segunda-feira, 27 de setembro de 2010

REAL OU À OUTRANCE?

"A população total do globo é avaliada (1919) em 1.400.000.000 de indivíduos. Quantas almas realmente VIVAS nesse fervilhar de seres humanos?  Uma por cem mil talvez! Ou cem milhões? Não se sabe! Há seres superiores, homens de gênio mesmo, talvez, cuja alma não foi vivificada e que morrem sem ter vivido.  Um coração simples dirá cada dia, chorando de angústia: "Em que pé estou com o Espírito Santo? Sou  verdadeiramente  um vivo ou um morto que se devia enterrar? "É terrivelmente pensar que  se subsiste no meio de uma multidão de mortos que se acredita vivos e que o amigo, o companheiro, o irmão que se viu de manhã e que se vai tornar a ver à noite, só tem vida orgânica, uma aparência de vida, uma caricatura de existência. E que na verdade, é apenas diferente daqueles que se estão desfazendo nos túmulos. É intolerável, por exemplo, que ele  nasceu de pai e mãe que não existiam. E que esse padre, presente no altar,  talvez não seja muito diverso de um outro já falecido e que o Fármaco de Imortalidade, o Pão que ele consagrou para vos transmitir a Vida Eterna, ele O vai estender com mão de cadáver, proferindo com voz defunta as santas palavras da liturgia! A  missa daquele padre é tão válida quanto a de um santo.  Certa, a absolvição que administra aos pecadores. A força de seu ministério  sobrenatural perdura, enquanto a morte não triunfou definitivamente dele. Continua-se a agir e mesmo a pensar mecanicamente, com uma alma destituída de vida!"(Léon Bloy, in "Léon Bloy", de Octávio de Faria, pp. 126). 

terça-feira, 21 de setembro de 2010

PADRE JÚLIO MARIA

Conhecida a biografia do PADRE JÚLIO MARIA, sabe-se que, com seus escritos e conferências e pregações brotados de autêntica piedade, logo assumiu a Igreja no país posição de vanguarda, de aceitação do mundo moderno, abandonando o bolor das sacristias, sacudida pela divina Providência, através da  voz  de Júlio Maria na qualidade de um reformador social. Chegara ele à conclusão de que aos católicos faltava a disposição para o combate.  Vivendo a nação num regime de liberdade, dele o clero não se valia para combater  a devoção mórbida, sem virilidade cristã, pregando mesmo  que "tão degenerado está o culto externo, tão profanadas andam as cerimônias da Igreja que, parece, nada concorre mais para o endurecimento dos ímpios e a pertinácia dos incrédulos que certas festividades de nossos templos". Ressentia-se profundamente nos fiéis a ignorância da doutrina cristã. Por ausência de uma competente, eficaz doutrinação,  grande parte deles  não tem ideia do que crê e professa. "Absorvida a maioria do clero nacional ou por agitadas preocupações mundanas de posição, riqueza, prazer ou pelas simples exterioridades das festas religiosas, dizia ele, as paróquias brasileiras não podem continuar nesse estado". Daí, sua conclusão: "O ensino, eis o grande remédio, a grande necessidade do momento.
 A ignorância da religião, eis o inimigo. A doutrinação, eis a grande arma apostólica". Não se conformava com o comodismo do clero, com a vulgaridade dos católicos, com o indiferentismo religioso. Foi entre nós um precursor do movimento da Ação Católica de que se valeu Pio XI, poucos anos depois, para despertar da letargia, da prática de um catolicismo formalista, sem conteúdo cristão, aqueles batizados que já na época eram chamados de católicos não praticantes, uma aberração inominável.  Com  razão e justiça o Papa São Pio X  considerava o Padre Júlio Maria como o missionário brasileiro do início do século XX.

29/09/1941 - RECORDANDO

Fazia 2 anos que começara a segunda guerra mundial (1939/1945). A queda de Paris pelos alemães (1940)  comemorava 1 ano  e pouco. Faltavam 2 meses e uns dias para os japoneses destruírem a esquadra norte-americana em Pearl Harbor,  07/12/41. E para os Estados Unidos declararem guerra ao Japão. Todo o aparato estava completo para o CARAÇA receber a turma de novatos de 1941. Volvidos 69 anos, ei-los divididos hoje em três pelotões. a) PELOTÃO A : não encontrados: ÁLVARO COELHO DA SILVA, Rio de Janeiro; LAÉRCIO  SILVA, Rio de Janeiro;  LINCOLN BICALHO, Minas Gerais; JOSÉ LINS DA NEIVA, Lamim , MG; ANTÔNIO JUSTINO MAGALHÃES BARROS, Minas Gerais;   SÍLVIO ALVES NOGUEIRA, Lamim, MG; RAMIRO T.ROCHA, Viçosa, MG; MÁRIO TAVARES, Rio de Janeiro;  MANOEL TEIXEIRA, Rio de Janeiro;  b) PELOTÃO B: em prontidão: ANTÔNIO  BATISTA  JOTA, Belo Horizonte; JAIR  BARROS, BONFIM, MG;  JOSÉ  DIAS  DE  CASTRO, Cocais, MG;  JOSÉ  FRANCO  DE  MORAIS, Santana de Ferros, MG;  MAURÍCIO  GAUTHIER  RIBEIRO, Rio de Janeiro;  WILSON  TRINDADE, Belo  Horizonte.  PELOTÃO  C:  na paz do Senhor:  CORNÉLIO  JOAQUIM DA SILVA, Distrito de Saúde, hoje Martinho  Campos, Minas Gerais;  FRANCISCO  BRAGA, Rio de Janeiro; JOSÉ  MARTINS  BRAGA, Rio de Janeiro, GERALDO  BATISTA  JOTA, Belo Horizonte;   ANTÔNIO  DE  RESENDE   LARA, Belo Vale, MG; LELIS  FERREIRA  CHAVES, Campina Verde, MG;  LUIZ NEUNEUSCHWANDER, Montes Claros, MG; SINFRÔNIO  BATISTA  JOTA, Cajuru, MG.  Destes 22 , três se ordenaram sacerdotes:   JAIR, GERALDO RESENDE  e  SINFRÔNIO JOTA.  GERALDO  RESENDE  secularizou-se, casou-se, enviuvou, celebrou o casamento religioso da própria filha e encardinou-se na arquidiocese de Belo Horizonte. JAIR  BARROS secularizou-se, casou-se. SINFRÔNIO JOTA secularizou-se e casou-se. Todos certamente tiveram sua guerra particular que enfrentaram com a proteção de NOSSA  SENHORA  MÃE  DOS   HOMENS, Padroeira do Caraça, valendo-se dos princípios adquiridos nos anos de formação sob a orientação dos PADRES MISSIONÁRIOS,  ou  LAZARISTAS,   DE  SÃO  VICENTE  DE  PAULO  aos quais somos muito agradecidos. E do CARAÇA  NOSSAS  INDELÉVEIS  RECORDAÇÕES!


