quinta-feira, 24 de março de 2011

COPANHEIROS DE VIAGEM

Imagino que há no Brasil pessoas cultas que, no seu íntimo, gostariam de encontrar uma porta que as introduzisse no conhecimento mais profundo do catolicismo. Se algum valor tiver minha sugestão, recomendaria a leitura de patrícios nossos, e estrangeiros, cujos escritos sob formas diversas estão por aí às nossas mãos e que, a meu ver, constituem miraculoso meio de encontrarmos o que nosso espírito tanto anseia. Permitam-me citar, por ora, apenas o nome de Alceu Amoroso Lima (Tristão de Athayde) a quem fui espiritualmente apresentado há 70 anos por um professor sacerdote que o descobrira a ele e por meio dele a Gustavo Corção, sendo que a corrente deles vai sempre se ampliando, confessando-lhes eu que o tempo tantas oportunidades me deu de poder crescer no convívio com tais mestres, muitos dos quais convertidos. E em casos assim a providência divina age de tal maneira que o contato com eles vai nos encaminhando e avidamente na busca de outros seres da mesma linha. E o resultado é o cabedal de enriquecimento silencioso e vasto e consolador do mundo religioso, que nos acolheu através do batismo, e que tanto anda distanciado de tantas das inteligências de nossos conterrâneos. Lendo há pouco uma página do Tristão sobre Simone Weil (1909-1943), escute o que escreveu em "Companheiros de Viagem": "Confesso minha fraternal simpatia por essas almas. São essas as que a mim mais profundamente me tocam. Sinto-as como irmãs gêmeas de minha própria carne. Em face delas sinto a humilhação e a responsabilidade da Graça recebida. É cada dia que descobrimos de novo a verdade e vivemos nos eternos perigos dos abismos que, de lado a lado, nos cercam, como os via Pascal. A Verdade não é um repouso e muito menos um orgulho. É uma procura incessante, uma busca contínua. Ai daquele que se julgar para sempre isento da agonia e da angústia de buscá-la. Ai daquele que não procurar sempre gemendo vencer em si a tentação da ataraxia. E, pior do que isto, a satisfação do farisaísmo...O homem é um caminhante. E Simone Weil, coberta com a poeira do caminho foi em nosso século um testemunho vivo do drama pascaliano do homem moderno, vindo de tão longe à procura dessa água fresca que a Samaritana foi buscar ao poço de Jacó, junto ao qual encontrou a mais fresca das águas. A própria água viva da Verdade. Simone Weil será sempre, por isso mesmo, a companheira dos que procuram e a ternura dos que acharam" (16/10/1955).

