segunda-feira, 29 de novembro de 2010

" PEDI E RECEBEREIS"

Maculando o manto de celestial suavidade que cobriu nestes dois dias, 27 e 28/11/2010, os dois complexos, da Vila Cruzeiro e do Morro do Alemão, pelo retorno, ainda que tardio, da paz (opus justitiae pax) e da liberdade sob múltiplos aspectos (libertas quae sera tamen) dos 400.000 habitantes daquelas porções da cidade do Rio de Janeiro, tomo ciência neste instante das ações de inescrupulosa audácia e insensatez desumana, praticadas por alguns das valorosas e heroicas forças de nossa segurança pública por ocasião de um dos mais belos gestos praticados em favor de cidadãos e irmãos, até então reféns de uma minoria desalmada. Não é isto, porém, que ora me move a escrever. O poeta Terência dizia: "homo sum et nihil humani a me alienum puto", isto é, "Sou homem e nada que interessa ao homem me é alheio". Num momento como este , de vitória do bem sobre o mal, quando a população em peso desta cidade, a mais brasileira de todas as províncias do país, se une, se abraça, e abraçada e unida, e feliz, se volta agradecida ao Cristo Redentor, de solidarizar-me com os cariocas não posso fugir. E lembrando-me, em meio a tanta efusão de alegria, dos sentimentos de gratidão a quem tudo isso se deve, tenho diante dos olhos o bilhete enviado a uma emissora de televisão dentro de uma caixa de fósforos, chamando nossa atenção para o fato de que 27 de novembro era o dia de Nossa Senhora das Graças, de Nossa Senhora da Medalha Milagrosa. Por sua vez, o administrados de nossa arquidiocese, Dom Orani, convocando os católicos e cristãos para uma noite de orações no dia 27, também ele lembrou e salientou que era o dia de Nossa Senhora das Graças. Maria é mãe de Deus e também mãe dos homens. Aparecendo, no dia 27/11/1830, a Santa Catarina Labouré, a Virgem Maria, num primeiro momento, tinha nas mãos, simbolizando a humanidade, um globo sobre o qual lançava súplice olhar que em seguida erguia ao alto, na direção de Deus seu Filho. Era o gesto da mãe pedindo a Deus graças e proteção para os humanos. E num segundo momento de sua aparição, deixando caírem os braços, de cujos dedos brotavam raios luminosos, significava que estes eram as graças e bênçãos que ela obtinha de seu filho para os que as pediam. Por isto é que Ela é tida e chamada Medianeira Universal de todas as graças. Daí "um grande movimento se tem feito sentir em favor dessa consoladora verdade: todas as as graças nos vêm de Deus pela mediação, pela intercessão de Maria, Mãe de Jesus. Nossa Senhora, portanto, ouviu as preces dos cariocas e obteve de seu Filho a liberdade dos que eram reféns de marginais. Se alguém duvidava, aí está: Maria Santíssima também é carioca como seu Filho no alto do Corcovado.

sábado, 27 de novembro de 2010

UMA OMISSÃO INEXPLICÁVEL

Sob forte tensão, na expectativa do que possa ocorrer daqui a pouco no Morro do Alemão, preciso transcrever neste curto espaço de um blog o que me deixou confuso, não há nem quinze minutos. Como a maioria dos patrícios, estou preso ao vídeo da televisão, querendo saber qual será o desfecho do cerco neste momento de nossas forças armadas aos traficantes que se retiraram ontem da favela da favela do Cruzeiro, homiziando-se na favela do Alemão. Cerca de meia hora atrás, o canal 19, da Globo, através de uma jovem apresentadora, tirou de uma caixa de fósforos uma pequena carta, escrita à mão, nela extravasando seus sentimentos de gratidão aos militares, à polícia em geral, pelos esforços nunca vistos por aqui em favor da liberdade dos moradores de nossos morros, da nossas favelas, dominadas pelo tráfico das drogas. E no finalzinho do bilhete a missivista escreveu que hoje é dia de NOSSA SENHORA DAS GRAÇAS a quem pedia ajuda para um desfecho feliz do movimento que se está preparando para um enfrentamento que parece será muito sério. Ouvido isto, mudei-me para o canal 40 onde se começava a ler a mesma cartinha enviada numa caixa de fósforos. Ouvi com bastante atenção, pois o conteúdo muito me emocionara, e qual não foi minha surpresa ou decepção diante da omissão, também por uma jovem, do trecho em que a missivista lembrava que hoje é o dia de Nossa Senhora das Graças, para a sua fé certamente um motivo de ESPERANÇA do êxito das manobras que estão prestes a ocorrer. Pergunto-me: POR QUE A OMISSÃO DO TRECHO QUE APELAVA PARA NOSSA SENHORAS DAS GRAÇAS? Por esquecimento não pode ter sido, pois a frase vinha no meio da segunda parte da cartinha! Ou foi por que talvez a apresentadora não é devota de Nossa Senhora - no caso seu gesto seria uma traição ao pensamento da missivista - ou então por respeito humano! Respeito humano ocorre quando, por exemplo, um católico omitisse um ato, como o sinal da cruz, ou uma palavra que o caracterizasse como católico, movido por um sentimento de vergonha de que as pessoas em sua volta, não sendo católicas, pudessem zombar dele - fato que ocorre muito frequentemente! Confesso com sinceridade: fiquei meio decepcionado com a atitude dessa apresentadora do canal 40. Por outro lado, devoto que procuro ser de Nossa Senhora da Medalha Milagrosa (ou Nossa Senhora das Graças), alegrei-me por constatar que neste momento de tanta gravidade uma alma cristã, piedosa, se lembrou de recorrer a quem muito poderá intervir para o bom resultado das atuais manobras militares.