do CARAÇA

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

QUEM FOI JÚLIO MARIA?

JÚLIO  MARIA nasceu em Angra dos Reis em 1850. E morreu no Rio de Janeiro, em 1916. Primeiro chamava-se Júlio César, a partir de 1891 tomou o nome de Júlio Maria. Foi materialista primeiro, tendo abraçado o negativismo e o naturalismo científico. Formou-se em direito em São Paulo, em 1874.  Foi promotor em Mar de  Espanha, casando-se em 1877, donde lhe veio uma filha que se tornaria religiosa. Enviuvando, casa-se de novo em 1889, mas de novo fica viúvo, deixando mais três filhos. Em 1884 troca o agnosticismo pelo catolicismo. Encabeçou então no Brasil uma revoada de conversões para a Igreja Católica: Joaquim Nabuco, Jackson de Figueiredo, Hamilton Nogueira, Alceu Amoroso Lima, Gustavo Corção, Paulo Setúbal, Murilo Mendes entre outros. Durante os 5 anos que precederam a Proclamação da República publicou no Jornal do Comércio as célebres APÓSTROFES, depois publicadas em livro, onde verberou com rigor  desusado o catolicismo carola e de sacristia do nosso povo brasileiro em geral. Em 1892, viúvo, preparou-se para o sacerdócio no Seminário de Mariana, ordenando-se sacerdote, das mãos do glorioso bispo de Mariana, Dom Silvério Gomes Pimenta, a 29 de novembro de 1891. Passa então a chamar-se Padre Júlio Maria. Diz Antônio Carlos Villaça em seu livro "O Pensamento Católico no Brasil"  que sua conversão foi fulminante, do estilo da  de São Paulo, quando caiu do cavalo.  Foi um padre progressista para a época, tendo inclusive escandalizado clérigos e leigos, por iniciar suas apreciadíssimas conferências e homilias e sermões, saudando o auditório, não com o  chaveco "Meus irmãos", mas com o "Minhas Senhoras e meus senhores",  o que virou moda atualmente nas tribunas legislativas e eclesiásticas, passado quase um século! Conheci, aliás, um sacerdote que teve atitude semelhante à do Padre Júlio Maria, no que por certo deve ter sido também bastante censurado, quando, anunciado o Concílio Vaticano II pelo paternalíssimo João XXIII, ao distribuir a Eucaristia dizia apenas: " Corpus Christi" em vez de:"Corpus Domini Nostri Jesu Christi custodiat animam tuam in vitam aeternam!" confessou-me que, se usasse o vernáculo, receava o tribunal da inquisição! Em 1904 trocou o clero diocesano, na época dito secular, pela  Congregação dos Redentoristas que teve nele o primeiro padre redentorista brasileiro. Para o melhor e profícuo conhecimento desse "missionário brasileiro" , como o  titulou o Papa São Pio X, compôs-lhe a biografia  Jônatas Serrano (1885/1944). A segunda edição saiu em 1941.  Faleceu no dia 02  de abril de 1916. 

domingo, 19 de setembro de 2010

O SANGUE DE SÃO JANUÁRIO SE LIQUEFEZ

Chegou a notícia de que o SANGUE de SÃO  JANUÁRIO  se liquefez hoje, 19/09/2010, na cidade italiana de Nápoles. O fato ocorreu, quando o Patriarca da Igreja Ortodoxa de Chipre se encontrava diante do relicário onde se guarda a relíquia.  São Januário, ou Gennaro em italiano, foi bispo de Benevento, tendo sofrido o martírio no ano 305, durante a perseguição aos cristãos pelo imperador Diocleciano. Sabe-se que era costume recolher-se nessas ocasiões o sangue dos mártires e colocá-lo em pequenas ânforas. Em três datas costuma verificar-se a liquefação do sangue de São Januário: no dia 19/09,  no dia 16 de dezembro, aniversário da erupção do Vesúvio em 1631, e no sábado anterior  ao primeiro domingo de maio, quando as relíquias do santo foram trasladadas para Nápoles. A liquefação do sangue de São Januário é considerada como sinal de bom augúrio na cidade de Nápoles e em toda a região circunvizinha, onde ele é tido como o santo padroeiro. O fenômeno há quase 17 séculos vem maravilhando os homens e desafiando a ciência que não sabe explicar como o sangue sob a forma de pó se liquefaz em dias determinados, voltando no dia seguinte à sua forma normal.

