terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

"QUANDO  REZAR  EM   TEU QUARTO, 

"FECHA  A  PORTA   E  REZA  A  TEU  PAI   EM SEGREDO. E  TEU  PAI  QUE  VÊ  NO SEGREDO  TE  RECOMPENSARÁ.
Estar aí, diante de Ti, Senhor, e é só!  Cerrar os olhos do corpo, cerrar os olhos da alma, e quedar imóvel, silencioso, expor-me a ti que aí está exposto a mim, estar presente a Ti, ó infinito Presente! Aceito nada sentir, Senhor, nada ver, nada escutar! Vazio de toda idéia, de toda imagem, dentro da noite. Eis-me aqui, simplesmente, para Te encontrar sem obstáculo, no silêncio da Fé, diante de Ti, Senhor! Mas, Senhor, eu não estou sozinho. Não posso estar sozinho. Sou multidão, Senhor! Pois os homens me habitam. Encontrei-os, eles penetraram em mim, instalaram-se aí, atormentaram-me, devoraram-me, e eu os deixei fazer, Senhor,  para que se alimentassem,  para que repousassem. Eu os trago até a Ti, quando a Ti me apresento. Eu os exponho a Ti, quando a Ti me exponho. Eis-me aqui, ei-los aqui! Diante de Ti, Senhor!!!"Michel Quoist.

domingo, 22 de fevereiro de 2015

REFLEXÕES  PARA  A   SEGUNDA SEMANA   DA QUARESMA  NA  VISÃO  DE  MÉRTON

A VIDA nada mais é, ou não deveria ser outra coisa senão uma luta à procura da VERDADE! Mas, na realidade, a verdade que procuramos é a VERDADE que já temos! Que carregamos conosco! Que é minha já, na realidade da vida, assim como me é dada a viver! Mas... atenção!  Receber a vida estouvadamente, passivamente tal como nos chega, é RENUNCIAR  À  LUTA e à PURIFICAÇÃO  necessárias. Não se pode simplesmente abrir os olhos e ver! O trabalho de COMPREENDER envolve não somente a dialética, mas um longo trabalho de aceitação, de obediência, de liberdade e amor. A tentação da vida de um monge, por exemplo,  consiste na fuga dessa  austera responsabilidade, caindo-se numa indiferença passiva, num ressentimento ligeiramente velado, disfarçado em obediência e abandono (um deixar ficar). Uma vez que de fato não é preciso aceitar POSITIVAMENTE o que acontece, pode-se meramente permanecer em atitude resignada e negativa. Que outros tomem todas as decisões importantes, sim, mas a decisão mais importante sempre recai sobre mim, e, se tenho o hábito de nunca decidir, haveria certamente de fugir a ela.  A decisão básica de  aceitar a minha própria vida e obedecer às suas exigências pode desafiar a compreensão  dessas exigências e minha honestidade em relação a elas! A pior tentação  e à qual muitos monges  cedo sucumbem  na vida e pela qual são vencidos consiste simplesmente em DESISTIR de indagar e PROCURAR. Deixar tudo aos superiores nesta vida e a Deus na outra - uma esperança que, em realidade,  pode nada mais ser que um desespero velado, uma recusa a viver. Ora, não é cristão desesperar do presente, adiando-se a esperança até o futuro. Existe também uma esperança muito essencial que pertence ao presente  e está na proximidade do Deus oculto e do seu Espírito no presente. Qual é o futuro que pode ter algum sentido sem esta esperança PRESENTE? A RESIGNAÇÃO não basta!  Deus exige de nós um consentimento criativo em nosso ser mais oculto e profundo. É o ser do qual não temos experiência diariamente, e talvez  não a tenhamos nunca. Contudo ela está sempre aí.  Esse CONSENTIMENTO  CRIATIVO  é a obediência de todo o meu ser à vontade de DEUS aqui e agora! A "palavra" interior de consentimento é a COINCIDENCIA, no Espírito, a IDENTIDADE de minha própria  obediência À VONTADE de Cristo. Tal é a profundidade  de nossa FILIAÇÃO e VIDA NA GRAÇA. Gradualmente aceitando nosso lugar no mundo e nossas tarefas, libertamo-nos das limitações de um ambiente restrito e sem calor, e vivemos contentes com o momento e com a tarefa obscura que nos cabe. Ser verdadeiramente católico é saber sobretudo penetrar nos problemas e nas alegrias de todos, sendo tudo para todos. O que supõe  tenhamo-NOS aceitado completa e honestamente com nossos poblemas e fracassos. Em suma, com o CONSENTIMENTO  criativo e a responsabilidade  que nos une à vontade de Deus  e assim ao dinamismo da história em sua própria fonte ("Reflexões de Um Espectador Culpado", Thomas  Mérton, pp. 212).

