terça-feira, 29 de abril de 2014

HÁ   100  ANOS  NASCEU  CARLOS LACERDA

Carioca, CARLOS FREDERICO  WERNECK  de LACERDA  nasceu no Rio de Janeiro no dia 30/04/1914. Sua família, seus amigos, seus admiradores, todos aqueles que lhe sufragaram o nome, a coragem, a inteligência, por algumas vezes na boca da urna, um primeiro pensamento hoje lhes desperta o espírito, exclamando numa misteriosa solidão: CEM ANOS   da presença de CARLOS  LACERDA, trinta e sete de sua ausência! Na FOLHA de SÃO PAULO de ontem, 29/04, o colunista Carlos Heitor Cony pergunta: "Onde está a verdade?"e recorda que, "no auge da Guerra Fria os EUA temiam que uma reviravolta derrubasse, no Brasil,  a ditadura militar, então ameaçada por uma nova Frente Ampla, formada por JK, Jango e Lacerda. E que em 04/06/1976 o jornalista inglês Richard Gott escrevera  estar em curso coisa semelhante à operação Fênix, programa de assassinatos de lideranças internacionais, capazes de agrupar o povo em uma campanha de resistência contra os militares no poder. Artigo este publicado dias depois do sequestro e assassinato do ex-presidente boliviano Juan José Torres, deposto por um golpe militar e exilado na Argentina. Dois meses depois na Dutra morria Juscelino Kubitschek, 22/o8/1976; e poucos meses depois era a vez do ex-presidente João Goulart, dezembro de 1976,  na Argentina,  e cinco meses mais tarde, em maio de 1977, falecia  CARLOS  LACERDA. E perguntamos nós  também: "ONDE  ESTÁ   A   VERDADE?"
POR  QUE  É   CARIOCA   QUEM   NASCE   NO   RIO?

Um dos mais importantes brasileiros, nascido no dia 12/12/1883, ALCEU AMOROSO LIMA, costumava dizer que era tão carioca que nascera à beira do RIO CARIOCA. Em entrevista ("Memorando dos 90", Francisco de Assis Barbosa) nosso "imortal" conta que num folhetim antigo historiando a construção da igreja da Glória, do Largo do Machado, tomara ciência de que em 1780 TIRADENTES obtivera licença de navegação no RIO CARIOCA! Mas o progresso resolveu cobri-lo, permitindo, contudo, que nosso Mestre Tristão nascesse ainda na parte descoberta que terminava na Rua Ipiranga. Daí considerar-se ele um construtor de pontes, "procurando o que possa ligar os homens a Deus ou entre si". Nascido na Casa Azul, para alcançar a Rua Cosme Velho, só atravessando a ponte podia atingi-la. Adulto, morando em Petrópolis, na Mosela, para entrar em casa tinha que atravessar uma ponte. Finalmente, num momento de inspiração desejando morrer ao lado de um rio, só o conseguiu atravessando duas pontes: aquela que o deixara em casa na Mosela e logo depois a de  que se despediria, internando-se no Hospital Santa Tereza, em Petrópolis (1983),  quando o Pai o chamou (15/08/1983). Revelara ainda que seu pai morara na rua do Catete e estudante em Botafogo, indo de diligência pela praça José de Alencar, atravessava o Rio Carioca, descoberto ainda "in illo tempore",  na Rua Barão do Flamengo.  Encerrando a história do Rio Carioca, disse que parte dele descia pela rua Laranjeiras até o Oceano Atlântico e a outra parte ia para o Largo da Carioca, que assim se chamou por causa  desse rio. O vocábulo "CARIOCA" vem de cari+oca=casa de branco, por ser o lugar onde se guardava água nos tempos coloniais. Por ser sua água muito pura, era conservada em grandes talhas de pedra. O Rio Carioca nasce na Floresta da Tijuca e, depois de percorrer os bairros de Cosme Velho, Laranjeiras, Flamengo e Catete, desagua na Praia do Flamengo.

