quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

CABRIOLANDO NO LIVRO DE ANTÔNIO

Estando no Duomo, ao cair da tarde, pedi ao sacristão mostrar-me o túmulo do Cardeal Schuster. Uma lápide no chão. Esquecida, perdidda, solitária. Voltava eu pela extensa nave deserta, caminho da porta, quando, súbito, o grande órgão começou a tocar. E um coro de crianças de repente se pôs a cantar para mim. Parecia a Ressurreição, ali proposta, de modo propedêutico e direto, a um cateúmeno. Chorei.

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

AINDA MARIA JÚLIA VIEIRA

Comunicou-me uma seguidora ter-se sentido bastante emocionada diante do perfil de sua bisavó MARIA JÚLIA VIEIRA, aqui reproduzido dias atrás do livro "MEMÓRIA & CORAÇÃO, escrito por ADAGMAR LIMA DE FREITAS em textos que têm um sopro azul de saudade que deixa nublado o nosso itaguarense olhar"(Neuza Sorrenti). Emoção senti também senti eu pela sua aparição em nosso arraial de conexão, através de recíprocas mensagens via internet. Mais emoção me veio, sabendo ser eu seu tioavô

AINDA MARIA JÚLIA

AINDA JÚLIA MARIA

AINDA MARIA JÚLIA

sábado, 2 de fevereiro de 2013

PROCESSO DE CANONIZAÇÃO

NOS PRIMEIROS SÉCULOS DO CRISTIANISMO, a PROCAMAÇÃO da santidade de uma pessoa era feita espontaneamente pelo POVO CRISTÃO. Se um católico, um fiel servo de Deus, falecesse em ODOR DE SANTIDADE, expressão bastante expressiva, isto é, RECONHECIDO pela comunidade como um católico autêntico, sendo portanto objeto de VENERAÇÃO, este sentimento comum por parte do grupo cristão deslanchado, espontaneamente espalhado, considerava-se como a PROCLAMAÇÃO da santidade do falecido. Claro que as autoridades eclesiásticas, os bispoe e padres responsáveis pelo pastoreio dos fieis, velavam para que a veneração nascente e perseverante só recaisse sobre verdadeiros servos de Deus. Para tal pessoas idôneas eram encarregadas para consignarem por escrito tudo que se referia, se dizia, a respeito das VIRTUDES do JUSTO , bem como sobre MILAGRES por ventura obtidos pela intercessão do "adormecido no Senhor". Esta forma de PROCLAMAÇÃO da santidade de um fiel falecido ou MARTIRIZADO, e consequente VENERAÇÃO, durou até o século XII. A partir daí os papas URBANO II (1124) e EUGÊNIO III (1153) PASSARAM A RECOMENDAR QUE AS VIRTUDES E MILAGRES DOS "JUSTOS" (DOS "PROCLAMADoS PELA COMUNIDADE") que pareciam dignos de serem inscritos no "CATÁLOGO DOS SANTOS" fossem EXAMINADOS de preferência em concílios, PRINCIPALMENTE OS CONCÍLIOS GERAIS ou ECUMÊNICOS, ISTO É, CONCÍLIOS EM QUE TODOS OS BISPOS SE REUNIAM PARA, SOB A PRESIDÊNCIA DO PAPA, DISCUTIREM E RESOLVEREM QUESTÕES DOUTRINAIS ou DISCIPLINARES da IGREJA CATÓLICA. A SANTA-SÉ a partir de então passou a RESERVAR ao seu supremo juízo a palavra definitiva em tão importante assunto. Aos poucos foi-se elaborndo uma legislação meticulosa concernente à CANONIZAÇÃO dos SANTOS. Esta supõe atualmente um PROCESSO EM 3 ETAPAS: a) EXAME da vida, dos atos da pessoa que morreu em "odor de santidade", PARA SE PROVAR A HEROICIDADE DAS RESPECTIVAS VIRTUDES; exame dos seus escritos: cartas, notas pessoais, de espiritualidade, para se comprovar a HEROICIDADE do respectivo martírio; b) comprovação de milagres por ventura obtidos por intercessão do servo de Deus em favor de seus irmãos na fé; c) a IGREJA CATÓLICA submete o apregoado portento, milagre, ao exame de médicos e cientistas, após verificar não haver explicação NATURAL PARA O FATO. NÃO HAVENDO, a IGREJA RECONHECE a mão do Senhor que ASSIM quis atestar a SANTIDADE do seu SERVO sobre a própria santidade, por cuja intercessão se obteve tal milagre.

