terça-feira, 27 de outubro de 2009

Pequeno Príncipe - Pequeno Pedestre


Títulos de dois livros. Um francês - "Pequeno Príncipe". O outro mineiro... perdão! brasileiro - "Pequeno Pedestre". Eu escrevi "mineiro", porque, além do sentimentalismo bairrista que pigmenta o espírito dos habitantes das Alterosas, sua edição em Belo Horizonte, em 1938, muito provavelmente não ultrapassou as divisas do Estado das Gerais. Com os meios de transporte muito primitivos -  embora Juscelino Kubitschek já sonhasse, prefeito nomeado de Belo Horizonte em abril de 1940, com o famoso "cinquenta em cinco anos"- com as principais nações do mundo em estado de gestação adiantada rumo ao indesejado deflagrar de mais uma guerra mundial (1939-1945), o autor do "Pequeno Pedestre" deve ter-se virado para a publicação de sua primeira obra , sabendo-se, ademais, que então o papel já era  objeto de difícil importação. Foi seu autor o  então jovem advogado e jornalista VICENTE DE PAULO GUIMARÃES, natural de Cordisburgo, terra natal também de seu sobrinho João Guimarães Rosa. Na época mantinha no jornal católico "O Diario" da capital mineira o "Suplemento Infantil" que breve se transformaria numa revista mensal infantil chamada "Era Uma Vez". Depressa crescendo-lhe os "netinhos", seus mini-leitores e apreciadores, pôde subir mais um degrau nas hostes literárias, iniciando uma série de livros infantis pela publicação de "O PEQUENO  PEDESTRE". Folheando-o hoje, após uma procura de quase setenta anos, confesso que com indescritível emoção, foi o primeiro  ou segundo livro que li na vida, o outro foi o "Jeca Tatu"de Monteiro Lobato, fico imaginando a influência cívica que exerceu sobre as crianças da época, sobretudo as da capital mineira que de repente se povoava de centenas de crianças advindas da interlândia em busca de melhores condições de vida. Contemporaneamente ao nascimento no Brasil do "PEQUENO  PEDESTRE'  em 1938, o "PEQUENO  PRÍNCIPE", irrompendo na França, invadia o mundo no início da década de quarenta, totalizando hoje  uma venda de 8 milhões de exemplares em 118 línguas. ANTOINE DE SAINT-EXUPÉRY escreveu sua obra-prima, "O Pequeno Príncipe", nos Estados Unidos, pouco tempo antes de partir para a guerra  e desaparecer, no mar, no dia 31 de julho de 1944, ao largo da Córsega, a uns cem quilômetros  ao norte de Bastia, sendo provável que seu avião tenha sido destruído  por aviões de reconhecimento alemães.  Dois livros, dois escritores primorosos, ícones de meu singelo altar de criança ontem, de adulto octogenário agora, qual deles levaria a palma, caso eu quisesse escolher hoje aquele que mais influiu na minha formação geral, a que mais indelével sentimento de gratidão  dedico pelas luzes de sadio humanismo que me iluminam a vida? De SAINT-EXUPÉRY, entre tantas lições que muito espiritualmente me falam, transcrevo aqui e agora aquela de sabor místico que Cristo, Deus humanado, assinaria em baixo: "Amigo é aquele que não julga. É aquele que abre a porta ao mendigo, à sua muleta, à sua bengala encostada num canto, é aquele que não lhe  pede para dansar a fim de julgar sua dansa. E se o mendigo descreve a primavera  no curso de sua jornada, amigo é aquele que recebe em si a primavera. E se fala do horror da fome na cidade donde vem, amigo é aquele que sofre com ele.  Juízes encontrarás aos montes mundo afora.  Se te quiserem modelar à sua maneira, deixa isto para teus inimigos que saberão fazê-lo com perfeição, do mesmo modo que sabe fazê-lo a tempestade que esculpe o cedro.  Teu amigo é feito para te receber. Quando fores a um templo, aprende com Cristo que não mais te julga mas te acolhe ("Cidadela"). 

Um comentário:

  1. Mano querido, você poderá cansar-se de meus entrometimentos em seu blog. O certo é que, várias vezes ao dia, entro no seu compartimento, à procura de uma nova postagem. Seu blog é cheio de coisas profundas, de palavras proféticas, de lições de vida. Estou achando muito bom que você se tenha inclinado, codmo eu, para este verdadeiro diário pessoal, confidente de nossas idéias, de nossas alegrias ou até de nossas dores. Muito obrigado por este belo presente. João.

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