domingo, 27 de abril de 2014

MESTRES   OZANAM   e   GUSTAVO   CORÇÃO

"FREDERICO  OZANAM (1813-1853),  antes de 10 ou 12 papas falarem, antes da Rerum Novarum, da Quadragésimo Anno, da Divini Redemptoris, antes da perseguição religiosa na Rússia, no México e na Espanha, antes do Pacto Germano-Soviético, da opressão das nações cativas e da infiltração  que desonrou tantas instituições católicas, antes dos majestosos ensinamentos da Igreja e dos humilhantes ensinamentos do mundo, FREDERICO OZANAM viu os irredutíveis erros e a malignidade intrínseca do SOCIALISMO.  E melhor que qualquer socialista ele conheceu de perto a pobreza, conheceu a dor da pobreza, a miséria, a leucemia do pobre, e a outra doença social que transforma em fantasmas exangues mal nutridos e mal encarnados, os construtores de uma orgulhosa civilização. Melhor do que os socialistas deformados na escola do materialismo inumano, sentiu a gravidade das injustiças cometidas contra os pobres, contra os pequeninos, e percebeu com o sentimento, com a razão e com a FÉ,  que, entre os vários modos que o orgulho humano inventou para ofender a majestade de DEUS, tem particular gravidade esse modo  com que o homem ofende a humildade do presepe onde nasceu JESUS. E sabe que essa gravíssima ofensa feita a CRISTO no seu doce advento de misericórdia há de ser cobrada e há de ser  paga no seu terrível advento da JUSTIÇA: "O  QUE  FIZESTES  AO  MÍNIMO   DE  VÓS, A  MIM    O   FIZESTES"("O SÉCULO  DO  NADA", GUSTAVO CORÇÃO).

quinta-feira, 17 de abril de 2014

132  ANOS   SEM   GETÚLIO   VARGAS

O  nosso  GEGÊ nasceu  em São Borja, Rio Grande do Sul, dia 19/04/1882. Advogado, foi eleito três vezes deputado estadual. Uma vez deputado federal. Governador de seu estado natal. Ministro das Finanças e presidente da república conquistada à frente da Revolução de 30. Em 1934 foi-lhe entregue o texto da Constituição Federal, enfim promulgada sob a pressão da Revolução de 32. Ao recebê-la, não deixou de declarar:  voltará em breve aos destinatários. De fato, em 10/11/1937 Getúlio criou o ESTADO NOVO que os ventos da vitória dos aliados da Segunda Guerra Mundial cuidaram de enterrar no dia 28/10/1945. No final da presidência do General Gaspar Dutra as urnas colocam novamente Getúlio Vargas no palácio do Catete. No dia 24/o8/1954, sentindo-se traído  pelos amigos, suicidou-se no Palácio do Catete, não sem ter se esquecido de legar ao país uma lista  de obras pelo progresso da pátria. Uma delas, nascida do entusiasmo da população aos gritos de "O Petróleo é Nosso", constitui a PETROBRÁS, tão firme como o nosso "Pão de Açúcar". 

terça-feira, 15 de abril de 2014

NOS ESTADOS  UNIDOS  ALUNOS   CHINESES   NAS   ESCOLAS  CATÓLICAS 

 Nos Estados Unidos escolas católicas  estão atraindo filhos de magnatas imobiliários, executivos de empresas enérgéticas e funcionários CHINESES. Para isto estão criando páginas na internet e produzindo folhetos em chinês com fotos de seus alunos loiros em esportes, se divertindo ao lado de colegas chineses sorridentes e felizes, tudo espalhado na China. No Colégio DePaul, 39 dos 628 alunos são chineses. Têm à disposição aulas de teologia, podem participar das cerimônias da Igreja, estudar teologia. Há 60 estudantes, a maioria chineses,  no colégio católico Melbourne Central em Cabo Canaveral, Flórida, quase 10% católicos. Claro que não se exige a conversão dos alunos ao catolicismo. Os pais chineses ricos não visam tanto proporcionar aos filhos uma educação católica quanto uma educação que os prepare para o ingresso em universidades americanas. O jovem Jiacheng Wang, da escola John Kennedy, disse que deixou a China  para ali obter uma formação  completa em artes e ciências. Declarou que sua matrícula  ali não se baseou na religiosidade da escola, mas que atualmente sente que as orações na escola o acalmam bastante. Que hoje se sente mais ou menos cristão, pelo menos 50%. E que começou a acreditar nessa história de Deus! Diz que gostou de aprender na doutrina da Igreja que "se deve fazer o bem e evitar o mal!" Mas que pretende continuar ateu. Mesmo assim, hoje em dia reza  de vez em quando. "Obrigado, Deus, por este lindo dia!"murmura (Folha de São Paulo, The New York Times International Weekly, 15/04/14).  

