quinta-feira, 31 de maio de 2012

DE COMO SE PODE TORNAR-SE JORNALISTA.

Aflorou-me agora na memória - em que, de tantos invernos carregar, vão se cobrindo de bolor brocardos que sempre me cativaram - uma MÁXIMA que nesta semana de encantos políticos eu queria usar para caracterizar a figura de um deputado ou senador da CPIM, o qual, de chofre, se colou muito justinha sobre a de outro figurante em CPI passado, pela semelhança dos rostos e do caráter pouco republicanos, sob meu ângulo de vista, claro. O brocardo é o seguinte: "Asinus asinum fricat", isto é, "um burro coça, esfrega, outro burro"! Eu desejava, e desejo, aplicar o aforisma como conclusão da leitura do artigo da FOLHA (A26 mundo, de 31/05/12) a respeito do jornalista norte-americano GAY TALESE, 80, falando para jornalistas em São Paulo. Em 1966 meu irmão caçula GETÚLIO BARROS, repórter da MANCHETE e da NOTÍCIA, de Chagas Freitas, como eu andasse mendigando emprego e ele devesse descansar em BELÔ por algum tempo, conseguiu de seu chefe no jornal, MAURICIO AZEDO, que eu o substituisse, na esperança, dele e minha, de que, adaptando-me, ali encontrasse um meio de vida. O noviciado jornalístico durou dois meses, tempo suficiente para eu ler na imprensa carioca, de minha lavra, a tentativa da apresentação da beldade italiana, recém-chegada ao Rio, CLAUDIA CARDINALLE, à sociedade guanabarina. Afagou-me a vaidade o que produzi. Na entrevista dada à FOLHA o jornalista GAY TALESE confessou que, quando garoto, lia contos, pequenos romances, e mais tarde se perguntou se podia contar histórias não imaginativas, mas reais. Queria ser jornalista contador de histórias. Mas pessoas não contam sempre a verdade. Iria precisar conquistar a confiança delas. Aos poucos. Aprendeu com a mãe que tinha uma loja de vestidos e com o pai que era alfaiate. Eles deixavam as pessoas falarem, não as interrompiam. Queria escrever sobre pessoas que não estivessem nas notícias, queria ser o cronista de suas vidas. Sugeria um monte de desconhecidos e o editor dizia: Quem se interessa?" "Eu!" Uma reportagem começa na curiosidade. Aí precisa achar alguém que colabore. Chego nas pessoas com boas maneiras, sempre de terno e gravata, não importa se presidente ou lixeiro. Pergunto se pode colaborar pois tem uma história significativa.Não faço anotações enquanto a pessoa fala. No hotel, depois, escrevo tudo. Se a pessoa estiver ocupada e tiver que ir ao dentista, pergunto se posso ir com ela. Eu procuro situações. Quando entrei no jornalismo com 20 anos, diziam que a televisão ia matar o jornalismo impresso. Não acredito. Mas tem que ser de boa qualidade. Bons textos vão sobreviver, porque são bons". E agora me perguntam: a que serve neste texto o brocardo "Um burro coça outro burro"? No caso dos políticos semelhantes, a aplicação é óbvia. É como se se tratasse de colesterol mau. No caso do jornalista norte-amerricano, colesterol bom, explico-me: se tivesse permanecido na carreira de jornalista, bem que mal não me teria sido feito, se tivesse podido seguir no exercício da profissão os conselhos apresentados pelo jornalista norte-americano GAY TALESE.

