domingo, 29 de novembro de 2009

C I D A D E L A

Neste livro "CITADELLE" Zepérry como que se esqueceu de ser apenas um piloto, ele quis ser mais e se tornou um filósofo, um místico, um teólogo quase. Abro a esmo o capítulo LXIX e aceite como tema de meditação neste início de um ano que agoniza. Mais uma vez me vem à cabeça a ideia, a imagem de um tempo que suponho que terei ganho! Ganhei? Mas em nome, em favor de que? Em favor de sua cultura! Como se cultura se adquirisse por meio de um exercício vazio, se é que isto existe! isto é, sem esforço. Pense-se numa mulher que dá de mamar aos filhos. Que limpa a casa e cose a roupa. Um dia, resolvem libertá-la dessas servidões. Sem ela se preocupar mais com tais afazeres, como por encanto os filhos são alimentados. A casa é varrida. A roupa é cosida. Muito bem! Agora trata-se de lhe encher esse tempo supostamente ganho. Invento um canto de amamentação e lhe faço ouvir. A amamentação transforma-se em cântico e poema da casa. E a mãe sente a casa no coração! Acontece, porém, que a música, a recitação do poema a faz bocejar, por quê? Porque faltou a participação dela. Ao lhe falarem de "casa", nada conseguem despertar nela, pois sua casa não foi construída com seu tempo nem com seu fervor! Ela não saboreou o vai-e-vem da poeira ao abrir a porta ao sol, para expulsar o pó juntado pelo desgaste das coisas. Nunca teve um reinado sobre a desordem que gera a vida ao cair da tarde: a marca dos calçados dos amigos, as xícaras servidas dentro das bandejas, as brasas extintas na lareira ou no fogão, as fraldas sujas do filhinho adormecido. A vida é, sim, humilde por isto maravilhosa! Ela não se levantou cedinho para reconstruir cada dia uma nova casa ou casa nova, como fazem os passarinhos manhãzinha pousados nas árvores refazendo os bicos e lustrando as asas, não dispôs os móveis numa embora frágil disposição. Ela se esqueceu de que sua casa é uma massa, uma cera flácida, ao amanhecer e ao entardecer não passará de um álbum de recordações.

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

NULLA DIES SINE LINEA

O Dicionário "LAROUSSE" nos ensina que estas palavras foram aplicadas ao pintor grego APELES, que viveu na corte de Alexandre Magno, século IV A.C., pelo naturalista romano PLÍNIO "O ANTIGO", autor de uma HISTÓRIA NATURAL em 30 volumes (0 Colégio do Caraça tem um desses livros, editado em 1489). Se você esqueceu, recorde-se de que APELES foi aquele pintor que um dia ouviu um sapateiro pôr um defeito na sandália de um personagem que pintara. Sem perda de tempo, corrigiu o defeito. No dia seguinte, o mesmo sapateiro passou a estender suas críticas a outras partes do quadro. De um pulo, APELES deixou seu ateliê e lhe disse: "Sapateiro, não vá além dos sapatos! Ne sutor supra crepidam!" Privando-me hoje a canícula da coragem para pensar, e me censurando a consciência pela preguiça de escrever alguma coisa, valeu-me aquele "nulla dies sine linea" que tão bem PLÍNIO "O ANTIGO" aplicou a APELES que não deixava passar um dia sequer sem traçar uma linha, isto é, sem pintar. Assim sendo, a FOLHA DE SÃO PAULO, de 26/11/09, informa que por muito tempo NELSON FORTUNATO pelo alto-falante da rádio-comunitária de Nova Europa anunciava as mortes ocorridas no lugar. Anteontem, porém, sua voz foi ao ar para dar conhecimento ao povo da própria morte, da seguinte maneira: Ëstou anunciando o meu falecimento. Falecimento de Nelson Fortunato. Como foi gravado com antecedência, não tem a hora do enterro, mas o mais importante é que todos saibam que morri!" Que admirável "fair play! Outra coisa: num dos escritos passados, escapou-me um "lapsus calami". Falei, de determinado objeto, que era "insipido, inodoro e sem sabor". Apague o "sem sabor"pois sem sabor é o mesmo que insípido. Eu queria dizer, mas não escrevi, incolor! Também escrevi "atoa", falando de Paulo Setúbal. Mas o dicionário Houaiss escreve à-toa". Quando aluno no Caraça, um colega resolveu ler o dicionário Séguier. E gostou da palavra canícula. No primeiro exercicio de redação que tivemos ele usou o vocábulo! Só não ganhou o apelido de canícula, porque era palavra feminina! CANICULA; período do ano em que Canicula ( tb dita Sírio) se encontra em conjunção com o Sol. Por extensão: calor muito forte. Última notícia: Em 1863 Abraham Lincoln estabaleceu a data do Dia de Ação de Graças na quarta quinta-feira de outubro. E em 1941, em plena guerra, Roosevelt transformou a data em feriado nacional, depois de já ter mudado o feriado para a última quinta-feira de novembro. E amanhã é dia de Nossa Senhora das Graças ou da MEDALHA MILAGROSA. E faz 63 anos que, terminado o curso de humanidades no Caraça, deixei o Santuário do Irmão Lourenço (1941-1946).