terça-feira, 22 de março de 2011

BATISMO DE CRIANÇAS

Como muitos pais, religiosamente não bastante informados, desejariam adiar o Batismo das crianças para mais tarde, raciocinando que, em idade infantil, os batizados não têm condições de assumir as consequências do sacramento da Fé, o Papa Paulo VI escreveu o seguinte no "Credo do Povo de Deus": "O Batismo deve ser administrado também às criancinhas que não puderam ainda tornar-se culpadas de qualquer Pecado pessoal, a fim de que elas, tendo nascido privadas da Graça Sobrenatural, renasçam pela água e pelo Espírito Santo para a vida divina em Cristo Jesus" (Credo, 18). Bem diz Paulo VI que se trata de um RENASCER, um receber a vida nova dos filhos de Deus, mesmo ignorando a criança o significado real do ato. Deixando o seio materno, a criança passou pelo primeiro nascimento, mas privada dos dons sobrenaturais da filiação divina e de herdeira do reino celeste. Batizada, em virtude da Redenção levada a efeito por Jesus Cristo, a criança readquire aquele estado de graça, de inocência, com que o Criador havia enriquecido nossos primeiros pais e sua descendência. Daí dizer Paulo VI que pelo batismo a criança "RENASCE", um segundo nascimento, pela água e pelo Espírito Santo. Apesar, porém das claras palavras de Paulo VI, pais há que julgam dever adiar-se o batismo das crianças para mais tarde, para quando , chegada a idade do discernimento, da razão, possam, conscientemente, com o devido conhecimento, assumir pessoalmente sua incorporação à Igreja fundada por Jesus Cristo. Com base no dogma da Comunhão dos Santos, ouça-se Santo Agostinho: "As crianças são APRESENTADAS para receber a graça espiritual, o batismo, por todos aqueles que constituem a sociedade universal dos santos e dos fiéis, isto é, pelo POVO DE DEUS. É a MÃE IGREJA TODA, presente nos seus santos que constituem a igreja militante, padecente e triunfante que está a agir no momento, pois é a ela inteira que os gera a todos e cada um". Nem vale objetar que, sendo o batismo o sacramento da fé, deveria ser administrado somente àqueles que se encontrassem em estado de crer, o que não é o caso das criancinhas. Esquece-se de que ter fé é um dom, uma graça concedida por Deus. O batismo é o Sacramento da fé. A criança, pelo batismo, recebe a graça da fé, mas esta graça, para ser eficaz, exige o assentimento de quem a recebe. Enquanto graça, ela pode antecipar, preceder a aquiescência, prepará-la e aguardá-la. Daí dizer-se que o Batismo é uma iluminação para caracterizar a ação interior do Espírito Santo à qual mais tarde a alma se entregará. Esta fé não é uma fé perfeita e madura, mas um começo que é chamado a se desenvolver, no que se requer a ajuda dos pais e dos padrinhos. Em favor do batismo das criancinhas, acosta-se o fato pelo qual um pai, na esfera civil,inscreve, registra a criançinha no órgão competente tornando-se cidadã, sujeito de direitos e deveres de que , contudo, só disporá em casos específicos. Assim um pai, no seio da Igreja, que abençoou sua união e que desta espera os efeitos, introduz um filho no estado de vida espiritual que abraçou, onde ele acredita que está o caminho, a verdade e a vida. A esse filho é que caberá, atingida a idade da razão, apreciar o dom recebido no batismo, ou ratificando-o, ou repudiando-o ou simplesmente dele não tomando conhecimento. Observo, entretanto, que se trata de duas situações bastante diferentes, pois de natureza civil, política, a primeira, e de natureza sobrenatural a segunda. Toda comparação claudica!

segunda-feira, 21 de março de 2011

RIO = TRÊS DIAS DE ÊXTASE

Sim, parte de sábado, todo o dia de domingo, e parte de segunda! As praias enfeitiçadas de Copacabana, a suntuosidade, elitista embora, do Teatro Municipal, os braços divinamente acolhedores do Cristo Redentor, e, coroando tudo, o entusiasmo esfuziante do carioca, representando o povo brasileiro saudado no sotaque simpático do jovem visitante que do pai queniano tanto herdou que a nós anfitriões tanto irmana, não temas, jovem detentor do poder mais alevantado do planeta terra, que todas estas recordações aqui por ti e pela tua modelar família semeadas, sejam sepultadas no "negro vaso de água do esquecimento" ("Lusíadas", Camões). Como nem tudo é perfeito, o quadro da tela da pintura de tua vivência entre nós, para perpetuar a memória de tua família em nosso solo gentil, teve como moldura dois acontecimentos internacionais bastante preocupantes: o tremor de terra e o tsuname e suas consequências no Japão, e o mal-estar vivido na Líbia. E com a partida há pouco da família amiga para o Chile, vizinho mui querido, "brandamente os ventos os levaram, como quem o céu tinha por amigos. Sereno o ar e os ventos se mostraram, sem nuvens, sem receio de perigo". Foram esses três dias para mim, tudo passado, o despertar de uma tão longínqua infância, quando minha vó nos visitava. Mal descida da carroceria do caminhão, quase por uníssono os doze netos lhe perguntavam: "Vó! quando é que a senhora vai embora?!" E ela, séria ou brincando? "Então vocês querem que eu vá embora?" Ela sorria um sorriso alvejante na cabeleira presa num coque, e tinha logo início o nosso usufruir de dias tranquilos, sem uma cerrada vigilância de nossa mãe. "O tempora! O mores!" Assim, diferentes e lépidos se escoaram os dias de Obama e família na Cidade maravilhosa, cheia de encantos mil!

domingo, 20 de março de 2011

A IGREJA CATÓLICA É TRADICIONALISTA?

