quinta-feira, 18 de novembro de 2010

ELEGIA PARA UMA CIDADE

Caiu-me hoje nas mãos um artigo de Tristão de Athayde, publicado no JB há mais de 30 anos. Foi o desabafo de um apaixonado que sentia o objeto de seus encantos ir-se despindo a olhos vistos das nobres características que fizeram de Petrópolis uma das mais belas cidades do Brasil. Falou primeiro do perigo de querer ser, antes do tempo, uma cidade grande. A tentação de gigantismo roubava-lhe a juventude, impedindo-a de crescer devagar e para os lados, em qualidade e não em quantidade. E saudoso, invocava seu antigo professor de latim, o Padre Calleri, com quem na tranquilidade daquelas serras aprendera que não se deve procurar muitas coisas, mas apenas as que valem a pena ser procuradas: "non multa sed multum". Escrevia que "ver envelhecer, antes do tempo, essa pequena obra-prima da natureza e do sadio progresso urbanístico em que tantos passamos da meninice à calvície é um espetáculo realmente triste e deprimente". A essa tendência ao gigantismo, por ele apelidada de "espigonismo", surgiu em consequência outro tipo de crescimento , o urbano, que, se de um lado, contribuiu para a qualidade da vida e das construções, e na sua esteira, para a promocão das massas populares, haja vista a propagação da microindústria e do microcomércio, por outro lado a cidade se viu atacada pela peste do favelismo. A transformação dos morros em favelas, o que apressa o envelhecimento de Petrópolis. "É justamente para defender a prosperidade sadia de Petrópolis que a luta contra o "favelismo" se impõe, junto à luta contra o "espigonismo". E encerrando sua "Elegia para uma cidade", Tristão enfatizava que "o defloramento da cidade imperial não foi apenas a morte das hortêensias, mas acima de tudo o duplo assalto da especulação imobiliária e da iniquidade faveliana nos morros inabitáveis e nas enchentes mortíferas". E perorando: "Ó dias de Petrópolis, mais escuros que tuas noites sombrias. Ó noites de Petrópolis, mais claras que teus dias luminosos!".

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