segunda-feira, 30 de setembro de 2013

COM  QUE  IGREJA  SONHA  FRANCISCO?

Diante do exposto no blog anterior, estando a sociedade passando por rápidas mudanças,  por questões  de grande importância para a FÉ, requerendo vigor no corpo e na alma, o papa inquirido sobre o que de mais necessidade sente no momento? De reforma? Quais seus desejos para a IGREJA dos próximos anos?  Com que tipo de Igreja sonha? Resposta de Francisco: "Vejo a Igreja como um hospital de campanha depois de uma batalha. Inútil perguntar se tem colesterol ou açúcar altos, o que se deve é procurar curar-lhe as feridas. Começar de baixo... a Igreja às vezes encerrou-se  em pequenas coisas, pequenos preceitos.  O importante é o primeiro anúncio: "Jesus te salvou", logo os ministros da Igreja devem ser ministros de misericórdia. O confessor corre o risco, ora de ser  ou demasiado rigorista, lavando as mãos remetendo o  penitente para os mandamentos, ou demasiado  laxista lavando as mãos, dizendo "isto não é pecado. As pessoas têm que ser acompanhadas, as feridas têm que ser curadas. Devemos tratar o "povo de Deus", sonhando com uma Igreja Mãe e Pastora, ser ministros misericordiosos, tomar as pessoas a seu encargo, acompanhando-as como o bom samaritano que lava, limpa, levanta o próximo.  Reformas organizativas e estruturais vêm depois, são secundárias. As primeiras reformas devem ser a da atitude. Os ministros devem ser capazes de aquecer o coração das pessoas, caminhar à noite com elas, de dialogar, encontrar-lhes novos caminhos, procurar ser uma igreja capaz de sair de si mesmo e ir ao encontro de quem não a frequenta, o que requer audácia, coragem.

sábado, 28 de setembro de 2013

IGREJA  =  POVO  DE  DEUS

O papa FRANCISCO, inquirido sobre o significado da expressão "POVO DE DEUS" respondeu usando uma imagem que muito aprecia e usa confrequência. A  IGREJA  é o POVO  SANTO  E  FIEL de  DEUS. A  "LUMEN GENTIUM" a usa no número 12.  Deus salvou um povo. Não existe plena identidade sem pertença a um povo. Ninguém se salva sozinho como indivíduo isolado, mas DEUS nos atrai considerando-se a completa trama de relações interpessoais que se realizam na comunidade humana. Deus entra nessa dinâmica do povo.  O povo é o sujeito e a Igreja é o povo de Deus a caminho na história, entre alegrias e dores. "Sentir com a Igreja"para Francisco é estar neste povo, fazer parte dele. E o conjunto dos fieis é infalível "in credendo", crendo,   mediante o sentido sobrenatural da FÉ de todo o povo que  caminha. Este é o sentido de "SENTIR COM A IGREJA"em Santo Inácio.  Quando o diálogo entre os fieis, o bispo e o papa segue este caminho e é leal,  não é,  portanto, um sentir ligado aos teólogos. Por exemplo,  se eu quiser saber quem é Maria, pergunto aos teólogos. Mas se eu quiser saber como amá-la,  pergunto ao POVO. Por sua vez Maria amou Jesus com coração de POVO, como se lê no Magnificat. A compreeensão do "sentire cum ecclesia"não está ligada somente ao sentir com a sua parte hierárquica. A infalibilidade de Maria como Mãe de Deus não é fruto de uma exaltação popular, não é uma forma de populismo. É a experiência da Santa Madre Igreja  hierárquica, da Igreja como POVO DE DEUS, pastores e povo em conjunto. A Igreja é a totalidade do povo de Deus!

sexta-feira, 27 de setembro de 2013

FALTA  QUE  FAZ  A  PEDAGOGIA  DO  LAR   

27/09/1941. Num longinquo olhar retrospectivo,vejo-me montado nos meus doze anos de vida afastando-me de minha família natural: pai, mãe, onze irmãos, num sábado, porque era sábado, 27/09/1941. FOI ONTEM, HÁ 73 ANOS.  E de tal modo esse sábado se entranhou em minha vida que nunca mais nos separamos. Minha partida para o desconhecido foi à mineira: nada de beijos...imagine só! nem abraços, nem um adeus, nada, nada, só dentro do peito uma espécie  de nó indecifrável, indefinível. Já vou, mãe! Nem um pedido de bênção! Anita, a irmã mais velha, percebendo-me em luta com algum fantasma interno, me sugeriu - que ousadia! - dissesse à mãe que não queria ir. Tal nem em pensamento podia eu alimentar. Foi isto no terreiro, junto a uma caixa dágua que nossa genitora de madrugada enchia puxando com a ajuda de uma manivela a pouca dágua que a rua conseguisse fornecer-lhe. E com meu pai silencioso - nos momentos graves era assim que se resguardava - o inspetor da TEXACO nos acomodou no V8  da firma e rumamos para Belo Horizonte. Tudo muito rápido, muito nebuloso, me embotou o pensar, certamente porque era sábado, 27/09/1941, nove horas da manhã. No dia 29/09 chegaria ao destino: CARAÇA. Então me despediria das calças curtas, do apelido do  torrão natal, Lulu, me transfiguraria num  apostólico  do Caraça, seria registrado sob o número 9 e adeus infância , adeus Lulu, de agora em diante, Jair, adeus Mãe, adeus Quive, meu pai, adeus irmãos. Éramos uma dúzia fora os anjinhos, e desde então, escrevi alhures, "a saudade, primogênita estrela fixa no azul celeste...ou arroxeado?, passou a ocupar o espaço que, dentro de mim, ficou vazio de todas aquelas riquezas materiais, sentimentais, familiares, morais, bélicas...trágicos assuntos da segunda guerra mundial, que a poeira da estrada ia escondendo em suas curvas perigosas". Como te sou agradecido, ó meu bom Pai do Céu! 

quinta-feira, 26 de setembro de 2013

ESTILO  DO  PAPA  DE  GOVERNAR  A  IGREJA

O estilo de governar a  SOCIETAS JESUS supõe DECISÃO da parte do superior,  seja qual for,    bem como a DISPOSIÇÃO de atender ao parecer de seus consultores. Como superior que fui na companhia, nem sempre agi assim, consultando quando necessário.  Por isto meu governo teve falhas no começo, época do desaparecimento de uma geração de jesuítas, e eu nomeado provincial com apenas 36 anos, diante de dificuldades sérias. Agia com precipitação. Confesso:quando confio um trabalho a uma pessoa, confio totalmente nela! Só repreendo diante de uma falta grave, mas os súbditos rápido se cansam de AUTORITARISMO,  modo de proceder que me fez passar como um homem da direita, o que nunca fui. Com o tempo esta pedagogia de governo me ensinou muita coisa. Quando arcebispo, de 15 em 15 dias reunia  os auxiliares e às vezes até o conselho presbiteral. Momento de consultas e de decisões. E agora me dizem: "Não consulte demasiado e decida!"A CONSULTA é muito importante. Por exemplo, os Consistórios e os Sínodos são lugares importantes para tornar essa consulta verdadeira e ativa. É necessário torná-los menos rígidos na forma. Quero consultas reais, não formais.  A consulta de oito cardeais não foi uma decisão simplesmente minha, foi fruto da vontade dos cardeais, antes do conclave, fruto de consulta real, não formal.

