Paraopeba, " quebra mas não inverga", catando leitores mirins para não ter que tirar dos bolsos de meus pais o restante do dinheiro para cobrir o que não vendia dos dez exemplares da revista "mais bonita do Brasil".  Até hoje sinto o cheirinho parece-me que de tinta, de emoção, de orgulho camuflado, quando no correio retirava o pacotinho da revista mensal que eternizou seu autor e meu grande amigo, VICENTE DE PAULO GUIMARÃES! "Hoc  est  vivere  bis, vita  posse  priore  frui"!

quarta-feira, 22 de maio de 2013

ABRIR-SE   ATRAVÉS   DE    UMA    LUPA

Se alguém quiser me entender hoje, muna-se de uma lupa. Procurou-me, há pouco, amigo de décadas e numa abertura de espírito incomum comunicou-me três razões de neste dia desabafar. Primeiro, porque, depois de quase dois meses de angustiosa espera, o resultado do exame médico lhe foi comunicado  pelo filho: que se tranquilizasse; nada de mais grave, baixasse a temperatura, sossegasse a pressão. Deus louvado! Segundo, neste dia, há 56 anos perdia o irmão caçula, aos 26 anos, num desastre em Minas, fato de que tomara conhecimento cinco horas depois no Rio por um telefonema de Belo Horizonte, às cinco da manhã, numa confirmação do sonho que cinco horas antes, o acordara, despertado exatamente pelo irmão falecido que, entrando no quarto, se dirigira a seu leito, deixando-o a contemplar seu joven rosto. Terceiro, a roseira, colocada no túmulo de sua esposa pela babá de seus filhos e que, antes de secar-se sob o sol causticante carioca, levada da sepultura para seu apartamento, rejuvenescera, florira, mas, esquecida, perdera todas as folhas e agonizava, e hoje se apresentara vestida de sorridentes brotos promissores! E nada mais me disse ele. Nem carecia dizer. Numa voz embargada se, pela alegria da notícia recebida do filho quanto ao estado de sua saúde, se  pela saudade do irmão tão cedo partido,  se pela visão da roseira renascida do nada, a bem dizer-se, e não minto, não sei. Imagino, porém.  Contudo, participo hoje sobretudo  das confidências que não merecera receber e que apertaram ainda mais os laços de uma amizade há setenta anos brotada à sombra da Nossa Senhora Mãe dos Homens, na Serra do Caraça.  
QUE   É   EXORCISMO?

Exorcismo  vem  do grego:
"exorkizo"= "adjurar" (rogar com insistência) e no tempo dos apóstolos: "expulsar". Jesus Cristo deu aos apóstolos o poder de expulsar os demônios (Mt.10,1). Trata-se de um SACRAMENTAL, que é um sinal sagrado pelo qual, à imitação dos sacramentos, são significados efeitos principalmente espirituais, obtidos pela impetração da Igreja. Compreendem sempre  uma oração, acompanhada de um determinado sinal como a imposicão da mão, o sinal-da-cruz ou a aspersão com água benta. A Igreja Católica pratica o EXORCISMO, quando exige publicamente e com autoridade, em nome de Jesus Cristo,  que uma pessoa ou objeto sejam protegidos contra a influência do maligno e subtraídos a seu domínio. Jesus o praticou (Mc 1,25s). Praticado  na celebração do batismo,  o "exorcismo solene" só pode ser praticado por um sacerdote com a permissão de um bispo. O Código de Direito Canônico ( Can.1172) assim reza: "Ninguém pode legitimamente fazer exorcismos em possessos a não ser que tenha obtido licença peculiar e expressa do Ordinário local (bispo). Licença concedida somente  a presbítero que se distinga pela piedade, ciência, prudência e integridade de vida". O exorcismo visa expulsar os demônios ou livrar da influência demoníaca, e isto pela autoridade espiritual que Jesus confiou à sua Igreja; bem diferente é o caso de doenças, sobretudo psíquicas, cujo tratamento depende da ciência médica. É preciso, pois, assegurar-se, antes de celebrar o exorcismo, se se trata de uma presença do maligno ou de uma doença.  A tentação  se faz à maneira de sugestão que desperta normalmente uma inclinação para o mal, mas podem perturbar sua fantasia e demais condições corpóreas, como no caso da obsessão ou da possessão diabólica.Na obsessão a ação diabólica é apenas exterior: o demônio  atormenta fisicamente a vítima, sem que ela perca o domínio sobre os atos do seu corpo; na possessão o domônio se serve  do corpo da pessoa, como esta mesma o faria: move-o, fala, atua,  sem que o possesso consiga resistir a isso, embora sua vontade permaneça inatingida. 

segunda-feira, 20 de maio de 2013

QUE  É  O  ECUMENISMO?