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

180 ANOS DA MEDALHA MILAGROSA

27/11/1830. Capela das Filhas da Caridade em Paris. Vigília do Primeiro Domingo do Advento. Cinco e meia da tarde. IRMÃ CATARINA LABOURÉ está diante de NOSSA SENHORA DAS GRAÇAS. Sobre um globo, esmagando a cabeça de uma serpente com os pés, num vestido de seda branco-aurora, envolta num manto azul-prata, NOSSA SENHORA aparece à hoje canonizada SANTA CATARINA LABOURÉ. À altura do peito, um globo de ouro encimado de uma cruz que oferecia a Deus com um olhar suplicante. Aneis marchetados de pedrarias ornam-lhe os dedos donde jorram raios de luz. Nossa Senhora lhe diz: "Este globo representa o mundo inteiro, sobretudo a França e cada pessoa em particular. Os raios são o símbolo das graças que derramo sobre as pessoas que mas pedem. As pedras donde não saem raios são as graças que os homens se esquecem de pedir!" Era a VIRGEM PODEROSA. Então desenha-se em torno da Virgem um quadro de forma oval, nele gravando-se as palavras em ouro: "Ó MARIA, CONCEBIDA SEM PECADO, ROGAI POR NÓS QUE RECORREMOS A VÓS! FAZEI CUNHAR UMA MEDALHA NESTE MODELO. Todas as pessoas que a trouxerem receberão grandes graças!" No reverso da Medalha, no centro, um monograma formado pela letra M encimada de uma cruz com uma barra em sua base. Na parte inferior da Medalha os Corações de Jesus e Maria, aquele coroado de espinhos e este traspassado por uma espada. Doze estrelas envolvendo a Medalha. Somente em 30/06/1832 aparecem as primeiras MEDALHAS MILAGROSSAS. Santa Catarina Labouré faleceu no dia 31/12/1876, e foi sepultada na capela da vizinha casa de Reuilly. Em 1933 seu corpo foi trasladado para a Capela da Rua DuBac, 140, onde NOSSA SENHORA lhe aparecera há exatos 180 anos. Beatificada em 1933, Pio XII canonizou-a em 27/07/1947.

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

LÂMPADA DO SANTÍSSIMO

De modo geral, todas as religiões fizeram sempre uso da LUZ quando se punham a orar em seus templos. Os gregos e romanos conservavam-na em suas casas de oração. Os israelitas mantinham no átrio do templo de Jerusalém o FOGO perpétuo sobre o altar do holocausto, e no interior do santuário o castiçal de 7 braços. Os primeiros cristãos usavam a luz por necessidade, uma vez que o serviço divino se celebrava de noite ou nas catacumbas por razões de segurança; ou por razões simbólicas. Sabe-se que a LUZ simboliza DEUS na sua essência, ele que é LUZ (1. Jo,1,5), santidade, majestade e fonte de vida, a "verdadeira luz" (jo.1.9). E quem não sabe que a luz aparece sob a forma de vela na celebração do batismo, na celebração da Santa Eucaristia, na colação das ordens menores e maiores, nos funerais, nas procissões e em outras muitas funções litúrgicas? Mas é importante saber sobretudo que ela aparece sob a denominação de LÂMPADA DO SANTÍSSIMO SACRAMENTO, como tal usada desde o século XIII, como símbolo da presença do verdadeiro corpo, sangue, alma e divindade de Jesus Cristo, Segunda Pessoa da Santíssima Trindade, sob as espécies de pão nas hóstias consagradas, no altar principal de nossos templos sagrados, dentro de um pequenos receptáculo, denominado SACRÁRIO. No seu interior, dentro da âmbula, conservam-se as hóstias consagradas para a comunhão dos fieis. A nobreza, a disposição e a segurança do Sacrário devem favorecer a adoração do Senhor realmente presente no Santíssimo Sacramento do Altar. Determina o Código de Direito Canônico (c. 940) que diante doÉ aí, na solidão, quase sempre sacrário em que se conserva a Santíssima Eucaristia brilhe continuamente uma lâmpada especial com a qual se indique e se reverencie a presença de Jesus Cristo nas hóstias consagradas. Daí a razão de estar sempre brilhando em local bastante visível, ao lado do altar-mor, uma lampadazinha discreta, num receptáculo de cor vermelha, comunicando silenciosamente aos fieis que dentro do SACRÁRIO se encerra PRESENTE real e verdadeiramente como está no céu o CORPO, SANGUE, ALMA e DIVINDADE DE JESUS CRISTO, Segunda Pessoa da Santíssima Trindade. É aí, na solidão, quase sempre, de sua tenda que Ele, quando passamos indiferentes diante de seus templos, nos convida a entrar e ouvir dele o que terá para nos segredar.

sábado, 20 de novembro de 2010

"EVANGELHO SEGUNDO THOMAS MERTON"

"Somos obrigados a amar-nos uns aos outros:"diligite alterutrum!" ( Amai-vos uns aos outros). Não somos estritamente obrigados a "GOSTAR" uns dos outros. O "AMOR" governa a vontade, ao passo que "GOSTAR" é uma questão de sensibilidade. Se, contudo, amamos realmente a outros, não será também difícil gostar deles. Se esperamos que outras pessoas se tornem primeiro agradáveis ou atraentes, para começarmos a amá-las, jamais começaremos. Se nos contentamos em dar-lhes uma fria e impessoal "caridade" que é só uma questão de dever, não nos daremos absolutamente o incômodo de tentar compreendê-los ou de simpatizar com eles. E neste caso não os amamos realmente, porque o amor implica uma eficaz vontade não só de fazer bem a outros exteriormente, mas também de encontrar neles qualidades a que podemos corresponder. Muita gente não revela nunca a parte de bem que nela se esconde, até o dia em que lhe damos um pouco do bem, isto é, um pouco da caridade que há em nós. Somos de tal modo filhos de Deus que, amando a outros, os podemos fazer bons e amáveis a despeito deles mesmos. O nosso dever é de nos tornarmos perfeitos, como é perfeito nosso Pais celeste: "Sede perfeitos como vosso Pai celeste é perfeito" (Ma. 5.48). Isto significa que não olhamos o mal nos outros, mas lhes damos um pouco do nosso bem, a fim de pôr à mostra o bem que Ele neles escondeu". Quando amamos a Deus nos homens, procuramos descobri-LO de cada vez num indivíduo após outro. Quando amamos os homens em Deus, não os procuramos. Nós os achamos, sem procurar, naQuele que já encontramos. A primeira espécie de amor é ativa e sem repouso. Pertence mais ao tempo e ao espaço do que a outra, que já participa da imutável paz da eternidade" ("Homem algum é uma ilha", Thomas Merton; Palavras de Salvação! Graças a Deus!).

