sexta-feira, 30 de outubro de 2009

cemitério - campo santo

Se você crê, como reza no Credo: creio na Comunhão dos Santos, na RESSURREIÇÃO DA CARNE, na VIDA ETERNA, você está afirmando que o fato conhecido como MORTE, falecimento, não pode ser um 'FINAR" (consumir-se, perder as forças, morrer, falecer). Você está, sim, coerentemente com a fé que professa, confessando que a alma se separou do corpo. Que este vai voltar a ser o que era, como você ouviu recebendo as cinzas na testa na quarta-feira de cinzas: "Lembra-te que és pó e ao pó te tornarás". Que a alma, um perfeito espírito, que deixou de animar, de informar o corpo, não "fina", isto é, não morre, não falece, mas continua a viver, a levar o gênero de vida que mereceu, que conquistou com a graça de Deus. Se houve apenas uma separação provisória das duas realidades: alma e corpo, com sua licença o termo FINADOS não me parece legal. Pois você rezou no credo que crê na RESSURREIÇÃO DA CARNE, isto é, que um dia alma e corpo transfigurado de novo se unirão. Além disto, o termo NECRÓPOLIS (de necrós"=morto e pólis=cidade) também eu poria a escanteio. E finalmente eu continuaria, "ad usum delphini", a denominar de "cemitério" esse espaço de terra onde guardamos os corpos dos nossos que se foram desta para a outra vida. Aprecio também a expressão "campo santo" de conteúdo bastante conforme ao que Jesus Cristo nos deixou nos Evangelhos. Dizendo alguém certa vez ao chefe da sinagoga que a filha dele tinha morrido, Cristo imediatamente lhe disse: "Não temas, crê somente. Ela não MORREU, está DORMINDO! E disse à criança: "Levanta-te!" Ela ficou de pé e Cristo ordenou lhe dessem de comer (Lucas, 20, 27). Doutra feita, as irmãs Marta e Maria procuraram aflitas o Mestre, dizendo que seu irmão Lázaro havia morrido e cheirava mal. Jesus lhes disse que, nada disto, que ele DORMIA e que iria DESPERTÁ-LO, como o fez: "Lázaro, vem para fora! Desatai-o e deixai-o ir embora!" (João, 11, 1 a 43). Como o "DIA DAS MÃES" devia ser cada um dos dias de nossa existência, assim o dia 2 de novembro deveria também ser objeto de nossa atenção cristã cotidianamente. Breve nos juntaremos aos que nos deixaram. Por que os abandonamos esquecidos no túmulo, embora em parte apenas ali presentes, o corpo ou só os ossos depois, sem pensarmos que aquele corpo vai ressuscitar um dia, transfigurado e unido à respectiva alma, o que acontecerá também com cada um de nós, não lembrados nós dos tão numerosos laços que em vida nos uniam de formas as mais diversas e queridas, daí as saudades que deles nos ficaram! Fui aluno do Colégio do Caraça durante a segunda guerra mundial. Numa aula de catecismo, o professor Padre MontÀlvão contou-nos que um general brasileiro foi com os soldados nossos fazer um estágio nos Estado Unidos antes de partirem para a Itália. E no hotel onde se hospedou declarou por escrito ser católico. Na igreja católica o pároco reservou-lhe um lugar de honra para participar do santo sacrifício da eucaristia nos domingos. Mas o general não apareceu! Que fez o pároco? Foi ao hotel perguntar-lhe se estava por acaso doente ou se por outro motivo não pôde estar presente na igreja! Com certeza ficou então sabendo que no Brasil se podia ser também católico não praticante. País católico, que nossas autoridades civis e eclesiásticas não se esqueçam da existência de nossos cemitérios, dos DORMITÓRIOS dos nossos irmãos que foram desta para a melhor. Alguém escreveu que pelos cuidados e atenções dados aos nossos cemitérios se pode ter uma ideia dos habitantes que em torno deles vivem! Que as flores que depositamos sobre os túmulos de nossos parentes e amigos simbolizem com perfeição o amor e carinhos cristãos que de fato lhes votamos! Lembremo-nos deles em nossas preces de cada dia! Sobre o túmulo de Trystão de Athayde e de sua esposa está escrito: "DURMA o SONO da PAZ".

