domingo, 23 de fevereiro de 2014

"BONS   SERVIDORES   e   NÃO   BONS   PATRÕES!"

Antes que se apaguem, sobretudo dos olhos de minha alma, pelas circunstâncias de nossa peregrinação neste "vale de lágimas", as confortadoras e santificantes imagens veiculadas pela RAI diretamente do VATICANO, transmitindo a Santa Eucaristia pelo nosso papa FRANCISCO, na presença dos cardeais ontem (22/02/14) recém consagrados, consigno aqui o ramalhete espiritual que me ficou de toda a cerimônia: "Que sejam os elevados ao cardinalato "BONS  SERVIDORES" e não "BONS PATRÕES"! Tradução do texto evangélico: "Eu vim para SERVIR e não para "SER  SERVIDO"! Quando seminarista no CARAÇA, setenta anos apenas passados, na oração da manhã lia-se um texto extraído de autores imbuídos do espírito de Cristo  ao final do qual se guardavam alguns minutos para reflexões - reflexões qual nada, adolescente, crianças sabem lá o que é isso? - tudo encerrado com um "ramalhete espiritual", uma espécie de resumo da lição transmitida. Acontece que o mamalhete oferecido pelo papa argentino, além de tudo que a cerimônia me apresentou de divino, de encantamento espiritual, o meu eu mesquinho me recordou um episódio jamais por mim esquecido. Comparecendo diante de um purpurado da Igreja para me comunicar o início de um processo eclesiástico em que eu impetrava minha redução ao estado laical, depois de longo chá de cadeira em palácio o secretário me comunicou o seguinte: "Sua eminência pediu-me dizer-lhe que não o receberá, porque compareceu SEM BATINA". BERNANOS bem que justifica tal maneira de proceder de tais membros do clero:  assim foram formados nos seminários, assim agem na vida. Como aquilo me doeu! Ainda bem que estava no mosteiro de São Bento, num dos intervalos de Vaticano II, o meu anjo da guarda, Dom Martinho Michler a quem recorri de imediato e se mostrou um bom  servidor. RAMALHETE ESPIRITUAL do que acabo de escrever: convido a você (que por acaso me lê) ligar sua TV aos domingos, às sete da manhã, no canal 205, RAI, para desfrutar de momentos gratificantes, acompanhando o nosso FRANCISCO durante insquecíveis momentos, na celebração da santa eucaristia e na alocução cheia de ensinammentos práticos que avivam a nossa FÉ. A propósito: o papa Francisco é jesuíta, da "Sociedade de Jesus". São Vicente de Paulo espelhou-se nas regras dessa congregação para criar a sua "Congregação da Missão". Um dia lhe perguntaram se era jesuíta. Na sua modéstia respondeu: "Quem me dera! Sou apenas um dos carregadores das malas dos jesuítas!"