sábado, 12 de abril de 2014

MINEIRA   VEREADORA   EM   PARIS

No subúrbio de Paris a  cidade  de Saint-Denis teve o seu destino político de novo ligado ao de uma militante comunista mineira, de Belo Horizonte, SÍLVIA  CAPANEMA  PEREIRA  de ALMEIDA, 34 ANOS, grávida de sete meses. Jornalista, concluiu o curso de doutorado em história, defendendo  uma tese sobre a Revolta da Chibata, cujo centenário se comemorou em 2010. Professora na Universidade de Paris, filiou-se ao Partido Comunista Francês (PCF) depois de sua naturalização.  Conquistou nas urnas a honra de ser a mais nova vereadora e a primeira mulher brasileira eleita no exterior. Sua posse ocorreu no dia 09/04/14. Como política , engajada na associação de desenvolvimento comunitário de seu bairro, pretende dedicar-se ao movimento em favor dos emigrantes e das classes de pouca renda. Desprendida e como originária de um estado brasileiro  cujos habitantes  primam pela virtude da solidariedade, embora pense o contrário um coestaduano seu que escreveu, salvo melhor juízo, que "mineiro só é solidário no câncer",  SÍLVIA  abriu mão de um justo salário, contentando-se apenas com uma ajuda de custo de R$697,00. Lembra-me um pouco o que a lei brasileira, no tempo da ditadura de 64, prescrevia: vereadores de cidades com direito apenas a nove vereadores não  tinham direito a remuneração. Verdade é, contudo, que, recuperado o país o estado de direito, a maioria dos vereadores, conforme regras estabelecidas, recuperaram os "atrasados" (?). Atualmente no Brasil o cargo de vereador é remunerado.

quinta-feira, 10 de abril de 2014

A  PAIXÃO  DE   JESUS   CRISTO

Palavras de S. VICENTE de  PAULO À SUA COMUNIDADE  no dia 28/03/1659:

"Se o Filho de Deus no seu trato diário parecia tão  bom, na sua Paixão fez brilhar ainda mais a sua mansidão. Foi a ponto de não lhe escapar palavra alguma de censura contra os deicidas que o cobriam de injúrias  e escarros e zombavam de suas dores. "Meu amigo", disse a Judas que o entregava a seus inimigos. Oh! que amigo! Ele o via vindo a cem passos... o tinha visto todos os dias, desde sua concepção, e vai ao seu encontro com esta suave palavra "Meu amigo". Ele tratou todos os outros do mesmo modo: "Quem estais procurando? Eis-me aqui!"Encontraremos atos prodigiosos de mansidão  que superam o entendimento humano?  consideremos como conservou essa mansidão em todo lugar. É coroado, carregado com sua cruz, estendido em cima dela. Fazem-lhe entrar  os pregos à força em seus pés e em suas mãos. Levantam-no e deixam cair sua cruz com violência no buraco que lhe haviam preparado. Enfim, tratam-no o mais cruelmente possível, ficando bem longe de tratá-lo com alguma mansidão em tudo isso. O que ele diz na cruz?  Cinco palavras onde não há uma só que seja de impaciência. Ele diz, é verdade: "Eli  Eli, meu Pai, meu Pai, por que me abandonaste? Mas não é uma queixa, é uma expressão da natureza sofredora que padece no último grau sem consolação alguma; a isso a parte superior de sua alma aquiesce com mansidão; senão, tendo o poder de derrubar aqueles canalhas e de acabar com todos eles para se livrar de suas mãos, tê-lo-ia feito, mas não o fez! Ó Jesus, meu Deus! Que exemplo para nós que decidimos vos imitar! Que lição para aqueles que não querem sofrer nada!"

quarta-feira, 9 de abril de 2014

O   JESUÍTA   SÃO   JOSÉ   de   ANCHIETA

"Nem mais a espada e bomba pavorosa / Se ouvirá na marinha e sertão vasto. / A voz só do Evangelho poderosa / Simples, sem artifício... (CARAMURU, VIII,76).

