quarta-feira, 29 de abril de 2015

"DE  BENTO  A  FRANCISCO", Luiz  Paulo  Horta

Foi jornalista e escritor, foi "imortal", membro da Comissão Cultural da Arquidiocese do Rio de Janeiro, presidiu o Centro Dom Vital, fundado por Jackson de Figueiredo, foi um especialista em teologia e professor da PUC em cursos sobre a Bíblia. Pela Globo cobriu a presença no Rio em 2013 do Papa FRANCISCO. Nascido carioca, em 14/08/1943, faleceu no dia 03/08/13, seis dias depois do regresso do pontífice a Roma. Um mês antes de falecer escrevera a Ana Cristina Zahar que "gostaria  de fazer um livro ágil (sobre o papa), que refletisse  a importância das mensagens do novo papa ao mundo em sua primeira viagem, destacando a valorização da juventude e do ser humano". Nessa carta escrevera também o seguinte: "Os meus colegas de turma estão entrando na casa dos 70, o que logo me obrigará a seguir com eles. Me vejo, então,  pensando nessa coisa misteriosa que é o tempo. Como os filósofos já explicaram,  não se trata de entidade unívoca.  Pode às vezes enroscar-se como gato em varanda ensolarada, e assim ficar por décadas.  De repente dá um salto, e nada mais será como antes." O livro, obra póstuma de Luiz Horta, "DE  BENTO  a  FRANCISCO - UMA REVOLUÇÃO NA IGREJA", é uma série de artigos tão reveladores, segundo Ana Cristina Zahar, e formam um conjunto tão nítido que lemos a história por inteiro e com genuína emoção". "Como Francisco de Assis, BERGOGLIO teve um encontro com o CRISTO. E, a partir daí, surge um HOMEM  NOVO" (Luiz Paulo Horta). 





segunda-feira, 27 de abril de 2015

REFLEXÃO   PASCOALINA

"DO  ALTO  DA  CRUZ,  com sua morte, e no sepulcro vazio do jardim da RESSURREIÇÃO,   a lição de CRISTO é inequívoca e plena. Nem o culto da morte como libertadora  de nossas provações da vida; nem a indiferença em face dela, por mais respeitável que seja a busca da paz pelo recurso à morte. A lição do Cristo é o culto da SUPREMACIA  DA  VIDA  ATRAVÉS  DA  MORTE.  A morte é a prova de que não somos deuses. Muito menos Deus.  Mas é a prova de que o mal e o sofrimento  são essenciais para alcançarmos a vida em sua integridade. Não podemos conviver com a morte. Nem viver sem ela. Como dizia Catulo dos seus amores: "Nec tecum, nec sine te".  Nem contigo nem sem ti.  Temos de aceitar a morte.  Mas a morte sem a ressurreição é a própria negação da vida. E a ressurreição sem a morte é uma ideia vã.  Por mais cruel que ela seja, em sua implacável  e aparente irreversibilidade é o nosso próprio amor da vida que nos deve reconciliar com a morte. E compreender a morte de DEUS, o imortal,  como o próprio segredo de nossa imortalidade, como mortais. É nessa linguagem  de vida e de morte que se entendem  as crianças e os sábios. E se não nos tornarmos  como crianças e possuidores da sabedoria das crianças, não entraremos  um dia no Reino dos Céus onde, vencida a  morte,  viveremos uma VIDA que será ETERNA" (Tristão de Athayde, "Tudo é Mistério").