CARDEAL NEWMAN BEATIFICADO - 19/O9/2010

O PAPA  BENTO  XVI  beatificou hoje, 19/09/2010, em Birminghan, Inglaterra, o Cardeal  JOHN  HENRY  NEWMAN. O novo bem-aventurado nasceu em 1801 em Londres, tendo falecido em 1890.  Filho de mãe  huguenote e de pai indiferente quanto à religião. Depois de alguma indecisão e estudos sérios na busca da verdade,  converteu-se ao catolicismo em 1845, tendo sido logo ordenado sacerdote. Em 1879 o Papa Leão XIII conferiu-lhe o chapéu cardinalício. Antes de sua conversão lutou com intrepidez, tentando o rompimento dos laços entre a igreja anglicana e a coroa real. Convertido, defendeu os direitos dos leigos contra o clericalismo. Tomou a defesa das artes liberais contra uma ala do clero que tentava restringir o acesso dos estudiosos aos modernos conhecimentos com receio de que essas ideias acabassem com a fé. Crê-se que Newman  tenha sido o clérigo mais importante do século XIX na Inglaterra.  Escreveu a autobiografia intitulada " Apologia pro vita sua", publicada em 1864, em que traçou seu itinerário cristão, tanto no anglicanismo como no catolicismo. Ja que estou falando de um convertido, de uma conversão,   Tristão de Athayde em carta à sua filha beneditina (23/02/1964) diz o seguinte:" ...sabe que tenho cada vez mais dificuldade em falar de CONVERSÃO, pois considero que foi mesmo uma VOLTA e que o termo conversão é importante demais, forte demais, solene demais para significar afinal um episódio de mudança de rumo capital, apenas para a minha vida interior, mas sem a profundidade que tem uma autêntica conversão como a de um  NEWMAN  ou Santo Agostinho ou Maritain ou Chesterton. Seria atribuir importância demais à minha mediocridade". E na carta do dia seguinte (24/02/1964) Tristão continua: "Minha dúvida estava  em comparar minha modesta passagem de um estado a outro com as grandes conversões da história: um São Paulo, um NEWMAN. O fato de um santo ou de um sábio ser um convertido não implica que um pobre-diabo de escriba de segunda classe também não o seja! Apenas uns se convertem no terreno das raízes, pois vivem tudo em profundidade. São Paulo passou de perseguidor a Apóstolo dos Gentios; Santo Agostinho, de maniqueu a neoplatônico e de neoplatônico a...Santo Agostinho; NEWMAN, de pastor anglicano a cardeal ( e eu acrescento "cum permissu tuo": a bem-aventurado!), etc. O pobre Tristão passou de diletante a comungante. Nada mais. Tudo na superfície, sem que até hoje passasse dela..."

sábado, 18 de setembro de 2010

TROMBAR E COLIDIR

No próximo dia 29 de setembro comemoro meu sexagésimo nono aniversário de entrada no Colégio do Caraça. Saí de minha terra - separando-me para sempre do convívio com meus pais e os outros onze irmãos - antes de completar 13 anos, pernoitando dois dias em Belo Horizonte e embarcando às 4,30 da manhã do dia 29, num  trem da Central que me deixou em Santa Bárbara às 11 horas. Sob intensa chuva, na carroceria dum pequeno ford, se 29 não me disseram, aportando no colégio às 6  da tarde. Foi para mim o encontro com um novo mundo tão misterioso que nem minha imaginação de interiorano mineiro poderia sequer fazer uma ideia! Recordo-me  de que, encontrando-me no pátio de recreio com um conterrâneo meu, e me perguntando o Padre Cruz, diretor do Colégio, se o  conhecia, ignorando eu o castíssimo português usado entre os alunos, fui logo dizendo  numa cândida felicidade : "Sim, conheço ELE muito!" Pra que, meus amigos! "Conheço ELE, NÃO, novato bobo!  CONHEÇO-O!!!". Mas o que me leva a falar desse meu saudável aniversário são dois lapsos gramaticais encontrados há pouco no Globo online e que me lembraram  o "CONHEÇO ELE MUITO"  do Caraça.  Vejam minha falta de sorte! Interrompi esta conversa para transcrever o que vi no globo online e...as duas notícias desapareceram da tela.  Trata-se do emprego desajeitado do verbo COLIDIR e do verbo TROMBAR, se não me engano. Fala-se da queda de um poste.  Os dois verbos são nos casos empregados como transitivos diretos, carregando até na garupa seus pretensos objetos diretos. Colidir e trombar são verbos transitivos indiretos, segundo Houaiss, salvo engano meu. Mas, está tudo muito bem! "Etiam Homerus aliquando dormitat!" 