sábado, 22 de fevereiro de 2014

O  CARDEAL  LEME  E A  AÇÃO  CATÓLICA

Eleito papa em 1922, PIO XI ampliara o movimento da Ação Católica como antídoto  da guerra, terminada em 1919. Para o papa, a Ação Católica é a participação dos leigos organizados no apostolado hierárquico da Igreja, fora e acima dos partidos, para o estabelecimento do reino universal de Jesus Cristo. O cardeal LEME fundou-a oficialmente em 09/06/1935  em sessão magna no Conservatório Nacional de Música no Rio, com autêntica onda de entusiasmo por parte dos leigos. Apesar de oposições, a AC operou significante renovação da vida cristã brasileira, sobressaindo o despertar de um viveiro de vocações religiosas e sacerdotais. Preocupado com o problema da fundação de uma Universidade, Dom Leme vislumbrou logo o germe de sua criação no Instituto Católico de Estudos Superiores funcionando no velho casarào da Praça Quinze de Novembro onde se instalara o Cenro Dom Vital.  Ai inauguraram-se as deslumbrantes aulas de Tristão de Athayde, de Frei Pedro Secondi, de Dom Thomás Keller e de Dom Martinho Michler sobre Liturgia. E sabe-se quantos jovens dessa fundação de Dom Leme se tornaram sacerdotes! "O êxito de tal movimento, escreve Dom Clemente Isnard, uma das vocações beneditinas ali brotadas, deveu-se ao conjunto dos dons naturais e sobrenaturais que exornavam a alma do cardeal. O sentimento da confiança que um tão grande bispo depositava em seus "apóstolos"leigos - e que "apóstolos": ainda em esboço - marcou-me para toda a vida. Quantas vezes chegado como ele à plenitude do sacerdócio, em visitas pastorais me lembro do Cardeal Leme e procuro honrar a sua confiança, fazendo gestos e dizendo palavras que ele aprovaria e que querem prolongar, no tempo, a irradiação da sua universal caridade" ("Magistério Episcopal", por Dom Clemente Isnard).

terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

HISTÓRIA  DO  CATOLICISMO  NO  RIO  NO  SÉCULO XX

O CENTRO  DOM  VITAL, FUNDADO POR JACKSON DE FIGUEIREDO em 1922 (a revista A ORDEM é de 1921) e  a AÇÃO  UNIVERSITÁRIA  CATÓLICA realizavam suas reuniões em duas salas numa casa na esquina da Avenida Rio Branco com a Rua do Ouvidor . Da FUSÃO  dessas duas entidades católicas nasceu  o INSTITUTO CATÓLICO DE ESTUDOS SUPERIORES, organizado em 1932 pelo presidente do Centro Dom Vital, Alceu Amoroso Lima, sob a orientação de Dom Leme, cardeal do Rio de Janeiro. No meado de 1932 das apertadas salas citadas a recém formada comunidade espraiou-se  pelo velho casarão (antigo Palácio Imperial), da Praça Quinze de Novembro. De 1932 a 1935 esse casarão tornou-se uma "animada colmeia", o berço da  COLIGAÇÃO  CATÓLICA, NOME ESCOLHIDO POR ALCEU para significar a "comunhão" entre as diversas organizações católicas ali agrupadas, a saber: a  biblioteca do Jackson, falecido em 1928, os membros do Centro Dom Vital, a animada e desordeira juventude "da Ação Universitária Católica", professores e alunos do Instituto, sendo as aulas seguidas também por "respeitáveis senhoras", eleitores e deputados da LEC (Liga Eleitoral Católica), além dos Operários dos Círculos do Padre Brentano. Era como que "um coração que, pulsando, influía na vida católica de todo o Brasil". Foi nesse casarão que, em 1933, DOM  MARTINHO  MICHLER, OSB. (1901-1988), com suas aulas de LITURGIA, inaugurava  o   MOVIMENTO  LITÚRGICO  NO  BRASIL. "A alma da Praça Quinze, escreve Dom Clemente Isnard em seu "Magistério Episcopal", era ALCEU. Sua disponibilidade, sua esperança otimista, sua voz alegre, davam vida ao velho casarão". 

domingo, 16 de fevereiro de 2014

COMO  FOI  O  DIA  31/03/1964?