sábado, 25 de abril de 2015

CREMAÇÃO

Não conheci o jornalista da GLOBO  falecido há pouco  no Rio. Acompanhei, contudo, pela midia o que se escreveu e se disse  em torno do artista  competente e admirado no meio jornalístico. Á  consternação, dominante em  boa parte da população, sobretudo entre os colegas de trabalho e numerosos amigos, juntou-se no meu vivenciar um pormenor, levando-me a uma dupla causa de angústia. Sentimento de pesar pelo desaparecimento do jornalista, sim, mas acrescido do incômodo pessoal, interior, meu, da maneira escolhida para se despedir da terra: a cremação. Chegado o momento abriu-se uma porta, um silêncio abafado, aos olhares atônitos, mudos os corações, o corpo amigo  desapareceu de repente.   Ponto final. Aos poucos, perplexos, cada um levava sem jeito o último retrato do ausente,  sem o tempo, nem no pensamento,  de se formular um adeus. Cristão, a mãe terra  conserva o corpo até a hora da ressurreição final. Com amor maternal a Igreja benze a sepultura como se fosse um templo e o cadáver como se fosse um sacrário, tantas foram as vezes em que abrigou o Corpo de Cristo, o Deus feito Homem. Nesse estado de espectativa, conservar-se-á no  espírito o  retrato de quem foi antes e nos aguardará. Poderemos suavizar a saudade, visitando-o no Campo Santo. Quanta riqueza na meditação do dogma da Comunhão dos Santos! A sepultura cristã não tortura, antes consola. Não abate, soergue, porque  "o corpo, à maneira de uma semente é colocado na terra em estado de corrupção, e ressuscitará incorruptível... é posto na terra  como um corpo animal e ressuscitará como um corpo espiritual" (Cor. XV,42-44). 

quinta-feira, 23 de abril de 2015

ANIVERSÁRIO  DE  SÃO  VICENTE  DE  PAULO

Amanhã, se vivo, SÃO  VICENTE DE PAULO, faria 434 anos, nascido que foi no dia 24/04/1581 em Pouy, hoje  "Saint-Vincent-de-Paul", França. Foi ordenado padre em 1600 sem a idade mínima exigida pelo Concílio de Trento: 24 anos. "Para que o jovem tivesse em 1600 a idade requerida, isto é, 24 anos, calculou-se que era preciso considerar 1576 como o ano de seu nascimento. Gravou-se essa data em seu ataúde. Eis como se escreve a história!", observa Antoine Redier, biógrafo do "Apóstolo da Caridade". Curtido em anos, suas pernas não conseguindo mais sustentá-lo e sofrendo bastante com um abcesso no olho, foi-lhe aconselhado aplicar na ferida o sangue quente  de um pombo. O santo consentiu como de hábito o fazia seja qual fosse o remédio indicado, por condescendência. Quando, porém, lhe trouxeram a ave, não permitiu fazer sofrer o pobre animal. Aproximando-se a irmã morte, recebido o sacramento dos enfermos, o santo sofria e rezava calmamente. Consternada, a casa de São Lázaro entregava-se silenciosa a seus trabalhos diários como se nada de extraordinário estivesse ocorrendo. Na casa de São Lázao sabia-se morrer segundo o espírito do santo fundador que deixou seus coirmãos numa celeste dignidade, entregando a alma ao Pai no dia 27/09/1660. Tinha 80 anos.

quarta-feira, 22 de abril de 2015

GIGANTE   BRASILIÃO

Ouvindo há pouco a leitura do balancete  da PETROBRÁS (22/04/15),  sinto-me às portas de entrada da  segunda metade do século vinte. Três fatos: um livro de Stefan Sweig, BRASIL PAÍS DO FUTURO; um conto, O GIGANTE BRASILIÃO", lido em 1942  pelo professor de português na aula do dia de Tiradentes no Colégio do Caraça - onde não se comemorava  feriado nacional; e AS FAIXAS  DO  PTB: "O PETRÓLEO É NOSSO! nas mãos e nos corações dos getulistas nos anos 50. São mais ou menos setenta anos de uma existência pra ninguém botar  defeito diante de um entusiasmo, fruto talvez de uma mente incorrigivelmente ingênua: a leitura em Brasilia de um relatório histórico prenunciando o ressurgimento de uma NOVA PETROBRÁS! Acudiu-me então a mitologia grega e me senti face  à conhecida ave representada sempre pousada numa palmeira  e por isso apelidada por Heródoto de FÊNIX. Ao cabo de cada ciclo existencial, sentindo a proximidade da morte,  preparava uma fogueira funerária com ramos de canela  e mirra e se incendiava, nascendo uma nova fênix!  símbolo de esperança, de persistência e de transformação de tudo que existe, era um sinal da vitória da vida e da inexistência da morte, de canto extremamente doce. Pesquisadores antigos nela viam um símbolo do sol que, ao final de cada tarde, se incendeia e morrre, renascendo a cada manhã. Para os cristãos fênix está associada à ressirreição de Cristo que, morto, ressurgiu dos mortos. Seja como for, sinto que nosso gigante brasilião experimentou hoje um tremor de esperança no solo de um  país que ameaça transformar-se num futuro presente. 