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

NOSSA SENHORA DE LA SALLETE - 19/o9/1846

No dia 19/09/1846, na aldeia de La Sallete, junto dos Alpes, no sul da França às 3 horas da tarde duas crianças, Melânia, de 15 anos, e Maximino, de nove anos, vigiavam o rebanho que pastava sob um sol muito quente. De repente viram uma senhora muito alta, vestida de longo, grande avental, de touca, com uma coroa de rosas de ouro na cabeça, sentada numa pedra, chorando com os cotovelos apoiados na pedra e cobrindo o rosto com as mãos. Aproximando-se dela as crianças, primeiro ela falou em particular com Melânia, e depois com Maximino. Entre as palavras dirigidas aos dois videntes, ela se queixou da negligência do povo em não dedicar a Deus o sétimo dia da semana. Ensinou-lhes o que era preciso que o mundo fizesse para não perecer: "Se meu povo não quer submeter-se, sou forçada a deixar agir o braço do meu Filho!" Com essa aparição da Mãe de Jesus, surgiu entre membros do alto e baixo cleros, na época, certo mal entendido, certamente pela mensagem que lhes dirigiu ao pedir às duas crianças  lhes transmitissem: " Peço-vos, meus muito queridos filhos,  que não desprezeis minha Mensagem. É o meu último  esforço  para salvar o rebanho de que sois os pastores e de que vos serão pedidas severas contas. Vós que tanto recebestes de meu Filho, ocupando até mesmo seu divino lugar, vós que deveríeis ser santos!, como podereis deixar de chorar comigo, batendo em vossos peitos?!"  É dentro desse contexto que temos os dizeres do escritor francês católico Léon Bloy, autor de "Celle qui pleure", ao afirmar: "Asseguram-me que Pio X era particularmente devoto da Sallete e que considerava Melânia como uma santa. Se nada fez por ela, é que, por certo, temia, como inevitável, um cisma. Para ele o segredo de Melânia era a própria Palavra da Santa Virgem".  Para melhor se inteirar  da aparição de Nossa Senhora da Salete, uma consulta ao livro "Celle qui pleure" de Léon Bloy ( 1846-1917) que "não se fazia de rogado, segundo Octavio de Faria, para repetir essa profissão de fé que me parece a chave de toda a sua atormentada existência: "SÓ  HÁ  NO  MUNDO  UMA  TRISTEZA, A  DE  NÃO  SERMOS  SANTOS!"  

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

" STABAT MATER DOLOROSA"

 "Stabat Mater dolorosa - Juxta crucem  lacrimosa - Dum pendebat Filius! "DE PÉ A MÃE DOLOROSA, JUNTO DA CRUZ, LACRIMOSA, VIA JESUS QUE PENDIA! Eis o comentário, feito por São Bernardo, autor da oração "Lembrai-vos, ó piedosíssima  Virgem Maria", da primeira estrofe do Hino dedicado à Virgem Nossa Senhora das Dores e anualmente rezado  no dia 15/o9/ nos ofícios litúrgicos da santa Igreja:  "O martírio da Virgem  é mencionado na profecia de Simeão, quanto no relato da paixão do Senhor. ESTE foi posto como um sinal de contradição; e sobre MARIA: e uma espada traspassará tua alma! Verdadeiramente, ó santa Mãe, uma espada traspassou tua alma.  Aliás, somente traspassando-a, penetraria na carne do Filho. De fato, visto que o teu Jesus - de todos certamente, mas especialmente teu - a lança cruel, abrindo-lhe o lado sem poupar um morto, não atingiu a alma dele, mas ela traspassou a tua alma. A alma dele já ali não estava, a tua, porém,  não podia ser arrancada dali. Por isto, a violência da dor penetrou em tua alma e nós te proclamamos, com justiça,  mais do que mártir, porque a compaixão ultrapassou a dor da paixão corporal. E pior que a espada traspassando tua alma não foi aquela palavra que atingiu até a divisão entre a alma e o espírito: "Mulher, eis aí teu filho?" Oh! que troca incrível! João, mãe, te é entregue em vez de Jesus, o servo em lugar do Senhor, o discípulo pelo Mestre, o filho de Zebedeu pelo Filho de Deus, o puro homem em vez do Deus verdadeiro. Como ouvir isto deixaria de traspassar tua alma tão afetuosa, se até a sua lembrança nos corta os corações, tão de pedra, tão de ferro? Não  vos admireis, irmãos, que se diga ter Maria sido mártir na alma. Poderia espantar-se quem não se recordasse do que Paulo afirmou que entre os maiores crimes dos gentios estava o de serem sem afeição. Muito longe do coração de Maria tudo isto; esteja também longe de seus servos!  Tu quem és ou donde tua sabedoria, para te admirares mais de Maria que compadecia, do que do Filho de Maria a padecer? Ele pôde morrer no corpo, não podia ela morrer juntamente no coração ? É obra da caridade: ninguém a teve maior! Obra de caridade também isto: depois dela nunca houve igual!"