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

S I N O S D E N A T A L

TATUÍ, Estado de São Paulo, 25/12/1936. Terminada a "Missa do Galo", a família reuniu-se em volta do presépio. E distribuíram-se os presentes. Mas a filha pequena, 12 anos, não pedira ao pai presente de natal. Que entretanto lhe deu uma bomboneira pequenina, de louça barata. A garota desatou alegre a fita cor-de-rosa, lentamente abriu a caixinha, topando encantada com a prenda. Em vez de bombons, porém, encontrou dentro um punhadinho de cinzas. Atinando de imediato com o caso, abraçou-se com o pai que emocionado lhe disse: "Não foi este o presente de natal que você pediu?""Sim, papai, foi este!" Em 1943, aluno do segundo ano no Colégio do Caraça, foi nosso competente professor de história pátria o Padre Francisco Guerra. Conquistou logo de início nossa atenção e interesse pela matéria lecionada, reservando a parte final das aulas para, encantamento de nossa imaginação adolescente, a leitura de páginas referentes aos assuntos estudados. A novidade era que seu autor sabia com "engenho e arte" romancear fatos históricos importantes, daí os títulos de algumas de suas obras: "Maurício de Nassau", "Alma cabocla", "A Os Irmãos Leme", "Bandeira de Fernão Dias", etc. Tal foi nossa admiração por esses livros que se tornou preocupação nossa imitar o estilo solto, diáfano, saltitante do ilustre "imortal" paulistano. Fazia na época uns quatro anos do falecimento do romancista que, "como uma de suas derradeiras despedidas...pede a táboa sobre a qual , sentado, costumava escrever, táboa chã, mas que recebera as confidências de sua pena"("Confiteor"). Três meses antes daquela noite natalina, em outubro de 1936, regressando da igreja, foi ao quarto de sua filha de 12 anos saber como passara a noite. A pequenina estava adoentada. "Papai, eu queria pedir um favor para Papai! Eu queria que Papai rasgasse aquele livro que Papai está escrevendo!" "Por que esse pedido, filha? Por que quer que eu rasgue o meu livro? "Não sei. Há uma coisa aqui dentro que me pede, desde ontem, que Papai não deve publicar aquele livro. E quero tanto que vou propor um negócio para Papai. Papai me dá todos os anos um presente de natal, é o presente que eu mais gosto na minha vida. Neste ano, Papai vai fazer o que eu pedi: rasgar o livro". O livro que se chamaria "O Filho" já estava quase a caminho da editora, apesar dos protestos da esposa que lhe datilografara os originais e lhe condenara o conteúdo bastante pornográfico para a mentalidade da época. "Basta, minha filha, basta! Você ganhou o seu presente de natal". ",E os dois ali no quarto picamos em mil pedaços as trezentas páginas do livro. Logo a seguir, no canto do meu quintal, uma pequena fogueira devorava o montezinho de papeis rasgados. Eu vi, com júbilo, a labareda subir das laudas em tiras. A chama que rompia alegremente do calhamaço como que atiçava um fogareu de contentamento no meu coração. Na minha felicidade, sem que ninguém reparasse, guardei comigo um punhadozinho daquela cinza"("Confiteor"). 26 de dezembro de 1936."Natal bucólico, transcorrido em pleno campo, nesta arredada e quieta chácara em que vivo ( o autor já estava bastante doente). Tudo tão íntimo, aconchegado, lindo. Até a árvore pareceu-me mais bonita que a dos outros anos. E tinha bugigangas como nunca teve. E enfeites de ouro. Lanterninhas e bolas. E laçarotes de toda cor. Uma festa. As crianças receberam o presente que pediram. Só a pequerrucha de 12 anos não pedira presente de natal. Mas o Papai lhe deu uma bomboneira de louça barata, cousa atoa. Encontrou lá dentro, com surpresa, um desenxabido punhado de cinza. Compreendeu imediatamente. Olhou-me com um olhar fulgurante. Olhar em que fuzilava chispa a mais eloquente. Acercou-se apenas de mim, beijou-me e, trêmula, abraçou-me com um abraço apertado. Eu lhe disse a meia voz: Foi este o presente de natal que você pediu, não foi, minha filha? Foi, Papai! E abraçou-me de novo" ("Confiteor"). Dois livros o imortal "PAULO SETÚBAL não viu impressos: "O FILHO", que ajudou a rasgar e queimou, e "CONFITEOR", obra póstuma, cujo derradeiro capítulo traz a marca sábia, santa e elegante do filósofo Padre Leonel Franca (1893-1948), jesuíta, um dos fundadores da PUC do Rio de Janeiro e seu primeiro reitor.