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Pequeno Príncipe - Pequeno Pedestre


Títulos de dois livros. Um francês - "Pequeno Príncipe". O outro mineiro... perdão! brasileiro - "Pequeno Pedestre". Eu escrevi "mineiro", porque, além do sentimentalismo bairrista que pigmenta o espírito dos habitantes das Alterosas, sua edição em Belo Horizonte, em 1938, muito provavelmente não ultrapassou as divisas do Estado das Gerais. Com os meios de transporte muito primitivos -  embora Juscelino Kubitschek já sonhasse, prefeito nomeado de Belo Horizonte em abril de 1940, com o famoso "cinquenta em cinco anos"- com as principais nações do mundo em estado de gestação adiantada rumo ao indesejado deflagrar de mais uma guerra mundial (1939-1945), o autor do "Pequeno Pedestre" deve ter-se virado para a publicação de sua primeira obra , sabendo-se, ademais, que então o papel já era  objeto de difícil importação. Foi seu autor o  então jovem advogado e jornalista VICENTE DE PAULO GUIMARÃES, natural de Cordisburgo, terra natal também de seu sobrinho João Guimarães Rosa. Na época mantinha no jornal católico "O Diario" da capital mineira o "Suplemento Infantil" que breve se transformaria numa revista mensal infantil chamada "Era Uma Vez". Depressa crescendo-lhe os "netinhos", seus mini-leitores e apreciadores, pôde subir mais um degrau nas hostes literárias, iniciando uma série de livros infantis pela publicação de "O PEQUENO  PEDESTRE". Folheando-o hoje, após uma procura de quase setenta anos, confesso que com indescritível emoção, foi o primeiro  ou segundo livro que li na vida, o outro foi o "Jeca Tatu"de Monteiro Lobato, fico imaginando a influência cívica que exerceu sobre as crianças da época, sobretudo as da capital mineira que de repente se povoava de centenas de crianças advindas da interlândia em busca de melhores condições de vida. Contemporaneamente ao nascimento no Brasil do "PEQUENO  PEDESTRE'  em 1938, o "PEQUENO  PRÍNCIPE", irrompendo na França, invadia o mundo no início da década de quarenta, totalizando hoje  uma venda de 8 milhões de exemplares em 118 línguas. ANTOINE DE SAINT-EXUPÉRY escreveu sua obra-prima, "O Pequeno Príncipe", nos Estados Unidos, pouco tempo antes de partir para a guerra  e desaparecer, no mar, no dia 31 de julho de 1944, ao largo da Córsega, a uns cem quilômetros  ao norte de Bastia, sendo provável que seu avião tenha sido destruído  por aviões de reconhecimento alemães.  Dois livros, dois escritores primorosos, ícones de meu singelo altar de criança ontem, de adulto octogenário agora, qual deles levaria a palma, caso eu quisesse escolher hoje aquele que mais influiu na minha formação geral, a que mais indelével sentimento de gratidão  dedico pelas luzes de sadio humanismo que me iluminam a vida? De SAINT-EXUPÉRY, entre tantas lições que muito espiritualmente me falam, transcrevo aqui e agora aquela de sabor místico que Cristo, Deus humanado, assinaria em baixo: "Amigo é aquele que não julga. É aquele que abre a porta ao mendigo, à sua muleta, à sua bengala encostada num canto, é aquele que não lhe  pede para dansar a fim de julgar sua dansa. E se o mendigo descreve a primavera  no curso de sua jornada, amigo é aquele que recebe em si a primavera. E se fala do horror da fome na cidade donde vem, amigo é aquele que sofre com ele.  Juízes encontrarás aos montes mundo afora.  Se te quiserem modelar à sua maneira, deixa isto para teus inimigos que saberão fazê-lo com perfeição, do mesmo modo que sabe fazê-lo a tempestade que esculpe o cedro.  Teu amigo é feito para te receber. Quando fores a um templo, aprende com Cristo que não mais te julga mas te acolhe ("Cidadela"). 

sábado, 24 de outubro de 2009

Por que onze apóstolos?