Sem dúvida a Companhia de Jesus, os Jesuítas,  foi o elemento moral responsável pela formação moral dos índios, que  habitavam nosso país desde seu descobrimento. Com estilo e justiça  bem os cantou em verso o nosso poeta dos escravos, Castro Alves, quando escreveu: "O navio maltês, do Lácio a vela, / A lusa nau, as quinas de Castela, / Do holndês a galé, / Levavam sem saber ao mundo inteiro / Os vândalos sublimes do Cordeiro, / Os átilas da Fé".  Entre os sacerdotes que aqui aportaram com Tomé de Sousa e Duarte da Costa dois sobremodo se distinguiram: Nóbrega e JOSÉ DE ANCHIETA, o taumaturgo, assim já então apelidado pelos verdadeiros milagres que operava. Brasileiro, podemos considerá-lo, porque aqui se completou e amadureceu a flor e o fruto de sua inteligência. Dos 63 anos da sua vida 42 viveu-os sob o céu brasileiro. Primeiro mestre da língua tupi, foi também mestre da língua portuguesa. Foi além do mais o diplomata nas guerras. O médico que aprendeu dos índios a virtude das plantas, o enfermeiro dedicado. No seu tempo os jesuítas já possuiam três colégios e residências no Brasil, templos de virtude e de trabalho, onde a piedade pelo próximo era-lhes o primeiro dever. Que o bom Deus faça brotar na sua Igreja sacerdotes do espírito de São José de Anchieta, canonizado dia 03/04/14, o que, por certo, é a prece cotidiana do papa jesuíta argentino nosso vizinho FRANCISCO! ("História do Brasil"João Ribeiro).

segunda-feira, 7 de abril de 2014

"POEMA     À     VIRGEM"- Padre  JOSÉ  de  ANCHIETA

Durante o tempo de cativeiro, quando ficou refém dos índios tamoios, SÃO  JOSE  DE  ANCHIETA  compôs extenso poema dedicado a NOSSA  SENHORA, APROPRIADO  para meditação nestes dias que precedem a Semana Santa. Eis uma pequena amostra da obra literária do nosso santo :

Por que ao profundo sono, alma, tu te abandonas,
e em pesado dormir, tu fundo assim ressonas?
não te move a aflição dessa Mãe toda em pranto,
que a morte tão cruel do Filho chora tanto?

Se o não sabes, a Mãe dolorosa reclama
para si quanto vês sofrer ao Filho que ama.
Pois quanto  Ele aguentou em seu corpo desfeito, tanto suporta a Mãe no compassivo peito!

Mas a fruta preciosa, em teu seio nascida,
à própria boa Mãe dá para sempre a vida,
e a seus filhos de amor que morreram na rega
do primeiro veneno, a ti os ergue e  entrega.

Sucumbiu teu JESUS trapassado de chagas,
Ele, o fulgor e a glória, a luz em que divagas.
Quantas chagas sofreu, doutras tantas te dóis:
era uma só e a mesma a vida de vós dois!

Ó morada de paz! sempre viva cisterna
da torrente que jorra até a vida eterna!
Esta ferida, ó Mãe, só se abriu em teu peito:
quem a sofre és tu só, só tu lhe tens direito.
MAU   PEDAÇO   NA   VIDA   DE   ANCHIETA

O biógrafo de Anchieta e Nóbrega, SIMÃO DE VASCONCELOS, relata que, certa feita foram os dois feitos prisioneiros de índios ferozes em Iperoig. Ficaram reféns num ambiente ultra sórdido moralmente. Para conservar a castidade, Anchieta refugiou-se na literatura, não lhe tendo bastado o azorrague para amansar o instinto carnal. Donde principiar, metrificando, um poema a Nossa Senhora, contando as sílabas, cansando a memória para guardar os versos, como quem cansa com carga pesada um animal. De dia garatujava na praia a versalhada, de noite, em casa, ia se lembrando do que tinha escrito, polindo, trocando um dístico, melhorando o ritmo, como se depois a Virgem  fosse contar as sílabas, examinar a métrica e conceder-lhe prêmio de literatura.  A Senhora foi anotando o sacrifício de seu poeta, inspirando-lhe novas imagens para compor um a-b-cê de louvores, narrando a vida da Mãe de Deus. O poema crescia na proporção em que os pensamentos impuros se dissipavam. O poema elegíaco deu 4.310 versos. O martírio de Anchieta fazia-o recordar os dois primeiros dias passados em Piratininga sem dormir por ocupar o dia inteiro nas obrigações do ofício, na conversão dos índios. Quantas vezes, ao romper da manhã, acharam Anchieta com a pena na mão! Um dia Anchieta, saudoso do colégio e dos coirmãos solicitou a Cunhambeba obtivesse dos guerreiros da  tribo sua devolução à vila. O mulherio como não pudesse  devorar o padre, queimou os santos do oratório, gritando, puxando os cabelos, praguejando possessas. No dia da exaltação da Santa Cruz, Anchieta numa grande canoa foi-se embora afinal. A 21/09/ a recepção de Anchieta  no colégio nem se fala a festa que houve. Nóbrega andava leso de alegria, feito piá (criança) ouvindo a história encantada de Anchieta.