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

A PULSEIRA DO ZEPÉRRY

A gratificante surpresa que tive, quando, há um mês, visitei com o neto Gael a exposição do "PEQUENO PRÍNCIPE" na OCA em São Paulo, foi dar de cara, de repente, com a PULSEIRA usada por SAINT-EXUPÉRRY ao ser metralhado pelos aviões nazistas. Notícia do fato eu já tivera, bem como já ouvira de meu irmão Plínio que em Santa Catarina existia uma aldeia chamada ZEPERRY, alcunha bem brasileiramente derivada do nome do aviador-poeta que por aquelas bandas gostava de fazer uma parada. Mas tocar com os olhos a PULSEIRA, presente da esposa, e por 58 anos guardada no fundo do mar e hoje em solo brasileiro, causava-me uma sensação semelhante a que me possuiu, quando, do alto de uma montanha de Petrópolis, vislumbrei, primeira vez, a Cidade Maravilhosa e seus esparramados mares. Dias depois, indo meu filho a Paris, a trabalho, pedi- lhe me encontrasse o livro mais recentemente publicado sobre Saint-Exupérry. E me trouxe o "ST-EXUPÉRRY L`ULTIME SECRET", de Jacques Pradel e Luc Vanrell. Estes escritores narram uma história parecida com outra ocorrida no Brasil no século XVIII. Ordenou-se lançassem no rio Paraíba uma rede a fim de se recolher o alimento para o almoço do conde de Assumar. Mas as águas estavam em greve. Depois de algumas tentativas infrutíferas, já sabemos o que trouxe a rede: a imagem tisnada de Nossa Senhora Aparecida, padroeira hoje de nossa pátria. Na França era uma segunda-feira, 7 de setembro de 1998, onze anos atrás. Do oeste do porto de Marselha, o "L`Horizon" parte em direção do arquipélago de Riou. Após hora e meia de mar, o barco de pesca é colocado em ponto morto. Na cozinha de bordo, enquanto se pragueja contra o mau tempo, sorve-se um café quente, dirigindo-se o "L`HORIZON"para Considaigne onde a rede será levantada. Ativa-se o sarrilho. Esvazia-se a carga dos peixes e dos detritos: pneus, garrafas pedaços de metais, sobre o convés. Regressando-se ao porto, rejeitam-se as pequenas presas, armazenando-se os peixes em tinas. Habib, um dos dois pescadores, apanha uma concreção enegrecida. Ao tentar devolvê-la ao mar, um ponto brilhante lhe chama a atenção. Coloca o objeto no torno, quebra a ganga, exala-se um odor nauseabundo. Surge um bracelete quebrado, com uma placa de identificação enegrecida, de prata, parece. O outro pescador, Jean- Claude, pergunta: "Tudo bem aí atrás?" " Olhe o que achei", responde Habib. Minutos depois, na cozinha de bordo, raspada e lavada, a placa revela um prenome: Antônio. Jean-Claude dá uma gargalhada: "Sem dúvida algum pescador do lugar. Os Antônio sempre perdem tudo. É seu segundo prenome como o do seu falecido avô. Mas Santo Antônio de Pádua é também quem tudo encontra, por menos rezas que se lhe dirigem". Súbito, aparece o nome por inteiro: ANTOINE DE SAINT-EXUPÉRRY. Lê-se a seguir CONSUELO, o prenome da esposa do escritor, seguido da menção:C/O REYNAL AND HITCHCOCK INS. 386 4TH AVE. N.Y.C.U.S.A. Primeiro desejo de Jean-Claude: oferecer essa joia a seu neto para ele guardar uma particular recordação de seu avô. A avó, porém, aconselha entrar primeiro em contato com alguém que conheça a história de Saint-Exupérry.