Há uns três dias fui ao centro do Rio. Na rua Rodrigo Silva entrei na igreja de Nossa Senhora do Parto. Colocada bem no coração da cidade, sem aparência externa de templo católico, sob a forma de um quadrilátero, com ar refrigerado, bancos confortáveis, um altar central no fundo e dois laterais, além de uma capelinha à direita do altar-mor onde se conserva o Santíssimo, há mais de trinta anos tornei-me seu frequentador, pois durante esse período lecionei na Universidade Cândido Mendes, bem pertinho dela. Nunca a encontrei vazia. Creio até que um ou outro cristão encontre ali um bom refúgio nos dias de muito calor ou apenas para ler seu jornal, como observei algumas vezes. Aposentado como professor, levei meses sem visitá-la. Notei, agora,  os melhoramentos introduzidos para torná-la mais funcional e atraente, o que por certo muito agradou a Nossa Senhora do Parto. Chamou-me, porém, a atenção a existência de um vitral de cores bastante vivas cobrindo todo o fundo do templo, atrás do altar-mor. Reprodução da Santa Ceia do pintor italiano Leonardo da Vinci. Examinando-o com atenção, logo percebi a ausência de um dos doze apóstolos. Pensei que fosse Judas. Mas sua presença facilmente se descobre, pois não traz na cabeça a costumeira coroa da glória celeste, além ter sido pintado quase que à margem dos demais discípulos de Cristo. Nunca perdi de vista a Ceia de Mestre Ataíde, desde fevereiro de 1973 colocada na tribuna da esquerda da igreja do Caraça," bastante visível do meio da nave central". E ali os doze estão presentes, "formando quatro grupos de três, dando à ceia a majestosa solenidade que lhe convém. Impressiona o contraste entre as atitudes de São Pedro e Judas cujos rostos são muito parecidos" ("Guia Sentimental do Caraça", Sarnelius, pg. 151).  Hesitante sobre o real número deles, consultei o velho manual de Hadriano Simon Prado , C.SS.R., em suas preleções sobre o Novo Testamento. Felizmente, apesar do latinório bastante acadêmico do autor, ao ponto de meu colega de seminário Jarbas Ornelas me ter na época confessado que, se casado um dia, colocaria no filho o nome dele, verifiquei que de fato doze foram os apóstolos presentes na Ceia de Cristo e na pintura de Leonardo da Vinci. Eram eles: São Pedro, André, João, Tiago Maior, Felipe, Bartolomeu, Tomé, Mateus, Tiago, filho de Alfeu, Tadeu, Simão Cananeu e Judas Escariotes. Gostaria de saber por que motivo (e pode existir algum que eu desconheça) 0 número dos apóstolos presentes na Ceia de Cristo baixou de doze para onze no vitral da igreja de Nossa Senhora do Parto da Rua Rodrigo Silva no Rio de Janeiro. 

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Eureca! Pedestre descoberto!


Só me faltou ontem estourar um champanhe e gritar como Arquimedes: " Eureca!" Depois de mais de 50 anos de indagações e de buscas, bateu-me à porta,  infantilmente sonhado, o pedestre pequenino que nunca mais esqueci.  Costuma-se perguntar:  "Quem não  se lembra do primeiro beijo dado, do primeiro amor que teve, do primeiro cigarro experimentado?" Se,  de bastantes primeiras emoções ando à distância, de uma sempre meu íntimo conservou a lembrança e "em berço esplêndido": o encantamento que me marcou, indelével,  o primeiro livro que li, "O PEQUENO PEDESTRE"! Verdade seja dita, entretanto, que hesito em afirmar se foi mesmo este ou o livro de Monteiro Lobato, "O  JECA  TATU", o primeirão.  Aquele, porém, foi o que mais povoou o despertar de minha infância, presente que ganhei do VOVÔ  FELÍCIO, escritor de Belo Horizonte, fundador da revista: "CARETINHA", e do  SUPLEMENTO INFANTIL de O DIARIO, e da revista  "SESINHO" , mas especialmente da revista mais  querida minha e de meus irmãos, a " ERA  UMA  VEZ"!  Vovô Felício era o pseudônimo de Vicente de Paula Guimarães, tio de João Guimarães Rosa. Eu tinha dez anos quando me apaixonei pelo Pequeno Pedestre. Menino de Bonfim, uma quase roça que, por sinal, antes se chamara ROCINHA, o deslumbrante livrinho, dedicado às  CRIANÇAS   DE  MINHA  TERR A, isto é, de MINAS  GERAIS, revelou-me, através de suas cores, de seus encantadores desenhos, e sobretudo da simplicidade de seus conceitos expressos em forma de versos quase todos, me contou, repito, no silêncio de meu quase êxtase que, além da Rua de Baixo onde eu morava, do Sapé  que me roubava horas preciosas de nada fazer, existia pedestre, e bonde, e sinais luminosos, verde, vermelho e amarelo, e inspetor de trânsito, e regras muitas para se obedecerem, quando se atravessa uma rua! E como me dava o desejo de ir a Belo Horizonte para testar o que aprendera! Nunca esqueci o que li logo na abertura do livro: "Você, criança inteligente e sadia, muito cuidado, muita atenção quando andar pelas vias públicas. As ruas foram feitas para o trânsito dos veículos, e as calçadas para o dos pedestres. Este livro é para que você seja um bom pedestre e para que esteja sempre atento. Ele é para você. Aí está em suas mãos. Leia-o e siga seus conselhos". Ontem foi para mim um dia inesquecível. O dia do reencontro com o meu "PEQUENO PEDESTRE", graças à amizade que me liga a Vicente Guimarães Junior,  filho do VOVÔ  FELÍCIO. Tenho dito!