segunda-feira, 20 de abril de 2015

APROXIMA-SE   O   DIA   DAS   MÃES!


Como  THOMAS  MÉRTON via O DIA DAS MÃES  EM  CUBA? Em seu "Diário Secular" escreveu em 1940: "Creio ser CUBA uma nação pobre demais para que uma festa artificial como o Dia das Mães possa representar um grande êxito comercial. Por isso mesmo talvez  é que o Dia das Mães tenha tomado realmente  conta de Cuba. Tornou-se uma festa genuína e, sem dúvida alguma, de tipo religioso.  Foi mencionada nos púlpitos  e era fácil ver como  significava alguma coisa  para todo o mundo.  O Dia das Mães foi realmente um sucesso em Cuba.  Um sucesso que jamais se poderia esperar nos Estados Unidos, precisamente porque é inútil em Cuba, transformá-lo  num grande carnaval de publicidade, com picolés e presentinhos, já que aqui nem todo o mundo pode dar-se ao luxo de tais despesas. Ao invés disso, todos vão à igreja e usam uma flor na lapela, uma rosa vermelha se têm a mãe viva, e branca se já faleceu, cada uma dessas  cores  tendo um sentido que já foi explicado do púlpito, na igreja de São Francisco. Vemos assim todos nas ruas cheios de amor por suas mães, enquanto nos Estados Unidos a venda de doces  e o número de conversas  sobre o amor pelas mães estão em completa desproporção com o amor real que é partilhado entre mães e filhos. O que aparece acima de tudo é esse grande insulto comercial e outras coisas do mesmo tope, de modo que qualquer pessoa que tenha um grão de sensibilidade ou de sentimento decente começa logo a ponderar se o amor pela própria mãe não é algo de falso e vergonhoso quando se presta, sem qualquer protesto,  a ser assim explorado pelos charlatães. O que é mais provável é que na verdade  esses Cubanos amem realmente suas mães e por isso é que o Dias das Mães em Cuba  é um malogro comercial, mas ao mesmo tempo um grande êxito moral".   

domingo, 19 de abril de 2015

FINAL  DA  CARTA  DE  MÉRTON  A  TRISTÃO

"Sim, é verdade que todos nós devemos tentar entender Fidel Castro. Este é um fenômeno 
fantástico e significativo e que adquire muitos aspectos.  Nem se torna menor o fato de que Castro está quase se tornando um monstro de cem cabeças em toda a América Latina. Um destes aspectos   a que me refiro é a amargura e  desilusão deste homem bem intencionado, que foi um fraco, um apaixonado e facilmente explorado. Este homem como todos nós quer encontrar um terceiro caminho,  e que foi logo engolido por um dos dois gigantes que estão por cima de nossas cabeças. Bem que os Estados unidos poderiam  ter-lhe auxiliado e talvez pudessem  tê-lo salvo. Mas perderam essa oportunidade. É realmente muito importante para nós pensarmos em conjunto, um pouco,  sobre a posição da Igreja nas Américas.  É uma obrigaçào muito séria que se nos impõe.  Há muita ação nesse sentido, mas falta reflexão sobre o assunto, e mesmo assim  essa ação pode ter chegado tardiamente. Não sei qual poderá  ser a minha contribuição nesse sentido, mas este problema  tem permanecido durante alguns anos em meu coração. Encontramo-nos todos próximos ao fim de nossas tarefas. A noite cai sobre nós, mas estamos sem aquela serenidade e sem aquela consciência do dever cumprido que eram caeacterísticas de nossos  antepassados. Não considero isto um sinal de que tudo está sendo omitido, mas antes  um incentivo a confiarmos mais na misericórdia de Deus e mergulharmos mais no seu mistério.  A nossa fé não pode mais se prestar a ser uma simples pílula de felicidade.  Terá de ser a Cruz e a Ressurreição de Cristo. E assim será para todos nós que o desejamos".