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

CAMPOS SALLES = SÃO VICENTE DE PAULO

CÂMARA MUNICIPAL DO RIO DE JANEIRO _ O presidente desta edilidade, por iniciativa do vereador REIMONT, convida para a Solenidade em Comemoração ao Centenário da ESCOLA MUNICIPAL CAMPOS SALLES, primeira escola de Educação Infantil do Rio de Janeiro, e ao cinquentenário do COLÉGIO SÃO VICENTE DE PAULO, Rua Cosme Velho, a realizar-se no dia 16 de novembro de 2009, à 10 horas, no Palácio Pedro Ernesto, na Cinelândia. Arredio pela idade e por temperamento a esse tipo de congraçamento, atendi ao gentil convite intermediado pelo Padre Lauro Palú, diretor do São Vicente, não esquecido, ademais, de que quase três anos de minha vida passada eu bliquitara naquele estabelecimento, "noblesse", portanto, "m`obligeait" sem dúvida. O salão (Plenário Teotônio Villela) fervilhando de uma centena de crianças e adolescemtes do Colégio São Vicente e da Escola Municipal Campos Salles, contagiando com suas posturas irrequietas e famosa alegria carioca a turba numerosa de professores e professoras e familiares destes e de alunos, muitos dos quais se contentavam em assistir a tudo de pé. Foi um espetáculo à altura de uma coletividade civilizada, que preza a escola, que valoriza os mestres. O pronunciamento do vereador Reimont, pela sua atualidade didática, pelos conceitos sobre educação à Padre Paiva, à Marçal, à Almeida e, sem bajulação, à Lauro Palú, sem me esquecer do senador Cristovam Buarque, constituiu a chave de ouro de abertura do inesquecível encontro. Muito feliz o diretor do São Vicente abrindo as páginas dos feitos da comunidade do colégio seguindo as pegadas do Grande Santo do Grande Século, Vicente de Paulo, narrando no tom singelo de quem nada parece transmitir de extraordinário, causou profunda impressão benéfica no coração da diretora da Escola Municipal Campos Salles. Que não se contendo de emoção, confessou-se encantada com o belo trabalho apostólico exercido pelo Colégio São Vicente de Paulo. Angelical o coral mirim da Escola Campos Salles! Lamentei não ter podido meu filho, José Eduardo, participar comigo da homenagem aos 50 anos do colégio donde, com seu irmão Luiz Augusto, saiu preparado para ambos se formarem na PUC. José Eduardo teria se emocionado bastante ouvindo as peças executadas pelo coral de sua escola, ainda e felizmente sob a batuta de Patrícia! Parabéns à Escola Municipal Campos Salles detentora, a julgar-se pela juventude de seus membros dirigentes, de um promissor potencial de crescente prosperidade! Parabéns ao Colégio São Vicente de Paulo que, aos bem vividos 50 anos, já adquiriu a simpatia da família carioca pela silenciosa missão formadora de agentes de transformação social.