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Recordar hoje minha mãe, aniversariante do dia!

Como me faz bem recordar hoje minha mãe! Recordar minha mãe hoje, no seu centésimo oitavo dia de nascimento, é contemplá-la  ajoelhada, desatando  a fita que me prendia as mãos recendendo a santos óleos e lhe dando minha primeira bênção de padre recém ordenado! Recordar hoje minha mãe é escutar-lhe longe a voz imperativa me gritando: "Lulu! Lulu!"e eu a ouvi-la assustado, sentado no salão de estudo no Caraça, menino de 12 anos de idade! Recordar hoje minha mãe é estar ainda a ouvir silencioso o tlac-tlac do tear, manejando rápidos pés e mãos reumáticos, fazendo brotar ativamente colchas as mais lindas que já vi! Recordar minha mãe hoje é observá-la na cozinha colhendo do forno tabuleiros cheirosos de bolos e biscoitos, e das panelas e tachos compoteiras de doces saborosos! Recordar hoje minha mãe é vê-la a caminho de nosso sítio, o Sapé, trouxa de roupa usada na cabeça prateada, chinelos de pano grosso nos pés, acolitada quase por 2 ou 3 ou mais rebentos que ensinava cedo a trabalhar! Recordar minha mãe hoje é apreciá-la comentando com comadres ou compadres as fofocas quentes da cidade! Recordar minha mãe hoje é descobri-la sentada à tardinha, findas as labutas, inteirando-se da política do país e do estado nos jornais até do Rio que assinava! Recordar minha mãe  hoje é sentir-lhe por vezes e foram tantas as mãos pesadas no afã de  afastar-nos da preguiça e malandragem! Recordar hoje minha mãe é viver com ela o prazer santo em receber em casa a Senhora Visitadora e botar-nos a rezar com os adultos, aflitos pelo momento dos comes e bebes! Recordar hoje minha màe é experimentar nos braços seus beliscões, quando em vez de "Te rogamus audi nos", cândida e molecadamente respondíamos: 'Torrão cai no olho de nós!"Recordar hoje minha màe é presenciar sua coragem diante de quem ousasse passá-la para trás. Que o diga o Pedro Militão, fiscal da prefeitura que ordenou um dia a seus mandados lhe cortasse uma  bougainvillea enfeitando externamente nosso sobrado: "Se você é homem, corte, seu sem vergonha!"E lhe mostrava da janela a mào de pilão que o esperava. Recordar hoje a mãe, assim é que a chamávamos, é só ter convivido com sua máscula proteção até aos 12 anos de idade, quando ela conseguiu para mim a internação gratuita no colégio do Caraça! Recordar hoje minha màe é ter recebido  dela o recado de que eu não a considerasse mais minha mãe, quando soube que eu deixara o sacerdócio! Recordar minha mãe é ter sido eu recebido por ela  um ano depois, no dia da morte de meu irmão Getúlio, apertando-me as mãos e dizendo sorrindo:"Que bom, Lulu, você ter vindo!" Recordar minha mãe é, saindo do Rio com a família para celebrar seus 80 anos no dia 19 de outubro de 1981, encontrá- la hospitalizada em Belo Horizonte, donde o bom Pai a transportou para o Céu, onde recebe o prêmio pelos 17 filhos que trouxe ao mundo! Parabéns, mãe!