Tradicionalista, essencialmente conservadora é uma sociedade "cujas tradições tendem para a estagnação, perda de vitalidade e para a decadência. Que tentam perpetuar coisas e objetos e valores que o tempo impiedosamente destroi. Que estejam presas a uma contigente e material ordem de coisas: costumes, trajes, etc., que mudam e cedem o passo a qualquer outra coisa". Caberia este conceito de conservantismo humano , de tradicionalismo, à Igreja Católica, como frequentemente se ouve dizer? Não.porque o objeto da tradição católica é essencialmente sobrenatural, constando de uma só doutrina viva confiada por Jesus Cristo à Igreja que fundou. "A vida desta Igreja é a Verdade do Próprio Deus, espalhada na Igreja pelo seu Espírito e não pode haver qualquer outra verdade para a anular ou substituir". Sendo a Igreja originariamente sobrenatural, ela está em completa oposição com o tradicionalismo humano que se prende a uma ordem contingente e material de coisas, de elementos materiais. Claro que a tradição da Igreja consta também de acidentes secundários, materiais, uma vez que os componentes seus são seres humanos, sujeitos portanto aos costumes sociais, por exemplo. Mudanças ocorrem nas maneiras de se vestirem os sacerdotes, na substituição do latim nas missas pelo vernáculo, etc. Sua essência, seu núcleo, contudo, sendo a Verdade de Deus, permanece imutável. "Assim como o ato físico de respirar mantém o princípio espiritual unido a um corpo físico, cuja própria matéria tende sempre para a corrupção e para a podridão, também as tradições católicas conservam a Igreja com vida sob os elementos materiais, sociais e humanos que formarão crosta à sua superfície, enquanto ela existir neste mundo" ("Sementes de Contemplação", Thomas Merton).

sábado, 19 de março de 2011

MERTON EM CUBA - DÉCADA DE 1940

A RAZÃO DE MINHA VINDA A CUBA ERA REALIZAR UMA PEREGRINAÇÃO A NOSSA SENHORA DO COBRE. Eu estava aprendendo a coisa que não podia ser aprendida por completo senão numa cultura que, pelo menos exteriormente, fosse católica. Precisava-se da atmosfera do catolicismo francês ou italiano ou espanhol, para se ter a possibilidade duma experiência completa e todas as alegrias naturais e sensíveis que fluem da vida sacramental. Vivi naquela ilha como um príncipe, como um milionário espiritual. Toda manhã me levantava às 7,30, saía para qualquer rua batida de sol e entrava logo numa de suas várias igrejas, umas bem novas, outras datando do século XVII. Tão logo chegava, já podia receber a comunhão, caso quisesse, porque o sacerdote saía do altar com o cibório cheio de hóstias, antes, durante depois da missa. E cada quarto de hora começava uma nova missa num altar diferente. Para onde quer que me virasse, havia um sacerdote pronto para nutrir-me com a infinita força de Cristo que me amava e que estava começando a me mostrar com imensa e generosa prodigalidade quanto me amava. Muitas vezes saía duma igreja e ia ouvir missa numa outra, principalmente se acontecia ser domingo. Ouvia sermões harmoniosos feitos em espanhol, língua cuja gramática já por si é cheia de dignidade, misticismo e cortesia. Depois do latim, me parece que não existe nenhum outro idioma tão adequado para a oração e para se falar sobre Deus como o espanhol, pois se trata duma língua ao mesmo tempo forte e maleável. Tem em si timbres incisivos, tem a boa qualidade do aço, o que dá a medida de que precisa o misticismo, e, todavia, é branda também, gentil e fluente, coisa de que a devoção precisa. E é cortês, súplice e galharda, rendendo-se surpreendentemente pouco à sentimentalidade. Tem algo da intelectualidade do francês, mas não a algidez que existe nessa intelectualidade do francês, e jamais transborda nas melodias femininas do idioma italiano. O espanhol nunca é um idioma fraco ou tímido, nem mesmo quando nos lábios duma mulher. Depois que me dava por satisfeito de rezar, saía para as ruas, punha-me a andar entre luzes e sombras, parando para beber copos imensos de suco de fruta gelada, em pequenos botequins. Depois voltava para casa e me punha a ler Maritain e Santa Teresa, até chegar a hora do almoço" ("A MONTANHA DOS SETE PATAMARES", THOMAS MERTON).