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

AINDA   SOBRE   O   DISCERNIMENTO    DO    PAPA   FRANCISCO

Inquirido se na Companhia se lembrava de jesuítas que o tivessem impressionado de modo especial, o papa citou primeiro o Padre Arrupe, superior geral da congregação, homem de oração que um dia encontrou rezando sentado no chão como os japoneses. Daí suas decisões corretas. Outros jesuítas: Inácio, Francisco Xavier e o Beato Pedro Fabro (1506-1646), da Saboia. Francisco Xavier já beatificado em 1872.   Francisco cita o seu Memorial, editado aos cuidados do jesu'ta especializado Michel de Certeau. Fabro o impressionou pelo diálogo com todos, sem discriminação, pela piedade simples, pela disponibilidade imediata,  pelo atento DISCERNIMENTO interior, homem de grandes e fortes decisões, capaz ao mesmo tempo de muita doçura. Concluiu o entrevistador que o Padre Fabro foi o modelo de vida de Francisco que o definiu como o "padre reformado", para quem a experiência interior, a expressão dogmática e a reforma estrutural foram intimamente indissociáveis.  Parece que o papa se inspira nesse gênero de reforma, descrevendo-lhe a figura como como a de um místico, não um asceta, não gostando, porém,  que defendam serem os "Exercícios Espirituais"inacianos apenas por terem sido feitos em silêncio, quando na verdade podem ser perfeitamente inacianos também  na vida corrente e sem o silêncio. O papa pertence à corrente mística de Lallemant e de Surin. Fabro era um místico.
PRINCÍPIO  NORTEADOR  DE   AGIR  DO  PAPA  FRANCISCO

A  INSTITUIÇÃO DOS JESUÍTAS, UM JESUÍTA PORTANTO, é um "DESCENTRADO  DE  SI  MESMO".  Seu CENTRO é CRISTO e sua IGREJA. CRISTO E A IGREJA NO CENTRO. DOIS PONTOS BÁSICOS de referência de seu equilíbrio para viver  na periferia. Mas se o jesuíta ou a companhia se colocam no centro a SI PRÓPRIOS como sólida estrutura, então correm o risco de se sentirem seguros e autosuficientes. A companhia e o jesuíta devem ter sempre diante de si o DEUS sempre MAIOR ( AD  MAJOREM DEI GLORIAM),  à PROCURA SEMPRE MAIOR DE DEUS, A IGREJA VERDADEIRA,  ESPOSA DE CRISTO REI, que nos conquista e a quem  oferecemos toda a nossa pessoa, todo o nosso esforço, mesmo sendo vasos de barro indadequados. Tensão essa que nos leva constantemente PARA FORA de nós mesmos. O instrumento que torna a Companhia verdadeiramente forte, quando descentrada de si mesmo, é o da "conta de Consciência" que é simultaneamente paternal e fraternal, precisamente porque a ajuda a sair melhor em missão. O jesuíta deve manifestar sua "consciência", isto é,  a situação interior que vive, de tal maneira que 0 superior possa estar mais ao corrente e consciente ao enviar uma pessoa à sua missão. O estilo da Companhia é o do DISCERNIMENTO. O jesuíta deve ser uma pessoa de pensamento incompleto, aberto. O jesuíta pensa sempre, continuamentem olhando o horizonte para onde deve ir, tendo CRISTO no CENTRO. Esta é a sua verdadeira força. Isto estimula a Companhia  a estar à procura, a ser criativa, generosa. A Companhia deve atualmente ser  "Contemplativa na AÇÃO".  DEVE VIVER UMA PROXIMIDADE PROFUNDA a  IGREJA TODA, ENTENDIDA COMO "Povo de Deus" E SANTA MADRE IGREJA HIERÁRQUICA". ISTO REQUER MUITA HUMILDADE, SACRIFÍCIO, CORAGEM, SOBRETUDO QUANDO SE VIVEM INCOMPREENSÕES, ONDE SE É OBJETO DE EQUÍVOCOS E CALÚNIAS, SENDO ESTA A ATITUDE MAIS FECUNDA. PENSE-SE NAS TENSÕES DO PASSADO SOBRE OS RITOS CHINESES, os ritos malabares nas reduções no Paraguai.

terça-feira, 24 de setembro de 2013

O  DISCERNIMENTO  NA  VISÃO  DE  FRANCISCO

O entrevistador perguntou a FRANCISCO que ponto na espiritualidade inaciana o ajudava melhor a viver a missão de jesuíta e agora como papa. "O  DISCERNIMENTO. Para Santo Inácio é um instrumento de luta para se conhecer melhor o Senhor e segui-lo. É não estar constrangido pelo máximo, mas estar contido   totalmente no mínimo (non coerceri a maximo, sed contineri a minimo divinum est).  Esta verdade  do máximo e do mínimo é a MAGNANIMIDADE que da posição em que nos achamos nos faz olhar sempre o horizonte. É fazer as coisas pequenas de cada dia com o coração grande e aberto a Deus e aos homens. O papa João XXIII a seu modo colocou-se nessa posição de governo, quando escreveu a máxima: "omnia videre, multa dissimulare, pauca corrigere = ver tudo, não dar importãncia a muito, corrigir pouco. Pode-se ter um grande projeto e realizá-lo, agindo sobre coisas pequenas, pode-se usar meios fracos que se revelam mais eficazes do que os fortes (São Paulo, Coríntios). Discernimento requer tempo. Será  sempre preciso tempo para se lançar as bases de uma mudança. E por vezes o discernimento estimula a fazer depressa o que a princípio se pensava fazer depois.  Foi isto que me tem acontecido nestes seis meses de papa.  E o discernimento se realiza sempre na presença do Senhor, vendo-se os sinais, escutando-se o que acontece: o sentir das pessoas, sobretudo dos pobres. Desconfio das decisões tomadas de modo repentino. Em geral  a primeira decisão que me vem à cabeça é errada. Esperar. A sabedoria do discernimento resgata a necessária ambiguidade de vida e faz encontrar os meios mais oportunos que nem sempre se identificam com aquilo que parecia grande ou forte. Minhas escolhas  mesmo as ligadas à vida cotidiana como usar um automóvel  modesto estão ligadas a um discernimento espiritual que corresponde a uma exigência que nasce das coisas, das pessoas, da leitura dos sinais dos tempos. O discernimento guia-me no modo meu de governar!

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

ENTREVISTA   COM  O   PAPA   FRANCISCO

Na  entrevista, dia 19/09, com um padre jesuíta, quero apontar trechos que revelam as linhas mestras de seu pontificado, a filosofia de seu modo de agir as mudanças insinuadas  pelo bispo de Roma, FRANCISCO. Num quarto minúsculo o papa convida o entrevistador a sentar-se numa poltrona, eunquanto se ajeita numa cadeira mais alta e rígida: problemas de coluna. O ambiente é simples, austero com espaço pequeno de trabalho, escrivaninha minúscula, pouco espaçosa, poucos papéis. Um ícone de Sãp Francisco, outro de Nossa Senhora de Lujan, um crucifixo, uma estátua de São José. Inquirido, declarou que a viagem ao Brasil foi  "uma graça de Deus, um mistério". Revelou não gostar de falar  às massas. Aprecia o contato visual com quem lhe está à frente, conseguindo assim ser o que é, sem mudar a maneira habitual de comunicar-se. Após o entrevistador tocar em algo seu pessoal, Francisco lhe contou que, quando percebeu, dia 13/03/, o risco de ser eleito papa, sentiu durar-lhe dentro profunda e inexplicável paz e consolação,  junto com uma obscuridade profunda quanto ao mais. Sentimentos que o acompanharam até ser eleito. Acrescentou que experimenta dificuldade em dar entrevistas, preferindo pensar mais do que dar respostas imediatas, pois as respostas corretas em geral vêm depois. E mais: que no vôo de volta da JMJ, no Rio, não se reconheceu a si mesmo nas respostas dadas aos jornalistas. Confessa que está mais habituado, mais habilitado a conversas do que a lições.