terça-feira, 29 de maio de 2012

TRISTÃO: INESQUECÍVEL MESTRE

À tarde, sentado na varanda da rua Dona Mariana, Botafogo, Rio, ouço um rumor e vejo surgir aquela velha babá de tia Carmen, a PAULA, sobraçando um ramo de rosas cor-de-rosa para Mamãe. Tudo muito natural, mas ligado ao que eu pedia naquela manhã e ao meu estado de espírito. Tive um choque: pela primeira vez uma mensagem atingia em cheio o quarto andar da casa e ficou tinindo por lá, chovendo pétalas e esperança, até terminar o concurso e eu chegar num terceiro lugar, muito distanciado e humilhado. Fiquei pensando, enquanto não veio o resutado: as rosas pareciam ter sido uma promessa de vitória. Depois me pareceram... um consolo! "Você não tirou o concurso", pensei. "Mas não fique triste por isso. Aqui estou eu, aqui estão as minhas rosas, aqui está o meu sinal. APROVEITE A DERROTA, mais do que aproveitaria a vitória. Ao contrário dos processos humanos de procurar sempre a vitória como meio e como fim. Muito mais tarde fui ver que Simone Weil (nota a baixo) tinha tanto horror a vitória que no dia 11 de novembro de 1918, com a vitória dos aliados, fez-se "bolchevista". Depois passou ao anarquismo e estava à beira do catolicismo, quando morreu. O Corção (Gustavo Corção - 1896-1978) não gosta dela. Nem pode gostar... Mas eu gosto porque não sou cientista nem acredito em mim ou na inteligência como uma máquina infalível de pensar" (in "Cartas do Pai", pp. 99, com a data de 24/01/1959).
Obs.: 1. SIMONE WEIL (1909-1943) filósofa e escritora francesa, de origem judaica, participou das Brigadas Internacionais na luta contra Franco, na Espanha, e da "França Combatente". Seus livros, publicados após sua morte, têm forte ressonância místico-cristã.
2. Pelo muito que TRISTÃO me ensina através de seus livros e correspondência, inclusive com Jackson de Figueiredo, impus-me, como gratificante dever de gratidão, levá-l0 à lembrança de quem por acaso encontrar-se comigo na esquina de meu blog.

segunda-feira, 28 de maio de 2012

FOGO NO VATICANO E NO CARAÇA

Na madrugada d0 dia 28/05/1968, devorado pelas chamas, o CARAÇA se despedia de MINAS. Missão cumprida! Direta ou indiretamente, no longo período de 1820 a 1968, coadjuvado pelos seminários diocesanos de MARIANA, DIAMANTINA, pelo colégio de CONGONHAS DO CAMPO e pelos colégios dirigidos pelas IRMÃS DE CARIDADE, não se esquecendo as SANTAS MISSÕES, da serra do IRMÃO LOURENÇO DE NOSSA SENHORA, o ESPÍRITO SANTO soprou sobre MINAS, iluminando-lhe AS INTELIGÊNCIAS E MENTES com os sete dons pentecostais. Valeu? Em parte, sim, pois a boa semente do Evangelho, semeada, regada, ali se encravou, embora, com o tempo passando, a religião se transformasse numa religiosidade sem tutano, formalista, desossada, privilégio, se o for, também de terras de além mares. E eis que, senão quando, uma tremeluzente luz esmaecida amarelou os céus do pedaço das ALTEROSAS, de manhãs outrora purpurinas, acendendo de rubro carregado o farol anunciador do fechamento das portas do templo irradiador da mentalidade levada aos extremos do território mineiro impregnada da doutrina cristã sacramentada pelo Concílio de Trento. Encerrara-se a hora e a vez do CARAÇA! Quase ao mesmo tempo, do lado de lá do Atlântico, em 1963, um velhinho bonachão, um cardeal joão-ninguém como era visto por alguns áulicos purpurados, num largo sorriso empurrava as batentes das janelas do palácio dos papas, inaugurando a abertura do CONCÍLO VATICANO II. Em ROMA ( 1963), o ESPÍRITO SANTO, sem estrondo, sem vento a soprar impetuosamente, impelia flamejantemente o PASTOR ET NAUTA do POVO DE DEUS, o nosso JOÃO XIII, fulminado por uma língua de fogo divina, a bater de frente a uma instituição que gemia da vontade de dar à luz tempos arejados. No CARAÇA (28/05/1968), se em ROMA o fogo descera dos céus, aí subira do solo, iniciado num fogareiro esquecido aceso à noite, em chamas que consternaram a família mineira. Não seria uma mensagem decodificada, recordando aos responsáveis das pastagens divinas que os métodos de formação do clero e das consciências cristãs, católicas, careciam de urgentíssimas transformações?