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

EDUCAÇÃO CÍVICA DA INFÂNCIA

"A  EDUCAÇÃO   CÍVICA  DA   INFÂNCIA   -   ONTEM, HOJE, AMANHÃ   -    é o problema  que mais de perto entende com a concretização da nossa nacionalidade.  Um povo só pode verdadeiramente ter a consciência de sua nacionalidade, quando se orgulha de seu passado e de suas tradições  -  o que só se dá, desde o momento em que esse povo conheça os passos de sua história, possua cultura bastante para aferir o valor de seus herois, e se inspire nos grandes lances que heroificaram a seus avoengos.  O passado de um povo é fonte inesgotável de ensinamentos e estímulos. Os livros educativos da infância  têm de ser a um tempo repositórios de ensinamentos morais e cívicos: se aqueles educam, estes instruem; se uns formam o homem, outros preparam o cidadão; se uns plasmam o  caráter, outros afeiçoam o espírito; se uns habilitam o indivíduo para a sociedade, outros o arregimentam para a nação.  A literatura infantil, mais do que qualquer outra,  tem o estrito dever de ser sadia e forte, e, sobretudo,  de ser nacional, local, regional.  Nisso, mais do que em qualquer outro passo, deve um povo ostentar a nota de  uma personalidade própria. O assunto, o tema, o estilo, tudo terá de ser nacional, inconfundivelmente nacional. Dar às crianças livros nesse gênero é nacionalizá-las desde logo, é forrá-las da condição étnica decisiva  -  o amor ao que é seu, o apego ao passado de sua história, o orgulho de sua raça, a consciência de sua nacionalidade, a absoluta confiança no futuro da Pátria!" ("Historias da Terra Mineira", Prof. Carlos Góes, edição 1920). Livro em uso na escola primária de minha infância na década de 30/40 do século passado nas Gerais.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

PARÓQUIA DE SANTA RITA DE PETRÓPOLIS

Fiquei feliz, domingo passado, participando da santa eucaristia na igreja matriz de Santa Rita, no bairro Castrioto, em Petrópolis, às 8 da manhã. O templo é um salão muito simples, bastante amplo e arejado e claro e confortável. Há pouco tornou-se a matriz da nova paróquia recém-criada, da paróquia de Santa Rita. Chamou-me a atenção, além da presença de numerosos fiéis, de casais com seus filhinhos santamente buliçosos como se estivessem na casa de seus avós, o espírito cooperativo das pessoas, dos dois sexos, dando de si, com autêntico desinteresse e piedade, no fazerem rolar a cerimônia como se ali constituíssem uma unidade familiar. Observei, além disto, antes do início das orações litúrgicas, o Padre Bruno apontar para o fundo do templo, comunicando que naquele confessionário, num lugar bem discreto, achava-se um sacerdote para receber a confissão e dar a absolvição sacramental a quem quisesse aproveitar a ocasião. Juntou-se  o útil ao agradável: o útil, a oportunidade, durante uma cerimônia com bastantes pessoas,  de estar ali um  padre para atender confissões, coisa que me parecia desaparecida! o agradável, poder o fiel discretamente, quase sem ser percebido por alguém, ajoelhar-se no confessionário, abrir a Deus seu coração, numa confissão sem atropelos, receber o perdão, uma palavra de conforto, a sua penitenciazinha e voltar tranquila para continuar a participar do santo sacrfício! Há quantos anos não se via um espetáculo desses! E como faz falta! Se me fosse permitido dar um palpite, eu ainda sugeriria fosse aquela telinha,  por onde a alma penitente manda suas faltas para o Pai em troca do perdão misericordioso, de tal maneira construída que sacerdote e fiel não se vissem! Creio que a vergonha, tão natural a quem se confessa, não seria mais obstáculo a quem quisesse aproximar-se do confessionário! Perdoem-me o que acabo de dizer, e mais isto:  pensava que o confessionário já se tivesse convertido num a peça de museu na igreja, tal o pouco uso que me parece se faz dele atualmente em nossos templos! Hoje se permite em casos de necessidade grave recorrer-se à celebração da reconciliação e absolvição gerais. Mas em tais casos diz-se que os fiéis devem ter para a validade da absolvição o propósito de confessar individualmente seus pecados no devido tempo. E se não cumprirem este dever? Basta só o propósito? O que é importante aí: para a validade basta apenas o propósito ou se exige o propósito e a confissão posterior? Gostaria de ter uma explicação esclarecedora a respeito desse assunto. E se alguém teve o propósito sincero mas se esqueceu depois de cumpri-lo ou não quis mais cumpri-lo. O sacramento foi válido? Enfim, parabéns, Padre Bruno! tenho a tentação de repetir para o senhor o que Obama, apontando para nosso presidente, afirmou: "Você é o cara!" Ou então: "Zelus domus Domini comedit te!".

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

14/09 - EXALTAÇÃO DA SANTA CRUZ

Os católicos celebram no dia 14/09, a partir do Concílio Vaticano II, a festa da Exaltação da Santa Cruz. Santa Helena, mãe do Imperador  Constantino, no século IV, determinou se procurasse perto do sepulcro onde Jesus fora enterrado a cruz em que padecera e morrera. Os inimigos de Cristo tinham entulhado o local com pedras e muita terra, dificultando assim o trabalho. Acharam-se as 3 cruzes: de  Cristo e dos 2 ladrões. Para se saber qual  a verdadeira cruz,  tocaram as três em uma senhora às portas da morte. Somente ao toque da terceira cruz, ela milagrosamente se recuperou. A verdadeira cruz foi então levada para a basílica de Constantinopla no dia 14/09/337, dia em que passou a ser celebrada a festa da Exaltação da Santa Cruz. Mais tarde como os persas a tivessem furtado, o Imperador Heraclio a recuperou e entregou ao Patriarca Zacarias de Jerusalém no dia 03/o5. O Ocidente deu mais relevo a esse episódio, festejando a Santa Cruz, com o nome de Invenção da Santa Cruz, no dia 03/05. No Brasil esse dia é sempre comemorado pela piedade popular com orações aos pés do Cruzeiro, erguido fora dos templos sagrados. O Concílio Vaticano II restabeleceu a importância do dia 14/09, suprimindo a homenagem do dia 03/05, preferindo o nome de Exaltação da Santa Cruz, realçando não tanto a cruz em que Cristo padeceu e morreu, mas a mudança causada por ele através dela  na  condição humana.  "O  CRUX   AVE    SPES   UNICA!

