sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Com a devida permissão

Autorizou-me o amigo Vicente Guimarães Júnior, filho do VOVÔ  FELÍCIO, autor do "PEQUENO  PEDESTRE", a transcrever aqui alguns tópicos de uma conferência que pronunciou em Belo Horizonte, no dia 30 de junho de 2007.  Tratava-se de uma homenagem ao primo e padrinho JOÃO  GUIMARÃES  ROSA,  cujo centenário de nascimento, em Cordisburgo, se comemoraria no dia 27/06/08.  No seu pronunciamento o conferencista, voltando-se ao início dos anos 60, quando da visita do "imortal" a seus pais no Rio de Janeiro, revelou aos seus ouvintes o que naquela ocasião ouvira do importante escritor mineiro: "Se a morte é o que há de mais certo no nosso futuro, por que não nos organizamos para o inexorável? Eu treino para morrer. Deito-me às vezes bem tranquilo em ambiente escuro e silencioso, concentro-me no pensamento de que estou perdendo as forças, que não posso mover-me, aos poucos a vida se esvai. Já quase não enxergo, a respiração falha". A aparente morbidez da conversa não me levava a querer mudar de assunto, ou sair da sala, e em vez disto minha atenção e interesse aumentavam. A frase do Joãozito  (nome com que tratavam em família o famoso escritor) "Tenho saudade do ceu!" me ficou gravada de maneira literal e indelével e me pareceu poesia pura, de um bom gosto e profundidade que não mais esqueci. Tudo isto  reapareceu com intensidade em minha memória, quando Joãozito, muito tempo depois,  após ser eleito  para a Academia Brasileira de Letras,  adiou por vários anos sua posse por temor (eu estava certo?) de que poderia falecer. O que realmente  aconteceu: poucos dias, menos de uma semana depois da posse, veio a morrer de repente, confirmando sua própria profecia. Não sei  como foram seus últimos momentos de vida, mas suspeito que não tenha sido possível colocar em prática o treinamento descrito.  
"Eleito em agosto de 1963 para a ABL, João Guimarães Rosa tomou posse  a 16 de novembro de 1967 como sucessor de João Neves da Fontoura na cadeira número 2 de que é patrono Álvares de Azevedo, tendo  então pronunciado um discurso em que afirmava que "as pessoas não morrem, ficam ENCANTADAS. Durante a solenidade manifestou os primeiros sinais do enfarte que três dias depois lhe tiraria a vida" (Dicionário Biográfico de Minas Gerais, volume 2, pág. 598). Quero crer que pela expressão "ficam encantadas" João Guimarães Rosa admitia a vida eterna e a ressurreição dos "que dormem".  As frases "DORMEM EM PAZ" e "A DOR É BREVE MAS A ALEGRIA É ETERNA", gravadas respectivamente nos túmulos de TRISTÃO DE ATHAYDE e de LYSANDRA DE ANDRADE, ex-aluno do Caraça, muito bem caracterizam o espírito cristão e católico dessas pessoas.

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