sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013
MARIA JÚLIA VIEIRA
VEIO VINDO PARA O ARRAIAL. E ali, numa casa modesta, pertinho da Cava do Leitão, foram chegando os frutos do casamento: Aurora, Eurico, Olga, Nenén, Genésio, Antônio e José. Casa ruidosa, cheia mesmo! Mas tinha de acontecer. Estava escrito. Se o destino era de novo enviuvar-se, paciência! Pois não é que o Baeta se vai, deixando-a com sete filhos menores? O golpe foi doloroso. Mas não se desesperou a mulher. A luta era sua. Lutar, seu dever. Quanto sacrifício para criar os filhos e encaminhá-los para a vida! Muitas manhãs, despensa vazia, coração nas mãos, afagava as cabecinhas inocentes à espera de um milagre. E dava-se um jeitinho sempre. Também as crianças sadias, conformadas, com apetite voraz, comiam qualquer coisa que surgisse na mesa. Podia ser galinha ou mesmo fubá desbarrancado! Depois iam felizes trabalhar. Porque a mãe, enérgica, conseguiu jogá-los cedo no serviço Eram os teares cantando, as colchas deles saindo e o magro dinheirinho pingando gota a gota. O quintal por capinar, as abóboras rebentando das flores, tudo cuidado por mãos zelosas. Os meninos-homens no ofício, as meninas-mulheres nas prendas domésticas se aperfeiçoavam. O resultado não se fez esperar. Também havia as horas de lazer, poucas é verdade, mas a turma as aproveitava intensamente. Com que alegria, à boca da noite, descia MARIA JÚLIA a Rua do Brejo, com o seu batalhãozinho, rumo à igreja. Era o rograma das moças. Que boa oportunidade para verem os pretendentes. Não perdiam tempo. Sabiam que a velha não lhes dava folga de muitos passeios e visitas. Com o passar dos anos, o destino de cada filho foi se definindo. Depois que as moças e casaram, ela veio morar no Largo da Matriz. E então tinha mais tempo para se dedicar aos doces e aos biscoitos. Se havia casamentos, festejos religiosos aqui ou nas cidades vizinhas, MARIA JÜLIA lá se achava prazenteira. E tudo saía perfeito. Zeladora, presente às missas e cerimônias religiosas. Vivia em constante balbuciar de terços e de outras orações. Com horário semanal ao Santíssimo Sacramento, cuidava da lâmpada-chama-divina. O azeite não podia faltar. E a luz-presença enchia a capela. O coração de todos se abrindo em preces - hora de adorar! Foi um tipo popularíssimo. Era a primeira pessoa a abrir a casa, mal ensaiava o sol de nascer. E à noite, lamparina na mão, saía em busca das últimas para dormir satisfeita. Por causa desse hábito, o Professor Manoel Batista saiu com estes versos num pasquim: "Lá vem MARIA JÜLIA com a lamparina na mão: Eu também sou ZELADORA do SAGRADO CORAÇÃO!" E a velha MARIA JÚLIA veio apagadinha. Tornou-se inteira na nossa lembrança para receber justa homenagem por tudo que foi, viu e legou à nossa terra e à nossa gente (MEMÓRIA E CORAÇÃO por Adagmar Lima de Freitas).
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