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

CORÇÃO   E   TRISTÃO   SE   RECONCILIAM

Mesmo no esquecimento dos  humanos, PETRÓPOLIS liturgicamente todo ano recorda:  no roxo das quaresmeiras dispersas nas montanhas, a SEMANA SANTA vem vindo depressa,   culminando devagar no ouro da PÁSCOA das acácias florestais. O encanto multifacetado dessa cidade das hortênsias me traz à mente a santa figura de DOIS  dos nossos mais combativos católicos CONVERTIDOS:  TRISTÃO DE ATHAYDE e GUSTAVO CORÇÃO. Foi  do silêncio e da solidão de sua "Moselinha" em Petrópolis que saíam, diariamente quase, para a agência dos correios local as cartas que TRISTÃO remetia para sua filha religiosa, o precioso conteúdo de sua autobiografia, em parte hoje  publicada em dois volumes. Num deles, como ponto de reflexão para o próximo domingo da quaresma, TRISTÃO  conta que seu filho mais velho, acidentado em 1967, estava sem falar, em gravíssimo estado, num hospital de Campinas, São Paulo. Entrou numa igreja e perguntou a Nossa Senhora que sacrifício  lhe aconselhava pela vida do filho. "Fazer uma visita ao Corção!", soprou-lhe uma voz interior. "Isto, não!!!" Ao ouvir a resposta: "Sacrifício é sacrifício!", vem a esposa a seu encontro, comunicando que, depois de três meses, o filho acabara de voltar a falar. Na mesma hora TRISTÃO partiu para o Rio. "Quando Corção abriu a porta e viu quem era, olhou-me  com uma expressão  que parecia dizer: "Este homem veio matar-me!"  Contei-lhe então tudo o que se passara em Campinas e ele se ajoelhou e ficou a beijar minhas mãos, em prantos. Conversamos alguns minutos e fui-me embora.   Foi a última vez que nos falamos!" ("Memorando dos 90", entrevistas e depoimentos por Francisco de Assis Barbosa, pp.372-373). "Exultet jam angelica turba coelorum", testemunhas angelicais, com certeza, de comovedora cena entre duas santificadas almas de compatriotas brasileiros. CORÇÃO faleceu em 1972 e TRISTÃO em 1983.

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

DOUTRINA  CATÓLICA  EM  MARX

Na postagem do dia 13/02/15 fala-se do encontro de DALAI LAMA com THOMAS MÉRTON. Concordando ambos sob um ponto de vista da doutrina marxista, cabe-me transcrever aqui o trecho da enciclica "PACEM  IN  TERRIS" (11-04-1963), do papa JOÃO XXIII, que  fundamenta o acordo estabelecido entre os dois mestres da Igreja Católica. Sempre sonhei em conhecer Tristão de Athayde. Comentando no Centro Dom Vital a citada encíclica de João XXIII, timidamente ocupei um lugar na sala, então na rua México, no momento exato em que o Mestre explamava o texto que aqui vai: "159. Além disso, cumpre não identificar falsas idéias filosóficas sobre a natureza, a origem e o fim do universo e do homem com movimentos históricos de FINALIDADE ECONÔMICA, social, cultural ou polítca, embora tais movimentos  encontrem nessas idéias filosóficas  a sua ORIGEM e INSPIRAÇÃO. A doutrina, uma vez formulada, é aquilo que é, mas um movimento, mergulhado como está em situações históricas em contínuo devir,  não pode deixar de  lhes sofrer o influxo e,  portanto, é susceptível de alterações profundas. De resto, quem ousará negar que nesses movimentos, na medida em que concordam  com as normas da reta razão e interpretam as  justas aspirações humanas, não possa haver elementos positivos dignos de aprovação? 160: Pode, por conseguinte,  acontecer que encontros de ordem prática, considerados até agora inúteis para ambos os lados, sejam hoje ou possam vir a ser  amanhã verdadeiramente frutuosos. Decidir se já chegou  tal momento ou não, e estabelecer em que modos e graus se hão de conjugar esforços na demanda de objetivos  econômicos ou não,,,"