sábado, 21 de setembro de 2013

SEM   EDUARDO   GOMES   HÁ   32   ANOS

Ontem, 20/09, Eduardo Gomes, o Brigadeiro da Libertação, completaria  117 anos de idade.  Já deve estar esquecido da bronca que lhe deu o nosso TRISTÃO quando foi por este recebido no céu em 1983. Aliás, bronca  até certo ponto merecida. Pois o nosso eterno candidato à presidência do Brasil escorregou feiamente. Mas já lhe perdoamos. Errar é humano! Quem em nossa Minas não se recorda do pequeno, carinhoso, patriótico apelo que da Tribuna da Imprensa, sob o título inesquecível "MINEIROS  DO  MEU  CORAÇÃO" endereçou às Alterosas , conclamando-os às urnas às vésperas do pleito de 1950, Alceu Amoroso Lima? É que este ficou decepcionado com a mudança em 1964 do rumo político por parte do autor do célebre grito democrático "O preço da Liberdade é a eterna Vigilância!" (carta de Tristão, 18/02/1962 à  sua filha monja Maria Tereza).  Sabemos que o patriotismo, a dedicação à Igreja Católica e à Pátria por vós demonstrados e vividos, durante toda a vossa existência, já nos fizeram esquecidos de todas estas pequenas falhas em vossa histórica biografia.  Vosso nome, Brigadeiro, está gravado com elogios nos anais do Colégio São Vicente de Paulo, de Petrópolis, onde estudastes à sombra das vestes pretas do padres lazaristas. Parabéns pelo feliz aniversário nas colinas eternas!

quinta-feira, 19 de setembro de 2013

NOSSA   SENHORA   DA   SALETE

Hoje, 167 anos atrás, nas montanhas de la Salete, Alpes Franceses, a Mãe de Jesus se mostrou a duas crianças: Mélanie Calvat, 15 anos, e Maximin Giraud, 11 anos. Que guardavam os rebanhos sob um sol ardente, às 3 da tarde. Numa  luz resplandecente, sentada numa pedra, triste e chorosa, com o rosto entre as mãos, a bela senhora se levantou e falou às crianças em francês e por vezes no dialeto local. "Vinde, meus filhos, aqui estou para lhes contar uma novidade: "Se meu povo não quiser obedecer, sou forçada a deixar cair o braço do meu Filho. "É tão forte e tão pesado que não aguento mais! Há quanto tempo sofro por vós! Dei-vos 6 dias para trabalhardes, reservando-me o sétimo e não mo querem conceder. E isto torna tão pesado o braço de meu Filho! Se a colheita se perder, a culpa é vossa!"As cianças se aproximam da senhora que não para de chorar. Era alta e toda de luz, longo avental, vestido longo, lenço cruzado e amarelo nas costas, touca de camponesa, com enfeites de rosas na cabeça e no calçado. Pesada corrente sobre os ombros, outra mais leve no peito, ao lado de um crucifixo resplandecente, com um martelo e um torquete em cada lado. E disse o seguinte: "Se converterem, as  pedras e os rochedos se converterão em montes de trigo e as batatinhas serão semeadas nos roçados. Transmiti tudo isto a meu povo!"Assim falava, andando sobre a relva. Seu rosto e figura diminuiam, à medida que a luminosidade aumentava. Recomendou-lhes três coisas: que os pecadores se convertam! que o clero se santifique! que o reino de Deus se propague! Sobre essa senhora o escritor francês LEON BLOY deixou-nos o livro "La femme qui pleure". 
ALCEU    FILHO    SOBRE   ALCEU   PAI

Na apresentação do "DIÁRIO  DE  UM  ANO  DE  TREVAS", recém nascido, eis o que ALCEU  filho  escreveu sobre ALCEU pai: "Então, ao chegarmos a 1970, ALCEU, que se aproximava dos 80 anos,  entrou numa fase de tristeza e desânimo e foi deixando para trás a esperança de ainda vivo poder ver o Brasil de novo livre e democrático, e começou a vislumbrar mais de perto que, realmente, "serão 20 anos de ditadura, no dizer de seu amigo Santiago Dantas, profeticamente, em telefonema de 1 de abril de 1964. Aliás, Deus quis que realmente ele não mais vivesse  num Brasil democrático, pois, ao morrer, em agosto de 1983, ainda não tinha acontecido a volta à democracia.  Furam anos de luta ao lado de pessoas que sofriam,  que apelavam para a figura imensa do Tristão, que intercedia por muitos,  falava o que podia,  escrevia o que lhe permitiam publicar, mas que nunca se calou diante do "assalto"(palavra usada recorrentemente nas cartas)  que os ditadores perpetraram  contra a liberdade política no país e que durou pelo menos até 1985. Como disse Antônio De Franceschi no prefácio do primeiro livro, "mais uma etapa" dessa autobiografia está sendo agora entregue ao público; será que poderemos publicar em algum momento no futuro, os mais 10 anos, pelo menos - já que escreveu para TUCA até muito pouco tempo antes da sua viagem para a eternidade, como disse acima, em 14 de agosto de 1983? O que se pode prever é um ALCEU  navegando na FÉ e na ESPERANÇA, e cada vez mais se enamorando pela CARIDADE, ("só a CARIDADE, isto é, o AMOR, perdura pela eternidade afora" (cf "Tudo é mistério"), singrando os mares da vida, empurrado pelos remos do TUCA, suas conversas em Santa Maria e mais cartas e mais cartas, até chegar ao porto seguro de onde ele saiu quando de sua conversão, para o alto mar da luta pela FÉ e pela palavra de Cristo, e para onde terá voltado agora, depois de "combater o bom combate!...", qual São Paulo Apóstolo. A famosíssíma caligrafia de Alceu é um obstáculo a termos "outra etapa", agora que TUCA ( sua filha, 1929-2011)) não mais está conosco: procura-se um farmacêutico, dizem alguns, formado em paliografia, segundo outros,  que possa decifrar as cartas de 1970 até quando ele escreveu, o que significa mais 10 anos no mínimo; será que algum dia as leremos e ouviremos?