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

A TÉCNICA PODE ELIMINAR A POBREZA?

"A resposta não é tão evidente como parece. Em 2004, KENTARO TOYAMA entusiasmou-se pelos TELECENTROS" indianos onde crianças aprendiam a usar um computador algumas horas por mês numa língua que não sabiam falar. Certos telecentros foram coroados de êxito. Um operador no sul da Índia explicou ter salvo a cultura do "GANBO", permitindo a um agricultor entrar em contato com um expert da universidade. Os fazendeiros quenianos aclamam a internet como a salvadora da cultura da batata. Kataro Toyama publicamente sustentou a ideia de um laptop por criança do país. Uma enquete comandada pela BBC revelou que 79% dos 25.000 adultos interrogados, provenientes sobretudo de países ricos, estavam de acordo com a afirmação "de que o acesso à internet deveria ser direito fundamental de todos os povos". Contudo, Kentaro Toyama reconhece que os sucessos são raros. Em 5 anos ele visitou 50 telecentros na Ásia e na África. Os seus operadores foram incapazes de ganhar a vida com a profissão, além se constatar que os serviços disponíveis eram irrisórios. Observadores universitários demonstraram por que a iniciativa dos telecentros não tinham dado resultado: quase sempre o conceito não estava adaptado ao contexto, não se conformava com as normas socio-culturais locais, não se levou em conta a carência local da rede elétrica, não houve bom relacionamento com as administrações locais, não se ofereceram serviços correspondentes às necessidades locais, etc. Numa palavra: a tecnologia magnifica as intenções e capacidade do homem. Ela não o substitui. Se há uma base de pessoas competentes, então uma tecnologia apropriada pode ampliar sua capacidade e produzir realizações espantosas. A chegada da internet num lugar não basta para transformá-lo. A tecnologia é uma lupa, porque seu impacto é multiplicador, mas no que concerne à mudança social nada acrescenta. No mundo desenvolvido há uma tendência em se ver a internet ou outra tecnologia como necessariamente aditiva, porque os contribuidores lhes agregam um valor positivo. A tecnologia produz frutos positivos na medida em que as pessoas estejam preparadas e capacitadas a utilizá-la de maneira positiva. Em suma: difundir uma tecnologia poderia funcionar de alguma sorte, se a tecnologia fosse mais para os pobres pouco escolarizados, se não fosse para os ricos, pois o inverso é o que ocorre: ela ajuda os ricos a se enriquecerem , pouco fazendo para os pobres, causando assim uma distância entre providos e desprovidos. Ademais, é preciso saber o que as pessoas querem fazer da tecnologia a que se dedicam. Constatou-se que os pobres não se precipitam sobre a internet para nela encontrar fontes educativas, adquirir práticas de saúde ou enriquecerem suas competências profissionais. Ao contrário, usam-na para se divertirem. Uma boa razão para se valorizar a educação consiste no fato de que ela gera o desejo e a capacidade de usar suas ferramentas modernas" ( Le Monde, 19/11/10).

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

ELEGIA PARA UMA CIDADE

Caiu-me hoje nas mãos um artigo de Tristão de Athayde, publicado no JB há mais de 30 anos. Foi o desabafo de um apaixonado que sentia o objeto de seus encantos ir-se despindo a olhos vistos das nobres características que fizeram de Petrópolis uma das mais belas cidades do Brasil. Falou primeiro do perigo de querer ser, antes do tempo, uma cidade grande. A tentação de gigantismo roubava-lhe a juventude, impedindo-a de crescer devagar e para os lados, em qualidade e não em quantidade. E saudoso, invocava seu antigo professor de latim, o Padre Calleri, com quem na tranquilidade daquelas serras aprendera que não se deve procurar muitas coisas, mas apenas as que valem a pena ser procuradas: "non multa sed multum". Escrevia que "ver envelhecer, antes do tempo, essa pequena obra-prima da natureza e do sadio progresso urbanístico em que tantos passamos da meninice à calvície é um espetáculo realmente triste e deprimente". A essa tendência ao gigantismo, por ele apelidada de "espigonismo", surgiu em consequência outro tipo de crescimento , o urbano, que, se de um lado, contribuiu para a qualidade da vida e das construções, e na sua esteira, para a promocão das massas populares, haja vista a propagação da microindústria e do microcomércio, por outro lado a cidade se viu atacada pela peste do favelismo. A transformação dos morros em favelas, o que apressa o envelhecimento de Petrópolis. "É justamente para defender a prosperidade sadia de Petrópolis que a luta contra o "favelismo" se impõe, junto à luta contra o "espigonismo". E encerrando sua "Elegia para uma cidade", Tristão enfatizava que "o defloramento da cidade imperial não foi apenas a morte das hortêensias, mas acima de tudo o duplo assalto da especulação imobiliária e da iniquidade faveliana nos morros inabitáveis e nas enchentes mortíferas". E perorando: "Ó dias de Petrópolis, mais escuros que tuas noites sombrias. Ó noites de Petrópolis, mais claras que teus dias luminosos!".

