terça-feira, 1 de dezembro de 2009

CIDADE MARAVILHOSA

Posso ou não poso afirmar que Saint-Exupérry, além de piloto e de poeta, é também um místico, um filósofo, um psicanalista, e a caminho até de um místico? Senão, leia o que ele escreveu para você em "Cidadela":" Acabo de escrever o meu poema. Resta-me corrigi-lo". Meu pai ficou zangado! " Acabaste de escrever teu poema e depois disto o corrigirás! Pergunto-te eu: escrever o poema não é o mesmo que corrigi-lo? Que é esculpir, modelar a argila senão corrigir a argila? Por isso digo: de correção em correção sai o rosto, e a primeira dedada já era correção ao bloco de argila! Escuta: quando eu construo, levanto uma cidade, outra coisa não faço senão corrigir o terreno, a areia. Em seguida continuo a corrigir a minha cidade. E é assim que, de correção em correção, vai-se armando a minha cidade e EU CAMINHO PARA DEUS!" Deus começou e eu o vou substituindo, cidadão que sou, no soerguimento dessa cidade. Por isso é que de repente ouço a me sussurrar o poeta beneditino, tradutor do "PEQUENO PRÍNCIPE", Dom Marcos Barbosa: 'VARREDOR QUE VARRES A RUA TU VARRES O REINO DE DEUS!" Sim, todo cidadão é responsavel pela conservação e progresso da cidade que lhe põe à disposição os meios de sobrevivência. E você, Carioca, privilegiado habitante desta joia engastada na sombra do Cristo Redentor, internacionalmente admirada e não sem razão batizada de CIDADE MARAVILHOSA, cheia de encantos mil, jardim florido de amor e saudade, ninho de sonho e de luz, coração do meu Brasil!", não se esqueça de quem a fez, de quem assim lhe assentou as bases, do criador de sua moldura, de sua topografia, enfim de seus encantamentos mil! A resposta está plantada no pico do Corcovado! Foi Deus! Por isso é que nosso filósofo pontificou que, enquanto nossa cidade progride, EU CAMINHO PARA DEUS, e eu completo: EU VOLTO PARA DEUS. Conservá-la, porém, transmiti-la como o criador no-la confiou e com as correções necessárias aos nossos filhos e netos exige-se que haja o HOMEM e que este HOMEM ponha as mãos responsáveis na massa. Ha dias nosso prefeito deu uma de Moisés. Ergueu o seu diploma de alcaide desta maravilha de natureza, por Deus a nós legada, e soltou o verbo do cimo da Pedra da Gávea: "Tão logo amanheça o mais radiante sábado deste mês, muito vos assustará o seu "lendemain"! A COMLURB não vai acordar. As nossas praias disputarão com o lixo por nós ali abandonado, espalhado, cada centímetro de areia visível. Então, quem sabe, despertará em cada um de nós o HOMEM (o ser humano, isto é, o "vir", o macho, e a "mulier", isto é, a "femina"). A cidade nos foi dada, cabe a nós, ao HOMEM, cultivá-la, corrigi-la. Acompanhe de novo o nosso piloto e filósofo e místico: "Lembrei-me de que meu pai tinha dito: para construir a laranjeira, sirvo-me de adubos e de estrume e de enxadas na terra. Pouco depois surgem os ramos, e a árvore sobe, pronta para receber flores. E eu, o jardineiro, revolvo a terra sem me preocupar com as flores nem com a felicidade. Para que haja uma árvore florida é preciso haver antes uma árvore, e para haver um homem feliz é preciso haver em primeiro lugar um HOMEM. Ó cidadela! eu bem te construí, diz o Senhor, como um navio. Preguei-te, aparelhei-te e depois te abandonei ao tempo, que afinal não passa de um vento favorável. Navio dos HOMENS sem o qual eles não acertariam com a ETERNIDADE. Não ignoro as ameaças que pesam sobre o meu navio, sempre atormentado pelo mar escuro lá de fora. E pelas outras possíveis imagens, como por exemplo, a ingratidão , a desfaçatez, a preguiça, a negligência, a estupidez, a bestialidade, a maldade, a ignorância vencível ou invencível, a cegueira moral, a falta do senso de solidariedade, de respeito à natureza, enfim, a eficiente e consciente e indispensável colaboração do ser humano a quem a natureza confiou a tarefa de sem quebra de continuidade ser o CAMINHO DE DEUS PARA DEUS. "VARREDOR QUE VARRES A RUA, TU VARRES O REINO DE DEUS"!

Um comentário:

  1. Maravilhoso:"Varredor que varres a rua, varres o Reino de Deus". Aqui me lembro de Santo Agostinho, dizendo que temos que construir a cidade terrestre, para podermos possuir a cidade celeste. De minha parte, considero esta vida e esta terra o vestibular para ingresso no Reino de Deus. Por menor, insignificante ou humilde que seja nossa ação, ela é sempre um tijolo, maior ou menor, em nossa mansão celeste. E aqui me lembro de outra palavra linda, do prefácio da celebração eucarística pelos mortos: "Destruída a casa de sua habitação terrestre, lhes é preparada no céu uma eterna mansão". Quem é que, possuído de fé autêntica, não sente vontade de partir logo para a pátria verdadeira?

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