domingo, 18 de outubro de 2009

Curiosidade

Ontem, sábado, fui à missa na igreja do Colégio Santo Inácio. Aprecio o estilo do atual encarregado dessa capela. Lembra-me o Padre Sílvio Batista Martins, lazarista: pela cor, pelo físico, pelos modos mais comedidos de gesticular, pela simpatia e simplicidade no contato com o auditório. Os frequentadores me parecem satisfeitos, a frequência cresceu. Introduziu o costume dos pastores evangélicos: posta-se à porta do templo no final da missa e vai cumprimentando os que saem. Confesso que não aderi a tal ritual importado, bem como ao costume pós-vaticanista segundo de os fiéis se cumprimentarem por ocasião da PAZ , antes da distribuição da eucaristia. Léa Maria me contou que, quando esteve na Polônia, participou da celebração eucarística numa igreja católica. No momento chamado "da Paz" os fiéis longe de perturbarem  o ambiente com apertos de mãos e com sinais outros, com sorrisos e palavras e abraços e até deslocamentos de bancos, como se vê no Brasil, desde que não haja gripe suína, apenas movimentam levemente a cabeça em direção ao vizinho da direita e da esquerda, pronunciando baixinho a saudação: "A paz esteja contigo!" Ontem, porém, na missa eu me diverti um pouco, depois da comunhão,  face à cena vivida no altar com a participação do celebrante e de três ministros da eucaristia. Durante cerca de 5 minutos, os 4 nos proporcionaram um mini-balet silencioso, religioso e sério através de uma múltipla permuta de posições, de lugares, de movimentos e de ações recíprocas que chamariam a atenção de um estranho que o reparasse. Cálices eram levados à boca, ora de um ora de outro, todos cuidadosos de passar uma espécie de lenço (sanguíneo) na borda dos recipientes usados. De vez em quando alguém derramava água nos vasos e o movimento  de novo se repetia. De repente todos sossegaram e reparei que o ministro da eucaristia mais idoso se demorara bastante a sorver o conteúdo do seu cálice! E a missa prosseguiu. A cena facilmente se explica. Quando o sacerdote consagra o pão e o vinho em virtude do poder que Cristo lhe outorgou pela ordenação, sob as espécies do pão e do vinho a substância  do Corpo e do Sangue de Cristo está realmente presente no lugar das substâncias naturais correspondentes a essas espécies de pão e de vinho,  e permanece presente  verdadeiramente, realmente e essencialmente, durante todo o tempo em que permanecerem aquelas espécies, inteira e indivisível (a substância) sob cada uma das espécies como em cada uma de suas partes. Daí ter o celebrante, depois da consagração do pão e do vinho, pronunciado as palavras: "Mistério da Fé!" E então por que aquela cena no altar? Simplesmente porque, tratando-se do vinho consagrado, isto é, do sangue de Cristo, não podendo as espécies do vinho se conservarem por longo tempo, daí a prudência de não se guardar o sangue de Cristo no sacrário.  Os cálices, continentes do sangue de Cristo, uma vez sacramentalmente bebido o seu conteúdo, isto é, o sangue de Cristo, devem ser purificados por meio de água e enxugados por meio do sanguíneo, para que gota alguma do sangue de Cristo neles permaneça.

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Faz hoje 58 anos!

Em seu livro de memórias "Pourquoi suis-je moi?"Julien Green diz que "as lembranças vivem como pessoas que esperam  num salão vizinho prontas para entrar.  A  plena luz do sol do presente, porém,  as eclipsa e elas continuam a permanecer como sombras em redor de nós, atentas ao menor chamado". Há 58 anos, na manhã do dia 15 de outubro de 1951 eu  confiava ao amigo Marçal Versiani dos Anjos uma carta, pedindo-lhe que a lesse e depois a encaminhasse ao correio de Petrópolis.  Sabendo da doença séria de meu pai, escrevera em quatro folhas de papel, duas delas encontrei depois  nos pertences de minha mãe, palavras de filial exortação  a que ele confiasse muito em Deus.  Marçal fixou-me os olhos por alguns segundos misteriosos, pensei eu pelo inusitado do pedido,   mas logo balbuciou um enigmático sim. Na manhã seguinte, antes do início da oração da manhã,  às  4,30, o Padre MontÀlvão me comunica que meu pai falecera no dia anterior, donde o susto do meu amigo Marçal já conhecedor do fato, quando o procurei na véspera. Eu cursava, então, a teologia no Seminário São Vicente de Paulo, em Petrópolis. Nascido em 18 de junho de 1895, o Quive, como o tratávamos, faleceu com 56 anos. Meu último contato com ele ocorreu em janeiro de 1947, quando dei entrada no noviciado do seminário dos padres lazaristas na Cidade das Hortências.  

Ainda sobre o Sapé.

Meu caro João. Por três vezes tentei responder ao que você escreveu sobre  Sapé que deixou para sempre de ser nosso.Fisicamente, materialmente, pois memorialmente não desaparecerá. Gostei de sua complementaçào e de seus justos comentários. Nào pude deixar de sorrir do poder imperialista atribuído por você aos nossos genitores. Com certeza observou que me lembrei de suas palavras descrevendo nossa vida no Sapé. Nào me processe por apropriaçào literária indevida, pelo amor do Quive e da Màe. A esta altura do dia, você deve estar se encaminhando para o Caraça. De trem também? O Gauthier saiu daqui do Rio bem cedo com o mesmo destino seu. Abraços pra todos da casa do Joào Grande! E continue a enriquecer seu blog... ou o meu! 

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

11 de outubro - Dia da Senhora Mãe dos Homens.