Segundo João XXIII, não se trata de uma assembleia diplomática para traçar roteiros puramente históricos, muito menos de uma tentativa de formar uma frente espiritual antialguma coisa. Trata-se de um movimento muito profundo e substancialmente ligado à própria natureza do catolicismo, o espírito de universalidade. Na definição do consultor do Vaticano II,  P.Congar,O.P., o ecumenismo é uma atividade essencialmente cristã, como o apostolado, a missão. Nele se lançam as almas na medida de atitudes feitas de FÉ, de amor, de oração, de serviço mútuo. Trata-se de realizar um capítulo da história da salvação e não um capítulo da história profana. A oração representa aqui a primeira e mais preciosa das condições. Tem por efeito, antes de tudo, purificar-nos o coração. O trabalho ecumênico não é um malabarismo intelectual, feito de competência e habilidade. Exige uma conversão profunda do coração, do ser humano e de toda a sua atividade cristã. A palavra mais adequada para traduzir o seu espírito é a UNIDADE.  E Alceu Amoroso Lima (no livro "João XXIII, pp.172) acrescenta que essa unidade se estende em círculos concêntrricos: unidade entre fieis dentro da  Igreja Católica, destes com todos os cristãos em geral, dos cristãos com os homens de todos os credos, e destes enfim com os que hoje professam a mais dogmática das religiões, a mais difícil e hostil ao trabalho ecumênico - o ateísmo. E essa unidade ecumênica terá de ser um trabalho lento e penoso, mas nem por isso inatingível. Difícil, porque baseado na variedade e no respeito ao que essa variedade possui de legítimo, nos termos  das palavras patéticas finais de outro grande dominicano, o P.Maydieu, O.P. Escrevia ele que "jamais como hoje em dia foi tão necessário lutar para manter  o direito ao desacordo. Uma sociedade onde não houvesse lugar para o desacordo seria a mais terrível das prisões.  Hoje só existe a escolha entre a cidade acolhedora dos desacordos, e o campo de concentração". A discórdia, segundo Tristão (idem, ibidem) é infecunda, porque, até etimologicamente, separa os corações. O desacordo é fecundo, porque aproxima através do respeito à justa variedade dos homens e das nações. O papa Paulo VI observava que a nossa época se caracteriza "pelo pluralismo ideológico na vida pública". E mais: "O ecumenismo nos ensina duas verdades fundamentais: nem permitir que esse pluralismo se transforme em isolacionismos agressivos, atrás de cortinas de bombas; nem por outro lado admitir que nos leve à tentação do conformismo sistemático e da colaboração incondicional, transformando a oportunidade em oportunismo, que é a "redução da oportunidade a um interesse, pessoal ou coletivo, de acomodação mesquinha às circunstâncias". A unidade na variedade, eis o roteiro do ECUMENISMO".

domingo, 19 de maio de 2013

ASCENSÃO   E   REVITALIZAÇÃO  DA   IGREJA

A nuvem que recolheu Jesus na sua Ascensão aos céus recorda-nos dois episódios: o encontro do anjo Gabriel com Maria, anunciando-lhe que a força do Altíssimo a cobrirá  com sua sombra";  recorda-nos também a tenda sagrada de Deus na Antiga Aliança onde a nuvem é o sinal da presença de Javé que durante a peregrinação precede Israel como nuvem. Numa afirmação teológica o desaparecimento de Jesus na Ascensão é apresentado não como uma viagem em direção às estrelas, mas como a entrada de Jesus no mistério de Deus. Os Atos dos Apóstolos descrevem o "lugar" para onde Jesus foi na nuvem  como um "sentar" ou "estar à direita" de Deus, o que significa uma participação na soberania própria de Deus sobre todo o espaço. Na expressão "vou e venho para vós" o "vou" (o partir) contém precisamente esse significado; no "venho" Jesus quis dizer que deixou de estar num lugar concreto do mundo como acontecia antes da Ascensão. O seu "partir"e o seu "vir" designa um modo novo de ficar próximo, de ter uma presença permanente. Ha em Marcos 6, 45-52, o fato da multiplicação dos pães. Após a distribuição dos pães Jesus diz aos apóstolos que na barca alcancem a margem oposta, enquanto Ele se retirava para o monte. Sós na barca, os discípulos se vêem  ameaçados pela violência das ondas, da tempestade.  Jesus parece estar longe, no monte a orar. Engano! Estando junto do Pai, Ele os vê, vem-lhes ao encontro, sobe  na barca e torna possível a travessia até a meta.  Eis uma imagem para se entender a posição de Jesus, "sentado à direita de Deus Pai" após a  Ascensão: ele nos vê, em cada momento pode subir para a barca de nossa vida, sempre podemos invocá-lo, estando seguros de que nos vê e nos ouve. Tanbém a barca da Igreja, com o vento contrário da historia, navega através do oceano agitado do tempo, dando a impressão de que vai afundar. Mas o Senhor está presente e vem no momento oportuno. "Vou e venho": esta é a confiança dos cristãos, a razão de nossa alegria como o foi dos discípulos de Jesus, após sua Ascensão aos céus. "No gesto das mãos abençoadoras na sua Ascensão exprime-se a relação duradoura  de Jesus com os seus discípulos, com o mundo. Enquanto parte Ele, vem levantar-nos acima de nós mesmos e abrir o mundo a Deus. Por isso os discípulos puderam  transbordar de alegria quando voltaram de Betânia para casa, por ocasião da tempestade no mar. Na fé sabemos que Jesus tem, abençoando, as mãos estendidas sobre nós. Tal é a razão permanente da alegria cristã. Obs.: o exposto acima recolhi-o em síntese do livro "JESUS DE NAZARÉ", de Bento XVI, pp. 252 e seguintes. 

sábado, 18 de maio de 2013

A  "OBRA  INACABADA"  SERIA  DE  PEDRO  NAVA?