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

COMLURB + LIGHT

Registre-se esta data: 12-13 de novembro de 2009. Porquê? Porque a PRAÇA RADIAL SUL, no final da Rua Eduardo Guinle, em Botafogo, Rio, viveu nessa data dias históricos. Mas antes um pequeno preâmbulo. A Praça Radial Sul, timidamente escondida numa curva tão perigosa que mal dá ao motorista que a contorne o prazer de um volver de cabeça para lhe fotografar a cara e memorizá-la, não fora batizada sem razão com o nome que tinha (ou que ainda tem!): "Radial Sul. Esse nome lhe fora cravado, porque, há uns 40 anos atrás, estava nos planos da administração da época de, ligando a Praia de Botafogo ao Jardim Botânico, construir ao pé do morro do Corcovado, paralelamente à Rua São Clemente, uma extensa e moderna avenida, a que se daria o nome de RADIAL SUL, a fim de se descongestionar o trânsito da referida artéria São Clemente. O plano gorou e foi substituído pela abertura do Túnel Rebouças. Como recordação aquela pracinha que lhe ficaria à margem reteve a denominação insossa, inodora e sem sabor de Radial Sul. Sem a denominação de uma pessoa ou de algum acontecimento histórico que a caracterizasse ou personalizasse, tornou-se a Praça Radial Sul, naturalmente, uma presa fácil a qualquer candidato a uma função eletiva que, na ânsia de mais alguns votinhos na urna, prometesse trocar-lhe o nome pelo de alguma personalidade influente nos entornos, caso chegasse a ser eleito. Assim, no início deste século uma vereadora, conseguindo dentro dos trâmites legais a substituição do nome corrente da praça pelo nome do ex-vereador e deputado federal (duas vezes) e senador e jornalista MARIO MARTINS, presidiu a inauguração de uma placa que lá ainda se encontra, bastante mal tratada, com a nova denominação: PRAÇA MARIO MARTINS. Na placa gravou-se o seguinte pensamento do homenageado: "Todo inimigo dos meus filhos é meu inimigo". Mas vejam como até no Rio as máquinas administrativas, por vezes, giram, funcionam, numa supina e lamentável ignorância da existência de outras que com elas estreitamente se relacionam. Na minha típica ingenuidade mineira. solicitei um dia à gerência de uma revista que substituisse meu antigo endereço (Praça Radial Sul) pelo recém instituído (Mario Martins). Não recebendo mais a revista, reclamei. E veio logo a resposta: "O nome da avenida indicado por V.S. não consta da lista de endereços de logradouros da cidade". Pior: o Senhor Laje, que mantém um comércio de flores ao lado da pracinha, revelou-me hoje que foi há pouco tempo informado de que o nome agora da praça é Praça João Fortes! Terminado o preâmbulo, repito: registre-se a data: 12-13 de novembro de 2009. Foi nessa data, mediante a intervenção da COMLURB, podando galhos das árvores da Praça Radial Sul, que finalmente, depois de quase seis meses acesas dia e noite cerca de uma dúzia de lâmpadas ganharam o direito de descansarem DO NASCER AO PÔR DO SOL.