sexta-feira, 18 de março de 2011

A GRAÇA ATUAL

Dois tipos de GRAÇA: GRAÇA HABITUAL e GRAÇA ATUAL. A GRAÇA HABITUAL ou SANTIFICANTE que nos coloca em ESTADO DE GRAÇA é um dom (dádiva) concedido gratuitamente por Deus, portanto sobrenatural, inerente à nossa alma, que nos faz santos, amigos de Deus, filhos adotivos de Deus e herdeiros do céu. Esse estado ou modo de ser nós adquirimos pelo batismo ou, se praticamos alguma falta grave contra os mandamentos de Deus, pelo sacramento da confissão ou pela contrição perfeita. E que vem a ser a GRAÇA ATUAL? Recordemos que, ao nos criar, Deus dotou a natureza humana, em germe, de valores ou virtudes naturais ou humanas: a lealdade, a honradez, a virilidade, a fraternidade, a sinceridade, a sociabilidade, a reta razão, a equidade, a rijeza, a sobriedade, que, através de nossas faculdades, inteligência e vontade, devemos desenvolver. Pois o homem deve tender a ser perfeito na sua concreta realidade de HOMEM. Será tanto mais HOMEM quanto mais arraigadas estiverem essas virtudes ou valores humanos na sua natureza. Ora, é pela reiteração, repetição de tais atos e pelos esforços pessoais que alcançaremos aquele ideal. Alcançado , depois da reparação da gravíssima falta de nossos primeiros pais pela redenção obtida por Jesus Cristo, o ESTADO DE GRAÇA, através do sacramento do BATISMO, todos aqueles VALORES ou VIRTUDES HUMANAS se tornarão VALORES SOBRENATURAIS, DESDE QUE PRATICADOS SOB O INFLUXO DA GRAÇA ATUAL. Repetindo: SE O NASCIMMENTO NOS FAZ HOMENS, DANDO-NOS UMA NATUREZA NA QUAL ESTÁ JÁ INSERIDO O GERME DAS VIRTUDES OU VALORES HUMANOS, O BATISMO NOS FAZ CRISTÃOS, proporcionando-nos a GRAÇA ATUAL que transforma aqueles valores humanos em valores ou VIRTUDES SOBRENATURAIS. Que é, portanto, a GRAÇA ATUAL? É um auxílio sobrenatural e transitório que Deus nos dá para nos iluminar a inteligência e fortalecer a vontade na produção de atos sobrenaturais. Chama-se auxílio TRANSITÓRIO ou ATUAL, porque consiste numa iluminação da inteligência, num estímulo da vontade dado por Deus para nos ajudar no momento a atender ao apelo, ao estímulo divino. Por isso, mesmo antes de adquirirmos o Estado de Graça, a graça atual, que é sempre dom de Deus, nos ilumina acerca da malícia e dos temerosos efeitos das faltas contra as leis divinas, para nos levar a detestá-las. Depois de adquirido o estado de graça, a graça atual nos mostra, à luz da fé, a infinita beleza de Deus e sua misericordiosa bondade, a fim de no-lo fazer amar com toda a alma.

quinta-feira, 17 de março de 2011

GRAÇA HABITUAL - ESTADO DE GRAÇA

GRAÇA tem o sentido, na religião católica, de dom, favor, ajuda, concedido por Deus gratuitamente, sem direito algum de nossa parte. A criação do ser humano por Deus foi uma GRAÇA. Quando ele enriqueceu sua alma e seu corpo daqueles valores ou virtudes naturais ou humanos foi outra GRAÇA. Quando Deus, criando o homem, o colocou num estado de justiça original ou estado de graça ou de santificação, tornando-o seu filho adotivo, foi outra GRAÇA de natureza mais elevada ainda. Esse tipo de GRAÇA tem o nome de GRAÇA HABITUAL por ser uma qualidade sobrenatural inerente à nossa alma, permanente por sua natureza, que fica em nós enquanto a não expelimos, cometendo voluntariamente alguma falta grave contra as leis de Deu Quem conserva A GRAÇA HABITUAL vive em ESTADO DE GRAÇA, o que nos torna capazes de fazer obras meritórias para a vida eterna. Como se adquire ESSE ESTADO DE GRAÇA? Adquire-se a primeira vez pelo sacramento do BATISMO e, se perdido por alguma falta grave contra as leis divinas, recupera-se pelo sacramento da PENITÊNCIA ou por meio da Contrição Perfeita de que falaremos oportunamente. É bom sabermos que basta uma falta grave apenas para que se perca o Estado de Graça bem como todo o mérito de nossas boas obras anteriores. Recuperado, porém, o Estado de Graça (ou Graça Santificante), os méritos passados tornam a viver, mas as obras feitas sem o Estado de Graça não adquiriram méritos. O ESTADO DE GRAÇA, ou Graça Habitual, é uma "inchoatio vitae eternae", um começo da vida eterna, uma prelibação da vida beatífica, o botão que já contém a flor, embora esta só vá desabrochar mais tarde. É pois do mesmo gênero que a própria visão beatífica e participa da sua natureza. Outro tipo de GRAÇA é a GRAÇA ATUAL de que trataremos noutra ocasião.