sábado, 18 de abril de 2015

CONTINUA  A   CARTA   DE   THOMAS   A   TRISTÃO

"MAS, PARA ISTO,  É PRECISO QUE exista uma comunicação genuína e profunda nos corações e nas mentes dos homens. Comunicação e não barulho dos slogans ou a repetição dos lugares comuns.  E a genuína comunicação está-se tornando cada dia mais difícil, e quando  a simples conversa está em perigo de aniquilamento, ou está se pervertendo como se fosse um barulho amplificado de animais, talvez nessa hora, então,  se torne necessário a um monge falar. Há, portanto, motivos de sobra para que apelemos um para o outro, e nos confortemos mutuamente, o máximo que pudermos,  com a Verdade  de Cristo, e também com a verdade do humanismo e da razão. Pois a fé não pode ser mantida se a razão fica em plano inferior, e a Igreja não pode sobreviver se o homem for destruído. Em outras palavras,  se a sua humanidade for totalmente rebaixada e mecanizada, e quanto ele próprio permanecer na terra como instrumento de forças gigantescas e obscuras, como, por exemplo,  estas que nos empurram, inexoravelmente,  ao limiar da guerra nuclear"(termina na próxima postagem).

sexta-feira, 17 de abril de 2015

MÉRTON   ESCREVE   A   TRISTÃO

O Livro "SEMENTES DE DESTRUIÇÃO", de Thomas Mérton, publicado em 1964, contém extensa carta de nosso monge trapista em resposta à que lhe enviara o nosso mestre Alceu. Eis como começa: "Foi um grande prazer receber sua carta. Antes de mais nada, não precisa se desculpar por ter-me escrito em português. Gosto muito de ler o Português, embora não me seja possível escrevê-lo corretamente.  É uma língua que aprecio muito, aconchegante e luminosa, uma das línguas mais humanas que conheço. É muito expressiva e até, de certo modo, um tanto inocente. Talvez esteja dizendo isso subjetivamente, sem ter lido tudo que pudesse esclarecer-me, sob outros ângulos. Mas parece-me que ao Português ainda não chegaram alguns barbarismos, como há no Alemão, no Inglês, no Francês ou no Espanhol. Também gosto muito dos Brasileiros. Estou sempre desejando  traduzir Jorge de Lima. Possuo os poemas de Manuel Bandeira e de Carlos Drumond de Anadrade e de vários outros poetas. Gosto de todos eles e os leio todos. Agora vamos ao assunto de sua carta. Acho muito importante trocarmos ideias de vez em quando. Estamos num  momento crucial  e mesmo calamitoso da história, um momento em que a razão e a compreensão estão ameaçadas de serem destruídas, ainda que o homem consiga sobrevier. É muito bom que eu medite estas coisas aqui, abrigado no meu mosteiro. Mas há momentos em que  mesmo este meu abrigo me decepciona um pouco. Hoje em dia tudo decepciona. E sementes de erros plantadas numa estufa bem protegida podem tornar-se gigantescas árvores mortíferas. Tudo sadio, tudo correto, tudo santificado:  se nós pudermos encontrar estas três coisas, elas deverão ser realçadas e vivificadas. Mas para isso é preciso que exista uma comunicação genuína e profunda nos corações e nas mentes dos homens" (na próxima postagem o final da carta).