Na postagem anterior,  a qual autor de "A  OBRA  INACABADA"  se refere Drumond?  Pelos traços apontados, pensei em PEDRO  NAVA (1903-1984).  Pela "mãe dos burros"(internet, jovem cônjuge do "pai dos burros") fui infomado de que um livro póstumo de Nava (2006) reuniu o que ele  deixou incompleto com o título de "Cera das Almas" (Ant. Gasparetto Junior). No  "Dossiê Drumond", entrevista de Geneton Neto com Drumond, interrogado se se sentia solitário na vida, resposta: "Sim, em parte, porque perdi também muitos amigos de minha mocidade", citando Pedro Nava em primeiro lugar, e outros que "faziam parte de minha vida interior, a mais profunda.  Isso me dá  um sentimento de solidão". Para provar que tinha vocação piromaníaca, confessou a Geneton que, quando desempregado, foi um estudante vazio;  daí, "em companhia de Nava, incendiou um varal de roupas dentro da casa onde moravam "umas moças",  com a intenção de vê-las fugindo do fogo só  de camisola. Foram parar na delegacia, mas o caso deu em nada, porque o delegado era parente de Drumond. Finalmente, com a morte da filha Maria Julieta, e mesmo oito  anos antes desde a operação dela, causa da morte, Drumond caíra em profunda depressão. Dizia que a vida não tinha mais razão de ser. E sua morte veio a galope, tendo um fato marcante contrribuído para a morte do poeta: o fim da vida de Pedro Nava, um grande amigo. Drumond chocou-se muito com as circunstâncias da morte no Rio (por suicídio, no dia 13/06/1984), porque era um homem muito emotivo, muito sensível. Além do mais, Drumond era o "amigo do peito" de Nava, fadado a participar da exótica obra, construída sob tanto segredo. O último período  da crônica de  Carlos Drumond parece confirmar  minha opinião: somente quem tivesse conhecimento da "grande obra de arte" de Nava estaria capacitado a escrever que "ninguém mais poderá ou saberá levar ao limite do acabamento"! Pedro Nava, médico, escritor, memorialista, natural de Juiz de Fora, publicou os seguintes livros depois de uma História da Medicina no Brasil (1949): Baú de Ossos, Balão Cativo,  Chão de Ferro,  Beira-Mar,  Galo das Trevas, Ciro Perfeito.

sexta-feira, 17 de maio de 2013

"OBRA  INACABADA"   DE   DRUMOND

Intriga-me o artigo de Carlos Drumond de Andrade, publicado no Jornal do Brasil de 17/o8/1987, "OBRA  INACABADA". Diz Drumond que contempla os originais do livro começado por admirável escritor e que jamais será concluído. O autor escreve à máquina e à mão, ilustrando o escrito por meio de colagens ou fotos de obras de arte, lugares,  coisas variadas, dando a impressão de que  a ilustração precedia a escrita ou de que talvez essa ilustração fosse a propria fonte do trabalho literário. Exprime-se o autor em prosa, em verso, em desenho e pintura. Seria um meio de impressionar futuros leitores desses originais guardados em vida com recato? Parece que não, pois determinado a legar pronto e duradouro o vasto painel do seu tempo, pouco lhe importava deixar esse testemunho particular de sua capacidade criadora, tanto mais que os volumes da obra cíclica iam-se publicando sem o apoio dessa documentação plástica mantida em segredo,  produzida durante anos e anos só às noites de vigília ou de insônia. Os capítulos, fartos e desbordantes, compunham-se de  períodos fechados e rítmicos, à maneira ou antes ao espírito musical do seu mestre Proust, concebidos e executados como um imenso vitral em que a vida brasileira e a individual apareciam tão interligadas que criticamente não era possível estabalecer onde começava esta e acabava aquela. Não se sabe de estilo mais seguro que o seu. Os riscos sobre palavras suprimidas não se espalhavam a esmo. As correções se combinam com os sinais datilográficos numa espécie de pauta musical. Arte de corrigir, simultânea à arte de compor em letra e traço, dando origem a uma pequena  obra de arte à sombra de outra grande obra de arte. Soltas as páginas e retiradas da pasta, sobre esta meus olhos se detêm agora.  Escrito em letras grandes, o nome de um amigo já falecido tem a força de inscrição lapidar trazendo de volta o passado. Depois da data, uma interrogação que assume agora uma gravidade comovedora. Do seu próprio punho, com a letra grande que o  distinguia: "TERMINAREI  ESTE  LIVRO?" Por que a pergunta inesperada?  A frase dubitativa e a data, sete dias antes do seu fim?  Não sei de resposta para esse instante de incerteza. Sei que os originais da OBRA INACABADA me perturbam como a colunata partida de um templo que ninguém mais poderá ou saberá levar ao limite do acabamento! Obs.: peço humildemente vênia ao nosso máximo poeta e escritor mineiro DRUMOND pelo péssimo resumo da crônica sua A  OBRA  INACABADA publicada pelo JB no dia  27/09/1984.