MAIOR  BEM  DA  VIDA  =  É  A  MORTE!
MAIOR  MAL  DA  MORTE  =  A  VIDA

MEDITAÇÃO  para a Primeira Semana da Quaresma: "Filhos, ouvi e lede a sentença de vosso pai e sabei que  sois Pó, e vos haveis de converter em PÓ. "Pulvis es et in pulverem reveteris" (Gen. 3.19).Tenho comparado e combinado  entre si o PÓ que somos com o Pó que havemos de ser, e posto que não me arrependo do que disse, o que hoje determino dizer não é menos qualificada VERDADE nem menos importante DESENGANO. O PÓ que somos é o de que se compõem os VIVOS; O PÓ que havemos de ser é o em que se resolvem os MORTOS. E sendo estes dois extremos tão opostos como o SER e o NãO SER,  não é muito que os EFEITOS e AFETOS que produzem em nós sejam também muito DIVERSOS; por isso amamos a VIDA e tememos a MORTE. Mas por que eu, depois de larga experiência, tenho conhcido que estes dois EFEITOS no nosso entendimento, e estes dois AFETOS na  nossa vontade andam trocados, o  meu intento é pô-los  hoje no seu lugar. O AMOR está fora do seu lugar, porque está na VIDA; o TEMOR também está fora do seu lugar, porque está na MORTE. O que farei pois é destroçar estes lugares com tal  evidência que fiquemos entendendo todos que a MORTE, que tanto tememos, deve ser amada,       e a VIDA que tanto amamos deve ser TEMIDA.  E por quê? Em um e outro PÓ temos a razão. Porque o maior BEM do PÓ que somos é o PÓ que havemos de ser, e o maior mal do PÓ que havemos de ser é o PÓ que somos. Mais claro: O PÓ que somos é a VIDA, o PÓ que havemos de ser é a MORTE; e o maior BEM da VIDA é a MORTE, o maior MAL da MORTE é a VIDA. Isto é o que hei de provar Deus nos assista com sua graça para o persuadir!" Obs.: início   do   sermão do Padre Antônio Vieira (1608/1697) no século XVII na quarta-feira de Cinzas.

domingo, 15 de fevereiro de 2015

CENTENÁRIO  DE  NASCIMENTO  DE  EDITH  PIAF

Dando início às comemorações no Brasil pelo centenário do nascimento de EDITH PIAF na França, no dia 19/12/1915, a FOLHA de SÃO PAULO anunciou que o Teatro Bradesco vai homenageá-la com um show na  interpretação  e na magia da voz de ANNE CARRERE, nos dias 20, 21 e 22 de março. Narra a lenda  que Anetta Giovanna Maillard deu à luz EDITH Giovanna Gassion, apelidada "Môme  Piaf", num bairro da classe média trabalhadora, no dia 19/12/1915, em Paris. O pai de  Edith, Luiz Afonso, ganhava a vida como acrobata de rua, raramente estava em casa. Convocado para lutar, guerra de 14,  ao regressar abandonou o lar, confiando a filha à avó paterna. Foi quando Edith adoeceu e recuperada foi levada pelo pai de volta a Paris, passando a acompanhá-lo  nos espetáculos de rua. A partir de então Edith  teve uma vida de pobreza e de solidão, o que lhe  marcou a existência  para sempre. Em 1932 engravidada por Luiz Dupont, este a levou para casa, onde deu à luz a uma menina, Cécelle. Após   curto período de convivência,  pai e filha desaparecem e Edith volta a cantar nas ruas. Em 1935, o pai de Cécelle  comunica à Edith a morte da filha.  