quarta-feira, 15 de abril de 2015

      A   INDIFERENÇA    RELIGIOSA   NO   BRASIL   EM  1943

Publicado em 1943, o livro de TRISTÃO DE ATHAYDE  "A IGREJA E O NOVO MUNDO" assim externava o pensamento do autor a respeito do problema religioso no país: "Outro aspecto do problema religioso que, num estudo sistemático, não poderia passar despercebido, é o da indiferença religiosa, mal porventura dominante no extremo oposto ao da da fé católica militante. Não havendo entre nós grande ambiente nem tendências psicológicas para os sectarismos religiosos - o que se dá é que toda hostilidade à religião tradicional se transforma geralmente em indiferença religiosa. Superficialidade, sincretismo e indiferentismo são três dos males que assaltam normalmente  o nosso espírito religioso. Faltam às convicções, sempre falando em termos gerais, raízes profundas e um conhecimento doutrinário seguro. O que se vê frequentemente é uma religiosidade difusa,  que não afeta as fibras profundas do espírito, nem se traduz em atos.  Daí uma predominância  do sentimentalismo fideista, de uma exaltação passageira que fica à flor da pele.  E uma grande inclinação ao sincretismo, isto é, à combinação de elementos religiosos diversos  e à coexistência de dados por vezes contraditórios.  Tudo isso nos leva insensivelmente à indiferença religiosa, ao conceito da fé como sendo exclusivamente assunto de mulheres e de crianças.  A emancipação dos elementos masculinos da população, em face da vida religiosa, é um fenômeno de todos os tempos  e de todos os lugares. Não há nisso nenhum privilégio nosso.  Nào impede que seja um traço forte dessa tendência à indiferença e não à hostilidade que, essa sim, é bem característica, ao que parece, do nosso meio".

terça-feira, 14 de abril de 2015

TODO   SER  HUMANO   É   PESSOA

Em uma CONVIVÊNCIA HUMANA bem constituída e eficiente é fundamental o princípio de que cada  SER  HUMANO é  PESSOA, isto é,  natureza dotada de inteligência  e vontade livre. Por esta razão possui em si mesmo DIREITOS  e DEVERES que emanam direta e simultaneamente de sua própria natureza. Trata-se, por conseguinte,  de direitos e deveres universais, invioláveis e inalienáveis.  E se contemplarmos a DIGNIDADE da pessoa humana à luz das verdades reveladas não poderemos deixar de tê-la em estima incomparavelmente maior. Trata-se por conseguinte de pessoas remidas pelo sangue de Cristo, as quais com a graça se tornaram  filhos e amigos de DEUS, herdeiros da glória eterna (encíclica João XXIII, Pacem in Terris, 11/O4/63). "SENHOR, SENHOR, quão admirável  é o Teu nome em toda a terra! Quão numerosas são as Tuas obras! Fizeste com sabedoria todas as coisas. Foi igualmente DEUS  quem criou o HOMEM à sua Imagem e Semelhança, dotado de Inteligência e Liberdade, e o constituiu  senhor do universo,  "Tu o fizeste  pouco inferior aos anjos e o  coroaste de glória e honra. Deste-lhe  o domínio sobre as obras  das Tuas mãos, colocaste todas as coisas sob os seus pés!".