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

O NATAL DE UM FESTEJADO ESCRITOR

"Naquele tempo os REIS MAGOS ainda não existiam (ou sou eu que não me lembro deles) nem havia o costume de armar presépios com a vaca, o burro e o resto da companhia. Pelo menos na nossa casa. Deixava-se à noite o sapato ("o sapatinho") na chaminé, ao lado do fogareiro de petróleo, e na manhã seguinte ia-se ver o que o Menino Jesus lá teria deixado. Sim naquele tempo era o Menino Jesus quem descia pela chaminé, não ficava deitado nas palhinhas, de umbigo ao leu, à espera de que os pastores lhe levassem o leite e o queijo, porque disto, sim, iria precisar para viver, não do ouro-incenso-e-mirra dos magos, que, como se sabe, só lhe trouxeram amargos de boca. O Menino Jesus daquela época ainda era um Menino Jesus que trabalhava, que se esforçava por ser útil à sociedade, enfim, um proletário como tantos outros. Em todo caso, os mais pequenos da casa tínhamos as nossas dúvidas: custava a acreditar que o Menino Jesus estivesse disposto a emporcalhar a brancura de sua veste, descendo e subindo toda noite por paredes cobertas daquela fuligem negra e pegajosa que revestia o interior das chaminés. Talvez porque tivéssemos deixado transparecer por alguma meia palavra este saudável cepticismo, uma noite de Natal os adultos quiseram convencer-nos de que não só existia mesmo, como o tínhamos dentro de casa. Dois deles, deviam ter sido dois, talvez o meu pai e o Antônio Barata, foram para o corredor e começaram a fazer deslizar carrinhos de brinquedo de um extremo a outro, enquanto os que haviam ficado conosco na cozinha diziam: "Estão a ouvir? Estão a ouvir? São os anjos". Eu conhecia aquele corredor como se tivesse nascido nele e nunca me tinha apercebido de qualquer sinal de uma presença angélica quando, por exemplo, firmando-me num lado e no outro com os pés e as mãos, trepava pelas paredes acima até tocar com a cabeça no teto. Lá em cima, anjos ou serafins, nem um para amostra. Passado tempo, estava eu já na adolescência, tentei repetir a habilidade, mas não fui capaz. As pernas haviam-me crescido, as articulações dos tornozelos e dos joelhos tinham-se tornado menos flexíveis, enfim, o peso da idade..." ("As Pequenas Memórias", José Saramago. pp.104, Companhia das Letras).

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

AO CAIR DA TARDE NA REPÚBLICA

15/11/10. O silêncio desta noite da República me fez encontrar-me nos pensamentos de uma carta escrita por Saint-Exupéry em maio de 1944, dois meses antes de desaparecer no mar. "Agradeço-lhe muitas coisas. Quais, não sei. Coisas que contam são invisíveis. Não se agradece a um jardim. Há os seres-jardim e há os seres-pátio. Estes passeiam seu pátio com eles mesmos, nos sufocam entre suas 4 paredes. Somos obrigados a falar com eles para fazer barulho. O silêncio num pátio é penoso! Mas em um jardim a gente passeia. Podemos calar-nos e respirar, estamos à vontade. E as surpresas felizes acontecem diante de nós. Uma borboleta, um besouro, um vaga-lume aparecem. Nada se sabe sobre a civilização do vaga-lume. O besouro parece saber aonde vai. É apressadíssimo. A borboleta, quando pousa numa flor, dizemos: é como se pousasse num terraço na Babilônia, num jardim suspenso que balançasse. Depois nos calamos por causa de 3 ou 4 estrelas. E mais. Há pessoas-estrada e pessoas-vereda. Aquelas me aborrecem. Aborreço-me no asfalto, ao longo dos marcos de quilometragem. Elas andam em direção a alguma coisa precisa: um lucro, uma ambição. Ao longo das veredas, em vez dos marcos de quilometragem há aveleiras. E vagueamos para quebrar com os dentes as avelãs. Estamos lá por estar lá, não em outro lugar. A civilização do telefone é intolerável. Uma caricatura de presença substitui a verdadeira presença. Passa-se de um a outro como se passa, num segundo, girando o botão do rádio, de um programa a outro. Não nos fechamos mais em nada, não mais estamos em parte alguma. Odeio essa humanidade solúvel. Onde estou, estou como para a eternidade. Tenho direito, no meu banco de vereda, a 5 minutos de eternidade! Mas você é insolúvel Por isso temos tempo na vereda, mesmo se apenas por um segundo, de você estar presente no bom-dia ou mesmo no adeus. Você só está apressada entre as coisas. Em seu íntimo você caminha no passo lento de um jardim. O verdadeiro passo...tão precioso isso! Mas, cuidado! mesmo achando-nos insolúveis, os imbecis são muito perigosos. Também as pessoas inteligentes, quando em grupo. Uma inteligência é um caminho. Cem caminhos ao mesmo tempo são uma praça pública. Isso desespera. Mas... estou parecendo um velho de barbas brancas que sacode a cabeça! É que estou cansado de correr. Só hoje compreendo um provérbio chinês: 3 coisas arruinam a ascensão do espírito: a viagem; 3 verdadeiros grandes homens, 3 analfabetos: um pastor, um pescador, um mendigo, é que nunca tinham saído de casa! e o que me disse o pobre Laval ao retornar dos Estados Unidos: "Estou contente por voltar, não estou no nível dos arranha-ceus, estou ao nível do asno!"