terça-feira, 10 de novembro de 2009

LIÇÃO DO PEQUENO PEDESTRE"

Embora nascido em 1938, "O  PEQUENO  PEDESTRE" ainda é um mestre muito atual. Seu autor, VICENTE  GUIMARÃES, dirigindo naquela época em Belo Horizonte um Suplemento Infantil, adquiriu algumas centenas de fãs  mirins. Entusiasmado, fundou a revista "CARETINHA"que, remetida a seu sobrinho JOÃO  GUIMARÃES ROSA, dele mereceu um valioso empurrão: "Tive boa impressão da revista e penso que o filão está sendo bem trabalhado...preencherá brilhantemente  as suas finalidades, e, mais do que isso, evidencia sua capacidade de escritor, especialmente no difícil caminho da literatura para crianças. Parabéns".  Estimulado, VICENTE  GUIMARÃES escreveu e publicou 71 anos atrás  "O  PEQUENO  PEDESTRE", o que o habilitou a ser enviado ao Rio de Janeiro em 1939 para participar da "Semana do Trânsito"como representante do prefeito de Belo Horizonte, Juscelino Kubitscheck. Antes disto, porém, promoveu  entre as crianças um concurso para saber que nome elas gostariam de escolher para ele que tantas histórias lhes contava. Por unanimidade cravaram no voto a palavra "VOVÔ". O "FELÍCIO" nasceu de uma carta que recebera de uma das crianças que havia perdido o avô chamado "FELÍCIO". Assim nascido e registrado nos corações da infância mineira,  o VOVÔ  FELICIO quis ensinar seus netinhos as principais regras  para andarem nas ruas com bastante atenção e segurança. Foi esta a missão do livro que publicou em 1938:  "O  PEQUENO  PEDESTRE". Uma lição entre outras muitas nele contidas diz o seguinte: "UM  PEDESTRE INTELIGENTE  TEM  SEMPRE CALMA  E  ATENÇÃO, ANDA  OLHANDO  PARA A  FRENTE  E  JAMAIS VAI  CONTRAMÃO", ilustrando com um sugestivo desenho a confusão causada no passeio de uma rua entupida de pedestres indo e vindo sem atenderem ao mais racional princípio que devem seguir as pessoas que andam nas ruas de nossas cidades maiores. Daí: "SE,  NA  RUA  TODA  GENTE  DESOBEDECESSE A  MÃO,  TERÍAMOS  CERTAMENTE  ESTA  HORRÍVEL  CONFUSÃO". Infelizmente não existe  um código de trânsito de pedestres. E no entanto há mais de 70 anos atrás, VOVÔ FELÍCIO já havia contribuído - e quanto! -  para a diminuição do estresse dos transeuntes nos passeios e calçadas de nossas megalópoles brasileiras. Claro que essa regra de ouro consta de nosso Código de Trânsito Brasileiro: "Art 29. O trânsito de veículos nas vias terrestres abertas à circulação obedecerá às seguintes regras: I - a circulação far-se-á PELO LADO DIREITO DA VIA, admitindo-se as exceções devidamente sinalizadas." PELO  LADO  DIREITO  DA  VIA! Se você, pequeno pedestre, não entender bem o que significa isto, recorra aos seu vovô que se sentirá muito feliz de lhe explicar! Talvez já naqueles idos se dava mais valor aos carros do que aos pedestres pequenos e grandes! "Mutatis mutandis", o princípio do Código de Trânsito vale igualmente para os que andam nos passeios ou calçadas das nossas ruas. E quem diz que é isso o que acontece? Procure cada um de nós caminhar pelos passeios da Avenida Rio Branco, por exemplo! Quase sempre o recurso é sair ziguezagueando que nem uma barata tonta, porque saber andar na mão e não andar na contramão em passeios e calçadas das ruas, qual a criança de hoje que ouviu falar ou que tenha lido isso nalgum manual de boas maneiras ou de instrução cívica? Para finalizar este assunto, confesso orgulhoso que, além de "O  PEQUENO  PEDESTRE", acompanha-me um livro, editado em 1919 pela Livraria Francisco Alves, Rua do Ouvidor 160, Rio de Janeiro, vigésima segunda edição, intitulado "LEITURA  MANUSCRIPTA", LIÇÕES  COLIGIDAS  POR  B.P.R., aprovado  e adoptado pelo Governo para as Escolas Publicas do Estado, com 126 páginas, reproduzindo textos MANUSCRIPTOS de vários autores com as respectivas maneiras de grafar as letras dos vocábulos e nos ensinando que "devemos escrever correctamente, com estylo, com elegancia... e com calligraphia". Uma hora por semana  os alunos deviam empregar na leitura oral do texto de algum autor, para aprenderem não apenas a escrever corretamente, com estilo, com elegância... mas também para se exercitarem no esforço de decifrarem o conteúdo das palavras escritas, por exemplo, numa receita fornecida por um médico! E ESPECIALMENTE  COM  CALLIGRAPHIA! "A calligraphia é um bom dote no homem, não é por certo o mais precioso, entretanto merece bem que não seja desprezado"("Leitura Manuscripta", pag. 10).   