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

MARIA JÚLIA VIEIRA

Seu telefonema, TUCA, me fez recordar. E como foi bom! Aí está o retrato de sua bisavó materna. "A lembrança vem apagadinha. Vai-se avivando à medida que ultrapassa a barreira do tempo, da distância. Vem trazendo retalhos de uma figura esguia, quase lendária;rostinho magro, emoldurado por uma cabeça de flocos de algodão.Vem de longe, trazendo saudades da velhinha do Largo,um tipo marcante da outrora Conquista (hoje Itaguara) - MARIA JÚLIA VIEIRA. Vem de longe, repito, trazendo a paisagem do Largo da Matriz com suas pastagens, seus barrancos, suas casas simples e o ambiente arraialesco. E nessa visão longínqua, acima da igreja, uma casinha baixa, quatro janelas abertas a tragarem luz, vida e tudo que além delas se passava, enche-se da mulher-gente que marcou época nesta Terra de Nossa Senhora das Dores. Vejo-a saindo para a igreja, rosário nas mãos sofridas, ou num bate-papo com as amigas ali, pela porta, atenta aos acontecimentos cotidianos e, vez por outra, a alguns extras. E então, que rebuliço! Visitas às famílias-bem era um hábito. Ela e D. Conceição - vizinhas e amigas. Quase irmãs, sempre juntas. Rindo ou chorando, conforme a batuta de Nosso Senhor. Maria Júlia ia levando a vida e a vida levando-a também. Pois não é que as perrenguezas foram chegando de mansinho, as forças diminuindo. Como lutar contra a natureza!? Estava sozinha agora; os filhos, longe! Batendo pela vida.Vendeu a casa da Praça, juntou seus pertences e se despediu de todos e de tudo num adeus longo e definitivo. Lá se foi para Carmópolis morar com a filha Olga. A doença prolongava-se e Maria Júlia agarrada à vida. Tudo fazia pra vencer a batalha. Foi vencida, entretanto. Assistida pelos familiares e pelo médico Dr. Francisco Paulinelli, expirou confortada pelos sacramentos no dia 04 de junho de 1959. Foi sepultada no cemitério Nossa Senhora do Carmo da vizinha cidade. Levou para o túmulo muito da história da nossa Conquista. Bem, agora a vez de dar asas à imaginação. E o seu tempo-criança, ali, no povoado dos Dias-Vilelas, livremente pelos campos, a brincar e a fazer mil travessuras, leva-me a pensar no século passado. Pois Papai-Modesto e Mamãe-Joaquina viram Maria Júlia desabrochar no longínquo 18 de dezembro de 1872 ( 18/12/73 você foi batizado no Colégio São Vicente). Com o primeiro vagido, já deve ter demonstrando que era Gente e Gente seria, sem sombra de dúvidas. Infância feliz, despreocupada, imagino, vivida ardorosamente, talvez, que a vida dura iria começar. Casou-se aos 15 anos com o Sr. Jacó. Enviuvou-se aos 19 sem gozar as alegrias da maternidade. Muito jovem e bonita, foi logo pretendida pelo Sr. Antonio Pinto Baeta. Com ele se casou MARIA JÜLIA. Vida nova castelos levantados, sonhos, felicidades de muitos filhos abençoados por Deus (continua e termina no blogue seguinte).

MARIA JÚLIA VIEIRA

VEIO VINDO PARA O ARRAIAL. E  ali, numa casa modesta, pertinho da Cava do Leitão, foram chegando os frutos do casamento: Aurora, Eurico, Olga, Nenén, Genésio, Antônio e José.  Casa ruidosa, cheia mesmo! Mas tinha de acontecer. Estava escrito.  Se o destino era de novo enviuvar-se,  paciência! Pois não é que o Baeta se vai,  deixando-a com sete filhos menores? O golpe foi doloroso. Mas não se desesperou a mulher. A luta era sua. Lutar, seu dever.  Quanto sacrifício para criar os filhos e encaminhá-los para a vida! Muitas manhãs,  despensa vazia, coração nas mãos, afagava as cabecinhas inocentes à espera de um milagre. E dava-se um jeitinho sempre. Também as crianças sadias, conformadas, com apetite voraz,  comiam qualquer coisa que surgisse na mesa. Podia ser galinha ou mesmo fubá desbarrancado! Depois iam felizes trabalhar. Porque a mãe, enérgica,  conseguiu jogá-los cedo no serviço Eram os teares cantando, as colchas deles saindo e o magro dinheirinho pingando gota a gota.  O quintal por capinar, as abóboras rebentando das flores, tudo cuidado por mãos zelosas. Os meninos-homens no ofício, as meninas-mulheres nas prendas domésticas se aperfeiçoavam. O resultado não se fez esperar. Também havia as horas de lazer, poucas é verdade,  mas a turma as aproveitava intensamente. Com que alegria, à boca da noite,  descia MARIA JÚLIA a Rua do Brejo, com o seu batalhãozinho, rumo à igreja. Era o rograma das moças.  Que boa oportunidade para verem os pretendentes. Não perdiam tempo.  Sabiam que a velha não lhes dava folga de muitos passeios e visitas.  Com o passar dos anos, o destino de cada filho foi se definindo. Depois que as moças e casaram, ela veio morar no Largo da Matriz. E então tinha mais tempo para se dedicar aos doces e aos biscoitos.  Se havia casamentos, festejos religiosos aqui ou nas cidades vizinhas, MARIA JÜLIA lá se achava prazenteira. E tudo saía perfeito.  Zeladora,  presente às missas e cerimônias religiosas. Vivia em constante balbuciar de terços e de outras orações.  Com horário semanal ao Santíssimo Sacramento, cuidava da lâmpada-chama-divina. O azeite não podia faltar. E a luz-presença enchia a capela. O coração de todos se abrindo em preces - hora de adorar! Foi um tipo popularíssimo. Era a primeira pessoa a abrir a casa, mal ensaiava o sol de nascer.  E à noite, lamparina na mão,  saía em busca das últimas para dormir satisfeita.  Por causa desse hábito, o Professor Manoel Batista saiu com estes versos num pasquim: "Lá vem MARIA JÜLIA  com a lamparina na mão: Eu também sou ZELADORA do SAGRADO CORAÇÃO!" E a velha MARIA JÚLIA veio apagadinha. Tornou-se inteira na nossa lembrança para receber justa homenagem por tudo que foi, viu e legou à nossa terra e à nossa gente  (MEMÓRIA E CORAÇÃO por Adagmar Lima de Freitas).