terça-feira, 7 de abril de 2015

MÉRTON   NA   ABADIA   DE   GETSÊMANI

Já instalado na Abadia de Getsêmani (postagem anterior),   THOMAS  MÉRTON continua a desenvolver seu pensamento. Sabe que, morrendo uma pessoa em estado de graça, sua alma é recebida no céu.  Se, porém, embora em estado de graça, tem alguma pena a purgar, é encaminhada ao   purgatório onde se purificará para alcançar o céu. No purgatório as almas não suportam com ódio os sofrimentos, pois  amam a justiça de Deus, amam a justiça de seus padecimentos, sabendo que vão chegar a Deus alvo de seus desejos. Amar a Deus é assemelhar-se a Deus. Ingressando nesta abadia, fugindo da prisão do mundo em que vivia, "entrei no palácio do Rei cujo Filho eu assassinava  com meu procedimento dissoluto, longe de Deus. Sinto-me agora como que num purgatório  terrestre. Como um filho pródigo, estou voltando à casa paterna.  Aqui é o ambiente onde me regenerarei sob o olhar misericordioso de Nossa Senhora de Getsêmani. E que paradoxo! Ao mesmo tempo em que voluntariamente me prepararei para me tornar monge, esta abadia, de purgatório terrestre, material, pela função sobre mim exercida, purificando minha alma, esta abadia se torna (et pour cause)  um paraíso terrestre. E por que? Porque o trabalho que aqui se leva é um misto de penitência, sim, por mais dura que por vezes seja, mas... "Ubi  amatur, non laboratur!" (Quando se ama, o trabalho, o esforço é amado!). E nisto justamente está o paradoxo! Uma abadia é um paraíso terrestre por ser um purgatório terrestre. Até a mais estrita penitência é uma forma de divertimento. "Ser  como criancinhas" significa fazer as coisas livremente e por amor, porque são necessárias. A utilização do trabalho e da penitência como jogo, para a salvação da alma redunda indiretamente em transformar a Abadia numa espécie de paraíso terrestre . Enquanto existirem o monaquismo cristão e a agricultura: a utilização do trabalho e da penitência como  divertimento para a salvação da própria alma, essa combinação entre os dois será sempre frutuosa e próspera  produzindo uma sociedade perfeita no mesmo sentido em que esta o é. Conclusão: não é privilégio apenas de abadias da Igreja exercerem a funçao de purgatório e de paraíso. Todo coração humano é uma arena onde se tem que lutar - purgatório; para vencer, alcançar a paz da alma -  paraíso -  valendo o paradoxo: "Uma abadia é um paraíso terrestre por ser um purgatório terrestre".

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