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

08/11/1968: ENTREVISTA   DE   MÉRTON   COM   DALAI  LAMA

No encontro  de MÉRTON com o  DALAI LAMA, em Dharamsala, depois de uma série de perguntas sobre a vida monástica ocidental,  MÉRTON consultou-o sobre a questão "MARXISMO  E  MONAQUISMO", objeto, dois dias após,  de sua palestra em Bangcoc. Respondendo, o Dalai Lama observou que, sob certo aspecto,  era impraticável  monges e comunistas se entenderem , mas que  isso talvez  não fosse totalmente impossível, se o marxismo significasse apenas o estabelecimento de uma justa estrutura social e econômica. Talvez houvesse alguma verdade na crítica de Marx à religião, tendo em vista o fato de líderes religiosos já se haverem unido, tão persistente e estreitamente ao poder secular. Mesmo assim,  por outro lado,  o ateísmo militante se empenhou de fato por suprimir todas as formas de religião, boas ou más. "Foi uma discussão cordial e muito animada, escreve Mérton, e no fim  eu senti que nos tornáramos muito bons amigos, estando bem próximos, de algum modo,  um do outro.  Tenho grande respeito e afeição  por ele como pessoa, crendo além disso  que entre nós há um verdadeiro  vínculo espiritual. Ele observou que eu sou um "geshe católico", o que,  segundo Harold,  era o mais alto elogio  possível partido de um "Gelugpa", como um doutorado  honorário!" ("MÉRTON  NA  INTIMIDADE", p. 406). Outro não foi o pensamento do papa JOÃO  XXIII, na encíclica  "PACEM  IN  TERRIS", 1962.

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

O   CARNAVAL   DE   TRISTÃO   EM   1916

"Combinei com um amigo ficar no quarto dele durante o carnaval de 1916, na Cremerie Buisson.  Levei para o meu isolamento duas coisas contraditórias: as comédias de Aristófanes para ler  e uns vidros de lança-perfume para respirar o éter.  Era mais grave que álcool... Graças a Deus cheirei apenas um vidro e ainda me lembro do sono bom, à tarde, que o éter me provocou, com as rãns de Aristófsnes caídas no colo e ouvindo ao longe as cigarras como estou ouvindo agora (1916), do lado de lá do rio. Fiquei lá  os 3 dias de carnaval, sozinho, passeando pelos matos e uma vez aparecendo nas Duas Pontes com surpresa para todo mundo, que me dava como empenhado a fundo nos bailes carnavalescos! Foram 3 dias de absoluto retiro entre os gregos, as cigarras, as matas então virgens da Quitandinha e um pouco de éter para adormecer e sonhar,  influenciado por Baudelaire e seus paraísos  artificiais. Êta mocidade maluca, nessa misturada de solidão, de trópico, de Grécia, de vício, de fuga ao mundo! 21 anos! Encruzilhada de caminhos: advocacia, diplomacia, Itamarati etc. Ali passei os dois verões mais dissipados de minha mocidade. E ali se decidiu de certo modo a minha vida! Poderia ter sido engolfado pelo mundanismo. Mas essa  reação do carnaval  de 1916 creio que foi providencial. Apesar da bisnaga do éter, Aristófanes foi mais forte: o livro venceu o lança-perfume! Estava lançado o meu destino! Só mesmo esta languidez  das manhãs de Piabanha, ao som das cigarras e à vista das acácias, é que me permite esta gostosa e melancólica evocação da mocidade e das  encruzilhadas do nosso destino!" (Carta de Tristão à sua filha madre Maria Tereza, 17/02/1960).

terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

NOBEL  DA  PAZ  ESCREVENDO  A  OBAMA

"Quando te outorgaram o Prêmio Nobel da Paz, enviei-TE  uma carta que dizia: "Barack, me surpreendi  muito que tenham  te outorgado o Nobel da Paz, mas agora que o recebeste deves colocá-lo  a serviço da Paz entre os povos; tens toda a possibilidade de fazê-lo, de terminar as guerras e começar a reverter a situação que vive teu país e o mundo. A base fundamental da ONU é a defesa e promoção da Paz e da Dignidade entre os povos. Seu preâmbulo diz: "Nós, os povos do mundo..."Quero recordar um místico e mestre que tem uma grande influência em minha vida, o monge trapense da Abadia de Getsêmany, em Kentucky, THOMAS  MÉRTON, que diz: "A maior necessidade de nosso tempo é limpar a enorme massa de lixo mental e emocional que entope nossas mentes e  converte toda vida política e social em uma enfermidade de massas. Sem essa limpeza doméstica  não podemos começar a ver. E se não vemos, não podemos pensar". Eras muito jovem , Obama, durante a guerra do Vietnã e talvez não te lembres a luta do povo norteamericano para opor-se à guerra. THOMAS  MÉRTON , frente a um carimbo do correio que acabara de chegar, disse: "The U.S. Army, key to Peace"(o exército dos EUA, chave da Paz). Nenhum exército é chave da Paz. O poder nada tem a ver com a paz. Quanto mais os homens aumentam o poder militar, mais violam e destroem  a Paz". O nobel da Paz  é um instrumento a serviço dos Povos, nunca para a vaidade pessoal. ADOLFO  PÉREZ  ESQUIVEL, Nobel da Paz 1980. Buenos Aires, 05/05/2011.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

ANIVERSÁRIO   DO   FREVO

O  nosso FREVO está completando hoje  108 anos de idade. Nasceu em PERNAMBUCO  entre o fim do século XIX e o século XX. MÁRIO  de  ANDRADE no seu Dicionário Musical o sumariza como "dança instrumental, marcha em tempo binário e andamento rapidíssimo.  Para outros é parecido com dobrados  nas bandas militares, porém num andamento mais rápido.  Desde 2007 é conhecido como Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil. Dizem que o "passo como se chama na dança do frevo urgiu na Idade Média. Inspirou-se na capoeira, forma de luta e defesa desenvolvida pelas populações negras trazidas como escravos para o Brasil no período  colonial. Havia necessidade de disfarçar esse tipo de treinamento de luta para se evitarem os castigos. Misturava-se o golpe ao estilo de dança com piruetas e saltos. A tradição remonta à época das Cruzadas. HOUAISS: "FREVO" vem de "ferver", por alusão à agitação, ao calor da dança e da música; um filme antigo da Agência Nacional datava essa palavra de 1909, dizendo que foi a primeira vez que ela foi usada no sentido musical que tem hoje".

domingo, 8 de fevereiro de 2015

LANÇADEIRA   DO   TEAR

Missa das 18,30 de ontem (08/02/15), igreja do Colégio Santo Inácio,  Rio. Já emocionado com o cântico de entrada e presença numerosa  de fiéis (ocorre isto  desde o Natal: milagre de São José de Anchieta ou  do jesuíta Francisco?) na Liturgia da Palavra ouço a leitura do livro de Jó, 7.VI: "Meus dias correm mais rápidos  do que a LANÇADEIRA do tear..." LANÇADEIRA! Saudosa recordação pelas mãos de uma fada me conduziu pelas dobras de  oito décadas a uma visita à casa paterna. "Entrei. Um gênio carinhoso e amigo, o fantasma talvez do amor materno tomou-me as mãos, olhou-me grave e terno  e passo a passo caminhou comigo". No tear, em pé, minha mãe manobrando o instrumento de sustento dos doze rebentos que chegaram à idade adulta. Pelo jeito, partiu-se algum fio da lançadeira. Olhos  cançados, procura a ponta da linha. Tenho-a aqui no meu quarto, numa pintura oferta da sobrinha Mônica, de repente agora me despertando alguns baús de lembranças que tanto me orgulham a mim e a meus irmãos de termos tido por Mãe  DONA NENÉM, heroina, engenhosa tecelã, e por Pai, seu coadjuvante CLEVELAND DA DONA NENÉM. E  confesso, de novo com a aquiescência de Luiz Guimarães, "o pranto (quase!) jorrou-me em ondas... resistir quem há-de? Uma ilusão gemia em cada canto, chorava em cada canto uma saudade!" ("Visita à Casa Paterna", Luiz Guimarães). 