segunda-feira, 13 de abril de 2015

CENTENÁRIO   DE   NASCIMENTO    DE   UMA   PESSOA   MUITO    ESPECIAL

"A VIDA  É  UM  AI!  QUE MAL  SOA". Li isto numa antologia usada no Colégio do Caraça, quando aluno da segunda série em 1942. E nunca mais me abandonou  esse "ai" tão autêntico. E cada vez que perco algum daqueles que povoam meu mundo,  me vejo balbuciando saudoso o verso que me atualiza ausências inesquecíveis, partidas e sentidas. Hoje, 13, me lembra a comemoração amanhã, 14/04/, do centenário de nascimento de LUIZ AUGUSTO COSTA GUIMARÃES. Ao lado da esposa, NADIR DE MELLO GUIMARÃES, sou-lhes devedor da filha LÉA MARIA DE MELLO GUIMARÃES com quem me casei em 1970 e que, em 2008,  foi me aguardar, segundo encontro,  do outro lado do Cristo Redentor ... quando não sei!  Limito-me a este singelo lembrete na passagem neste ano, nesse dia 14 de abril, do centenário do nascimento do pai de minha saudosa esposa, LÉA MARIA. Meus dois filhos conviveram  com eles tempo bastante para lhes conservarem a lembrança das virtudes que souberam praticar e cujos exemplos deixaram como legado aos descendentes.  O reconhecimento aos pais de minha esposa e avós de meus netos  e bisnetos, eu tenho procurado celebrar diariamente, procurando pautar minha vida espelhando-me nos exemplos de vida cristã e  honesta que levaram,  cristãos e católicos que foram. Do homem socialmente acolhedor, atencioso, desfolhando sempre uma prosa inteligente em encontros de familiares e amigos, guardo o retrato de um ser humano lhano no trato, dono de invejável dignidade, dotado de admirável tino administrativo. Com o seu aval, ao partir para o pai, muito se lhe aplica o pensamento que esculpiu no túmulo do filho Zé Mário: 
"Morreu como viveu. Na glória que escolheu!"

terça-feira, 7 de abril de 2015

MÉRTON   NA   ABADIA   DE   GETSÊMANI

Já instalado na Abadia de Getsêmani (postagem anterior),   THOMAS  MÉRTON continua a desenvolver seu pensamento. Sabe que, morrendo uma pessoa em estado de graça, sua alma é recebida no céu.  Se, porém, embora em estado de graça, tem alguma pena a purgar, é encaminhada ao   purgatório onde se purificará para alcançar o céu. No purgatório as almas não suportam com ódio os sofrimentos, pois  amam a justiça de Deus, amam a justiça de seus padecimentos, sabendo que vão chegar a Deus alvo de seus desejos. Amar a Deus é assemelhar-se a Deus. Ingressando nesta abadia, fugindo da prisão do mundo em que vivia, "entrei no palácio do Rei cujo Filho eu assassinava  com meu procedimento dissoluto, longe de Deus. Sinto-me agora como que num purgatório  terrestre. Como um filho pródigo, estou voltando à casa paterna.  Aqui é o ambiente onde me regenerarei sob o olhar misericordioso de Nossa Senhora de Getsêmani. E que paradoxo! Ao mesmo tempo em que voluntariamente me prepararei para me tornar monge, esta abadia, de purgatório terrestre, material, pela função sobre mim exercida, purificando minha alma, esta abadia se torna (et pour cause)  um paraíso terrestre. E por que? Porque o trabalho que aqui se leva é um misto de penitência, sim, por mais dura que por vezes seja, mas... "Ubi  amatur, non laboratur!" (Quando se ama, o trabalho, o esforço é amado!). E nisto justamente está o paradoxo! Uma abadia é um paraíso terrestre por ser um purgatório terrestre. Até a mais estrita penitência é uma forma de divertimento. "Ser  como criancinhas" significa fazer as coisas livremente e por amor, porque são necessárias. A utilização do trabalho e da penitência como jogo, para a salvação da alma redunda indiretamente em transformar a Abadia numa espécie de paraíso terrestre . Enquanto existirem o monaquismo cristão e a agricultura: a utilização do trabalho e da penitência como  divertimento para a salvação da própria alma, essa combinação entre os dois será sempre frutuosa e próspera  produzindo uma sociedade perfeita no mesmo sentido em que esta o é. Conclusão: não é privilégio apenas de abadias da Igreja exercerem a funçao de purgatório e de paraíso. Todo coração humano é uma arena onde se tem que lutar - purgatório; para vencer, alcançar a paz da alma -  paraíso -  valendo o paradoxo: "Uma abadia é um paraíso terrestre por ser um purgatório terrestre".