quarta-feira, 15 de maio de 2013

CONSELHO DE SÃO VICENTE DE PAULO A UM BISPO Em carta de 14/01/1640 ao vigário-geral de Bayonne que consultara o santo sobre o a maneira de agir de seu bispo não tendo repreendido um sacerdote, eis o que escreveu São Vicente: "...Como causais confusão e humilhação ao filho de um pobre roceiro que foi guardador de ovelhas e de porcos... tendo a coragem de ainda lhe pedir um parecer! Obedecer-vos-ei com o sentimento daquela pobre mula (a mula de Balaão,Nm 22,28) que outrora falou por obediência devida a seu dono. Dir-vos-ei primeiro, a respeito dos religiosos em geral, ser melhor, segundo penso, tratar com eles como o fez Nosso Senhor com os do seu tempo, mostrando, primeiramente, com seu exemplo, como devem viver. Com efeito, um padre deve ser mais perfeito que um religioso como tal, e muito mais o bispo. Depois de lhes ter falado pelo exemplo, durante um bom tempo (Nosso Senhor falou esta linguagem durante 30 anos), falar-lhes-eis então com doçura e caridade e, finalmente, com firmeza, sem contudo, usar contra ele de suspensão, interdição ou excomunhão e sem privá-los do exercício de suas funções. Tenho especial confiança em que um prelado que agir da mesma forma obterá mais proveito com esta espécie de pessoas do que com todas as censuras eclesiásticas juntas. Nosso Senhor e os santos mais fizeram sofrendo do que agindo. Foi assim que o bispo de Genebra (São Fracisco de Sales) se santificou e foi causa da santificação de tantos milhares de almas. Sim, diríeis, mas eles despezarão um prelado que AGIR DESSA MANEIRA. É VERDADE E É NECESSÁRIO SOFRÊ-LO PARA HONRAR A VIDA DE NOSSO SENHOR EM TODOS OS SEUS ESTADOS, EM NOSSAS PESSOAS, EM TODAS AS CONDIÇÕES. Penso não ser possível fazer de outro modo. Poder-se-ia fixar muitas determinações, usar de censuras, proibir de confessar, de pregar, de solicitar ajuda. Mas, apesar de tudo isso, as pessoas jamais se corrigirão. E o império de Jesus nunca se dilatará ou se conservará nas almas por esse meio. Ó meu Deus! de que adiantou outrora Deus armar céus e terra contra o homem! Não foi enfim preciso que Ele se abaixasse e se humilhasse diante do homem para levá-lo a acolher o doce jugo do seu império e de sua conduta? E o que um Deus não pôde fazer com todo o seu poder, o que poderia fazer um prelado com o seu?"("Obras Completas" São Vicente de Paulo, tomo II, Correspondência, pp.18, Editora O Lutador, B.H.). "Mais moscas se apanham com uma colher de mel do que com um barril de vinagre" (S.Francisco de Sales).

segunda-feira, 13 de maio de 2013

RUI BARBOSA DE ROSTO LAVADO Há 300 m. donde resido fica o "Museu Casa de Rui Barbosa", abrigo da família de Rui Barbosa, de 1893 a 1923, data do falecimento de Rui em Petrópolis. Até sua aquisição e restauração pelo governo Washington Luiz, Rui ali se distraía dos estudos e da política, cuidando das rosas plantadas ao longo da pérgula do jardim, misturadas à videira, viçosa hoje como em vida do jurista. As crianças da casa, seus filhos e netos, brincavam nos lagos, subiam nas árvores, convivendo com pequenos animais domésticos e com a natureza. No fundo do jardim num picadeiro eram adestrados os animais que puxavam os carros da casa, hoje expostos com cara de novos numa bem cuidada garagem. Além das árvores frutíferas havia uma horta na parte de trás do jardim. Num galinheiro era criada em separado a espécie leghorne.Num canil dois grandes mastins, presos de dia e soltos à noite, faziam a segurança da casa. Com a morte de Rui em 1923, o governo federal adquiriu-a em 1924,inaugurando-a em 1930 como "Casa de Rui Barbosa, primeiro museu-casa no Brasil. Transformada em fundação em 1966, a Casa de Rui teve ampliadas as suas atividades e hoje tem como missão promover a preservação e a pesquisa da memória e da produção literária e humanística, bem como congregar iniciativas de reflexão e debate acerca da cultura brasileira. Essa Fundação é vinculada ao Ministério da Cultura. Em meu caminhar senil de hoje (13/05/13)no aprazível jardim dessa casa-museu, uma das últimas áreas verdes de Botafogo, ponto de encontro, de lazer, de desfrute da natureza e de reflexão, logo na entrada um espetáculo digno de louvor: a lavagem por funcionário da casa da herma da "ÁGUIA DE HAYA", esculpida em mármore branco para cuja produção Rui Barbosa posou em 1918 e que fica localizada na alameda de entrada da casa. Da Rua São Clemente se vê uma águia de asas espalmadas vencendo uma serpente e de sua boca saindo um esguicho dágua que cai em jato curvo no lago fronteiro. Uma alegoria da luta do bem contra o mal, emblema do jardim do museu Já estava nesse jardim, quando Rui adquiriu o imóvel em 1893. O parque ou jardim de Rui Barbosa, Rua São Clemente, 134, fica aberto diariamente das 08 às 18 horas.