O TREM PENETRA NO TÚNEL

"...os carros penetram na quebrada de uma montanha em uma rocha cavada. No meio dessa rocha há como que uma caverna de enorme boca, fazendo um arco de pouca altura formado de pedras soldadas umas com as outras. Ouve-se então um estridor maior. Reboam as matas e o ar parece repercutir furiosos mugidos ou refranger um som semelhante ao de trovões. O Etna não roncaria tão medonhamente com o malhar de suas enormes incudes (bigornas)! Entretanto o carro voa, e voa também pelos ares negro vapor. Os vigias das portas falam por acenos e com bandeiras. Ei-lo que penetra esses antros cuja abóbada é forrada de pedras e de rocha viva. Continua a caminhar. Tudo é trevas em torno. Não se vê mais o céu. Subitamente desaparece a clara luz do dia e caminha-se só por entre escuras sombras debaixo de cerrada noite. Posto que dos tetos pendem lampeões, apenas se penetra nessas umbrosas cavernas, estranho pavor assalta imediatamente a todos, e reina o silêncio. Mas eis que o sol já se vai introduzindo, e já os objetos se vão distinguindo à luz do dia. Então o carro voando por caminhos descobertos é mais veloz que as asas do rio, e busca correndo atingir a desejada meta!"
EM LATIM: "Est specus in medio (Ovídio) vastoque immanis hiatu (Virgílio), efficiens humilem lapidum compagibus arcum (Ovídio): tum sonus auditur gravior, fragor intonat ingens (Virgílio) et silvae reboant, furit et mugitibus oeter concussus, qualemve sonum, quum Jupter atras increpuit nubes, extrema tonitrua reddunt (Virgílio). Non tam grande sonat motis incutibus Aetna (Statius)! Advolat ille, "ïterumque" volat vapor ater ad auras: portarum vigiles (Virgílio) nutu signisque loquuntur (Ovídio): antra subit, tofis laqueataque pumice vivo (Ovídio). "Progreditur"; tenebris nigrescunt omnia circum (Virgílio) delituit coelum et subito lux candida cessit (Status); Itur et obscuras sola sub nocte per umbras (Virgílio); "quamquam" et dependent lychni laquearibus altis (Virgílio), "ut primum"umbrosae penitus patuere cavernae (Virgílio), extemplo tremefacta novus per pectora cunctis (Virgílio) insinuat pavor et tum facta silentia linguis (Virgílio). Jam sole infuso, jam rebus luce retectis (Virgílio), tum per aperta volans (Ovídio) "est" fluminis ocior alis (Virgílio), et studet optatam cursu contingere metam (Horácio)" ("Phrases e Curiosodades Latinas", por Arthur Rezende, pp. 674, 1918, Rio).

domingo, 14 de novembro de 2010

DESCRIÇÃO DE UMA ESTRADA DE FERRO

Usando versos de Virgílio, Lucrécio, Horácio e outros poetas latinos que existiram há mais de 2.000 anos, ANTÔNIO DE CASTRO LOPES descreveu (e traduziu) a partida de um trem da estação e sua entrada e saída de um túnel. "VEJO também admirado a imensa concorrência de novos companheiros, mães, maridos, moços e moças, e povo baixo. Todos se aprestam. Sentam-se em seus lugares e atentos esperam o sinal. Sai da estação o carro. Ouve-se um som e sibilos, que repercutem pelos montes, colinas e vales, enchendo de terror os lugares próximos. O carro voa mais veloz que o Noto, e que a ligeira seta, mal deixando na superfície do pó leves vestígios. Cada objeto que está fixo e parado parece que corre e que vai além. O carro vomita das fauces grossa nuvem escura e caliginosa como pez. O fumo eleva-se às vazias regiões do espaço, o fogo arde violento nas fechadas fornalhas e todas as circunvizinhanças enchem-se de um espesso e negro nevoeiro. Após, correm também outros carros. Segue-os uma grande fileira, indo por um e o mesmo caminho, sem saírem da ordem em que estão dispostos e penetram na quebrada de uma montanha em uma rocha cavada.
EM LATIM:Atque hic ingentem comitum affluxisse novorum invenio admirans numerum, matresque, virosque, undique collectam pubem et miserabile vulgus. Haud mora. Prosiluere suis jam sedibus omnes. Intenti expectant signum. Exit carcere currus. Fit sonus (VIRGÍLIO). Et toti senserunt sibilla montes (Ovídio). Consonat omne nemus streptu collesque resultant (Virgílio). Inde fragore gravi streptus loco proxima terret (Ovídio). Advolat ille noto citius volucrique sagitta, tennuia vix summo vestigia pulvere signat (Virgílio). Quae manet in statione, ea praeter creditur ire (Lucrécio). Evomit ad coelum picea caligine nubem faucibus ingentem. Vacuas it fumus ad auras. Aestuat in clausis rapidus fornacibus ignis (Virgílio). Implentur "cuncta"et nebula caliginis atrae (Silius Italicus).Inde ruunt alii (Ovídio). Magna stipante caterva, una eadem via, "certo" neque ab ordine cedunt (Virgílio). Rupis in anfractu rupem subiere cavatam (Ovídio)." ( em breve a parte final). (PHRASES E CURIOSIDADES LATINAS, ARTHUR VIEIRA DE REZENDE E SILVA, 1918, RIO).

sábado, 13 de novembro de 2010

NOSSA SENHORA DE BUGLÔSE

São Vicente de Paulo (1581-1660), quando criança, tinha por missão levar diariamente o rebanho dos pais ao pasto. Como passasse muitas vezes perto das ruínas de um célebre santuário, chamado hoje NOSSA SENHORA DE BUGLÔSE, ai costumava rezar, assentado numa pedra, enquanto as ovelhas pastavam. Havia nesse santuário uma estátua milagrosa da Santíssima Virgem que, em 1570, os fieis, com medo das hordas fanáticas de Joana Dalbert, comandadas por Montgomery, enterraram num alagadiço. O tempo passou, todos os que sabiam desse segredo tinham morrido. Um dia, porém, graças a um fato providencial, descobriu-se a preciosa imagem. Em 1620, um pastor observou que um dos bois se retirava sempre para um mesmo ponto do alagadiço. Curioso, pesquisando o local, encontrou uma estátua da Santíssima Virgem, inteiramente limpa da lama pela língua do boi. Sabedores do achado, todos acorreram ao lugar e vários doentes recuperaram a saúde. O bispo de Dax determinou se procedesse a um inquérito a respeito dos milagres atribuídos à veneranda imagem, depois do que aprovou a reconstrução do antigo santuário, para onde foi transportada solenemente a imagem, em 1622. A piedade popular deu ao lugar o nome de BUGLÔSE, palavra que significa "língua de boI" ("SÃO VICENTE DE PAULO", Pe. Jerônimo de Castro, pp. 18). Mais um título em honra de Nossa Senhora, ao lado de dois outros pouco conhecidos: Nossa Senhora da Estrada e Nossa Senhora da Saudade. Este descobri no Carmelo de São José de Petrópolis. "Da Saudade, para infundir nas almas a saudade de Deus, a lembrança do céu, para fazer dos cristãos homens da eternidade". Nossa Senhora da Estrada é venerada pelos sacerdotes lazaristas (vicentinos) do Paraná que num caminhão-altar percorrem o Brasil numa missão de apostolado junto dos caminhoneiros de nosso país.

