sexta-feira, 27 de setembro de 2013

FALTA  QUE  FAZ  A  PEDAGOGIA  DO  LAR   

27/09/1941. Num longinquo olhar retrospectivo,vejo-me montado nos meus doze anos de vida afastando-me de minha família natural: pai, mãe, onze irmãos, num sábado, porque era sábado, 27/09/1941. FOI ONTEM, HÁ 73 ANOS.  E de tal modo esse sábado se entranhou em minha vida que nunca mais nos separamos. Minha partida para o desconhecido foi à mineira: nada de beijos...imagine só! nem abraços, nem um adeus, nada, nada, só dentro do peito uma espécie  de nó indecifrável, indefinível. Já vou, mãe! Nem um pedido de bênção! Anita, a irmã mais velha, percebendo-me em luta com algum fantasma interno, me sugeriu - que ousadia! - dissesse à mãe que não queria ir. Tal nem em pensamento podia eu alimentar. Foi isto no terreiro, junto a uma caixa dágua que nossa genitora de madrugada enchia puxando com a ajuda de uma manivela a pouca dágua que a rua conseguisse fornecer-lhe. E com meu pai silencioso - nos momentos graves era assim que se resguardava - o inspetor da TEXACO nos acomodou no V8  da firma e rumamos para Belo Horizonte. Tudo muito rápido, muito nebuloso, me embotou o pensar, certamente porque era sábado, 27/09/1941, nove horas da manhã. No dia 29/09 chegaria ao destino: CARAÇA. Então me despediria das calças curtas, do apelido do  torrão natal, Lulu, me transfiguraria num  apostólico  do Caraça, seria registrado sob o número 9 e adeus infância , adeus Lulu, de agora em diante, Jair, adeus Mãe, adeus Quive, meu pai, adeus irmãos. Éramos uma dúzia fora os anjinhos, e desde então, escrevi alhures, "a saudade, primogênita estrela fixa no azul celeste...ou arroxeado?, passou a ocupar o espaço que, dentro de mim, ficou vazio de todas aquelas riquezas materiais, sentimentais, familiares, morais, bélicas...trágicos assuntos da segunda guerra mundial, que a poeira da estrada ia escondendo em suas curvas perigosas". Como te sou agradecido, ó meu bom Pai do Céu! 

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