quarta-feira, 18 de setembro de 2013

DIÁRIO  DE  UM  ANO  DE  TREVAS

Enfim em mãos o segundo livro de cartas de ALCEU  AMOROSO  LIMA! Que prato cheio, diria talvez o papa Francisco! Ele que nunca se esquece de desejar aos que o ouvem na Praça São Pedro aos domingos: "Um  bom prato!" As cartas de Tristão a sua filha monja beneditina, abadessa Maria Teresa... - e só há pouco na Apresentação do livro  seu irmão me conta que ela falecera no dia 01/07/11 - vão de janeiro de 1969 a fevereiro de 1970. Trata-se de "missivas menos religiosas e mais políticas", escreve Frei Beto no PREFÁCIO.  Uma "espécie de diário de bordo de quem atravessa uma época conturbada tanto na vida nacional, devido ao endurecimento da ditadura militar a partir  do Ato Institucional 5 (1968), quanto na Igreja Católica, encabeçada pelo papa Paulo VI, fragilizado em seu propósito de levar à prática as decisões renovadoras do Vaticano II.  Um documento, a projetar o autor, homem de profunda convicção cristã, como um dos brasileiros mais cultos, coerentes  e solidários às vítimas do arbítrio no século XX". Procurem logo adquiri-lo!  Edição de mil exemplares apenas! Quando abordo um livro desejado, lançado um olhar curioso e rápido no começo, parto para o final e nesse que leio?  Última carta, 28/02/1970: "Enquanto é possivel ainda escrever ou pensar alguma coisa nesta missão florida em que a hipocrisia e a impostura do militarismo nos colocou, vamos fazendo o possível... vamos aproveitando o pouco de luz e de liberdade atribuída ao homem, que ainda existe, e vamos trabalhando para Deus, já que os homens são realmente tão mesquinhos.  Ainda se as mulheres pudessem  nos governar, seriam  certamente melhores que os uniformizados..."                                                                                                                                                                                                                                           

sábado, 14 de setembro de 2013

AS   SETE   DORES   DE   MARIA   SANTÍSSIMA  -  15/09

A devoção ÀS  DORES  DE MARIA  SANTÍSSIMA  que a Igreja celebra dia 15/09 tem um fundamento bíblico extraído das palavras proféticas do velho Simeão: "Tua alma será traspassada por uma espada"(Lucas, II,35).  Bastante conhecida é a "sequência"de Jacopone da Todi (1230-1306), um jurista que enviuvando tornou-se padre franciscano que compôs inúmeros escritos laudatórios de inspiração religiosa considerados como  tendo sido a origem  do teatro sacro italiano. Uma destas peça, intitulada "STABAT MATER DOLOROSA" (EM PÉ A MÃE DOLOROSA) . A FESTA DE ONTEM, 14/09, EM CONTRASTE COM A DE HOJE, 15/09,  mostrando o lado humano sofredor de Cristo,  nos faz compreender, aproximando o outono,  a necessidade de unirmos nossos sofrimentos  aos de Cristo, em harmonia com um costume da Igreja: quanto mais um cristão se aproxima de Cristo, mais ele deve aproximar-se da cruz. Maria Santíssima, mais que outra pessoa qualquer, soube tomar parte na Paixão de Cristo, o que  muito nos consola. Nossa piedade , aliás, não deve consistir só  em rezar, observar os preceitos, devendo também o fiel oferecer seus sofrimentos suportados com resignação, em união com Cristo. O " Stabat Mater" é uma composição musical (canto gregoriano ou canto-chão) sobre a prosa de Frei Jacopone que desde séculos tem sido usada na Igreja. Dá-se-lhe o nome de "sequência"(continuação) que consiste em vocalizar, isto é, em continuar a música do "gradual"sobre uma ou mais sílabas da composição em prosa ou verso sem se nomear sinais musicais, usando-se as neumas. Atualmente existem apenas cinco sequências em uso na Igreja: na Páscoa, "Victimae Paschali Laudes; Em Pentecostes, "Veni, Creator":  em Corpus Christi, "Lauda Sion"; na festa de N.Sra, das Dores, "STABAT MATER"e em  FINADOS, "DIES IRAE". O papa Sixto III (432-440) restaurou a basílica liberiana e a consagrou a MARIA SSma. e aos mártires. No seu interior um mosaico celebra MARIA como Rainha dos Mártires. No século XVII começou-se a celebrar liturgicamente as duas festas das SETE DORES, uma na sesta-feira depois do domingo da Paixão (Sesta-feira das 7 Dores), a outra no terceiro domingo de setembro. A primeira tornou-se obrigatória universalmente em 1724 pelo papa Bento XIII. A segunda, em 1814, pelo papa Pio VII, em memória de seu regresso do cativeiro que lhe tinha sido imposto por Napoleão (Le Guide dans LANNÉE  Litturgique pelo padre Marcel Gautier, tome V).
"STABAT  MATER  EM  LATIM

Stabat Mater dolorosa  Juxta crucem lacrimosa, Dum pendebat Filius. / Cujus animam gementem , Contristatam et dolentem, Pertransivit gladius. / O quam tristis et afflicta Fuit illa benedicta Mater Unigeniti! / Quae merebat et dolebat Pia Mater, dum videbat Nati poenas inclyti. / Quis est homo qui non fleret, Matrem Christi si videret In tanto  supplicio? / Quis non posset contristari, Christi Matrem contemplari Dolentem cum Filio? / Pro peccatis suae gentis Vidit Jesus in tormentis Et flagellis subditum. / Vidit suum dulcem natum Moriendo desolatum, Dum emisit spiritum. /  Eja, Mater, fons amoris, Me sentire vim doloris Fac ut tecum lugeam. / Fac ut ardeat cor meum, In amando Christum Deum, Ut sibi complaceam. / Sancta Mater istud agas, Crucifixi fige plagas Cordi meo valide. / Tui nati vulnerati, Tam dignati pro me pati, Poenas mecum divide. / Fac me tecum pie flere, Crucufixo condolere, Donec ego vixero. / Juxta Crucem tecum stare, Et me tibi sociare, In planctu desidero. / Virgo virginum praeclara, Mihi  jam non sis amara: Fac me tecum plangere. / Fac ut portem Christi mortem, Et plagas recolere. / Fac me plagis vulnerari, Fac me Cruce inebriari, Et cruore Filii. / Flammis ne urar succensus, Per Te, Virgo, sim defensus In die judicii. / Christe, cum sit hinc exire, Da per Matrem me venire Ad palmam victoriae. / Quando corpus morietur, Fac ut animae donetur Paradisi gloria. Amen: Alleluja!  
"STABAT   MATER "   SEQUÊNCIA   DA   FESTA  DE  N.S. DAS   DORES

De pé a MÃE DOLOROSA, Junto da Cruz lacrimosa, Via Jesus que pendia. / No coração transpassado Sentia o gládio enterrado De uma cruel profecia. / Mãe entre todas bendita, Do Filho único aflita, A imensa dor  assistia. / E, suspirando, chorava, E da cruz não se afastava, Ao ver que o Filho morria.  / Pobre Mãe tão desolada, Ao vê-la assim transpassada , Quem de dor não choraria? / Quem na terra há que resista, Se a Mãe assim se contrista  Ante uma tal agonia? / Para salvar sua gente, Eis que seu Filho inocente Suor e sangue vertia. / Na cruz por seu Pai chamando, Vai a cabeça inclinando, Enquanto escurece o dia. /  Faze, ó Mãe, fonte de amor, Que eu sinta em mim tua dor, Para contigo chorar. / Faze arder meu coração, Partilhar tua paixão E teu Jesus consolar. /  Ó Santa Mãe, por favor, Faze que as chagas do amor Em mim se venham gravar. / O que Jesus padeceu Venha a sofrer também eu, Causa de tanto penar. / Ó dá-me, enquanto viver, Com Jesus  Cristo sofrer, Contigo sempre  chorar! / Quero ficar junto à Cruz, Velar contigo a Jesus, E o teu pranto enxugar. / Virgem Mãe tão santa e pura, Vendo eu a tua amargura, Possa contigo chorar. / Que do Cristo eu traga a morte, Sua paixão me conforte, Sua cruz possa abraçar!
/ Em sangue as chagas me lavem E no meu peito se gravem, Para não mais se apagar. / No julgamento consegue Que às chamas não seja entregue Quem soube em ti se abrigar. / Que a Santa Cruz me proteja, Que eu vença a dura peleja, Possa do mal triunfar! / Vinde, ó Jesus, minha hora, por essas dores de agora, No céu mereça um lugar.