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

PÓ COM VENTO, PÓ SEM VENTO

Em que nos distinguimos os VIVOS dos MORTOS? Os MORTOS são pó, e nós também somos pó. Distinguimo-nos os VIVOS dos MORTOS, assim como se distingue o PÓ do PÓ. Os VIVOS são PÓ levantado, os MORTOS são PÓ caído. Os VIVOS são PÓ que anda, os MORTOS são pó que jaz. Estão estas praças no verão cobertas de pó. Dá um pé de vento, levanta-se o pó no ar, e que faz? O que fazem os vivos e muito vivos! Não aquieta o PÓ, nem pode estar quieto: anda, corre, voa, entra por esta rua, sai por aquela, já vai adiante, já torna atrás. Tudo enche, tudo cobre, tudo envolve, tudo perturba, tudo toma, tudo cega, tudo penetra, em tudo e por tudo se mete, sem aquietar nem sossegar um momento, enquanto o vento dura. Acalmou o vento, cai o PÖ, e onde o vento parou, ali fica: ou dentro de casa, ou na rua, ou em cima de um telhado, ou no mar, ou no rio, ou no monte, ou na campanha. Não é assim? Assim é. E que PÓ, e que VENTO é este? O PÓ somos NÓS, o VENTO é a nossa VIDA. Deu o vento, levantou-se o pó. Parou o vento, caiu o pó. Deu o vento, eis o pó levantado: estes são os VIVOS. Parou o vento, eis o pó caído: estes são os MORTOS. Os VIVOS PÓ. Os MORTOS PÓ. Os Vivos PÓ levantado. Os mortos PÓ Caído. Os VIVOS pó COM VENTO e por isto VÃOS. Os MORTOS PÓ sem VENTO, e por isto SEM VAIDADE. Esta é a DISTINÇÃO, e não há outra! ( Sermão de Cinza, Padre Antônio Vieira).

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

OS LIVROS DA BÍBLIA SÃO INSPIRADOS POR DEUS

Cristãos e Judeus reconhecem que a BÍBLIA contém a palavra de Deus INSPIRADA. 1 - a INSPIRAÇÃO BÍBLICA é a iluminação da mente do autor humano (hagiógrafo), para que possa, através dos dados de sua cultura religiosa e profana, TRANSMITIR uma mensagem conforme, fiel, ao pensamento de Deus que a inspira. Por isto se diz que a BÍBLIA é um livro DIVINO-HUMANO: transmite o PENSAMENTO DE DEUS em ROUPAGEM HUMANA. Assemelha-se assim ao MISTÉRIO DA ENCARNAÇÃO pelo qual DEUS se revestiu da CARNE HUMANA no seio da Maria. Assim na BÍBLIA a PALAVRA DE DEUS se revestiu da PALAVRA DO HOMEM, do hagiógrafo (autor sagrado) sejam quais forem as particularidades de suas expressões. 2 - Note-se que a finalidade da INSPIRAÇÃO BÍBLICA é estritamente RELIGIOSA. A BÍBLIA foi escrita para nos ensinar aquilo que ultrapassa a razão humana, isto é, o conteúdo do plano de salvação estabelecido por Deus, o sentido do mundo, do homem, do trabalho, da vida, da morte, da dor, diante de Deus. Não se há de pedir à BÍBLIA teorias, noções de ordem física ou biológica. Não é função dela dizer quando o mundo foi criado. 3 - A inspiração divina da BÍBLIa se prova: a) tratando-se do ANTIGO TESTAMENTO, pelo modo de agir de Cristo e dos Apóstolos: Cristo, por exemplo, disse em Lucas, cap. 24,v, 44: "São estas as palavras que vos falei, quando ainda estava convosco: era preciso que se cumprisse tudo o que está escrito sobre mim na Lei de Moisés, nos Profetas e nos Salmos. Por sua vez, São Pedro falou nos Atos, cap I, 16: "Era preciso que se cumprisse a Escritura em que, por boca de Davi, o Espírito Santo havia de antemão falado a respeito de Judas que se tornou o guia daqueles que prenderam a Jesus". São Paulo na II Epístola a Timóteo, 3, 14-16 escreveu: "...Desde a tua infância conheces as sagradas letras; elas têm o poder de de comunicar-te a sabedoria...". Em II Pedro, 1,19-21: "...que nenhuma profecia da Escritura resulta de uma interpretação particular, pois que a profecia jamais veio por vontade humana, mas os homens impelidos pelo Espírito Santo falaram da parte de Deus". b) Tratando-se do NOVO TESTAMENTO, A EPÍSTOLA II DE SÃO PEDRO, 3, 16: "...como fazem as demais Escrituras"; temos aqui um dos primeiros indícios de uma equivalência entre os escritos cristãos e os livros do Antigo Testamento.