domingo, 12 de maio de 2013

BENTO XVI E A ASCENSÃO DO SENHOR No livro "JESUS DE NAZARÉ", segundo volume, oferecido pelo papa BENTO XVI um ano antes de sua renúncia,leio nas páginas finais (a partir de 256) comentários aplicáveis à festa litúrgica da ASCENSÃO do SENHOR ontem comemorada. Ensina-nos, primeiro, que o "subir aos céus" deve-se tomar no sentido não de "um percurso de caráter cósmico-geográfico, mas no de uma "navegação espacial" do coração humano que conduz da dimensão da reclusão em nós mesmos para a dimensão nova do amor divino que abraça o universo", não significa um movimento para outro lugar cósmico, mas sua assunção no próprio ser de Deus, sua participação no seu poder de presença no mundo". Em segundo lugar as palavras dos dois homens vestidos de branco (At.1,11) confirmam nossa fé no dogma do regresso de Cristo, para que, chamando todo o mundo a entrar nos braços abertos de Deus, Deus se torne tudo em todos e o Filho entregue ao Pai o mundo inteiro congregado nele (cf.1 Cor. 15,20-28). E mais: Bento XVI lembra aqui o Apocalipse "que se encerra com a promessa do regresso do Senhor no fim dos tempos e com a súplica para que Ele se realize (22,20): "Aquele que atesta estas coisas diz: Sim, venho muito em breve! Amém. Vinde, Senhor Jesus! O que a comemoração da Ascensão nos pede está contido nessa súplica: "VINDE,SENHOR JESUS!"(Marana-tha). São Bernardo nos diz que existe uma tríplice VINDA do Senhor: vinda do Senhor no Natal, vinda do Senhor no fim dos tempos, e vinda do Senhor entre estas duas vindas, uma "uma vinda intermediária", sendo múltiplos os modos dessa vinda intermediária: ou através da Palavra de Cristo, ou pelos Sacramentos, sobretdo da Eucaristia, ou vinda que penetra na nossa vida por meio de palavras, exemplos ou acontecimentos. Além destas vindas, há MODOS EPOCAIS da vinda do Senhor. Nos séculos XII e XIII "o agir de São Francisco de Assis e de São Domingos foi o modo de Cristo entrar novamente na história, um modo de Cristo renovar a Igreja e orientar a história para si. O "Vinde, Senhor!"tem portanto a amplitude do que pedimos no Pai-Nosso: "Venha a nós o vosso reino!"Vinde, Senhor Jesus!" São Lucas (24,50-51) escreve que "erguendo as mãos Jesus abençoou os discípulos e se distanciou deles e era elevado aos céus". "VINDE, SENHOR JESUS!"

sábado, 11 de maio de 2013

FESTA   DA   ASCENSÃO   DO   SENHOR


Eis  uma  comemoração da passagem de JESUS CRISTO pelo nosso planeta que, meditada, analisada, nos leva a concluir que está conectada com duas outras datas importantes da vida de nosso Deus Encarnado. Como reza o evangelho de amanhã, 40 dias depois de sua Ressurreição, Jesus subiu aos céus,  ascendeu, diferentemente de Maria, sua Mãe, que foi assunta, levada ao céu.  Acontece que sua ascensão ao céu estava intimamente ligada: primeiro, à instituição da Eucarista, na quinta-feira santa, quando Jesus pela transubstanciação do pão e do vinho misteriosamente comunicou que não permaneceria na terra depois de cumprida plenammente sua missão do mais  acendrado amor: nossa redenção. Esta se daria por acabada, realizada no dia de sua Ressurreição.  Em segundo lugar,  Jesus, vencedor da morte, continuou na terra, tendo-se manifestado aos apóstolos algumas vezes.  Por fim, subiu aos céus à vista de seus mais íntimos amigos, o que rememoramos amanhã.  A missão redentora de Cristo tendo atingido sua plenitude,  Jesus se despediu, mas  cumprindo,  como o fizera, a promessa de não nos  deixar órfãos. Na quinta-feira santa, instituindo o sacerdócio,  dando aos sacerdotes  o poder de transubstanciar o pão e o vinho no seu corpo e no seu sangue,  continuaria presente entre nós, invisível mas realmente, escondido verdadeirammente sob as espécies do pão e do vinho: "Adoro te devote, latens deitas, quae sub his figuris vere latitas".   Um feito divino, "o  res mirabilis",  planejado, se assim se pode dizer, no seio da Santíssima Trindade e culminado no dia da Ascensão. Jesus subiu aos céus, sim,  mas continuou conosco,  ó emanuel! ou Deus conosco! no Sacramento Eucarístico, pelo milagre da transubstanciação, deixando-nos,  ademais,  como alimento espiritual e real,  o poder de receber pela comunhão sacramental o seu corpo, sangue, alma e divindade como está no céu. "O felix culpa, exclamava Santo Agostinho, quae talem ac tantum meruit habere Redemptorem!" Pena é que talvez não saibamos penetrar na profundidade desse mistério de valor infinito! Um Deus que se faz homem, que assume nossa natureza por ele criada,  e que, depois de nos redimir, ainda permanece sob nossos tetos, no sacramento eucarístico, para não nos deixar órfãos e também para ser alimento de nossas almas. 

sexta-feira, 10 de maio de 2013

NHÁ   CHICA... BRANCA   OU   NEGRA?