terça-feira, 15 de março de 2011

VIRTUDES NATURAIS - VIRTUDES SOBRENATURAIS

RECORDEMOS que, quando Deus nos criou, fomos por ele agraciados não só com o dom (ou "graça"= dom) da filiação divina, portanto com o dom comumente chamado de "justificação " ou "estado de graça", mas também com o germe de umas virtudes ou valores humanos, tais como a honradez, a laboriosidade, a sinceridade, a alegria, a solidariedade, a virilidade, etc.. Ao mesmo tempo, Deus dotou o ser humano do dom da "integridade", ou seja, da isenção da concupiscência da carne, dos olhos, da soberba da vida, assim como da imortalidade. Desobedecendo a Deus, nossos protoparentes perderam como castigo todos esses privilégios ou dons ou graças. Essa falta gravíssima, porém, foi redimida pela segunda pessoa da Santíssima Trindade que se fez homem, padeceu e morreu na cruz, ressuscitando dos mortos. A partir de então, recebendo o sacramento do batismo o ser humano torna-se cristão, readquirindo o estado de filiação divina, ou "estado de graça" ou de "justificação". Em tal situação, contudo, aquele VALORES ou VIRTUDES HUMANAS com que Deus dotara A NATUREZA HUMANA, passam a sofrer influências nocivas de forças internas ao homem, a saber, da concupiscência dos olhos, da carne, da soberba da vida, e de forças externas, a saber, do demônio e do mundo. Necessita, pois, o cristão, até como proteção à manutenção do "estado de graça" (ou "graça habitual") , da ajuda de Deus sob a forma de "graças atuais" , como são assim denominadas pela teologia, a fim de que aqueles valores ou virtudes humanas, assim fortalecidos pelo auxílio divino através de graças atuais, oportunas, e também dos dons do Espírito Santo, se transformem em VALORES ou VIRTUDES SOBRENATURAIS. Sobrenaturais, porque estão além das exigências da natureza humana. Dentre esses VALORES ou VIRTUDES SOBRENATURAIS, umas são chamadas VIRTUDES TEOLOGAIS, porque seu objeto imediato é Deus: são a Fé, a Esperança e a Caridade. Outras denominam-se VIRTUDES MORAIS, porque têm por objeto os meios sobrenaturais necessários para alcançarmos nosso fim sobrenatural: são a Prudência, a Justiça, a Fortaleza e a Temperança. O assunto continuará, "volente Deo".


a influência nociva da concupiscência , do demônio e do mundo,

segunda-feira, 14 de março de 2011

ENSINO DA RELIGIÃO

Creio que valores humanos, naturais, devem ser distintos de valores sobrenaturais. Valores ou virtudes humanas recebemos em germe com o nascimento. São princípios de ação ou potências de operação por meio dos quais desenvolvemos a lealdade, a honradez, a virilidade, a laboriosidade, a fraternidade, a generosidade, a valentia, a alegria, o otimismo, a sinceridade, a sociabilidade, valores que têm como bases a reta razào, a equidade, a rijeza e a sobriedade. Acontece que no estado de decadência em que fomos mergulhados pela desobediência de nossos protoparentes, apesar de nossa regeneração pelo Filho que se fez Homem, restituindo-nos a filiação divina, ficamos privados do domínio das paixões (ou isenção da concupiscência), bem como do dom da imortalidade. Assim como o nascimento nos faz HOMENS (seres humanos), inserindo-nos o germe dos valores humanos, o BATISMO nos faz CRISTÃOS, sendo assim incorporados em Cristo. Trata-se de uma participação real da natureza e vida de Deus, bem precioso entre todos que devemos estimar e guardar e cultivar com o mais cioso desvelo. Pelo batismo, o homem adquire a graça habitual, uma vida nova, "um enxerto divino inserido na árvore silvestre da nossa natureza o qual se combina com a nossa alma para nela constituir um princípio vital novo e por isso mesmo uma vida muito superior", sobrenatural. Contudo trazemos esse tesouro num vaso muito frágil, sujeitos que somos à concupiscência. Em consequência, aqueles valores ou virtudes humanas, adquiridos quando nascemos, necessitam de uma proteção divina, de graças atuais, para que aqueles valores simplesmente humanos, permaneçam valores sobrenaturais ou virtudes sobrenaturais. E para que esse processo aconteça, o ensino da religião parece de bastante eficácia: "fides ex auditu".