LIVROS QUE COMPÕEM A BÍBLIA

BÍBLIA, em grego "bíblos"= LIVRO. O diminutivo de "biblos" é "biblion"= livrinho, no plural em grego = "biblia"= em português LIVRINHOS. Com o decurso do tempo, esse diminutivo tendo perdido seu sentido próprio, a palavra BÍBLIA, aportuguesada, passou a significar LIVROS. A BÍBLIA, portanto, etimologicamente significa LIVROS, uma COLEÇÃO de LIVROS. Já vimos que a BÍBLIA está dividida em duas partes: o ANTIGO TESTAMENTO e o NOVO TESTAMENTO. Antes observemos que os católicos distribuem os livros que compõem tanto o Antigo como o Novo Testamento em três categorias, a saber: Livros Históricos, Livros Didáticos e Livros Livros Proféticos.
Eis os livros que formam o ANTIGO TESTAMENTO:
a) LIVROS HISTÓRICOS: O PENTATEUCO que abrange 5 livros: Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio; JOSUÉ; JUÍZES; RUTE; 1 e 2 SAMUEL; 1 e 2 REIS; 1 e 2 CRÔNICAS; ESDRAS; NEEMIAS; TOBIAS; JUDITE; ESTER; 1 e 2 MACABEUS.
b) LIVROS DIDÁTICOS: JÓ; SALMOS; PROVÉRBIOS; ECLESIASTES; CÂNTICO DOS CÂNTICOS; SABEDORIA; ECLESIÁSTICO.
c) LIVROS PROFÉTICOS: ISAÍAS; JEREMIAS; LAMENTAÇÕES; BARUC; EZEQUIEL; DANIEL (chamados Profetas Maiores); OSEIAS; JOEL; AMÓS; ABDIAS; JONAS; MIQUEIAS; NAUM; HABACUC; SOFONIAS; AGEU; ZACARIAS; MALAQUIAS (chamados Profetas Menores).
Eis os livros que formam o NOVO TESTAMENTO:
a) LIVROS HISTÓRICOS: OS 4 EVANGELHOS mais os ATOS DOS APÓSTOLOS.
b) LIVROS DIDÁTICOS: EPÍSTOLAS DE SÃO PAULO: Romanos, 1 e 2 Coríntios, Gálatas, Efésios, Filipenses, Colossenses, 1 e 2 Tessalonicenses, 1 e 2 Timóteo, Tito, Filemon, Epístola aos Hebreus. EPÍSTOLAS CATÓLICAS: Tiago, 1 e 2 Pedro, 1 e 2 e 3 João, Judas.
c) LIVRO PROFÉTICO: APOCALIPSE.
Abra agora sua BÍBLIA e veja se o que você acaba de ler confere com a BÍBLIA que você possui.

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

"ESTADO NOVO"

A 16/07/1934, foi promulgada uma nova Constituição Federal do Brasil, pressionado que foi o governo provisório pela revolução de 1932, tendo sido eleito presidente da República, para governar até 03/05/38, GETÚLIO VARGAS. Aproveitando-se então do vigente clima democrático, criou-se a Aliança Nacional Libertadora, controlada por Luiz Carlos Prestes, e a Ação Integralista Brasileira, sob a liderança de Plínio Salgado. Dissolvida a Aliança Nacional Libertadpra, sobreveio a intentona comunista a 27/11/35, logo abafada. Para a sucessão de Getúlio, em 1938, dois candidatos se apresentaram: Armando Salles, de São Paulo, e José Américo, da Paraíba. Com o pretexto de impedir o domínio do Brasil por totalitários quer da direita quer da esquerda, Getúlio Vargas, com o apoio das forças armadas, deu o golpe de estado de 10/11/37, Promulgou-se então uma nova Carta Constitucional, apelidada de "polaca",por ter sido moldada na constituição totalitária da Polônia. Surgiu assim no país o "ESTADO NOVO" a 10 de novembro de 1037. Extinguiram-se todos os partidos políticos; dissolveu-se o Parlamento, as assembleias estaduais e municipais; os governos dos Estados foram confiados a interventores. A opinião pública passou a ser controlada pelo DIP (Departamento de Imprensa e Propaganda), e para supervisionar a máquina administrativa criou-se o DASP (Departamento Administrativo do Serviço Público). Ao ministro da Justiça e Negócios Interiores, nomeado a o7/11/37, Francisco Campos (1891-1968), mineiro de Dores do Indaiá, coube o papel de principal autor da Constituição do Estado Novo. Esta regeu a vida política do país de 10/11/37 a 29/10/45, quando Getúlio Vargas foi deposto.

terça-feira, 9 de novembro de 2010

PRODÍGIOS DO PÃO E DO VINHO CONSAGRADOS

Conhçamos os prodígios que se realizam, quando um padre pronuncia sobre o pão e sobre o vinho as palavras da CONSAGRAÇÃO na Celebração da Eucaristia: 1 - O pão e o vinho cujas aparências nossos olhos contemplam NÃO MAIS EXISTEM: o CORPO e o SANGUE de Jesus tomaram seu lugar. 2 - Mas quando essas espécies chegam a corromper-se, Jesus delas se retira; elas retomam então imediatamente sua substância e as leis da criação reencontram seu curso interrompido. 3 - Jesus está presente ao mesmo tempo no céu e na hóstia onde sua alma divina acompanha seu corpo. 4 - Do mesmo modo pelo qual nossa alma está presente em cada parte de nosso corpo, o Cristo se encontra todo inteiro em cada parte da Hóstia. Sob a mais pequena partícula, por mais invisível que possa ser aos nossos sentidos, Ele se encontra tão inteiramente quanto sob as espécies inteiras. 5 - ELE se encontra ao mesmo tempo e inteiramente não somente numa Hóstia, mas nas milhares e milhões de HÓSTIAS que os padres consagrarem no mundo. Lembremo-nos de que, tendo em vista a catolicidade da Igreja, em todas as partes do mundo as CELEBRAÇÕES EUCARISTICAS se sucedem sem interrupção alguma. A cada instante do dia a HÓSTIA se eleva ao céu, cristãos rezam ajoelhados ou não, adoram, comungam, numa corte fervorosa, cheia de alegria e de fé e de amor ao DEUS DA EUCARISTIA. Mistério do dom da Fé que recebemos no santo batismo e que devemos cultivar para continuarmos cristãos e católicos.