sexta-feira, 13 de setembro de 2013

14/09 = EXALTAÇÃO  DA  SANTA  CRUZ

Os Orientais celebram hoje a CRUZ com uma solenidade comparável à da Páscoa.  O Imperador Constantino havia mandado construir em Jerusalém uma Básilica no Gólgota e outra no Sepulcro do Cristo Ressuscitado.  A dedicação destas Basílicas se realizou a 13/09/335. No dia seguinte se lembrava ao povo o significado profundo das 2 igrejas, mostrando o que restava do LENHO  da Cruz do SALVADOR.  DESTE USO TEVE  origem  a celebração  do dia 14/09, que encontramos também em ROMA pelo século VII. Nesse aniversário se acrescentou mais tade a lembrança da vitória de HERÁCLIO sobre os PERSAS (630), dos quais o Imperador  arrebatou as RELÍQUIAS da CRUZ que foram solenemente levadas a Jerusalém. Desde então a IGREJA celebra  nesse dia o triunfo da CRUZ. O uso litúrgico, que requer  a CRUZ  próxima do ALTAR, quando se celebra a MISSA,  representa uma evocação  da figura bíblica da SERPENTE DE BRONZE que MOISÉS levantou no deserto. Olhando-a, os HEBREUS mordidos pela serpente, eram curados. Em sua narrativa da PAIXÃO, devia JOÃO ter presente o simbolismo profundo desse grande  "tipo": "Contemplarão aquele que TRANSPASSARAM"(ZC 12,10; JO 19,37). HOJE CORRE O RISCO DE SER VARRIDO OU, PIOR,  INSTRUMENTALIZADO POR UMA  MODA  DE  CONSUMO. Seria conveniente que esse símbolo  nos fizesse voltar aos VERDAEIROS  "CRUCIFIXOS" de sempre: os POBRES, os DOENTES, os VELHOS, os EXPLORADOS, as CRIANÇAS   EXCEPCIONAIS, etc. SÃO ESSES OS MAIS DIGNOS DE SER COLOCADOS AO "VIVO"  EM NOSSAS MISSAS.  A SALVAÇÃO só virá a nós, filhos do "bem-estar", através deles, para os quais é sempre válida a palavra do EVANGELHO: "Tive FOME... Tive SEDE... (Mt 25). "Adoramus Te Christe et benedicimus Tibi, quia per Sanctam  CRUCEM  Tuam redemisti mundum". "Nós VOS adoramos, Senhor Jesus Cristo, e VOS bendizemos, porque pela CRUZ remistes o mundo!".

quarta-feira, 11 de setembro de 2013

O  SENHOR  OUVIU  O  PAPA  FRANCISCO  E  SEU  REBANHO

Dia primeiro de setembro, às sete horas da manhã, desde que FRANCISCO é papa, lá estava eu diante  da TV aguardando abrir-se a cortina e surgir aos gritos dos fieis, numa das janelas do palácio do Vaticano a figura do vovô feliz da multidão católica e turística. Seu rosto naquela manhã, porém, me surpreendeu após o paterno bom dia. Sem preâmbulos, atacou de cheio o assunto: os ecos dos trovões trazidos pelos ventos do Oriente Médio. Pediu orações, jejuns, para aquele próximo sábado, dia sete. Só os céus seriam a proteção contra a ameaça de um conflito. E a multidão entendia e aplaudiu no final dos suculentos e curtos minutos da fala paterna, penetrante, do Pastor nosso sul-americano e universal, que, após a bênção final, abriu aquele sorriso e desejou a todos um "bom prato"! E fui a um passado distante e me vi no consistório da igreja paroquial, ouvindo o Sô Chiquinho, diretor da Congregação Mariana,  recomendando rezar  pois a guerra tinha rompido na Europa. Era setembro de 1939.  Menino sem horizontes pouco entendia dos comentários que fazia sobre a guerra de 1914 que ele viveu como pôde nos grotões das Gerais, e descreveu me atordoando a alma. E me veio a figura do Padre Antônio.   Como era devoto dos terços cantados em procissão, só na Rua de Cima, invocando a pedido de devotos o auxílio dos céus, ou para dar-nos a paz, ou que a chuve caisse, ou para afastar uma peste, etc. Dias poucos depois, o Papa envia uma carta ao chefe da Rússia.  E tudo enchia o mundo de inquietação. E fui ao Caraça. A liturgia na época celebrava as Rogações: antes da Ascensão e de Corpus-Christi, com procissão em volta do casarão, manhã mal desperta, contornando os canteiros de hortaliças dos irmãos leigos, entre cânticos piedosos e súplicas cantadas, e repicar dos sinos, ou pedindo chuva sobre as matas incendiadas, ou pelo final de algum tormento no mundo. E há três dias ninguém me viu no sorriso espontâneo à notícia da  constatação da existência ainda do valor de uma prece. Sozinho acreditei: o papa FRANCISCO interiormente, em humilde silêncio, dava graças a Deus que ouvira as preces de seu rebanho. E até ao momento, pelo menos, o mundo respira aliviado. Está em caminho uma solução. Fruto das preces do papa e da humanidade. Pena que esquecemos de rezar! E pior, temos até vergonha de rezar! Coisas de gente inculta, supersticiosa. Como o Senhor deve passar boas horas se divertindo à custa da ignorância de suas Criaturas que ele divinizou criando-as e resgatando-as. E que se esquecem de rezar.  

domingo, 8 de setembro de 2013

ÚLTIMA   PRECE   DE   OZANAM

"SERÁ PRECISO, SENHOR, que eu deixe todos os bens que Vós mesmo me destes? Não quereríeis  contentar-vos com uma parte apenas do sacrifício?  Qual das minhas afeições desregradas Vos deverei imolar? Não aceitaríeis o holocausto de meu amor próprio literário, de minhas ambições acadêmicas, dos meus próprios  projetos de estudos em que se mescla talvez mais orgulho que zelo pela verdade?  Se eu vendesse metade de meus livros para dar aos pobres o seu preço e, cingindo-me a cumprir os deveres de meu cargo, consagrasse o resto de minha vida a visitar os indigentes, dar-Vos-íeis por satsfeito e me deixaríeis  a doçura de envelhecer junto da minha esposa e de terminar a educação de minha filha? Talvez, porém, meu Deus, não seja este o Vosso querer. Não aceitais essas ofertas interesseiras. Rejeitais meus holocaustos e sacrifícios. É a mim mesmo que desejais. Está escrito que eu devo fazer a Vossa vontade. E eu exclamarei: Aí vou, Senhor!  Aí vou se me chamardes, e o direito não me assiste de lastimar-me".

Uma DAS  ÚLTIMAS CARTAS de OZANAM (19/07/1853) escrita ao pároco da aldeia italiana onde passara alguns meses à procura da saúde perdida: "Ali (no Colégio Tolomei) cursam meninos ricos. Ó meu padre,  que lição útil para fortalecer esses corações  debilitados será... mostrar-lhes Jesus Cristo nas pessoas dos pobres! Temos conversado muito sobre a debilidade, a frivolidade,  a nulidade dos homens,  mesmo dos cristãos da nobreza de França, da Itália, mas estou  seguro de que são assim porque alguma coisa faltou à sua educação: uma coisa  que jamais lhes ensinaram, uma coisa que só conheceram de nome e que é mister ter visto os outros sofrerem, para aprenderem  a sofrê-la quando chegar a nós mais cedo ou mais tarde.  Essa coisa é a dor, a privação, a necessidade"(carta de 19/07/1853).

