sábado, 24 de outubro de 2009

Por que onze apóstolos?

Há uns três dias fui ao centro do Rio. Na rua Rodrigo Silva entrei na igreja de Nossa Senhora do Parto. Colocada bem no coração da cidade, sem aparência externa de templo católico, sob a forma de um quadrilátero, com ar refrigerado, bancos confortáveis, um altar central no fundo e dois laterais, além de uma capelinha à direita do altar-mor onde se conserva o Santíssimo, há mais de trinta anos tornei-me seu frequentador, pois durante esse período lecionei na Universidade Cândido Mendes, bem pertinho dela. Nunca a encontrei vazia. Creio até que um ou outro cristão encontre ali um bom refúgio nos dias de muito calor ou apenas para ler seu jornal, como observei algumas vezes. Aposentado como professor, levei meses sem visitá-la. Notei, agora,  os melhoramentos introduzidos para torná-la mais funcional e atraente, o que por certo muito agradou a Nossa Senhora do Parto. Chamou-me, porém, a atenção a existência de um vitral de cores bastante vivas cobrindo todo o fundo do templo, atrás do altar-mor. Reprodução da Santa Ceia do pintor italiano Leonardo da Vinci. Examinando-o com atenção, logo percebi a ausência de um dos doze apóstolos. Pensei que fosse Judas. Mas sua presença facilmente se descobre, pois não traz na cabeça a costumeira coroa da glória celeste, além ter sido pintado quase que à margem dos demais discípulos de Cristo. Nunca perdi de vista a Ceia de Mestre Ataíde, desde fevereiro de 1973 colocada na tribuna da esquerda da igreja do Caraça," bastante visível do meio da nave central". E ali os doze estão presentes, "formando quatro grupos de três, dando à ceia a majestosa solenidade que lhe convém. Impressiona o contraste entre as atitudes de São Pedro e Judas cujos rostos são muito parecidos" ("Guia Sentimental do Caraça", Sarnelius, pg. 151).  Hesitante sobre o real número deles, consultei o velho manual de Hadriano Simon Prado , C.SS.R., em suas preleções sobre o Novo Testamento. Felizmente, apesar do latinório bastante acadêmico do autor, ao ponto de meu colega de seminário Jarbas Ornelas me ter na época confessado que, se casado um dia, colocaria no filho o nome dele, verifiquei que de fato doze foram os apóstolos presentes na Ceia de Cristo e na pintura de Leonardo da Vinci. Eram eles: São Pedro, André, João, Tiago Maior, Felipe, Bartolomeu, Tomé, Mateus, Tiago, filho de Alfeu, Tadeu, Simão Cananeu e Judas Escariotes. Gostaria de saber por que motivo (e pode existir algum que eu desconheça) 0 número dos apóstolos presentes na Ceia de Cristo baixou de doze para onze no vitral da igreja de Nossa Senhora do Parto da Rua Rodrigo Silva no Rio de Janeiro. 

Um comentário:

  1. Caro Jair, já postei meu comentário mas depois de postado ele sumiu. Vou tentar pela segunda vez. Será que Deus fê-lo desaparecer, pelo fato de ser desreipeitoso? Se assim for, vai sumir de novo e não o repetirei.
    Sua admiração pelá ausência de um apóstolo me levou a outra indagação, que é a ausência, na famosa pintura de Da Vinci e nas outras subsequentes, de figuras femininas. Por que a ausência da própria mãe de Jesus e de outras mulheres que seguiram o Mestre e que foram de muita importância em suas andanças e pregações?
    Em minhas caminhadas e pesquisas pelos meandros da história, cheguei à conclusão de que isto se deve ao machismo que invadiu o cristianismo desde os primeiros séculos, transformando a Igreja Católica em um domínio dos homens, em que a função da mulher é extremamente necessária e até indispensável, porém como figura apagada e de segunda categoria. Até chego a afirmar que o mestre Athayde foi muito mais feliz e fiel à história, colocando em sua bela pintura a figura da mulher.
    Por sianl, o tema do próximo encontro dos padres casados em Ribeirão Preto, no próximo janeiro, versará justamente sobre a mulher. Às mulheres o que lhes pertence e aos homens a parte que lhes cabe. João.

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