Em muito breve,  nova obra lítero-sentimental vai pôr em relevo a grandeza passada e presente do nunca por demais decantado Caraça. Dos vários e saudosos brindes ali erguidos, um particularmente sobressai em que a personagem, visitando pela primeira vez o milagroso santuário, assim  nos relata: "Na noite do meu primeiro dia no Caraça, trouxe para a cama os vários livros que comprei na lojinha do Santuário. Abri um ao acaso e li: No tempo do Irmão Lourenço celebrava-se a festa da padroeira aos 29 de agosto. Era exatamente  o dia 29 de agosto, dia da minha chegada ao Caraça! " Como fui eu deixar passar despercebido o dia 11 de outubro próximo passado, esquecendo-me da homenagem à Senhora Mãe de Deus por nós chamada Mãe dos Homens, denominação a "mais bela de todas as que lhe foram dadas?! Logo eu que sob seu manto divino-maternal ali vivi por dez anos longamente abençoados. Sou muito agradecido ao Caraça que no meu canhenho faz uma coisa só com Nossa Senhora Mãe dos Homens, a tal ponto que  a só ideia, expressa pelo bispo Dom  Vicente Zico a Dom Miguel Angelo Freitas Ribeiro, bispo de Tocantns, perguntando-lhe se eu  falava mal do Caraça no opúsculo Antes que Anoiteça,  confesso que teria ficado triste, se Dom Vicente já não me tivesse escrito e envaidecido com as palavras que me dirigira. " Ele, escreveu-me o bispo de Tocantins, interrogou-me com certa tristeza nos olhos; acho que desta tristeza de Minas que não sai e todos carregamos: "fala mal ou bem do Caraça? "Disse-lhe que até onde havia lido, embora Padre Lauro Palú diga dos seus demônios, senti como uma declaração de amor, às vezes um pouco doída, mas amor. Não sei se acerto. Mas, antes que anoiteça, escreva mais..." Ó minha Nossa Senhora Mãe dos Homens, continue a sua bênção sobre mim, sobre meus filhos, meus netos, amigos e fale com a Léa Maria que em cada recanto de nosso lar sua transfigurada presença nos conforta.  

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Dona Nadir e Dr. Luiz

Ontem fez 7 anos que Da.Nadir se mandou: 13/10/02. E venho agora do SãoJoão Batista.Logo na entrada do cemitério topei com o Marco Aurélio. Ele continua, Léa Maria, a cuidar dos leitos de nossos falecidos. Contou-me que no início deste mês serviu de guia a uma senhora que procurava o túmulo d0 Dr.Luiz desde bastante tempo, pois fizera os partos de seus cinco filhos. Lá chegando, encontraram ainda fresquinhas as duas rosas, vermelha e branca, por mim deixadas e por ela fincadas então na terra de pequeno vaso ali existentes.Ontem eu e Penha nos lembramos de sua mãe, Léa Maria. Conheci-a quando com sua recomendação me tirou as medidas para a Meirinha me fazer um pulôver. Encontrei-a em casa ao lado da Fernanda, pequenina, sete anos talvez, foi em 65 ou 66, de vestidinho comprido. Quatro anos depois, no dia do pouso do homem na lua eu me apresentava a ela e a seu pai, para uma exame do bicho do mato que planejava roubar-lhe a filha. E nos casamos e adquiri um lar e, com a anuência virtual da mãe, também novo pai, o Quive já tinha morrido, e uma segunda mãe, a Dona Nadir. Quanta emoção deve ter causado aos anjos do céu o seu reencontro com eles e com o Zé Mario, seu irmão, e com a Paulinha, sua sobrinha, sob os aplausos de todos os demais parentes e amigos já do lado de lá, hem, Dona Léa Maria? Benza-os Deus!

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Adeus, Sapé!