domingo, 6 de abril de 2014

O   NOVIÇO   JOSÉ  de ANCHIETA   CHEGA   AO   BRASIL

JOSÉ de ANCHIETA era o terceiro de 10 irmãos. Quase todos se conservaram celibatários. De tara guerreira,  porisso escolheu a Companhia de Jesus, fundada por gente de seu sangue e de sua terra. De constituição física voltada à guerra corporal, teve de acréscimo  a valentia hereditária. No Brasil nunca  lhe faltaram inimigos  dentro e fora de si. Dentro de si, uma deformação na espinha, efeito de um choque numa escada, além de certa debilidade  orgânica. Fora de si a companhia da indiaria, o clima dos trópicos, as epidemias, as feras, os bichos, o diabo. No país o clero corrompido, o colono depravado, o selvagen feroz, a heresia. Apesar de estatura medíocre, cor trigueira, diminuto de carnes,  trazia dentro os guerreiros de sua cidade basca.  Num vai-vem  constante entre Bahia, São Vicente, Espírito Santo e Piratininga, entendia de navegação, atendia ao leme. Em terra, tinha planos inteligentes  para defender São Vicente. A pedido de Mem de Sá, socorre a Guanabara, levando na esquadrilha além do Padre Gonçalo de Oliveira 300 homens entre aborígenes e mamelucos. "Tinha tal alma e tal suavidade de  espírito  que o apelidaram  de Canário, por alusão a este pássaro que deu o nome às ilhas, ou vice-versa,  pois pela  melodia de seu canto e pela estima de que gozava,  levaram-no a  ter feito da música a sedução da catequese, pedagogia e louvor a Jesus Cristo, sempre entremeando religião com com cantoria nos templos e nos autos morais e devotos dos pátios  de igrejas, em palcos enfeitados de bandeirinhas, iguaizinhos aos dos milagres musicados da Idade Média.  Antes de vir para o Brasil inscrevera-se  no Colégio dos Jesuítas de Coimbra, aos 17 anos. Devido àquela queda de uma escada  sobre os rins,  "a espinha se curvou, aleijando-lhe feiamente o corpo". Noviço, receiou não poder continuar na Companhia. Adivinhando-lhe esse sofrimento, o padre-mestre Simão  lhe disse: " Deixai esse cuidado, porque Deus vos não quer com maior saúde". Parece que por causa dessa pouca saúde, mandaram-no ao Brasil que, se boa fama não tinha e outras coisas, tinha porém  dos bons ares para os quais os doutores o enviaram então". A 08/05/1553, com o governador Duarte da Costa, veio ANCHIETA com outros missionários, servindo a bordo como ajudante de cozinheiro. E numa boa viagem  como se fazia naquela época em dois meses, do Reino à Bahia, a flotilha ancorou a 13 de lulho na Bahia ("ANCHIETA", Jorge de Lima).