segunda-feira, 6 de abril de 2015

MÉRTON   NA   ABADIA   DE   GETSÊMANI

1941. Convertido, SONHANDO SER MONGE, THOMAS MÉRTON é aceito na ABADIA DE GETSÊMANI, EUA. Tomou seu "diário", memória da vida até aqui traçada, e da nova agora abraçada, mas... "Eu deveria rasgar todas as páginas escritas até este dia e começar tudo a partir de agora! Aqui é o centro da América.  Sempre quis saber o que mantinha unido este país; o que impedia o universo de estalar-se e partitr-se em mil pedaços. São lugares como este mosteiro...não apenas este, pois deve haver outros. Assim como Abraão pediu ao Senhor poupasse Sodoma se nela se encontrassem dez homens justos, a Santa Mãe de Deus, Rainha do Céu e dos Anjos,  mostra diariamente a seu Filho os filhos todos da terra; por causa de suas orações o mundo é poupado, de minuto a minuto, de um terrível crepúsculo. Estou na única cidade autêntica da América: Abadia de GETSÊMANI...e vive isolada no deserto. Ela é um eixo em torno do qual gira todo este país, embora o ignore, mantendo-lhe a unidade, do mesmo modo que os substratos profundos da fé natural que acompanha todo o nosso ser (e dificilmente pode  ser  dele separada) se mantêm vivos num homem que perdeu a fé, e não crê mais no "Ser", e no entanto ele mesmo o "é", a despeito da sua louca negação de que aquele que "é"  misericordiosamente lhe permitiu "ser". Que direito tenho eu de estar aqui? Sinto-me como um ladrão e um assassino lançado na prisão, condenado pelos roubos e assassinatos durante toda minha vida, assasssinando a graça de Deus em mim mesmo e nos outros, assassinando-O em sua imagem! Fugi da prisão onde jazia condenado com justiça e corri para o próprio palácio do Rei cujo  Filho eu assassinei, e venho implorar a misericórdia da Rainha que aqui tudo domina do alto do seu trono: NOSSA  SENHORA  DE  GETSÊMANI" (Abadia de GETSÊMANI, 07/04/1941).  Continua na próxima postagem.

domingo, 5 de abril de 2015

A  CORRUPÇÃO    FEDE,  A  SOCIEDADE   FEDE!

No dia 21/03 passado o papa FRANCISCO falou assim aos habitantes de Scampia, em Nápoles: "A corrupção fede, a sociedade fede", advertindo que "todos temos a possibilidade de ser corrompidos e de ser criminalizados". O papa lançou esse apelo com muita segurança, evitando falar em máfia diretamente, no quarteirão emblematicamente dos grandes  problemas sociais de Nápoles. "Os que tomam o caminho do mal roubam um pedaço da esperança de si mesmos, da sociedade, de tanta gente honesta, da boa reputação da cidade, da sua economia.  Como um animal morto fede, a corrupcão fede, a sociedade corrompida fede, insistiu o pontífice na praça João Paulo II  do quarteirão onde esteve o papa em 1990. A vida em Nápoles não tem sido fácil, mesmo assim, porém, nunca foi triste, seu grande refúgio é a alegria, contemporizou o pontífice bastante ovacionado. Assentado, rodeado por crianças,  o papa fustigou os que procuram o caminho do mal e roubam  um pedaço da esperança de si mesmos, da sociedade, da boa reputação da cidade, da sua economia.  Denunciou o tráfico das drogas e concitou os maviosos da camorra, sem lhes citar os nomes,  a se converterem ao amor, à justiça. É sempre possível, completou, o retorno a uma vida honesta. São  mães em lágrimas que pedem nas igrejas da Nápoles!  Exortou Nápoles a viver  um futuro melhor, sem se refugiar no passado.  A viver uma nova primavera em busca de um futuro melhor". Drásticas  medidas de segurança foram tomadas, pois o papa devia percorrer de carro 25 quilômetros, com atiradores de elite  sobre os tetos das casas durante o percurso da volta ("Le Figaro", o5/o4/15). 

