sexta-feira, 30 de outubro de 2009

cemitério - campo santo

Se você crê, como reza no Credo: creio na Comunhão dos Santos, na RESSURREIÇÃO DA CARNE, na VIDA ETERNA, você está afirmando que o fato conhecido como MORTE, falecimento, não pode ser um 'FINAR" (consumir-se, perder as forças, morrer, falecer). Você está, sim, coerentemente com a fé que professa, confessando que a alma se separou do corpo. Que este vai voltar a ser o que era, como você ouviu recebendo as cinzas na testa na quarta-feira de cinzas: "Lembra-te que és pó e ao pó te tornarás". Que a alma, um perfeito espírito, que deixou de animar, de informar o corpo, não "fina", isto é, não morre, não falece, mas continua a viver, a levar o gênero de vida que mereceu, que conquistou com a graça de Deus. Se houve apenas uma separação provisória das duas realidades: alma e corpo, com sua licença o termo FINADOS não me parece legal. Pois você rezou no credo que crê na RESSURREIÇÃO DA CARNE, isto é, que um dia alma e corpo transfigurado de novo se unirão. Além disto, o termo NECRÓPOLIS (de necrós"=morto e pólis=cidade) também eu poria a escanteio. E finalmente eu continuaria, "ad usum delphini", a denominar de "cemitério" esse espaço de terra onde guardamos os corpos dos nossos que se foram desta para a outra vida. Aprecio também a expressão "campo santo" de conteúdo bastante conforme ao que Jesus Cristo nos deixou nos Evangelhos. Dizendo alguém certa vez ao chefe da sinagoga que a filha dele tinha morrido, Cristo imediatamente lhe disse: "Não temas, crê somente. Ela não MORREU, está DORMINDO! E disse à criança: "Levanta-te!" Ela ficou de pé e Cristo ordenou lhe dessem de comer (Lucas, 20, 27). Doutra feita, as irmãs Marta e Maria procuraram aflitas o Mestre, dizendo que seu irmão Lázaro havia morrido e cheirava mal. Jesus lhes disse que, nada disto, que ele DORMIA e que iria DESPERTÁ-LO, como o fez: "Lázaro, vem para fora! Desatai-o e deixai-o ir embora!" (João, 11, 1 a 43). Como o "DIA DAS MÃES" devia ser cada um dos dias de nossa existência, assim o dia 2 de novembro deveria também ser objeto de nossa atenção cristã cotidianamente. Breve nos juntaremos aos que nos deixaram. Por que os abandonamos esquecidos no túmulo, embora em parte apenas ali presentes, o corpo ou só os ossos depois, sem pensarmos que aquele corpo vai ressuscitar um dia, transfigurado e unido à respectiva alma, o que acontecerá também com cada um de nós, não lembrados nós dos tão numerosos laços que em vida nos uniam de formas as mais diversas e queridas, daí as saudades que deles nos ficaram! Fui aluno do Colégio do Caraça durante a segunda guerra mundial. Numa aula de catecismo, o professor Padre MontÀlvão contou-nos que um general brasileiro foi com os soldados nossos fazer um estágio nos Estado Unidos antes de partirem para a Itália. E no hotel onde se hospedou declarou por escrito ser católico. Na igreja católica o pároco reservou-lhe um lugar de honra para participar do santo sacrifício da eucaristia nos domingos. Mas o general não apareceu! Que fez o pároco? Foi ao hotel perguntar-lhe se estava por acaso doente ou se por outro motivo não pôde estar presente na igreja! Com certeza ficou então sabendo que no Brasil se podia ser também católico não praticante. País católico, que nossas autoridades civis e eclesiásticas não se esqueçam da existência de nossos cemitérios, dos DORMITÓRIOS dos nossos irmãos que foram desta para a melhor. Alguém escreveu que pelos cuidados e atenções dados aos nossos cemitérios se pode ter uma ideia dos habitantes que em torno deles vivem! Que as flores que depositamos sobre os túmulos de nossos parentes e amigos simbolizem com perfeição o amor e carinhos cristãos que de fato lhes votamos! Lembremo-nos deles em nossas preces de cada dia! Sobre o túmulo de Trystão de Athayde e de sua esposa está escrito: "DURMA o SONO da PAZ".

Um comentário:

  1. Muito legal sua reflexão sobre a morte. Fez-me lembrar o que me parece comum na atitude dos católicos frente a tal pensamento. Morte é assunto descartável, importuno, desagradável e que leva ao gesto característico de bater na madeira, para afastar o menor pensamento sobre o assunto.
    Para mim, como cristão que abraça, sem tergiversar, tudo o que Cristo ensinou, morte, no sentido usual da palavra, não existe. Existe, sim, separação entre o espírito e a matéria, ou desencarnação, como dizem os espíritas, com muita propriedade. Morre a matéria mas não morre o espírito. E mesmo a matéria, segundo o ensinamento de Jesus, voltará um dia a unir-se ao espírito, para levar, eternamente, a vida que vale a pena. Como belamente se diz na missa dos falecidos, "a vida é mudada e não tirada. E, destruída a casa de sua habitação terrestre, lhes é preparada no céu uma eterna mansão". Coisa linda, que nos levaria até a desejar a chegada feliz de nossa separação passageira.
    Para mim,a o pensamento da morte é o melhor termômetro para se medir o grau de fé que que possui um cristão. O cristão verdadeiro não teme a morte, até espera por ela ansioso, pois, para ele, ela não existe. O cristão de fé vacilante não passa de um sofredor, que vive morrendo cada dia, curtindo a cada momento o medo, ou melhor, o terror de uam realidade que é mais que natural, até mesmo sobrenatural. Muito bem falada é a frase de Dom Estêvão Bittencourt, que enfeita o túmulo de meus pais e irmãos falecidos: A VIDA COMEÇA COM A MORTE.

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