sábado, 5 de abril de 2014

ANCHIETA   NO   COLÉGIO   SÃO   PAULO

Fundado o Colégio São Paulo, 25/01/1554, a instituição de tal modo cresceu que no dia de Todos os Santos (01/11) de 1556, com procissão, repiques, inúbias e maracás, estava inaugurada a nova igreja da comunidade. A economia  da organização, porém, era um apertume. Os jesuítas eram pobríssimos, inventavam para viver ofícios mecânicos, e nas horas de descanso faziam  rosários de pau, alpercatas de corda por não haver sapatos que repartiam com os homens do povo. Uns eram carpinteiros, outros torneiros,  ou funileiros em cujos ofícios ganhavam para sustento da vida. Vivendo explorando o "trabalho  do irmão ferreiro Mateus Nogueira que por consertar as ferramentas dos índios lhes davam de seus mantimentos. E os padres, conservando o bom humor natural do gentio, fazendo da catequese um brinquedo, combatiam a embriaguêz quebrando talhas de vinho selvagem. Às sextas uma procissão com música e cantoria arregimentavam pacificamente o selvagem acostumado a juntar-se  sob o chamamento do ódio guerreiro. A reforma estendendo-se à família que o missionário ia tornar monógama, nos dá a ideia da força mole e insinuante que os padres arranjaram para transformar hábitos e manhas de pessoas nas quais o raciocínio era infantil. A tudo SÃO JOSÉ DE ANCHIETA  vencia: ganâncias comerciais em torno do escambo do pau-brasil, hereges, cabotinos, selvagens, colonos, escravistas, cansaço, fome, moléstias e a própria carne de peninsular. Foi quando o branco começou a ver no apóstolo o taumaturgo. Enquanto o índio enxergava só feiticeiros nos missionários, muitos se rendiam para o bem com medo do mal que o Santo poderia fazer. O índio via no missionário o mais poderoso dos mágicos. ANCHIETA era mesmo o grande PIAHY, o supremo pajé branco. Como o silvícola feiticeiro era o representante dos espíritos tenebrosos "aparecia em todos os lugares, sabia a língua de todos os entes, vencia todos os estorvos, curava os doentes" (Capistrano). Vendo o colono feroz aprisionando o gentio como uma besta de carga, o jesuíta encara-o diversamente,  vendo nele a criança grande, retirando-o da jurisdição da Inquisição que podia agir  sobre cristãos conscientes". Esta menoridade do gentio o jesuíta respeitava como se protege hoje  um asilo de meninos órfãos. Roquete Pinto, espelhando-se em Anchieta, disse que "a nação deve ampará-los e mesmo sustentá-los, assim como aceita sem relutância  o ônus da manutenção dos menores abandonados ou indigentes, dos enfermos e dos loucos. Aliás, temos para com os índios a grande dívida, contraída desde os tempos dos nossos maiores que foram invadindo seu território, devassando sua caça, furtando o mel das suas matas, como ainda agora nós mesmos o fazemos".

sexta-feira, 4 de abril de 2014

A  SANTIDADE   DE  NOSSO   TERCEIRO  SANTO   BRASILEIRO,   PADRE   JOSÉ   DE   ANCHIETA

   NÓBREGA foi o primeiro jesuíta a pôr os pés no Brasil. Esse apóstolo deixara a lição: começar proveitosa catequese atraindo os meninos, e por via destes  chegariam aos mais velhos. Tudo naquela terra menina era menino também.  Devia lançar-se a rede a todo peixe.  O jesuíta tinha um só fito: o apossamento da alma sem dono. Era apossar-se primeiro daquela terra humana, daquele barro selvagem, lançar a cerca. Seduzir o indígena antes de convertê-lo com o selo do batismo e da confissão. Depois, com o amanho da terra, se veria se a terra era fértil mesmo.  Para a conquista recorria-se a tudo: aplicava-se mezinha, lancetavam-se abcessos, pensavam-se feridas.  ANCHIETA escreveu, em 1553: "Neste tempo em que estive em Piratininga servi de médico e barbeiro, curando e sangrando a muitos daqueles índios, dos quais viveram alguns de quem não se esperava vida.  Ele esperava que o indiozinho fosse saindo à luz, do ventre materno, para batizá-lo. Em 1553 haviam chegado aos campos de Piratininga outros sete jesúitas. O IRMÃO  ESCOLÁSTICO (não era padre ainda) vinha no grupo. Sendo Nóbrega elevado a Provincial fundou novo colégio em Piratininga dirigido por nove jesuítas. Seguiu com esta gente, NOMEADO MESTRE-ESCOLA, o irmão José de Anchieta. Já era uma melhoria para quem fora simples cozinheiro a bordo. A 25 de janeiro  do ano de 1554   CELEBROU-SE A PRIMEIRA MISSA da fundação.  Era dia da conversão de São Paulo, "sendo único de quem a Igreja escolhe para festejar um simples episódio da sua vida". Deram ao COLÉGIO o nome feliz do santo, mais tarde a feliz cidade de São Paulo. ANCHIETA conta em carta  a Santo Inácio de Loiola  que "às vezes  mais de 20 dos nossos se abrigavam numa barraquinha de caniço e barro, coberta de palha, 14 pés de comprimento, 10 de largura. É isto a escola, e a enfermaria, o dormitório, refeitório, cozinha, dispensa.  Não invejamos as mais espaçosas mansões que nossos irmãos habitam em outras partes, que Nosso Senhor Jesus Cristo ainda em mais apertado  lugar se viu,  quando foi de seu agrado nascer entre brutos numa mangedoura: e muito mais apertado quando se dignou morrer por nós na cruz!" ("ANCHIETA", por Jorge de Lima).