Brasileiro algum, talvez, consiga ter uma análise mais real do que a que traçou Tristão de Athayde, em carta escrita a sua filha, analisando o ambiente vivido no país no dia 31/03/1964. Eram muito sombrias as notícias políticas, lembrando  1937, quando Getúlio Vargas, mestre do Jango, deu o golpe criando o Estado Novo. Embora as atitudes recentes mas indecisas de Jango dêem a impressão de que que imitará o mestre,  parece não acreditar no apoio militar do exército para se opor ao movimento hostil da marinha. Caso em que se poderia pensar numa revolução  de tipo comunista. O certo é que o momento é de perfeita perplexidade e de vigília de golpe que, salvo engano, viria de Jango, apoiado nas esquerdas, com a radical contrariedade do misssivista. Mais uma vez Magalhães Pinto (lembrem-se do Manifesto Mineiro!) deitou manifesto legalista, aliando-se ao PSD, portanto aos "direitistas", mas não lacerdistas. Tudo muito confuso, refletindo o momento de espíritos superarmados uns contra os outros, com os "apelos à concórdia "perdendo-se como risos de crianças no meio do barulho de uma festa... Prometendo descer ao Rio, escrevia de Petrópolis, era sua intenção almoçar com Dom Hélder que lhe daria notícias nada por certo tranquilizadoras. E na suposição de a revolução não estourar, era sua intenção ir ao Rio nos dois dias seguintes, "pois estamos em vésperas  de alguma coisa": 1930? 1937? ou ... o imprevisto de 1965?  Triste e pobre Brasil! Brasileiros sem amor, sem juízo, sem consciência, de parte a parte!"


terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

HÁ   CEM   ANOS   TRISTÃO   REGRESSAVA   DA   EUROPA

Em 1914 Tristão de Athayde (1893-1983) regressava da Europa aonde fora com o projeto de completar em Heidelberg seu curso jurídico, "uma veleidade mais ou menos vaga, que a guerra de 1914 se encarregou de tornar pré-histórica e ridícula". Em 1950, passados trinta e alguns anos,  Tristão, de volta à Europa,  descobre que  as duas carnificinas anteriores, de 14 e de 39, ainda não tinham satisfeito  toda a sede de sangue dos Moloques totalitários.  Apesar disso, foi cheio de confiança que voltou à Europa. Era pela quarta vez: a primeira  em menino, em 1900, a segunda adolescente, em 1909, na terceira, em 1912,  "levava a alma prematuramente envelhecida de nossa geração de moços sem mocidade, à busca de  uma cultura de puro diletantismo".  "Hoje, escreve ele, depois de 40 anos de interrução e de 40 livros pulicados, é com a cabeça branca, mas com uma nova mocidade no coração, que cruzo de novo esta linha  equatorial cujas calmarias tropicais já começam a fazer sentir-se neste terceiro dia de viagem entre céu e mar". "Fecho-me como outrora com a companheira fiel de todos os tempos: a Solidão. Sete lustros passados, tudo mudou de 1913 até hoje, salvo a fantasia, salvo o oceano. Pois o próprio "céu" para mim é outro!  Tristão converteu-se ao catolicismo em 1928. Que vou agora encontrar nesse Velho Mundo, tão ardentemente amado por todos nós que temos, como Nabuco, o coração na América e a inteligência na Europa? Primeiro, ROMA, pois em 1914 da Itália só visitara Santa Catarina de Siena (com Oxford e Ouro Preto um dos três encantos de minhas memórias urbanísticas). Bem sei que ROMA, no que tem de vivo, é, em grande parte, esse catolicismo mundano e burocrático que mais detesto. Bem sei que ROMA, a verdadeira ROMA, está não apenas junto ao túmulo do Apóstolo, mas em toda parte onde está Pedro e onde está a Igreja militante e sobrenatural: "Ubi est Petrus, ibi est Ecclesia et ubi est Ecclesia ibi est Veritas". Na França, fui a Pau "que tem para mim um espinho. Lá fui levar flores ao túmulo de uma irmã, Abigail, internada por meu pai no Sanatório de São Lucas, em 1912. Ali viéramos juntos de trem até Bayonne. Ali ele desceu com minha irmã mocinha e uma empregada. Foi a última vez que vi minha irmã mais velha. Fora uma menina linda. Machado de Assis fizera versos para ela recitar, pois gostava de brincar com ela na grade de nossa casa. Seus cachos louros encantavam o velho viúvo, melancólico. Fora linda e inteligente. Tão inteligente que alguma corda se partira muito cedo,  naquela menina que fora o encanto primeiro de um lar feliz". Saí de mãos  abanando do Sanatório, à procura de um túmulo. Tantos dramas semelhantes havia naquela casa sombria, que ninguém podia dar muita atenção ao que,  de tão perto, me tocava.  Fui passando os olhos pelos quartos, as mãos pelas árvores, como que a reter alguma coisa do que fora a sua vida, depois que nos deixara, naquela triste manhã de dezembro de 1912, até que trinta e um anos depois... "Esta volta à França ficará ligada para mim  a essa evocação  de uma sombra que passou por nossa vida, sem pesar nada sobre a terra, mas fazendo sangrar prematuramente ao menos dois corações amargurados. Deixo seu nome à testa deste capítulo, como deixei as violetas sobre a pedra de seu túmulo"("Europa de Hoje", por Tristão de Athayde, 1950).

