domingo, 29 de novembro de 2009

C I D A D E L A

Neste livro "CITADELLE" Zepérry como que se esqueceu de ser apenas um piloto, ele quis ser mais e se tornou um filósofo, um místico, um teólogo quase. Abro a esmo o capítulo LXIX e aceite como tema de meditação neste início de um ano que agoniza. Mais uma vez me vem à cabeça a ideia, a imagem de um tempo que suponho que terei ganho! Ganhei? Mas em nome, em favor de que? Em favor de sua cultura! Como se cultura se adquirisse por meio de um exercício vazio, se é que isto existe! isto é, sem esforço. Pense-se numa mulher que dá de mamar aos filhos. Que limpa a casa e cose a roupa. Um dia, resolvem libertá-la dessas servidões. Sem ela se preocupar mais com tais afazeres, como por encanto os filhos são alimentados. A casa é varrida. A roupa é cosida. Muito bem! Agora trata-se de lhe encher esse tempo supostamente ganho. Invento um canto de amamentação e lhe faço ouvir. A amamentação transforma-se em cântico e poema da casa. E a mãe sente a casa no coração! Acontece, porém, que a música, a recitação do poema a faz bocejar, por quê? Porque faltou a participação dela. Ao lhe falarem de "casa", nada conseguem despertar nela, pois sua casa não foi construída com seu tempo nem com seu fervor! Ela não saboreou o vai-e-vem da poeira ao abrir a porta ao sol, para expulsar o pó juntado pelo desgaste das coisas. Nunca teve um reinado sobre a desordem que gera a vida ao cair da tarde: a marca dos calçados dos amigos, as xícaras servidas dentro das bandejas, as brasas extintas na lareira ou no fogão, as fraldas sujas do filhinho adormecido. A vida é, sim, humilde por isto maravilhosa! Ela não se levantou cedinho para reconstruir cada dia uma nova casa ou casa nova, como fazem os passarinhos manhãzinha pousados nas árvores refazendo os bicos e lustrando as asas, não dispôs os móveis numa embora frágil disposição. Ela se esqueceu de que sua casa é uma massa, uma cera flácida, ao amanhecer e ao entardecer não passará de um álbum de recordações.

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