FREDERICO OZANAM foi beatificado pelo Papa João Paulo II em 1997, na igreja de Notre-Dame, de Paris, quando o Pastor de Roma o indicou como modelo à juventude presente na XII Jornada Mundial da Juventude.
QUE   OS   CONFRADES   VICENTINOS   SE   ORGULHEM   DE   OZANAM

ANTÔNIO  FREDERICO  OZANAM tornou-se célebre também no  seu concurso para a cátedrea, então criada, de "LITERATURAS  ESTRANGEIRAS". Através de suas cartas, sabemos que, para obter o primeiro lugar entre sete candidatos, foi-lhe exigido o conhecimento perfeito de três línguas mortas: latim, grego e hebraico, e quatro vivas: inglês, alemão, italiano e espanhol, além do francês. Eis o que narrou em carta de 14/10/1840. "Em duas  sessões, com um intervalo de um dia, de oito horas cada uma, os candidatos submeteram-se, primeiro, a uma dissertação latina sobre "as causas que detiveram  o desenvolvimento da tragédia entre os romanos" e depois a uma dissertação francesa sobre o valor histórico das orações fúnebres de Bossuet".  Logo depois, eram sabatinados em três arguições distintas, em dias diferentes e de três horas cada uma, sobre textos gregos, latinos e franceses, dados com 14 horas de antecedência.  Depois vieram os interrogatórios sobre as quatro literaturas estrangeiras.  Examinaram-me sobre Dante, Shakespeare e sobre um espanhol. Finalmente os competidores recebiam diferentes temas sorteados, um com 24 horas de antecedência e o outro, com uma hora. Ozanam dedicou-se sempre ao estudo das letras latinas, germânicas e francesas, no tempo dos Bárbaros, pois via grande semelhança de seu tempo com o das grandes invasões bárbaras do início do Cristianismo. Assim como via também em torno de si os meios católicos e conservadores impregnados da idéia de ligar a Igreja aos destinos da Monarquia, vendo nessa ligação do trono  e do altar  um grave erro.  Por isso, procurou mostrar, à luz da história,  o que teria sucedido se, no século V,  os cristãos houvessem  ligado os destinos da Igreja aos do Império Romano. Dedicou-se então a estudar esses tão mal estudados tempos  e a mostrar como, das invasões dos bárbaros, convertidos ao cristianimo, surgiu a civilização medieval, impregnada de catolicismo, porque os mosteiros se mantiveram independentes, se dedicaram a guardar as letras clássicas, a elaborar a sabedoria cristã e a converter os bárbaros. Numa daquelas quatro sessões no início do concurso, dissertando sobre crítica  literária no século de Luiz XIV, libertando-me, soltei as rédeas  a respeito da influência nefasta exercida pela escola jansenista sobre a poesia francesa, assimilando eu os serviços prestados  à língua por SÃO FRANCISCO  DE SALES.  AO MEU RECEIO DE, POR ISTO, TER POSTO TUDO A PERDER, o escrutíneo definitivo feito  com a média dos pontos obtidos nas diferentes provas deu-me o primeiro lugar! (Carta a Lllier, 14/10/1840).

sábado, 7 de setembro de 2013

160    ANOS    SEM    FREDERICO   OZANAM

NO CENTENÁRIO  do falecimento de OZANAM, O8/09/1953,  ocorrido em Marselha,  TRISTÃO DE ATHAYDE, comemorando a data deixou gravado em seu livro "A Vida Sobrenatural e o Mundo Moderno" (pp.327-339) o seguinte: "A 08/09/1853 falecia em Marselha um desses homens que melhor realizaram em si o milagre da harmonia de que é capaz a natureza humana. Em poucos homens  se terá realizado como nele a convivência e a interpenetração harmoniosas entre a FÉ, a CIÊNCIA e a AÇÃO".  Rememorando HOJE , 08/09/13, a  volta à casa do Pai, 160 anos volvidos, do Fundador das Conferências Vicentinas,  nada de melhor julgo fazer do que recordar umas três pinceladas escritas por TRISTÃO,  que  desapareceu há 30 anos (1893-1983) no citado livro: "Ao calor da FÉ viveu a vida inteira de tal maneira que, meses antes de morrer aos 40 anos (23/04/1853) , dirigindo-se a Deus pôde escrever: 'Senhor, estou pronto a acudir a vosso chamado sem queixar-me.  Destes-me 40 anos de vida. Aceito vossa vontade sem amargura mas  com agradecimento. Se estas páginas fossem as últimas que escrevesse, sejam elas um hino à Vossa Bondade". E às vésperas de morrer  inquirido pela esposa qual dos dons mais agradeceria ao Senhor: "A paz da alma, porque tenho a certeza de haver trabalhado a vida toda para fazer triunfar a Boa Causa". Outro marco de sua existência foi a CIÊNCIA. Durante seis anos trabalhou na elaboração da tese sobre DANTE que, apresentada à SORBONNE, recolocou o poeta entre os gênios de primeira grandeza da humanidade. Donde sua conclusão no termo da Divina Comédia:  além de uma súmula filosófico-poética, constitui "a suma  literária e filosófica da Idade-Média, e Dante, o Santo Tomás da poesia, além de uma nova concepção da pessoa humana". E mais: "Avistamos o Verbo Eterno unido à natureza humana. Esta já não é apenas um resumo do universo. Ela enche o próprio universo, ultrapassa-o e perde-se no infinito"("Dante et la philosophie catholique"). Finalmente, a "FÉ, baseada na CIÊNCIA mas completada pela ACÃO, é que representou a harmonia humana de OZANAM. Não um homem de ação no sentido comum do termo. Queixava-se mesmo do contrário em suas cartas, que constituem para nós hoje o melhor testemunho das suas opiniões sobre si mesmo ou sobre seu tempo.  Mas a ironia da hitória é que foi, como homem de ação,  que chegou até nós. Se tivesse sido apenas um "scholar", teria ficado apenas como um nome na história das letras, apreciado  pelos especialistas das letras cristãs primitivas, da história dos bárbaros ou de DANTE.  Mas HOJE OZANAM é um nome POPULAR. Já se fala mesmo que um dia é provável que os nossos descendentes rezem a SANTO OZANAM. Milhares de homens simples em todos os recantos do mundo repetem  o seu nome. O que sabem é que OZANAM foi o AMIGO  DOS  POBRES Esse o seu grande título à gratidão da POSTERIDADE!" Salve o nosso BEM-AVENTURADO  ANTÔNIO   FREDERICO  OZANAM!

sexta-feira, 6 de setembro de 2013

O   FELIX   CULPA!!!  Ó   BEM-AVENTURADO  PECADO!!!