Desde quando tomei conhecimento da existência  de  NHÁ  CHICA, visitando a casa em que morava, o que ocorreu em 1970,  conservei dela o retrato de uma senhora de cor negra. Por isso, estranhei que a imagem que saiu na procissão no dia da beatificação a tenha apresentado com a cor branca.  Não era ela filha e neta de escravos?  Talvez por alguma espécie de equívoco meu minha dúvida não procedesse. Acontece que na FOLHA de  SÃO PAULO, do dia 09/05/13, o colunista Janio de Freitas, no artigo AFINAL DE CONTAS, (PODER A9),  escreveu o seguinte" "A Igreja Católica beatificou nova   "Mãe dos Pobres", NHÁ  CHICA, brasileira e filha de escravos. Negra.  Mas sua IMAGEM, usada na beatificação em Baependi, Minas Gerais, ostenta a tez pálida de certo tipo branco". Diante da estranheza, me parece, implícita no articulista, pergunto-me: teria passado na cabeça de algum coestaduano meu o temor de  que, pintada de negra, o culto à nossa beata mineira sofreria alguma restrição devido à cor de sua pele? Não posso acreditar! E matutando, contemplo lá nos meus dois ou três anos de idade o sorriso brejeiro, a voz grossa, o andar trôpego de um corpo muito comprido, da saudosa Ana do Sapé, colaboradora de minha mãe em sua angélica negritude a pajear este  filho. E aqelas três irmãs negras, Maria Domingas, Conceição e Mercedes (Meca para os 12 irmãos que éramos),  que, uma após outra, foram também coadjuvantes de minha  genitora! E o Colégio Trigueiro? Onde apreendi o beabá em 1938, onde até a bordar os meninos encontravam meio de aprender, colégio dirigido por 4 negras: Sá Mestra, Sá Maria, Sá Manoela e Sá Ana , sobrinhas do vigário Padre Antônio Trigueiro, o homem que mais benefícios prestou à minha cidade, Bonfim do Paraopeba! Creio que Minas foi o Estado brasileiro que  mais escravos, e portanto negros, acolheu "in illo tempore"! Ou foi a Bahia? Que o bom Deus me conceda a graça de estar vivo, quando da canonização da  nossa coestaduana NHÁ  CHICA!

quarta-feira, 8 de maio de 2013

JOÃO     XXIII,   MESMO   MORTO,   NOS   FALA

Leia, ou ouça quem tenha ouvidos,  o que o papa João XXIII escreveu na "Pacem in terris", parte V: Diretrizes Pastorais": Nos países de tradição cristã florescem hoje, com o progresso técnico-científico, as instituições de ordem temporal e revelam-se altamente eficientes na consecução dos respectivos fins. Entretanto,  CARECEM não raro de FERMENTAÇÃO e INSPIRAÇÃO  CRISTÃS.  Por outro lado,  na criação dessas insttituicões contribuiram não pouco e continuam a contribuir pessoas que têm o nome de cristãos, que, pelo menos em parte,  ajustam a sua vida às normas evangélicas.  Como se explica tal fenômeno?  Cremos que a explicação está na ruptura entre a FÉ e a ATIVIDADE  TEMPORAL. É, portanto,  necessário que se restaure neles a UNIDADE INTERIOR,  e que em sua atividade humana domine a luz ORIENTADORA da FÉ e a força vivificante do AMOR. Julgamos também que nos CRISTÃOS a ruptura entre a FÉ RELIGIOSA e AÇÃO TEMPORAL  resulta,  pelo menos em parte,  da FALTA de uma SÓLIDA formação  CRISTÃ.  Acontece de fato, demasiadas vezes,  em muitos ambientes, que não haja proporção entre a instrução científica e a instrução religiosa: a CIENTÍFICA   estende-se até aos graus superiores do ensino, enquanto a RELIGIOSA permanece em grau elementar.Torna-se indispensável, pois,  que a EDUCAÇÃO da  mocidade seja integral e ININTERRUPTA, que o CONHECIMENTO  da RELIGIÃO e a FORMAÇÃO do critério moral progridam gradualmente com a assimilação CONTÍNUA  e cada vez mais rica de elementos técnico-científicos. É ainda INDISPENSÁVEL que se proporcione aos JOVENS ADEQUADA  INICIAÇÃO  no desempenho concreto da própria atividade profissional".  Num dos blogs anteriores, citamos trechos de uma Carta Pastoral do bispo de Mariana, MG,  DOM  SILVÉRIO  GOMES  PIMENTA insistindo sobre o dever do clero de cuidar da formação das crianças e dos jovens e mesmo dos velhos sobre o conhecimento de nossa DOUTRINA  CRISTÃ. E em 1963 O PAPA JOÃO XXIII, MAIS DE MEIO SÉCULO PASSADO,  RELEMBRA  AO  CLERO  O  MESMO  DEVER!
NOVA  CONQUISTA  DA  LUA