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

MONTEIRO LOBATO

Pela Folha de 25/10/10 fiquei afinal, 70 anos volvidos, conhecendo na intimidade o autor do primeiro livro que li, JECA TATU! Através de 113 cartas passadas às mãos de uma professora por um neto do engenheiro suiço Frankie, descobre-se que Lobato deste se serviu para obter da Cia. Piepmeyer, sediada na Alemanha, financiamento alemão para a exploração de petróleo no Brasil. "Nossa Cia. de Petróleo Limitada, com financiamento da Piepmeyer para perfuração e refinaria ficará um negócio tremendo", escreveu Lobato. Deu, porém, com os burros nágua. Alegava que o governo brasileiro se vendia aos interesses do grupo americano da Stantard Oil, infiltrando técnicos no Dep. Nacional de Produção Mineral para brecar a descoberta do petróleo no país. Além de não ter perfurado poço algum por conta própria, o governo sabotava ademais a iniciativa privada, negando financiamento e criando obstáculos legais às suas iniciativas. Em 1940 criticou o governo numa carta a Getúlio Vargas que, segundo o missivista, permitia que o Conselho Nacional do Petróleo retardasse a criação da indústria petroleira nacional, para servir aos interesses do truste Standar-Royal Dutch. Em 1941 foi preso, depois de revistado seu escritório pela polícia, como incurso no crime de injúria aos poderes públicos, quando pretendia deixar o país. Getúlio restituíu-lhe a liberdade, três meses depois da prisão. Outros fracassos de Lobato: desfez-se de uma enorme propriedade rural objeto de herança no município de Taubaté. Montou uma editora que faliu em 1925. Jogou na bolsa de Nova York, perdendo tudo. Teve 3 companhias de petróleo, mas nunca furou um poço rentável. Soube, porém, ganhar dinheiro com seus livros infantis. Mesmo assim, morreu pobre num apartamento emprestado, em São Paulo. E atualmente, mais esta: acusado de racista! Desejo que ninguém, sem o que fazer, vá ao ponto de acusar de simpatizante do nazismo o povoador de sonhos e de ilusões de nossas mentes infantis, naqueles tempos sombrios da segunda guerra mundial, através de livros que até hoje a garotada devora com indizível prazer ("Folha", 25/10/10, Marcelo Bortoloti).

domingo, 7 de novembro de 2010

GUSTAVO CORÇÃO TAMBÉM CAIU DO CAVALO

O tombo, porém, foi menos trágico que o de São Paulo. Segundo Antônio Carlos Villaça, Gustavo Corção (1896/1978), por influência de Maritain e de Chesterton, desde 1936 perdera a simpatia pelas teses marxistas. Em 1939, viajando com Carlos Chagas Filho, de repente , ao solavanco do carro, o porta-luvas se abriu, dele escorregando um missal, pois Carlos Chagas era católico. O incidente soltou a língua de Corção que confessou sentir profunda sedução ao catolicismo. Ao pedido de Carlos Chagas, Tristão de Athayde se encontra com Corção e lhe recomenda procurar no mosteiro de São Bento determinado monge que de imediato o encaminha a Dom Martinho Michler. O desconhecimento da localização do mosteiro no Rio não impediu Corção de encontrá-lo. Trocando a entrada da portaria pela da livraria, Dom Marcos Barbosa lhe indica a porta certa. Suavemente a graca de Deus vai trabalhando a alma do autor da "Descoberta do Outro". Um dia no trabalho, ouviu de um operário uma blasfêmia. Concluindo que amava esse Deus tão tristemente ofendido, foi ao mosteiro e se confessou. Fez a primeira comunhão no Colégio Sion. Observa Villaça que "a conversão ao catolicismo em 1939 despertou nele o escritor", sendo seu primeiro artigo uma crítica a Monteiro Lobato, transformado atualmente num saco de pancadas. A "Descoberta do Outro", 1944, conta sua conversão. "Lições de Abismo", 1951, sua obra-prima para alguns. "Três Alqueires e Uma Vaca",1946, uma homenagem de gratidão a Chesterton. E outras obras mais, além de conferências e artigos em jornais. "O Desconcerto do Mundo" encerrou-lhe a vida de escritor, livro de incontestável beleza para Villaça que, terminando seu artigo no JB de 07/071978, escreveu que a "pessoa" foi sempre o centro de sua preocupação: "Porque prezava o homem, se exasperava com o homem. Porque amava, detestava. E sofria".

terça-feira, 2 de novembro de 2010

NA PRAIA DO JOÁ

04/11/1928. 82 anos atrás. Acompanhado do filho de 8 anos e de um cunhado, o domingo ideal para uma pescaria, a praia do Joá, no Rio, tinha que ser o ponto do encontro marcado por Deus. Aliás, no dia 02/11/1928, numa premonição extra-sensorial não escrevera ele a seu amigo Alceu Amoroso Lima, após confessar que TINHA FÉ em Jesus Cristo e na Igreja, como nos fundamentos da terra, e que a Cruz estava bem fundada sobre ela. E que sentia uma alegria específica, uma alegria da humanidade toda. E que "o meu pequenino cachorrismo individual não me impressiona! Vivo aqui, gano ali, coço-me acolá, mas tudo isso é passageiro. VOU PARA A FRENTE ATIRADO NO DORSO DA GRANDE ONDA DA VIDA - para onde DEUS quiser!" No dia 04 de novembro de 1928, ele, que se tornou cristão pela água, que, não conteve as lágrimas na conversão ao catolicismo, nas águas da praia do Joá realizou, embora tragicamente, seu derradeiro encontro com o Deus que amava na terra, e seu primeiro diálogo face a face com o Pai, quando foi arrastado sobre o dorso de uma onda, na Barra da Tijuca" (Nota da carta de 04/11 a Alceu). Morreu depois de quinze minutos de luta contra as águas e dando uma última bênção ao filho que, no rochedo, chorava ajoelhado e impotente ante a tragédia. No céu da passagem de JACKSON DE FIGUEIREDO "o que havia era a paz infinita de uma bela tarde de domingo luminosa e azul que transverberava esse grande coração de lutador, mas todo feito para amar e ser amado"(Tristão de Athayde). Eis o mistério! "Como mistério foi o Brasil por ele amado como se ama uma criatura humana. Como mistério foi essa Igreja que ele defendia com um revólver à cinta como certa feita respondeu a Afrânio Peixoto que se surpreendera de ver-lhe no bolso uma arma de fogo. "Para que?" Para defendê-la!"