sábado, 4 de abril de 2015

O   LOBO   DE   GÚBIO

Fim  do SÉCULO XII, Itália. Menos jovial que Assis, em cada ponta da grande praça della Signoria NA CIDADE DE GÚBIO dois palácios se afrontam:  cenário final do encontro de FRANCISCO DE ASSIS com um lobo de tamanho descomunal. Costumava de repente ali surgir raptando e devorando quem encontrasse fora de casa. Convidado pelos habitantes, foi conversar com o irmão lobo. Aos gritos dos moradores do alto das muralhas que não entrasse na cidade. Com o companheiro grudado  no lugar, Francisco correu na direção do carniceiro, saudando-o com um amplo sinal da cruz: "Irmão Lobo, vem cá. Em nome de Cristo eu te ordeno não fazer mal a mais ninguém! E tu não vais comer  irmão Asne (assim apelidava o próprio corpo). O lobo parou, a lingua escancarada desapareceu na guela, que se fechou, e se aproximou de Francisco que lhe disse: "Tu és mau, todo mundo grita contra ti, mas quero fazer as pazes entre ti e os moradores de Gúbio. O lobo mexeu o rabo e as orelhas, inclinando a cabeça. "Não basta! Acompanha-me até a praça. "Prometendo renunciar ao mal, coloca tua pata na minha mão". A todo o povo já reunido na praça, Francisco não perdeu a ocasião, deitou falação, revelando que os pecados de cada um dos ouvintes era a causa do que vinha acontecendo. Afirmou que o fogo do inferno era muito mais  temível que a guela vermelha do lobo. Penitência! Penitência! Penitência!" O povo se comprometeu a fornecer ao lobo diariamente  o que comer. Convidado por Francisco a confirmar sua resolução, abanou o rabo e as orellhas e levantou sua pata direita, colocando-a na mão do santo. Familiar dora avante  a TODOS OS MORADORES, entrava na casa deles todos os dias, até que, passados dois anos, copiosamente chorado, foi colocado numa capela sob a denominação de São Francisco. Em 1873, levantando-se nela uma laje, seu crânio foi reconhecido, testemunhando sobre o prodígio e glorificando seu primeiro amigo entre os homens. ("São Francisco de Assis" por Julien Green).

quarta-feira, 1 de abril de 2015

POEMA   DE   SÃO   JOSÉ   DE   ANCHIETA

REINA  FUNDO  SILÊNCIO.  PASSO  E  PASSO / O HOMEM  DO  EVANGELHO  SE  ENCAMINHA  /  PARA  O  MEIO  DAS  GENTES  REUNIDAS; / QUAL  O  ASTRO  QUE  AS  VEIGAS  ILUMINA / E faz abrir a flor, saltar o inseto, / Romper-se a bela e nítida crisálida, / cantar o passarinho e a leve corça /  Pular pelas campinas orvalhadas, / Assim rebenta a  vida e  movimento. / À medida que o mestre se aproxima / Sobre grande fogueira chama brilha, /  Robustas mãos arrastam duros cepos, / Outras mais frágeis pelo chão estendem / Lisas , moles esteiras, ramas frescas; /  Ajoelham por fim , e o missionário / Para a imagem de Cristo se voltando / Repete as santas orações da noite, / Da noite as orações já terminadas, / As gentes abençoa, e então começa / Da Redenção a história sacrossanta (FAGUNDES VARELA, ANCHIETA OU O EVANGELHO NAS SELVAS, POEMA, CANTO 1).