quarta-feira, 2 de abril de 2014

SÃO   JOSÉ   DE   ANCHIETA  (1534-1597)


"No quarto centenário de nascimento de JOSÉ  DE  ANCHIETA (15/03/1534) publicou-se a biografia do V.P. José de Anchieta, dirigida por Tristão de Athayde, assinada por JORGE DE LIMA. Quero dizer: tendo tais nomes no frontispício não pode deixar de ser obra de espírito católico e também de valor. PADRE SERAFIM LEITE, S.J.

"Era num domingo bonito, 09/06/1597. Quarenta e quatro anos de ação no Brasil, viajando de todos os jeitos, de canoa, de galeão, a pé, dentro de redes, em cima de selas e cangalhas. A ÚLTIMA  VIAGEM  IA  SER DE 18 LÉGUAS NUM  ATAÚDE,  DE  RIRITIBA  À  VILA DO ESPÍRITO  SANTO. Botaram o cadáver numa caixa de cedro, levaram nos ombros. Levinho, levinho. Não achavam nenhum peso no corpo do santo apóstolo. Padre João Fernandes ia na frente, de alva e estola e acompanhando o ataúde chorava  baixinho uma multidão de gente, curumis, morubixabas, mulheres, tudo, tudo.  No meio do caminho veio padre Soares, se incorporou no cortejo ajudando o canto fúnebre.  Entraram na vila e já parecia que levavam um andor. Depositaram o corpo na igreja da Companhia. No dia seguinte foi celebrada missa cantada, pregando mesmo  o administrador, o qual proclamou em José de Anchieta o Apóstolo do Brasil. Porém  quando se abriu o ataúde, verificou o superior que não havia podridão. A satisfação do povo à vista do fenômeno pagava a tristeza do luto. São José de Anchieta!"(Fim de "Anchieta", Jorge de Lima).

terça-feira, 1 de abril de 2014

GUSTAVO   CORÇÃO   SAIU   DO   SÉRIO!

Naquele sábado de chuva eu fui poeta porque Manoel  Bandeira me emprestou seu coração. Tirei um dia do ano, que nem sequer é bisexto,  e deixei-me ter uma saudade imensa do poeta  que não fui.  Os poetas existem para emprestar voz aos que o não foram, ou talvez embalsamaram o mais vivo de si mesmos.  Ah! eu também tive um porquinho da índia, só que tem que era  um pintinho amarelo. No mais... Não sei, Manoel Bandeira, se alguma vez, nas vezes das Marias, das Terezas, você encontrou quem lhe dissesse estar coprometida. Digo-lhe hoje eu. Chego a ter , Deus me perdoe,  inveja de sua graciosa liberdade, inveja de não poder desatar o prisioneiro que trago. Sou hoje militante. Engajado. Comprometido. Com sete deveres de estado e com um noivado no céu.  Ousarei confessar-lhe, ó poeta, que não morreu ainda o poeta menos-do-que-menor que não fui? Muita vez vou visitá-lo às escondidas, como um Nicodemos, e de nossas confabulações trago o pouco que põe vida e calor nas obras de meus compromissos, dos sete  deveres de estado. E é só essa poesia  segunda, essa poesia de avental, subalterna, engajada, que tenho posto a serviço de meu ciumento senhor.  Não posso mais desatar a mordaça do doido que quer dançar e cantar. O pouco que concedi naquele sábado  de chuva trouxe-me um cerco de meninas flores que roubo ao poeta para uma diferente serventia: Pálidas meninas Sem olhar de pai, Ai quem vos dissera, Ai quem vos gritara: Anjos, debandai! Nem todas debandaram. Uma flor de poesia renitente conservou-se ao pé de mim. Maria de Sonho ou Tereza Inventada, ficou junto de mim a me dar esquecimentos dos sete deveres de estado. Compus-lhe então uma ilha, e ríspido a despedi: Vai, filha! vai brincar! vai dançar descalça na areia, coa sombra de Annbell Lee... Enxotada a poesia, volto à prosa rimada da sucessão. Etelvino ou Juscelino?  Tão Brasil!" (Maio, 1955: DEZ ANOS, Gustavo Corção).