A RÚSSIA pretende reiniciar a conquista da LUA a partir de 2015. Para tal se prepara para o lançamento de três sondas não tripuladas com a finalidade de investigar o solo lunar. A primeira sonda, em 2015, "Luna-Glob-1", cuidará do desenvolvimento da plataforma de aterrissagem. No ano seguinte, 2016, a "Luna-Glob-2" terá a incumbência de refazer o caminho da primeira sonda. Em 2017 será acionado um módulo de aterrissagem pesado, "Luna-Ressurce", dispondo de um amplo aparato de instrumentos científicos, ao qual será acoplado um minimódulo lunar de fabricação indiana. O custo do projeto gira em torno de 351 milhões de euros. Como se sabe, a União Soviética foi o primeiro país a lançar um satélite artificial e a realizar um vôo espacial tripulado, embora os Estados Unidos tenham sido o primeiro país que pisou no solo da Lua. O presidente norte-americano, John Kennedy, quando tomou posse, sugeriu à União Soviética e aos Estados Unidos colaborassem na exploração do espaço. Nikita Khruschov, por estar seu país bem mais à frente dos Estados Unidos na busca de tal empreendimento, não aceitou o convite. Assim, a América do Norte marchou sozinha na conquista da Lua, coroando-se seus esforços em julho de 1969. Estas informações foram colhidas na FOLHA DE SÃO PAULO, Informe Comercial, de 08/05/13, sob o título "LUA, UM LUGAR PARA SE VIVER EM PAZ".

terça-feira, 7 de maio de 2013

CONFISSÃO DE UM SACERDOTE Ordenado sacerdote no dia 19/03/1953, o Padre José Luis Martin Descalzo deixou no diário que iniciara a primeiro de janeiro de 53 os seguintes pensamentos sobre a primeira missa que no dia 19/03 celebraria: "Colocando-se uma hóstia consagrada diante de um foco de luz, forçosamente Deus será enxergado!"" Os Sacerdotes deveriam ficar cegos depois da primeira missa celebrada!" "Não entendo por que os músicos não teriam ainda transformado a campainha num instrumento solista de orquestra!"As velas da última missa que for celebrada no mundo permanecerão ardendo por toda a eternidade!" "O missal morre de ciúmes do sacerdote, pois conhece todas as palavras dele mas não pode proferi-las!""Os sacerdotes que morrerem celebrando missa não serão julgados imediatamente, porque a missa não pode ser interrompida. Terão que terminá-la no céu (não vão terminá-la no inferno, claro!) e logo deverão ficar no céu forçosamente, porque do céu não se pode sair!" "Deus, antes de produzir os dedos de Adão teve que ensaiar muito para que a hóstia guardasse uma estética perfeita entre as mãos." As lágrimas choravam de raiva no Antigo Testamento: sentiam-se inúteis! Na noite de quinta-feira santa, porém, compreenderam que serviam para alguma coisa!" "A noite luta desesparadame com o amanhecer, porque não se conforma em deixar de ouvir missa. Mas o alvorescer as quer todas para si. Apenas no Natal a noite se sente à vontade e se regozija em poder ouvir três missas seguidas!" "Se não fosse por multilocação, o corpo de Cristo protestaria sem parar. O telefone não lhe daria descanso, porque a cada minuto o chamariam de um altar". "Até a "pedra-dara" teve a sua anunciação: "...e bendita és tu entre todas as pedras-dara!" Por minha conta recordo o verso do amigo falecido Bélchior da Silva: "Quando morre um padre a gente // devia piedosamente // do braço cortar-lhe a mão // e depositá-la qual tesouro // num relicário de ouro // exposta à veneração!".

segunda-feira, 6 de maio de 2013

REFORMA DA CURIA ROMANA O papa FRANCISCO publicou no dia 15/04/13 uma mensagem bastante alvissareira. Um mês exato depois de sua escolha como Sumo Pontífice, anunciou a constituição de um grupo de 8 cardeais de todos os continentes para "aconselhá-lo no governo da Igreja" e estudar um projeto de reforma da Constituição Apostólica "Pastor Bonus" sobre a Cúria Romana, promulgada em 1988 pelo papa João Paulo II. Essa Constituição tinha determinado o funcionamento da Cúria Romana, 25 anos passados. A decisão do papa Francisco era esperada e desejada por numerosos cardeais. O grupo dos cardeais-conselheiros contará com 8 membros, um apenas pertencente à Cúria Romana, além de um bispo exercendo a função de secretário. Procedem de 8 países dos 5 continentes. Num comunicado a Secretaria de Estado do Vaticano cita os nomes das cidades, e dos respectivos cardeais: Cidade do Vaticano, Santiago do Chile, Bombain, Munique, Kinshaua, Boston, Sidney, Teguciqalpa, Albano. A primeira reunião do grupo foi fixada para o dia primeiro ao dia três de outubro pelo padre Federico Lombardi, na sala de imprensa da Santa Sé. A criação do grupo havia sido convocada por ocasião das Congregações Gerais, antes do conclave: dessa forma, "o Papa quis demonstrar que entendera as sugestões do Colégio Cardinalício, acrescentando: "O Grupo terá uma função do tipo consultivo e não decisório".