sábado, 12 de maio de 2012

PRECE A UMA MÃE

"Se alguém julgar que eu pequei, chorando uns breves minutos por minha mãe, agora sarado de minha sentimentalidade, derramo outra espécie de lágrimas. Manam de um espírito comovido pelos perigos que não a cercam mais, vivificada que foi em Cristo, ainda antes de sua libertação da carne: viveu de tal forma que o nome de Deus era louvado na sua fé e nos seus bons costumes. Não ouso dizer que desde o tempo em que Deus a regenerou pelo batismo, não caissem de sua boca algumas palavras opostas à lei divina. Esqueço um momento as boas ações de minha mãe, pelas quais dou graças a Deus, para lhe pedir perdão de suas faltas. Sei que ela praticou a misericórdia e perdoou de coração as ofensas contra ela cometidas. Que vossa misericórdia, Deus meu, supere a vossa justiça, pois são verdadeiras vossas palavras e prometestes misericórdia aos misericórdiosos. Sei que já fizestes o que vos suplico, mas desejo que aproveis esta oblação voluntária de minha boca. Perto do dia de sua morte, minha mãe não desejou que seu corpo fosse pomposamente sepultado, nem ungido com aromas, nem ambicionou um túmulo magnífico, nem se preocupou com tê-lo na pátria. Mostrou apenas que nos lembrássemos dela junto de vosso altar, onde nunca tinha faltado um só dia a render-vos homenagem. Que ela esteja em paz com o marido, já que, anteriormente ou posteriormente à sua união com ele, com ninguém mais se desposou. Serviu-o com paciência, alcançando méritos para tembém o ganhar para vós. Inspirai aos vossos servos a quem sirvo pelo coração, pela voz e pela pena, inspirai a todos os que lerem estas páginas, que se lembrem, junto do altar, de MÔNICA, vossa serva, de PATRÍCIO, OUTRORA SEU ESPOSO, PELOS QUAIS ME INTRODUZISTES NESTA VIDA. Que se lembrem com piedoso afeto dos que foram meus pais nesta vida transitória e meus irmãos em Vós, e na Igreja Católica, nossa Mãe, e meus concidadãos na eterna Jerusalém. Por esta suspira o vosso povo na sua peregrinação desde a partida até ao regresso. Assim, graças a estas CONFISSÕES, o desejo último de mina mãe será mais copiosamente cumprido, com as orações de muitos, do que somente com as minhas" (do livro "CONFISSÕES', de Santo Agostinho (354/430), filho de Patrício e Santa Mônica, falecida quando voltava da Itália para a África, sua pátria).

sexta-feira, 11 de maio de 2012

"TEU FILHO" de HENRIQUETA LISBOA

Teu filho acaba de nascer.
Este, MÃE, é o momento
da TUA plenitude. Enlaça-o
no doce frêmito; ajusta
sua cabeça à TUA, assim de orvalho
umedecida; transfunde
a febre desses largos olhos
aos olhos encobertos de neblina.
Tua criatura TE pertence agora
de maneira perfeita. Face a face
ao primeiro contato FILHO e MÃE
são um todo carnal à maravilha:
a FLOR diante do ESPELHO - o FRUTO
a seus próprios reflexos devolvido.

Dois elos de corrente que se parte
entretanto contínua, que se rompe,
elo sobre elo desdobrado, absorto,
UM a verter, OUTRO a sorver
- perene sangue - a música da espécie.

(O sábio dedo preme a tecla
antes que solta vibre a nota)

Que matiz sobre tela. que madeira
com seus nobres entalhes, ou que pedra
lavrada a escopro conservara
pelas efluências da beleza
o puro ato materno?

(A roca fiou
a estriga e ainda retém
para remate a tecedura)

O FILHO é TEU enquanto suga
o néctar de teu seio. E anseia
pelo TEU morno arfar. E nem escutam
seus ouvidos senão o murmurinho
de embalo (sempre o limbo) da penumbra".

Obras completas - I poesia geral (1929-1983).