2 - CREDO OU SÍMBOLO DOS APÓSTOLOS

Os 12 artigos do Credo ou Símbolo dos Apóstolos são didaticamente distribuídos  em 3 grupos. O PRIMEIRO  GRUPO  abrange apenas  o primeiro artigo, a saber: "Creio em Deus Pai Todo Poderoso, Criador do Céu e da Terra". Aí se fala da PRIMEIRA  PESSOA da  SANTÍSSIMA  TRINDADE e da Obra da Criação.  No  SEGUNDO  GRUPO  fala-se  da  SEGUNDA  PESSOA  DA  SANTÍSSIMA  TRINDADE,  ( do FILHO, de  JESUS CRISTO) e do  MISTÉRIO  DA  REDENÇÃO:  abarca os artigos primeiro, segundo, terceiro, quarto, quinto, sexto e sétimo do Credo. O  TERCEIRO  GRUPO trata da TERCEIRA  PESSOA  DA  SANTÍSSIMA  TRINDADE  (do ESPÍRITO  SANTO),  fonte e princípio de santificação dos homens.  Começa no oitavo artigo:  CREIO  NO  ESPÍRITO  SANTO, encerrando-se  com o décimo segundo artigo: "CREIO NA VIDA  ETERNA".  Os 12 artigos do Credo  têm  como carro-chefe o PRIMEIRO  ARTIGO: "CREIO EM  DEUS  PAI  TODO  PODEROSO  CRIADOR  DO  CÉU E  DA  TERRA". Nesses  12  artigos fala-se de DEUS e se fala também do HOMEM e do  MUNDO  pela relação  que  o homem e o mundo têm com Deus. O que é demonstrado pela palavra ARTIGOS  ( do verbo articular = tornar-se ligado, unir-se); " artigos" são as partes articuladas  (marcadas, assinaladas por números)  de um todo, o CREDO  ou   SÍMBOLO DOS APÓSTOLOS.  Este, resumo fiel das  crenças dos Apóstolos, é o SÍMBOLO guardado pela Igreja Romana para onde Pedro, o primeiro dos Apóstolos,  levou o resumo da fé dos demais Apóstolos.  Existe outro símbolo, rezado pela Igreja em certas circunstâncias, resultante dos dois primeiros concílios ecumênicos (em 325 e em 381, depois de Cristo);  é o denominado NICENO-CONSTANTINOPOLITANO, reunidos respectivamente nas cidades de Niceia e de Constantinopla. Este SÍMBOLO, seguido nas grandes igrejas d0 Oriente e do Ocidente, é mais explícito, mas detalhado, mais pormenorizado.  

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

VOCÊ SABE O QUE É UMA ÁRVORE?

Eu vi uma que tinha brotado num edifício abandonado, sem janelas, e que dali partira à procura de luz. Como o homem deve andar mergulhado no ar, assim  a árvore deve andar mergulhada na claridade. Instalada na terra mercê das raízes, instalada nos astros graças aos ramos dela,  é caminho da troca entre as estrelas e nós. Aquela árvore nascera cega. Desenvolveu em plena noite a sua poderosa musculatura. Andou às apalpadelas de uma parede para outra. Titubeou.  O drama ficou-lhe impresso nas franjas em espiral. Depois de esburacar uma trapeira  na direção do sol, irrompeu direita como o fuste de uma coluna.  E eu, num recuo próprio de historiador,  assistia aos movimentos da sua vitória. Aquele tronco que, constrangido a ocupar o reduzido espaço de um ataúde, se couraçara de nós, expandia-se depois ao ar livre numa mesa farta de folhagem onde o sol se via servido, amamentado pelo próprio céu, sustentado soberbamente pelos deuses. Diariamente eu a via despertar de alto a baixo.  Vinha carregadinha de pássaros. Começava a viver e a cantar. Depois do nascer do sol, abandonava as suas provisões no céu, como um velho pastor bonacheirão. A minha árvore-casa, a minha árvore-castelo, ficava depois vazia até a noitinha.É preciso olharmos muito tempo para a árvore para ela nascer também em nós! (Saint-Exupéry, Cidadela, , pp.37).

CREDO OU SÍMBOLO DOS APÓSTOLOS - 1

Ensina o CATECISMO que o CREDO  é a fórmula ou enunciado que contém o resumo das verdades que o cristão deve crer e professar. Chama-se CREDO  ("credo" em latim = eu creio)  em razão da primeira palavra com que normalmente começam os artigos. Chama-se também SÍMBOLO, palavra grega que significa a metade de um objeto quebrado. As partes quebradas, conservadas por duas pessoas, quando juntadas, serviam para identificar o portador do objeto. O CREDO  passou assim a ser um sinal de reconhecimento: recitando-o alguém, era reconhecido por um interessado como cristão. Era como um distintivo do cristão, de quem professava a fé. Com o passar do tempo, SÍMBOLO passou a significar a coleção das principais verdades da fé. O CREDO divide-se em 12 assuntos ou artigos: 
1 - Creio em Deus Pai Todo Poderoso, Criador do Céu e da Terra.
2 - E em Jesus Cristo, seu único filho, Nosso Senhor.
3 - Que foi concebido pelo poder do Espírito Santo; nasceu da Virgem Maria.
4 - Padeceu sob Pôncio Pilatos, foi crucificado, morto e sepultado.
5 - Desceu à mansão dos mortos; ressuscitou ao terceiro dia.
6 - Subiu aos céus, está sentado à direita de Deus Pai Todo Poderoso.
7 - Donde há de vir a julgar os vivos e os mortos.
8 - Creio no Espírito Santo.
9 -Na Santa Igreja Católica; na Comunhão dos Santos.
10 - Na remissão dos pecados.
11 - Na ressurreição da carne.
12 - Na vida eterna. Amém.
É chamado SÍMBOLO  DOS  APÓSTOLOS porque contém em 12 artigos as principais verdades de fé professadas e transmitidas pelos APÓSTOLOS.  Esse formulário foi composto pelos 12 apóstolos depois do dia de Pentecostes, antes de se separarem para pregarem o Evangelho. Foi a maneira encontrada para poderem pôr nas mãos dos fiéis e em sua memória um resumo curto, mas substancial e completo, da doutrina de Jesus Cristo.