Observação:  este blog deve ser lido depois do blog do dia 05/09/13. De  uma forma mais simples, mais ao alcance de muitos cristãos,  vamos agora repetir  o conteúdo das lições ministradas por TRISTÃO DE ATHAYDE  nos dois blogues postados no dia 04/09 e 05/09. "Criados por Deus, isto é, queridos por Deus, ADÃO e EVA foram constituídos em uma AMIZADE com o Criador, numa total harmonia consigo mesmos  e com a criação que os rodeava. Noutras palavras: Adão e Eva, nossos primeiros pais,  foram constituídos em um estado de "santidade e de justiça original". Esta graça ou dom divino era uma "participação da vida divina. Enquanto permanecessem nessa intimidade divina não deviam nem morrer, nem sofrer. Gozariam do estado denominado "justiça original", isto é, de uma harmonia interior, da harmonia entre o homem, o varão, e a mulher, e finalmente da harmonia entre o primeiro casal e toda a criação. Em Gênesis 3 o autor sagrado utiliza uma linguagem feita de imagens, afirmando a existência de um fato no início da história do ser humano.  A Revelação nos dá a certeza de fé de que toda a história humana está marcada pelo PECADO ORIGINAL, COMETIDO LIVREMENTE PELOS NOSSOS PRIMEIROS PAIS.  Por trás  da opção de desobediência de Adão e Eva, a Igreja e a Tradição  vêem um anjo destronado, chamado Satanás. A mais grave das obras  por ele realizada, devido às consequências originadas, foi a sedução mentirosa que induziu nossos pais a desobedecerem ao Criador, surgindo assim o PECADO ORIGINAL.   Com esta desobediência ou pecado o ser humano preferiu a si mesmo, com isto menosprezando a Deus, optando por si mesmo contra Deus. Criado em um estado de santidade, o homem estava destinado a ser "divinizado"por Deus na glória, mas seduzido pelo diabo quis ser como Deus e não segundo Deus. A harmonia entre Adão e Eva, graças à justiça original, se destruiu. Rompeu-se o domínio das faculdades espirituais da alma sobre o corpo. A  hamonia com a criação ficou desfeita, tornando-se, a criação visível, estranha e hostil.  A criação ficou submetida "à servidão da corrupção (Rom.8,20). O homem voltará ao pó do qual é formado (Gn. 3,19). A morte entra na hisória da humanidade. Todos os homens estão implicados no pecado de Adão e Eva: "Pela desobediência de um só homem o pecado entrou no mundo e, pelo pecado, a morte, e assim a morte passou para todos os homens, porque todos pecaram"(Rom. 5.12). Felizmente, à universalidade  do pecado e da morte São Paulo opõe a universalidade da SALVAÇÃO EM CRISTO: "ASSIM COMO da falta de um só resultou a CONDENAÇÃO  de todos os homens, do mesmo modo, da obra de justiça, de um só, resultou para TODOS OS HOMENS  JUSTIFICAÇÃO que traz a VIDA" (Rom 5,18), através da Encarnação, Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus Cristo. 

quinta-feira, 5 de setembro de 2013

CONTINUAÇÃO  DA  LIÇÃO  DE  TRISTÃO

ATENÇÃO: RELEIA ANTES O BLOG ANTERIOR, DE 04/09/13!  "Percebe-se que o que TRISTÃO  nos ensina no blog anterior, em resumo e na essência, nada mais é senão a narração do Capítulo Primeiro (As origens do mundo e da humanidade) do livro do Gênesis do Antigo Testamento: a CRIAÇÃO e  a  QUEDA. Tudo, porém, exposto numa forma artística e inteligente, sem afastar-se do que foi "INSPIRADO POR DEUS". Usando o mesmo estilo, TRISTÃO  completa a lição  (idem, ibidem) da seguinte maneira: "Aquele fruto do SOFRIMENTO que o homem ancestral  colheu paradoxalmente na árvore original da ALEGRIA, tal como Deus o criou, AQUELE  fruto do SOFRIMENTO e da Dor e da Luta e da Morte, sendo uma consequência indireta da CRIAÇÃO DIVINA (pelo dom da LIBERDADE que foi privilégio da espécie humana), não podia deixar de conter, POTENCIALMENTE,  um GERME da essência contida naquela ÁRVORE DA PERFEIÇÃO, do BEM.  Ora, é precisamente ESSA CAPACIDADE de RECUPERAÇÃO da ALEGRIA PERDIDA que está na própria essência do SER HUMANO. Ela é que permite passarmos do SOFRIMENTO, colhido  (pela  desobediência) da ALEGRIA ORIGINAL, ao sentido oposto, ao da ALEGRIA a ser OBTIDA DO SOFRIMENTO! Tarefa agora cometida especialmente à HUMANIDADE em geral, e a cada ser humano em particular. Já que cada um de nós é uma síntese da humanidade, em sua natureza e em sua evolução ao longo do tempo. A missão mais alta, portanto,  que compete ao ser humano é, precisamente, desfazer a trama que o levou a tirar paradoxalmente  o SOFRIMENTO atual, da ALEGRIA original. E a refazê-la em sentido diametralmente oposto, a saber: procurar extrair do SOFRIMENTO a ALEGRIA num esforço constante para reconquistar o PARAÍSO PERDIDO, mas sempre reconquistável. Pois a IDADE de OURO de que falavam os Gregos não está nem no início nem no fim.  ESTÁ  NO  ALTO!" Donde a frase de JACQUES MARITAIN: "Noubliez jamais la transcendance", o sobrenatural: "Não esqueçais nunca o sobrenatural!"  Esse  "sobrenatural" foi o mistério da REDENÇÃO  REALIZADA pela ENCARNAÇÃO  da SEGUNDA  PESSOA  DA  SSMA.  TRINDADE. Eis por que a suprema tarefa que DEUS propôs à HUMANIDADE, ao conceder ao HOMEM o trágico privilégio de SER LIVRE, foi o de CHEGAR À ALEGRIA PRIMITIVA  como fruto do ESFORÇO e do SOFRIMENTO. A VIDA só merece realmente SER  VIVIDA,  se soubermos  levar ao fundo esses pensamentos. A VIDA é uma GRAÇA POR SER  UM DOM GRATUITO DE DEUS, mas que temos o DEVER de procurar MERECER, se estivermos dispostos a VIVER como um ANIMAL LIVRE e não  apenas ENTREGUE ao ACASO.[

quarta-feira, 4 de setembro de 2013

CONHEÇA   SUA   RELIGIÃO

"Segundo o relato bíblico, a árvore da ALEGRIA , no centro de um mundo criado inicialmente por DEUS, para que o HOMEM nele vivesse em PAZ, LIBERDADE e AMOR, essa árvore devia ser RESPEITADA e NÃO  PROVADA em seus frutos. A simples existência de uma árvore perene, segundo a imagem bíblica, não atingida pela morte, ou seja,  de um mundo de PERENE ALEGRIA de VIVER,  devia ser o destino de um ser criado à IMAGEM  do  CRIADOR, no ápice da evolução de todos os seres inferiores. Só estes seriam atingidos pela morte. Essa simples visão  da ÁRVORE  da   ALEGRIA seria a própria  FELICIDADE desse par supremo, o HOMEM e a MULHER, COMO ELOS FINAIS DAS CRIATURAS.  Aconteceu, porém,  que a LIBERDADE, como dom máximo dessa evolução vital,  foi um BEM  AMBÍGUO e  CONTRADITÓRIO. Isto é, aberto para a ALEGRIA e para o SOFRIMENTO.  Tanto para o BEM como para o MAL. A grandeza do homem, como único ser dotado do poder de escolha entre LIBERDADE e SERVIDÃO, entre CRER e NÃO  CRER,  entre DEUS e o NADA - sua grandeza estava justamente nessa terrível capacidade de NEGAR o seu criador. Ou de NEGAR a sua própria vida, pelo suicídio.  Com isso contradizendo  todo o projeto do CRIADOR, quando fez do HOMEM sua IMAGEM, mas não a sua RÉPLICA.  Ora, foi  justamente por instigar no HOMEM a ambição de ser DEUS ("eritis sicut dii") e não apenas IMAGEM  de  DEUS, que a ambição de ONIPOTÊNCIA, contida no próprio âmago da LIBERDADE,  levou o HOMEM a "colher o fruto proibido". Isto é, o fruto  da árvore da ALEGRIA e, com isso,  em vez de colher ALEGRIA, colher o SOFRIMENTO. E assim transmitir a todos os seus HERDEIROS essa TRADIÇÃO de SOFRIMENTO (PECADO ORIGINAL), REPRESENTADA pela PRECARIEDADE  da VIDA, pela presença do MAL e pelo ESPECTRO da MORTE, que vem sendo a PRÓPRIA  HISTÓRIA da HUMANIDADE, AO LONGO DOS TEMPOS!  Foi assim que o HOMEM colheu o SOFRIMENTO da ÁRVORE da ALEGRIA, com a ILUSÃO de que colhia a FELICIDADE e a ALEGRIA de uma VIDA sem ANGÚSTIA, sem LUTA e sem a MORTE". Eis como num tom elevado,  com tanta simplicidade e exatidão,  TRISTÃO  de  ATHAYDE  NOS ENSINOU COMO   A  DESOBEDIÊNCIA DE NOSSOS  PRIMEIROS  PAIS  nos deixou como LEGADO  o  PECADO  ORIGINAL! ("TUDO É MISTÉRIO", ALCEU AMOROSO LIMA, pp. 191/192). Leia agora o blog do dia 05/09/13.
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terça-feira, 3 de setembro de 2013

