sexta-feira, 19 de novembro de 2010

A TÉCNICA PODE ELIMINAR A POBREZA?

"A resposta não é tão evidente como parece. Em 2004, KENTARO TOYAMA entusiasmou-se pelos TELECENTROS" indianos onde crianças aprendiam a usar um computador algumas horas por mês numa língua que não sabiam falar. Certos telecentros foram coroados de êxito. Um operador no sul da Índia explicou ter salvo a cultura do "GANBO", permitindo a um agricultor entrar em contato com um expert da universidade. Os fazendeiros quenianos aclamam a internet como a salvadora da cultura da batata. Kataro Toyama publicamente sustentou a ideia de um laptop por criança do país. Uma enquete comandada pela BBC revelou que 79% dos 25.000 adultos interrogados, provenientes sobretudo de países ricos, estavam de acordo com a afirmação "de que o acesso à internet deveria ser direito fundamental de todos os povos". Contudo, Kentaro Toyama reconhece que os sucessos são raros. Em 5 anos ele visitou 50 telecentros na Ásia e na África. Os seus operadores foram incapazes de ganhar a vida com a profissão, além se constatar que os serviços disponíveis eram irrisórios. Observadores universitários demonstraram por que a iniciativa dos telecentros não tinham dado resultado: quase sempre o conceito não estava adaptado ao contexto, não se conformava com as normas socio-culturais locais, não se levou em conta a carência local da rede elétrica, não houve bom relacionamento com as administrações locais, não se ofereceram serviços correspondentes às necessidades locais, etc. Numa palavra: a tecnologia magnifica as intenções e capacidade do homem. Ela não o substitui. Se há uma base de pessoas competentes, então uma tecnologia apropriada pode ampliar sua capacidade e produzir realizações espantosas. A chegada da internet num lugar não basta para transformá-lo. A tecnologia é uma lupa, porque seu impacto é multiplicador, mas no que concerne à mudança social nada acrescenta. No mundo desenvolvido há uma tendência em se ver a internet ou outra tecnologia como necessariamente aditiva, porque os contribuidores lhes agregam um valor positivo. A tecnologia produz frutos positivos na medida em que as pessoas estejam preparadas e capacitadas a utilizá-la de maneira positiva. Em suma: difundir uma tecnologia poderia funcionar de alguma sorte, se a tecnologia fosse mais para os pobres pouco escolarizados, se não fosse para os ricos, pois o inverso é o que ocorre: ela ajuda os ricos a se enriquecerem , pouco fazendo para os pobres, causando assim uma distância entre providos e desprovidos. Ademais, é preciso saber o que as pessoas querem fazer da tecnologia a que se dedicam. Constatou-se que os pobres não se precipitam sobre a internet para nela encontrar fontes educativas, adquirir práticas de saúde ou enriquecerem suas competências profissionais. Ao contrário, usam-na para se divertirem. Uma boa razão para se valorizar a educação consiste no fato de que ela gera o desejo e a capacidade de usar suas ferramentas modernas" ( Le Monde, 19/11/10).

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