sexta-feira, 3 de maio de 2013

Confissão de um sacerdote - 2

Este blog continua o assunto do precedente. Quem escreveu o livro em questão foi o Padre José Luis Martín Descalzo, falecido em Madrid em 1991 em pleno exercício de sua missão sacerdotal. Depois que o bispo impôs as mãos sobre cada um dos 80 seminaristas ajoelhados em semicírculo, foi a vez de todos os sacerdotes presentes. "Foi um momento cheio de vida em que compreendi o mundo, a razão das coisas, o cerne da existência. Esfregava as mãos com carinho, sem poder duvidar de que minhas mãos daqui a pouco seriam mãos de Cristo. Os sacerdotes com as mãos ainda sobre nós à maneira de um teto, em meio a um silêncio o bispo rezou: "Rogamos, irmãos diletíssimos, a Deus Pai, multiplique seus dons celestiais sobre estes seus servos escolhidos para o ofício do PRESBITERADO e que com sua ajuda consigam obter todos os efeitos desses dons que de sua bondade recebem. Suplicamos-te, Senhor, que nos escutes e infundas nos corações destes servos a bênção do Santo Espírito e a força da graça sacerdotal. Que sejam diligentes cooperadores de nossa ordem episcopal, brilhe neles toda a justiça, para que, havendo de prestar contas do ministério confiado, consigam o prêmio da eterna bemaventurança". Durante estas orações minha alma começou a apaziguar-se. Que serenidade ao contemplar então a Senhora no centro do altar! Era eu aquele menino pobre que podia dormir em seu seio, sem que ela estranhasse muito o peso dele! "O consagrante, entoado o "Veni, Creator Spiritus", ajoelhado estendi-lhe minhas duas palmas das mãos unidas que ele ungiu com os santos óleos, fazendo uma grande cruz que ia desde a ponta do indicador de minha mão esquerda até a ponta do indicador da direita, e desde a ponta do indicador da direita até a palma da esquerda. Durante isto, o bispo dizia: "Dignai-vos, Senhor, consagrar e santificar estas mãos, para que tudo que bendizerem fique bento e tudo que consagrar permaneça consagrado e santificado. "Juntei então minhas palmas sentindo a suavidade do azeite, unindo-as um colega meu com a fita preparada por minha irmã". E o bispo continuou: "Receba o poder de oferecer sacrifícios a Deus e de celebrar missas tanto pelos vivos como pelos mortos. Fomos à sacristia, purificamos as mãos e voltamos ao altar, já completamente paramentados. Participamos da missa celebrada pelo bispo, como sacerdotes recém ordenados. A partícula que o bispo nos deu no momento da comunhão fazia parte da hóstia que nós, recém ordenados padres, havíamos consagrado momentos antes. Nunca me foi tão fácil crer como naquela manhã, com as mãos perfumadas de mistérios".

CONFISSÃO DE UM SACERDOTE

Descobri na revista carioca "A ORDEM", pp. 84, de 12/1957, o comentário do livro "UN CURA SE CONFIESA", feito PELO monje beneditino, Dom Marcos Barbosa. Prestes a terminá-lo, regozijo-me bastante com a leitura, visto trazer algo que lança luzes, quase diria proféticas, relacionadas ao problema atualíssimo em torno do celibato eclesiástico. Pretendo oportunamente tecer comentários a respeito. Hoje apenas apresento aos meus possíveis seguidores a tradução de um dos trechos entre tantos que o autor JOSÉ LUIS MARTIN DESCALZO (1930-1991), num estilo atraente e poético, nos deixou em páginas emocionantes, descrevendo momentos vividos pouco antes de receber a unção sacerdotal. "No dia 19/03/1953, na capela da igreja, em Roma, fomos chamados um a um (eram 80 candidatos). Respondíamos ao ouvir o convite pessoal: ADSUM, isto é, Presente!" Minha entrega a Deus já estava realizada. Quando estávamos todos colocados em semicírculo diante do bispo, o colega Jaime pediu a palavra "em nome da Igreja" que nos ordenasse sacerdotes, inquirindo ao bispo: "Sabes se somos dignos?" Resposta do superior do seminário: "Até onde permite a fragilidade humana atesto que sim!" Em seguida falou o bispo consagrante, dirigindo-se primeiro às pessoas presentes: "Sabeis, meus irmãos, que a todos interessa que o barco da Igreja é dirigido por bons pilotos. Por isso, se algum de vós tem algo a dizer sobre algum dos que vão ser ordenados, que se aproxime e o diga sem temor!"Depois de alguns segundos, o bispo se dirigiu a nós: "Filhos diletíssimos, que ireis receber o presbiterado, cuidai bem de recebê-lo com dignidade e de exercê-lo com esmero. Porque é próprio do sacerdote oferecer o Santo Sacrifício, benzer, presidir, batizar. Para se atingir um degrau tão alto deve-se subir com profundo temor e devem os escolhidos estar cheios de sabedoria celestial, de bons costumes e de virtudes. Os ministros da Igreja devem ser perfeitos na FÉ e nos atos, e estarem fundamentados na virtude da dupla caridade, a saber, no amor ao próximo e no amor de Deus. Ponderai bem o que ides fazer, imitai o que trazeis entre as mãos (uma fita entrelaçando uma mão na outra) de forma que, celebrando o mistério da morte do Senhor, procureis mortificar vossa carne, afastando-vos dos vícios e de toda concupiscência. Que vosso ensinamento sirva de remédio espiritual aos fieis. Que o perfume de vossa vida faça as delícias da Igreja de Cristo, de tal modo que com com vossa pregação e com vosso exemplo edifiqueis a casa de Deus. Que nem eu por vos haver elevado a tão alto degrau, nem vós por haverdes aceitado ofício tão sublime, mereçamos ser condenados pelo Senhor, mas ao contrário sejamos bastante recompendados. Que Ele por meio de sua Graça no-lo conceda!!