terça-feira, 7 de setembro de 2010

EDITORIAL DA "FOLHA" DE 07/09/10

"Há 14 anos, em artigo na Folha, o atual mandatário acenava com os riscos de "mexicanização" e uso abusivo da máquina pública. Depois de publicar as opiniões a respeito do fenômeno, atualmente trazido à luz,  de Paulo Freire e de outros, hoje publica o "alerta emitido" por Luiz Inácio Lula da Silva  na Folha em 1996. "O Estado, (publica a Folha no seu Editorial),  mobiliza um conjunto de obras e recursos que podem ser postos a serviço de caixinhas eleitorais e troca de favores. Não é segredo para ninguém que as grandes obras públicas podem ser " sobrefaturadas, e um significativo percentual delas acaba nas contas numeradas dos assessores dos mandatários, não para uso  pessoal, dirão eles, é claro,  mas para financiar a futura campanha. São rios de dinheiro (...) para fazer propaganda de campanhas mirabolantes, com a mais sofisticada técnica de comunicações para ludibriar o eleitorado".  Diante da pretensão favorável à continuação de FHC para que o Brasil prosseguisse dando certo, Lula alfinetava: "E por que, então, não ressuscitar de uma vez o partido monarquista e colocar FHC no trono do Brasil para sempre?" Assim conclui o editorial:  Não há dúvida de que a experiência democrática em nosso país já atingiu padrões  elogiáveis de funcionamento. É preciso porém cultivá-la para que não se perca em consensos perigosos  -  mais ainda neste momento em que o continuísmo político poderá consumar-se em inédita hegemonia".

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

DURA LEX SED LEX

Narra  um dos cronistas da "Folha" de hoje, 06/09/10, A2 opinião, o episódio em que se viu metido há pouco, quando se preparava para tomar um avião no aeroporto Santos Dumont.  Depois que sua bagagem de mão transpôs aquele túnel misterioso da esteira de raios- X, a funcionária lhe perguntou se na bagagem havia algum objeto perfurocortante.  Num átimo, passou em revista um a um todos os pertences que costumava jogar  na bolsa, quando devia trabalhar fora da capital. Com certa facilidade, vislumbrou bem solteirinho escondido no fundo da mochila  "o popular trim, comprado num camelô do Catete, em 1991". Proibido de levá-lo, de duas uma: ou comparecer no balcão para o devido despacho, ou descartá-lo numa caixa para tal fim". Há três anos em idêntica circunstância minha esposa passou por semelhante estorvo. Questionada, a custo lembrou-se que levava na bolsa uma faquinha. Não podia levar. Ou despachava ou se desfazia dela. Provou por  A e B que comprara a faquinha na Alemanha, que nunca encontrara outra tão a jeito como aquela para cortar frutas, que não era justo que a privassem dela. Numa palavra: vendo já um felizardo na posse de sua idolatrada companheira de turismo, entregou o objeto e rumamos para o embarque. A faquinha, porém, jamais lhe saiu da saudade. Comento aqui este fato, porque hoje mesmo, tomando um ônibus em Petrópolis com destino ao Castelo, observei, e bote vezes nisso, que o funcionário encarregado de aplicar o raio X nas bolsas do passageiro ou passar-lho em volta (que escrever custoso, santo Deus!), permanece com a pazinha de matar moscas em doce tranquilidade, ou nas costas ou suspensa no ar, enquanto o motorista, vai recebendo as passagens,ambos num bate-papo tranquilo. E a fiscalização por onde anda? Será mesmo exato o que dizem: que as leis no Brasil são feitas para não serem cumpridas? Com a palavra as dignas empresas de ônibus responsáveis pelo transporte de passageiros de Petrópolis para o Rio e vice-versa.