sexta-feira, 4 de maio de 2012

UM ÚNICO VOTO ELEGEU A VEREADORA

No Estado do PIAUÍ, no dia 23/04/12, tomou posse na Câmara Municipal de COIVARAS como vereadora, substituindo RAIMUNDA COSTA SANTOS, a senhora CONSTÂNCIA MELO DE CARVALHO. A "FOLHA DE SÃO PAULO" (Poder, 03/04/12) noticiou que, apesar de candidata ao cargo de vereadora, CONSTÂNCIA desistira de participar do pleito antes de sua realização, para cuidar do filho doente que considerava seu cabo eleitoral e que dizia aos seus eleitores que ela "não era mais candidata, mas que seu nome tinha ficado lá". No dia da votação, CONSTÂNCIA chegou à conclusão, porém, de que, votando em si mesma, ajudaria o partido do seu prefeito. Dito e feito. Terminado o pleito, apurou-se que, embora tivesse perdido a vereança, ficara entre os suplentes de vereadores, ainda que com um voto apenas, o próprio. Tendo sido a vereadora RAIMUNDA afastada do cargo "por infidelidade partidária", e tendo os demais suplentes, com exceção de CONSTÂNCIA, perdido o direito à substituição por terem trocado de partido com a proximidade das eleições, coube a CONSTÂNCIA DE MELO CARVALHO dar início a seu quarto mandato de vereadora na câmara municipal, confessando que "entre seus projetos está o de construir uma casa para idosos, querendo trabalhar pelo povo, pelo seu povo, embora não eleita pelo povo", como afirmou. Caso raro na justiça eleitoral do país, recordando-me o caso do CACARECO, aquele rinoceronte do zoológico de São Paulo que, nas eleições de outubro de 1959, ganhou cem mil votos! Ou o caso da eleição de um cavalo como cônsul pelo imperador CALÍGULA (12-41 depois de Cristo) que enloqueceu pelas extravagâncias de seu governo e de sua vida. Pertence-lhe o dito: "Gostaria que o povo romano só tivesse uma cabeça para poder aniquilá-lo com um golpe apenas". Ou, de outra vez: "Que me odeiem, contanto que me temam!" Ergueu um palácio para seu cônsul-cavalo, denominado historicamente INCITATUS. Faleceu com a esposa e filha numa galeria entre seu palácio e o fórum romano. Mas não estou esquecendo o caso de nossos congressistas eleitos pela legenda, inteligente criação de nossos políticos!

quarta-feira, 2 de maio de 2012

0 PADRINHO DE TRISTÃO DE ATHAYDE

"Somos hoje muito poucos os que sabem da existência de uma vida que, há 50 anos, em 09/1909, se transformava em letras de mármore num recanto esquecido do cemitério do Carmo, no Rio: ANTÔNIO MARTINS MARINHAS. Meu coração o sabe, porque ele encheu a minha infância e foi para mim, em face de Deus, o revelador dos mundos encantados das histórias maravilhosas que povoaram meus sonhos mais remotos. A chácara em que nasci, entre Laranjeiras e Cosme Velho, batizados cada dia pelas águas cantantes do rio Carioca, era contígua à do meu padrinho. As duas formaram a minha aldeia natal, um Rio à parte, próximo do Rio, e ambos tão longe e diversos do Rio de hoje, que são como mundos distantes, separados entre si por séculos e oceanos. Com meu padrinho a vida que contava ERA A VIDA AO AR LIVRE. No Cosme Velho ainda teve por algum tempo duas espertas bestinhas, que foram saindo cada vez menos, até que morressem e fossem vendidas, quando a vida piorou e o luxo acabou. E o coração começou a dar sinais de fadiga. Amei a meu padrinho tanto quanto a meus pais, tão intimamente participou da minha infância e adolescência e me quis como a um filho. Passados 50 anos de sua morte, estou certo de que o amo muito mais do que quando o deixei nas Laranjeiras, no portão do nosso 214, quando parti para a Europa em 1909. Gostava dele então como a criança gosta dos mais velhos sem sentir, sem saber, por simples hábito de vivermos junto deles. Hoje gosto dele porque sei o que ele foi para mim. Hoje gosto dele mais do que outrora, porque, perdendo-o, é que soube o que perdi. Não foi apenas a infância, não foi apenas a adolescência que sua morte levou de mim, escondendo lágrimas na saída rápida da janela, para que só guardasse dele o claro riso do amor à vida. Gosto mais hoje dele, por que me ensinou a amar a vida. Bendita a bravura com que enfrentou os ventos adversos da vida, esse homem bom, simples, amigo, alegre, contador de casos e amador das coisas boas da vida de cada dia, que hoje tão poucos sabem que um dia existiu e que marcou para sempre os corações que o amaram e hoje o amam mais na medida mesma em que o eaquecimento do mundo o faz viver apenas na saudade do seu menino" ("Companheiros de Viagem", por Alceu de Amoroso Lima, pp.130).