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

AS  DORES  DA  CONVERSÃO  E  AS  DORES  DO  PARTO  SE  ASSEMELHAM?

Uma  autêntica conversão quase sempre se cerca de uma série de sofrimentos intelectuais e morais  à semelhança das dores de um parto. Escrevendo, JACKSON DE FIGUEIREDO, em carta de 09/08/1927,  a um TRISTÃO DE ATHAYDE, um ano antes de sua conversão ao catolicismo (1928), bastante desorientado nessa hora de resultados fatais de uma sublevação geral dessas forças negativas no império do homem, sofrendo  das oposições entre a CONSCIÊNCIA  que lhe impõe o VALOR DA FÉ, e a SENSIBILIDADE cansada ou demasiado trepidante que o distancia de uma sensação de conforto, nem sempre presente, de uma imaginada felicidade como efeito da conversão, JACKSON lhe lembra que JESUS o que veio fazer foi atestar o VALOR das ALMAS no espantoso horror deste mundo decaído, foi atestar a existência de uma saída para a luz de dentro desses muros de trevas. Foi mostrar que o difícil caminho da HUMILDADE  e do SACRIFÍCIO é o caminho certo para a glória da ressurreição na vida real. NÃO; NÃO é preciso ser feliz para sentir o VALOR da Fé, isto é, o valor da existência como uma coisa que tem sentido, que é conforme  com a nossa limitada razão. A hora em que vivemos é uma hora terrível, ainda mais desorientadora que as horas em que o mal parecia dominar tudo. É como uma cheia, uma inundação tudo cobrindo, confundindo tudo, límpidos rios de doutrina e córregos de infâmia, amazonas de hipocrisias e de sofismas, caudalosos rios da dúvida e puros mananciais da verdade. "Uma criatura viva, que vivamente deseje a verdade como você a deseja, não poderia deixar de sofrer muito". E recordando o que na época acabara de ler no diário de Livingstone sobre os costumes e o estado social e político do povo africano, JACKSON pergunta: Que significa esse espantoso castigo? Porque teriam sido condenados esses povos a uma tal degradação, a tal escravidão? Quem sabe se não se passará, mais dia menos dia, entre os povos ocidentais, o que se passou na África? Não estão eles perdendo o senstido da universalidade  cultural por exagero de cosmopolitismo material?  Não é fato que à hora em que o mundo todo se sente ligado pelo ferro e a eletricidade, todos nós somos mais ou menos vítimas de exacerbação nacionalista? E no momento de generalização democrático-socialista nào é que estão a surgir poderosas expressões do poder pessoal? Não virá aí uma nova Idade Média antes de Carlos Magno (onde houver um homem forte aí está a lei)? A quem crê na Igreja, afora pensar que tudo isso pode anunciar o fim do mundo, ainda resta a hipótese de uma crise final, antecipando melhores dias, e a outra de que  um deslocamento no eixo moral da terra, a civilização  que avança para outro lado, deixará mais uma vez a Europa e vizinhanças na treva e na ruína".