Acabo de saber do sobrinho Júlio César que o Sapé não existe mais! E ao dizer-lhe, aliviado até, que afastamos de sobre nós um peso até certo ponto estressante, respondeu-me numa lacrimejante e quase abafada voz: "em parte sim, tio, em parte não!" Foi o bastante para eu cair na real. Em parte sim, falo por mim, porque, residindo há 40 anos no Rio, por mais que sonhasse, impossível era tirar proveito do pedaço de terra que ali herdamos de nossa mãe e de nosso irmão Luiz. E quanto mais o tempo se diluía, mais difícil se tornava ocupar com saudável e gratificante finalidade aquele torrãozinho que era por direito e por escolha um pedaço de nós. Em parte não, e por quê? Faz 70 anos exatamente que o Quive e a mãe compraram o Sapé. A partir de então nosso lar se duplicou, tornando-se com o sobradão dois irmãos gêmeos. Como nossa existência se modificou! A metade do dia passávamos no Sapé. Saíamos do grupo escolar, almoçávamos e... Sapé de sobremesa!  A mãe punha a trouxa de roupa usada na cabeça já embranquecida, a gente carregando o balde de lavagem das criações, um outro irmão com a marmita do Antônio e assim troteando silenciosos rodeando a mãe tomávamos a rua do Vira-Unha, atravessávamos a pinguela do Sô Bismarque, a Santa Casa em construção à nossa direita com a casa do Carlindo à esquerda e depois ainda à direita a casa do Rosa e chegávamos ao Sapé. E nenhum de nós ficava à toa. Varrer a casa, o terreiro, caçar ninhos de galinhas no terreno do Lulu defronte da casa, dar comida para as galinhas e patos e perus e ajudar a tratar dos porcos. Mais à tardinha, molhar as plantas: canteiros de alface, de repolho, de ervilha, de tomate, de couve comum e de  couve-flor, de almeirão, de cenoura, de nabo, de rabanete, de cebolinha e de cebola de cabeça e de alho e de que mais, santo Deus? Debulhar milho. Cuidar dos coelhinhos, habitantes do porão da casa. E de vez em quando, ajudar na busca de alecrim para limpar o forno onde a mãe assava as saborosíssimas quitandas com que nos alimentava. E a mãe ainda achava tempo para fazer polvilho, farinha "de munho"com fubá torrado misturado com nacos de toucinho, que delícia! e o fubá saía do moinho de pedra vizinho do monjolo, tocados pela água que descia da casa do Lulu. Foi no riozinho no fundo do terreno que pesquei o primeiro peixe de minha vida. Era nossa rara distração quando chovia muito e o córrego enchia e a água avermelhava. Mas a gente ficava doido para voltar pra "casa da rua"! E a mãe, findas as tarefas essenciais, se perdendo filósofa a cuidas das rosas e flores várias que enfeitavam as hortaliças, sem nem desconfiar do mal estar da gente que não via a hora de encerrar o expediente. E se era o mês de maio, que dor no coração quando começava a escurecer e nada de regressar para a reza na matriz e para ver as garotas que já paquerávamos no largo, depois da coroação de Nossa Senhora! Sinceramente, eu não gostava do Sapé! Foi, porém, a maneira, estou quase certo, que o Quive e a mãe encontraram para alimentar seus doze filhos criados. Perdoe-me, César, por ter esquecido tudo isto, quando lhe disse que com a venda do pedaço do Sapé que a mim e meus filhos e a Léa Maria tocava tínhamos sacudido um peso dos ombros, sem ouvir os soluços de nossos corações  agradecidos e saudosos! Adeus, Sapé! A ingratidão, que coisa mais feia!

Visita com atrazo

Dia 11/10/09, domingo, encontrei fincadas num vasinho da sepultura da Léa Maria as duas rosas que no dia 03/10/09, aniversário do Tuca, ali deixara. Duas surpresas: encontrei-as ainda, murchas embora, convencendo-me assim que faço mau juízo, quando julgo que quase tudo que se leva aos mortos mãos  reais mas invisíveis surripiam. Outra surpresa: falava com nossa amiga distante (a verdade é que está agora muito mais perto de nós, em outra dimensão, é claro!), quando descubro a uns 30 metros, sobrevoando uma imagem de Cristo de braços abertos um casal de borboletas grandes, de um colorido amarelo claro, realçado por um sol quente matinal, circunvolando uma penca de rosas vermelhas em volta do ícone. Lembrava a Léa Maria a misteriosa apariçào da borboleta  na varanda de nosso rancho em Petrópolis há um mês, com o número 80 bordado nas asas, e de repente o sorridente casal levanta um voo ziguezagueante e certamente nupcial, visào que de novo me trouxe o que há dias pensei. Se já gostava de visitar os cemitérios, muito bem mais motivo tenho agora de predileção pela sua companhia. É que ali se acha, aguardando a ressurreiçào, o casulo donde se desprendeu a borboleta que os anjos faz onze meses em leito de rosas e coroas gotejando saudades conduziram até o trono do Pai que  muito nos ama. Continue a dormir o sono da paz, Léa Maria!  

sábado, 10 de outubro de 2009

Onze meses! 10 de outubro de 2009!