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

FATOS QUE DIVERTEM

Dia 31/08/10, terça-feira, voltava eu do dentista no Leblon, às 11 da manhã. Deixando o ônibus da integração, entrei no metrô na estação General Ozório. Tem início aí a composição para a zona norte. Poucos passageiros, pude escolher um assento e ler sossegado. De repente, levanta-se a vizinha à esquerda, cedendo o lugar a um idoso, por certo, pois se tratava de bancos preferenciais. Depois de três estações, senti que atingira meu destino. Indeciso, indaguei do novo vizinho  se era já a estação Botafogo. Olhando-me simpático, sorriu-me e me disse: "Pelo seu porte, sua concentração na leitura,  confesso-o apto,  preparado para ser um futuro cardeal!" Agradecendo, rápido, a gentileza, e surpreso pela observação ouvida, expliquei-lhe que agora já não era mais possível, justificando minha resposta, mas logo acrescentando que outrora leigo podia ser escolhido ou aclamado papa. Desci, pois chegara ao destino. Mas lembrei-me, só então, de que um leigo também pode ser nomeado cardeal. Neste caso, porém, creio que deverá antes ser ordenado padre e depois bispo.   Já ouvira, e lera, que o Papa Pio XII e posteriormente o Papa Paulo VI tiveram a intenção de oferecer a  honra do chapéu cardinalício  ao nosso douto filósofo católico Jacques Maritain. Também houve um jesuíta, o padre Billot, que, insigne teólogo, recebera idêntica honra no início do século passado. Verdade é que, parece-me por ter sido acusado de partidário do modernismo, condenado pela Igreja, veio a perder ou devolver o chapéu. Pergunto, intrigado: que levou aquele vizinho meu do metrô a dirigir-me curiosa observação? Em conduções, como as do metrô, acompanhar o que outros leem é possível. Eu lia "Um certo Dom",  biografia de Dom Alexandre Amaral, bispo de Uberaba, falecido, escrita por Cesar Vanucci, ex-diretor do Colégio Sesi-Minas de Belo Horizonte, onde lecionei em 1967. Com o rabo dos olhos ele pode ter-me bispado o assunto da obra. Bispar, verbo bastante usado em Minas; vem de bispo, que se origina do latim  epíscopo, que em grego quer dizer observar, ver de cima, e também furtar.   Ou quem sabe não tem ele algum poder extra-sensorial? Pose de intelectual ou psicólogo ou coisa equivalente isto ele tinha! Se tal poder, porém, usou no momento, foi somente para certificar-se de que, pelas circunstâncias, ele desconfiara da vida pregressa do vizinho seu à direita.

SEGUNDA GUERRA MUNDIAL - 1939/1945

Teve início no porto de Dantzig,  na Polônia. Os canhões de um  encouraçado alemão iniciaram o ataque terrestre. Em seguida, a Luftwaffe (Força Aérea Alemã)  bombardeava aeropotos, pontes e concentrações de tropas polonesas. Eram 4 horas da madrugada de primeiro de setembro de 1939. Nos primeiros minutos  de bombardeio  vários edifícios,  semanas antes reforçados, foram destruídos pela artilharia do encouraçado, postado a menos de 500 metros de distância do porto. Pouco depois, desembarcou um contingente  de reforço  alemão, enfrentando resistência inesperada. Apesar de bombardeios navais e aéreos, a resistência polonesa se manteve por mais de uma semana. Os alemães sofreram considerável número de baixas, desproporcional para a captura desse bastião que afinal só foi destruído após a segunda semana  de ofensiva. Isso, em resumo, o que nosso mundo apresentava às futuras gerações, inaugurando o alvorecer da década de quarenta do século 20, sete meses  depois da eleição em março no Vaticano do Papa Pio XII, Eugênio Pacelli, com o falecimento em fevereiro  do Pontífice  sucedido, o Papa Pio XI. Cursava eu o terceiro ano do curso primário em minha modesta cidade mineira, alheio embora a tudo que realmente ocorria do outro lado do hemisfério, embora diariamente vendesse na rua a enorme quantidade de jornais (dez!) da capital, Belo Horizonte. De uma coisa, porém, não me esqueci: a diretora do Grupo Escolar Melo Viana, minha madrinha de batismo, comunicando o fato na sala de aula, em seguida mandou-nos para casa. 

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

JE S`EME À TOUT VENT

Desde que conheci o LAROUSSE encantei-me com o lema escolhido pelo autor: "Je s`eme à tout  vent". Semear quer dizer "deitar sementes na terra para fazer germinar". E outro não será o papel de um dicionário? Tenho um cunhado que teve  o pensamento seguinte que escreveu numa tabuleta: "Deus encheu as mãos de estrelas e jogou-as no espaço; uma caiu aqui e nasceu Bonfim." Bonfim é uma cidade mineira, à margem quase da Fernão Dias. Bonfim é a cidade onde o cunhado  mora, onde levantou uma gruta no jardim, pedestal  da poética tabuleta.  Jesus falou do semeador que saiu a semear sementes. Diz que uma caiu em terra fértil e produziu mil por mil!  Uma palavra, um milhão num dicionário são sementes, assim como nas mãos do Criador um milhão de estrelas   foi um milhão de sementes gerando milhões de cidades. Minha aspiração nos blogs que rabisco não pretendo,claro, que germinem, embora impossível não seja! Pelo querer do Senhor uma jumenta não falou? E como o bom Deus tem prazer de até do mal tirar o bem!  Meu lema é o do dicionário francês: "Eu semeio, minha pretensão é que o que escrevo não tenha um destinatário específico. Se é que vai ter algum, cochicha-me o meu sósia! Como age o vento que sopra em toda direção. Que vá passando, se alguém se interessar, que o apreenda. Quando internado num colégio católico, ouvia, e sempre acompanhado de um rastilho de temor, a frase que dizia: "Timeo Jesum transeuntem et  non revertentem". Em outras palavras: receio que Jesus me fale e eu não o ouça! Cito isto simplesmente porque me lembrei agora. Mas de forma alguma tem relação com as singelas, maltrapilhas considerações que aqui expendo. Numa palavra: Eu semeio a todo vento! Despretensiosamente, mas me sentindo muito gratificado se alguma palavra cair na terra e germinar. O que, tudo, será obra apenas de Deus. Um cara de pau eu, não?