sábado, 7 de fevereiro de 2015

HUMANISMO  NA  BASE  DA  SANTIDADE  

"Os LARES  dos  homens não são como  os abrigos dos animais, apenas meios de proteção contra o mau tempo... São lugares onde pode o homem  saborear as alegrias de sua vida pessoal na intimidade e segurança de sua família e de sua propriedade. Comer e beber não tem  a única finalidade de manter o corpo  com boa saude, oferecem uma alegria natural  à vida do corpo, são tembém um adorno para o corpo. A  recreação não está destinada unicamente  a aumentar o tempo do divertimento e do repouso. O  jogo está, por sua natureza,  longe de toda subordinação a um fim específico...  O sexo não é  somente o meio de reprodução, mas, independentemente disso, traz consigo alegrias que lhe são próprias, na vida conjugal, no amor recíproco de dois seres. De tudo isso,  brota o fato de que o sentido da vida corporal nunca se encontra unicamente em sua subordinação ao propósito final a atingir. A vida do corpo assume seu pleno significado somente com a realização de sua inerente reivindicação à alegria". Depois  da precedente citação da Ética de Bonhoeffer,   THOMAS MÉRTON expressa sua concordância, pois se trata de "autêntico humanismo cristão, e católico também, quando compreendido no seu contexto" ( para o católico este "humanismo cristão" é a base onde se ergue a fé e a prática da doutrina trazida e deixada na terra por Jesus Cristo). ("Reflexões de um Espectador Culpado", por T.M., p. 233).

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

PAUSA   PARA   REFLEXÃO

THOMAS  MÉRTON,  escrevendo sobre a influência da teologia germânica sobre sua vida, tem as seguintes considerações dignas de uma pausa para meditação: "A Teologia Germânica fala do "céu e do inferno" que carregamos conosco dentro de nós.  É bom experimentar seja uma, seja outra coisa, pois estamos, então,  nas MÃOS  DE  DEUS. QUANDO, PORÉM,  não temos consciência nem de um nem de outro, ISTO É, nem do céu nem do inferno,  somos deixados em nossa própria indiferença.  No ofício de hoje ( quarto domingo de agosto, segundo noturno), São  Gregório fala mais ou menos nisto:  o "contentamento" daqueles cuja vida se resume numa negligência total, uma vez que,  crendo serem felizes com o que possuem,  não estão conscientes   de que tudo perderam.  Assim, não sentem  desejo algum  nem qualquer carência e nunca voltam os olhos para a VERDADE  para a qual foram criados.  É precisamente a angústia e a crise interior que nos obrigam  a procurar a VERDADE, pois são estas que nos fazem  ver claramente que estamos mergulhados no inferno de nossa própria INVERDADE ("Reflexos de um Espectador Culpado". T.M. p. 211). "A vida nada mais é, ou não deveria ser, outra coisa senão uma luta à procura da VERDADE.  No entanto,  o que procuramos é a verdade que já possuímos. A verdade é minha na realidade  da vida, assim como me é dada a viver.  Entretanto, receber a vida estouvadamente tal como nos chega, é renunciar à luta e à purificação necessárias.  Não se pode  simplesmente abrir os olhos e ver!  O trabalho de compreender  envolve não somente a dialética, mas um longo trabalho  de aceitação, obediência, liberdade, amor" (T.M., idem, ibidem).