SAUDOSAS RECORDAÇÕES CARACENSES

A "AEALAC" (Associação dos Ex-alunos Lazaristas e Amigos do Caraça) acaba de comunicar-me o falecimento de dois ex-caracenses, com quem convivi na década de 50, quando eu trabalhara no Caraça como professor. Trata-se de ANTONIO CLARET REIS, de CARMOPOLIS DE MINAS, turma de 1952, e de JOSÉ EUSTÁQUIO DOS REIS VIEIRA, de MARLIÉRIA, MG, TURMA de 1958. Do primeiro guardo na lembrança a foto de um adolescente alegre, benquisto dos colegas. Do segundo o retrato de uma criança feliz, dotada de uma voz angelical a enlevar as almas à mais pura e autêntica contemplação das realidades celestiais, quando da realização de cerimônias na capela do seminário. Numa carta de 08/01/1958 o missivista poeta, Padre Pedro Sarneel, C.M. (faleceu em 1963), escreveu-me que, agradecendo à poetisa mineira, HENRIQUETA LISBOA (1891-1979) a oferta de uma cadeira bastante original para a biblioteca do Caraça, contou-lhe o seguinte: um seminarista do Caraça, JOSÉ EUSTÁQUIO DOS REIS VIEIRA, conhecedor da origem histórica do móvel, "colou as costas e a cabeça ao macio espaldar da cadeira e puxou os pés até o escabelo; cerrou então os olhos para sonhar um pouco e, logo depois, levantou-se, dando um pulo de alegria. Abrindo os braços gritou: "Eu também sou poeta agora!" Sabendo do fato, eis a história que Henriqueta Lisboa narrou ao Padre Sarneel: "Aquela cadeira que logrou a sua simpatia acomodou, horas e horas, no meu escritório, dois grandes poetas amigos meus, duas sensibilidades de extraordinária beleza: GABRIELA MISTRAL, POUCO ANTES DE ALCANÇAR O PRÊMIO NOBEL, e MARIO DE ANDRADE, um ano antes de desaparecer. Desejei que ela fosse ainda ocupada por um terceiro poeta, lírico entre os mais: SARNELIUS. E ficasse preservada da poeira da cidade, entre paredes tradicionais. Real intuição demonstrou o estudante caracense proclamando-se poeta ao simples aconchego daquela cadeira!". No verso dessa carta lê-se: "UMA CADEIRA HISTÓRICA NO CARAÇA" para a Revista "SÃO VICENTE" no ano "DOIS MIL". P.S. (Padre Sarneel = SARNELIUS)". Não chegou até esse ano a legendária e milagrosa cadeira: no incêndio de 28/05/1968 dela só nos restaram as cinzas e o quase sentimento da perda de uma relíquia invejável.

segunda-feira, 2 de setembro de 2013

HÁ NO BRASIL SANTOS NÃO CANONIZADOS!

Em carta escrita a JACKSON DE FIGUEIREDO, 10/05/1928, TRISTÃO DE ATHAYDE se abriu ao amigo, deixando-nos a mais autêntica confissão de um verdadeiro seguidor de Cristo. "Eu nunca tive coragem de ter um automóvel. Coragem moral, coragem diante do mundo. Não consigo decidir-me! Tenho a impressão de que me diminuiria a meus próprios olhos, se tivesse um automóvel. Sei que é uma imbecilidade, pois possuo uma casa, etc., etc. Possuo tudo isso e sou considerado homem rico. Tenho uma vergonha horrível de tudo isso. E quando me chamam de homem rico (que sou, embora inifinitamente menos que qualquer paredro (conselheiro) republicano ou mesmo muitos dos que me acusam de o ser) confesso que perco a cabeça. Não compreendo como se possa, moralmente, ser rico de bens materiais e ao mesmo tempo ser um soldado de Cristo, seguir a lei de Cristo. Não seria mais útil à Igreja que eu desse os meus bens aos pobres e fosse servi-la como São Francisco, já que não tenho nem a santidade nem o gênio de São Francisco ou mesmo de um simples frade franciscano ou outro qualquer que tem a coragem de largar tudo para seguir o apelo de Deus? Já que eu sou homem medíocre, solicitado pelas coisas do mundo e incapaz de viver contra as coisas do mundo, isolado delas, renunciando a elas, devo ou deverei continuar a carregar a CRUZ DA MINHA RIQUEZA. EM PÚBLICO SERIA RIDÍCULO DIZER ISTO. EM UM CONFESSIONÁRIO SERIA VAIDOSO. Sem nada que nos ouça, a não ser Deus, eu posso dizer: eu carrego a riqueza, o bem-estar, o luxo que me cerca, tudo o que não é essencial à vida, COMO UMA CRUZ. Juro por minha filha que isso é a expressão da verdade. Se não arranco tudo isso de mim é, em primeiro lugar, porque gosto de tudo isso, pelo conforto que me dá, egoisticamente; em segundo lugar, porque aqueles que me cercam vivem nisso, sem pensar que haja algum mal nisso, e me classificariam naturalmente de louco varrido se eu ousasse dizer o que penso a respeito; e finalmente porque sinto que um gesto desses seria ridículo em mim, tão ridículo como aquela tentação de ser santo, do Salavin de Georges Duhamel, sem ter a vocação do martírio, nem mesmo a fé. Tudo isso faz com que continue serenamente a receber os meus ordenados, a viver na minha casa, a comprar vestidos de luxo para minha mulher e para minhas filhas, enfim, em ter a vida de um HOMEM RICO. Mas, há hoje em dia, a não ser para os homens sem consciência, a possibilidade de viver sem miséria e sem remorsos? É preciso optar por uma das duas alternativas, e eu covardemente opto pelo remorso". Como me sinto grato ao bom Deus por ter, desde a adolescência, através de um dos padres professores no Caraça, conhecido em ALCEU AMOROSO LIMA um autêntico cristão brasileiro, testemunha de que entre nós existem homens santos!