Como o Cristo que ela jamais esquecia Léa Maria teve sua Semana da Paixão. Quinta-feira, dia 6 de novembro: operação no Pró-Cardíaco. Tudo deu errado! Sexta-feira: ela me confirma o que ontem me revelou com o indicador mudo da mão direita presa. Foi o segundo dia do seu Calvário. E o sábado foi o terceiro dia: hemodiálises, transfusões, e afinal o dia da Ressurreição. Nosso bom Anjo da Guarda e Nossa Senhora carregaram-na para junto dos parentes e amigos que a esperavam. "Venha, Léa Maria, tomar posse do cantinho celeste que você soube conquistar!"E hoje nós a confiamos à màe terra. Aí repousa o casulo, a borboleta transfigurou-se. Ficou-nos a saudade, as lembranças dos tantos bens que nos fez, a certeza de que mais lá do que aqui nos protege e nos ama de uma maneira muito mais eficiente  e de que vive a mais perfeita felicidade junto da Trindade que a plasmou na terra. Consolemo-nos:  sua vida não nos foi tirada, mas apenas transferida para morada mais digna de quem passou seus dias espargindo bondade, dando o máximo de si pelos seus. 

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

9 de outubro de 2009. Onze meses!

O Tuca, a Mariana, a Penha, o Gael estava no meu colo rindo, muito longe de tudo que se passava, quando a Nariana te chamou, Tuca, lá no quarto e você voltou rapido e me falou: Pai, a mÃe acabou de morrer! E logo me levaram o Gael lá pra dentro e ficamos nós dois num silencioso abismo de desolação. Tudo na vida é mistério. Ela se foi porque queria ficar mais perto de nós!

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Teu natal numa explosão de brasilidade, Tuca!

Tua màe e eu, Tuca, no fusquinha saimos voando para a casa de saude São José. Um pouco antes do portão de entrada o sinal fechou e Léa Maria nervosa gritou ao guarda lhe abrisse caminho pois estava na hora. Ela subiu para a sala de operação e eu entrei na capela. Avisado, procurei o quarto de sua mãe. Na porta um cartão com algo desenhado e as palavras: é homem! E assim você pousara no Rio, mais ou menos às  5,15 da tarde do dia 2 de outubro de 1973. Maria do Sebastião Trigueiro, visitando-nos um dia, confessou que em casa só faltava filho e flores. COM VOCÊ, Tuca, o trio nos tornou uma família. Em casa seu padrinho e avô, Dr. Luiz, lhe deu o primeiro banho e lhe impôs a camisa do Fluminense que não muito depois seria trocado pelo Flamengo. E seu pai o faria dormir toda noite reclinada a cabecinha no seu ombro direito e ao som da música Magnific. E você se tornou criança e adolescente e jovem e engenheiro e músico e ficou bobo e casou. E hoje, grisalhando-lhe já as madeixas, é pai do Gael. Parabéns, Tuca, e procure desfrutar das alegrias de hoje ao lado da Mariana e do molequinhio que os Santos Anjos da Guarda (homenageados hoje pelo calendário litúrgico) ssempre lhe servirão de guia, além de participar também da explosão de brasilidade pela escolha de sua cidade natal como sede das olimpíadas de 2016. Fui ao cemitério e depositei sobre o nome de sua mãe uma rosa vermelha, símbolo de nossa saudade, e outra de cor branca, que sempre lhe haverá de lembrar a gratidão por tudo que soube fazer por nós. Amanhã aí estarei, se Deus quiser! Uma bênção do velho pai.

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Nenzinho, meu irmão!

Primeiro de outubro de 1938. Você,  Nenzinho, foi o ante-penúltimo rebento de Dona Neném a  trocar nesse dia o cálido e misterioso mundo de tranquilidade do ventre generoso de nossa mãe  por um mundão a tal ponto desconhecido que logo te deve ter feito chorar. No ano seguinte, 1939, o dia eu não arquivei,  brotou o penúltimo rebento, a Elza Maria, cujo corpinho angélico, dez dias depois, criancinhas vestidas de branco confiavam à mãe terra, reclamado que era pela mãe do Céu. Finalmente , no dia 26 de novembro de 1940 a fonte generosa de nossa corajosa introdutora no mundo atingiu o zênite de sua fecunda missão: dezessete partos não eram o bastante? O último rebento chamou-se Getúlio. O nome era a homenagem de nossa mãe ao então chefe da nação, Getúlio Vargas, pela instituição de um abono aos pais de famílias numerosas. Anualmente o calendário me traz à mente e à saudade o dia natalício de cada um de vocês três, habitantes que já se tornaram das planuras celestiais. Assim, Nenzinho, sobre a lápide de seu túmulo - que o é também de nosso pai, de nossa mãe, de nosso sobrinho Yuri, filho do mano Plínio, de nossos irmãos Luiz e Getúlio e de nossa irmã Anita - fraternalmente e sentido por não lhe ter sido além de um irmão ali deixo, nessa tarde primaveril carioca de primeiro de outubro de 2009, o meu pedido de proteção até que para mim se apague a luz do sol e a alvura  da lua e o repouso das estrelas.