sexta-feira, 10 de setembro de 2010

VOCÊ SABE O QUE É UMA ÁRVORE?

Eu vi uma que tinha brotado num edifício abandonado, sem janelas, e que dali partira à procura de luz. Como o homem deve andar mergulhado no ar, assim  a árvore deve andar mergulhada na claridade. Instalada na terra mercê das raízes, instalada nos astros graças aos ramos dela,  é caminho da troca entre as estrelas e nós. Aquela árvore nascera cega. Desenvolveu em plena noite a sua poderosa musculatura. Andou às apalpadelas de uma parede para outra. Titubeou.  O drama ficou-lhe impresso nas franjas em espiral. Depois de esburacar uma trapeira  na direção do sol, irrompeu direita como o fuste de uma coluna.  E eu, num recuo próprio de historiador,  assistia aos movimentos da sua vitória. Aquele tronco que, constrangido a ocupar o reduzido espaço de um ataúde, se couraçara de nós, expandia-se depois ao ar livre numa mesa farta de folhagem onde o sol se via servido, amamentado pelo próprio céu, sustentado soberbamente pelos deuses. Diariamente eu a via despertar de alto a baixo.  Vinha carregadinha de pássaros. Começava a viver e a cantar. Depois do nascer do sol, abandonava as suas provisões no céu, como um velho pastor bonacheirão. A minha árvore-casa, a minha árvore-castelo, ficava depois vazia até a noitinha.É preciso olharmos muito tempo para a árvore para ela nascer também em nós! (Saint-Exupéry, Cidadela, , pp.37).

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