domingo, 8 de novembro de 2009

O PEQUENO PRÍNCIPE NA OCA

Parque do Ibirapuera - Pavilhão Lucas Nogueira Garcez - OCA - São Paulo. No dia 4 de novembro próximo passado, às 10 da manhã, esquecidos da tranquilidade da avenida Higienópolis, penetramos no portão 03 da av. Pedro Alvarez Cabral, s/n. Munidos dos devidos passaportes, meu filho LUIZ AUGUSTO e ESPOSA MARIANA, e este octogenário, que tudo daria para não perder essa viagem de mágico encantamento, apertamos logo o passo para podermos acompanhar o neto GAEL que não cabia em si de ansiedade para descobrir e ver a encantadora história que mal começava no interior daquele monumental museu paulistano.  Ele, o neto GAEL,  já conhecia de vista noturna e de vista diurna o perfil do personagem que começava a visitar: ANTOINE DE SAINT-EXUPÉRY.  De vista noturna, sim, porque não admitia dormir sem a fronha e o lençol com os mágicos desenhos do poeta-pintor-aviador, presente de aniversário da avó paterna LÉA  MARIA . De vista diurna também, porque de segunda a sexta, sozinho fazia questão de atravessar quase marchando ou apostando corrida com algum coleguinha o longo corredor do colégio, onde estudava,  até desaparecer na entrada da sala  da Tia Renata.  Mas  -  e  eis o pormenor  -  sempre dependurada  nas costas a mochila do PEQUENO  PRÍNCIPE  bem visível, vestido de amarelo, pairando no ar e arrastado  por um cordame puxado por onze pássaros com a seguinte explicação: "Je crois qu`il profita, pour son évasion, d`une migration d`oiseaux sauvages". Com a mais infantil simplicidade e com a mais acurada perfeição os organizadores da exposição souberam atingir as mais profundas e delicadas linhas do encantamento e da curiosidade das crianças pequenas e grandes que no sonho vivido naquele museu estão lendo, mais com a imaginação e com a sensibilidade do que com os olhos, cada uma das páginas do livro " O  PEQUENO  PRÍNCIPE", escrito pelo poeta- aviador ANTOINE DE SAINT-EXUPÉRY.  Uma quase "fábula lírica e profunda, com um dos mais amados personagens de ficção, o principezinho, que vem de um planeta distante para ensinar os homens a viver de verdade".  Eis o conselho apontado pelo folheto recebido pelo visitante ao adentrar nesse mundo encantado: "Vamos descobrir essa história  como quem entra numa fábula. Deixe-se levar, com a alma em liberdade, como se o país da infância  nunca pudesse se afastar de você. Se você é uma criança, lembre-se do que acha importante hoje. Guarde esses valores intactos para quando for uma pessoa grande. Se você já é uma pessoa grande, deixe fluir a criança que existe dentro de você". De minha parte, um conselho não pedido, nem querendo eu ser intrometido embora já o  sendo:  podendo, vá visitar a exposição! E guarde com a máxima fidelidade as paisagens gravadas em suas cordas sentimentais as mais humanas, para que, se as percorrerdes um dia e se, à vista de uma delas, uma estrela no céu lhe chamar fortemente a curiosidade, não prossiga, detenha-se sob sua luminosidade. E se uma criança se aproximar de você, se sorrir, se tiver cabelos de ouro, se interrogada nada lhe responder, você já sabe quem ela é! Então seja gentil! Não me deixe continuar mergulhado em tamanha tristeza: escreva-me depressa que ela voltou! (Fecho do livro "O PEQUENO  PRÍNCIPE").   

