sexta-feira, 12 de novembro de 2010

PÓ COM VENTO, PÓ SEM VENTO

Em que nos distinguimos os VIVOS dos MORTOS? Os MORTOS são pó, e nós também somos pó. Distinguimo-nos os VIVOS dos MORTOS, assim como se distingue o PÓ do PÓ. Os VIVOS são PÓ levantado, os MORTOS são PÓ caído. Os VIVOS são PÓ que anda, os MORTOS são pó que jaz. Estão estas praças no verão cobertas de pó. Dá um pé de vento, levanta-se o pó no ar, e que faz? O que fazem os vivos e muito vivos! Não aquieta o PÓ, nem pode estar quieto: anda, corre, voa, entra por esta rua, sai por aquela, já vai adiante, já torna atrás. Tudo enche, tudo cobre, tudo envolve, tudo perturba, tudo toma, tudo cega, tudo penetra, em tudo e por tudo se mete, sem aquietar nem sossegar um momento, enquanto o vento dura. Acalmou o vento, cai o PÖ, e onde o vento parou, ali fica: ou dentro de casa, ou na rua, ou em cima de um telhado, ou no mar, ou no rio, ou no monte, ou na campanha. Não é assim? Assim é. E que PÓ, e que VENTO é este? O PÓ somos NÓS, o VENTO é a nossa VIDA. Deu o vento, levantou-se o pó. Parou o vento, caiu o pó. Deu o vento, eis o pó levantado: estes são os VIVOS. Parou o vento, eis o pó caído: estes são os MORTOS. Os VIVOS PÓ. Os MORTOS PÓ. Os Vivos PÓ levantado. Os mortos PÓ Caído. Os VIVOS pó COM VENTO e por isto VÃOS. Os MORTOS PÓ sem VENTO, e por isto SEM VAIDADE. Esta é a DISTINÇÃO, e não há outra! ( Sermão de Cinza, Padre Antônio Vieira).

Nenhum comentário:

Postar um comentário