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Com a devida permissão

Autorizou-me o amigo Vicente Guimarães Júnior, filho do VOVÔ  FELÍCIO, autor do "PEQUENO  PEDESTRE", a transcrever aqui alguns tópicos de uma conferência que pronunciou em Belo Horizonte, no dia 30 de junho de 2007.  Tratava-se de uma homenagem ao primo e padrinho JOÃO  GUIMARÃES  ROSA,  cujo centenário de nascimento, em Cordisburgo, se comemoraria no dia 27/06/08.  No seu pronunciamento o conferencista, voltando-se ao início dos anos 60, quando da visita do "imortal" a seus pais no Rio de Janeiro, revelou aos seus ouvintes o que naquela ocasião ouvira do importante escritor mineiro: "Se a morte é o que há de mais certo no nosso futuro, por que não nos organizamos para o inexorável? Eu treino para morrer. Deito-me às vezes bem tranquilo em ambiente escuro e silencioso, concentro-me no pensamento de que estou perdendo as forças, que não posso mover-me, aos poucos a vida se esvai. Já quase não enxergo, a respiração falha". A aparente morbidez da conversa não me levava a querer mudar de assunto, ou sair da sala, e em vez disto minha atenção e interesse aumentavam. A frase do Joãozito  (nome com que tratavam em família o famoso escritor) "Tenho saudade do ceu!" me ficou gravada de maneira literal e indelével e me pareceu poesia pura, de um bom gosto e profundidade que não mais esqueci. Tudo isto  reapareceu com intensidade em minha memória, quando Joãozito, muito tempo depois,  após ser eleito  para a Academia Brasileira de Letras,  adiou por vários anos sua posse por temor (eu estava certo?) de que poderia falecer. O que realmente  aconteceu: poucos dias, menos de uma semana depois da posse, veio a morrer de repente, confirmando sua própria profecia. Não sei  como foram seus últimos momentos de vida, mas suspeito que não tenha sido possível colocar em prática o treinamento descrito.  
"Eleito em agosto de 1963 para a ABL, João Guimarães Rosa tomou posse  a 16 de novembro de 1967 como sucessor de João Neves da Fontoura na cadeira número 2 de que é patrono Álvares de Azevedo, tendo  então pronunciado um discurso em que afirmava que "as pessoas não morrem, ficam ENCANTADAS. Durante a solenidade manifestou os primeiros sinais do enfarte que três dias depois lhe tiraria a vida" (Dicionário Biográfico de Minas Gerais, volume 2, pág. 598). Quero crer que pela expressão "ficam encantadas" João Guimarães Rosa admitia a vida eterna e a ressurreição dos "que dormem".  As frases "DORMEM EM PAZ" e "A DOR É BREVE MAS A ALEGRIA É ETERNA", gravadas respectivamente nos túmulos de TRISTÃO DE ATHAYDE e de LYSANDRA DE ANDRADE, ex-aluno do Caraça, muito bem caracterizam o espírito cristão e católico dessas pessoas.