sexta-feira, 17 de abril de 2015

MÉRTON   ESCREVE   A   TRISTÃO

O Livro "SEMENTES DE DESTRUIÇÃO", de Thomas Mérton, publicado em 1964, contém extensa carta de nosso monge trapista em resposta à que lhe enviara o nosso mestre Alceu. Eis como começa: "Foi um grande prazer receber sua carta. Antes de mais nada, não precisa se desculpar por ter-me escrito em português. Gosto muito de ler o Português, embora não me seja possível escrevê-lo corretamente.  É uma língua que aprecio muito, aconchegante e luminosa, uma das línguas mais humanas que conheço. É muito expressiva e até, de certo modo, um tanto inocente. Talvez esteja dizendo isso subjetivamente, sem ter lido tudo que pudesse esclarecer-me, sob outros ângulos. Mas parece-me que ao Português ainda não chegaram alguns barbarismos, como há no Alemão, no Inglês, no Francês ou no Espanhol. Também gosto muito dos Brasileiros. Estou sempre desejando  traduzir Jorge de Lima. Possuo os poemas de Manuel Bandeira e de Carlos Drumond de Anadrade e de vários outros poetas. Gosto de todos eles e os leio todos. Agora vamos ao assunto de sua carta. Acho muito importante trocarmos ideias de vez em quando. Estamos num  momento crucial  e mesmo calamitoso da história, um momento em que a razão e a compreensão estão ameaçadas de serem destruídas, ainda que o homem consiga sobrevier. É muito bom que eu medite estas coisas aqui, abrigado no meu mosteiro. Mas há momentos em que  mesmo este meu abrigo me decepciona um pouco. Hoje em dia tudo decepciona. E sementes de erros plantadas numa estufa bem protegida podem tornar-se gigantescas árvores mortíferas. Tudo sadio, tudo correto, tudo santificado:  se nós pudermos encontrar estas três coisas, elas deverão ser realçadas e vivificadas. Mas para isso é preciso que exista uma comunicação genuína e profunda nos corações e nas mentes dos homens" (na próxima postagem o final da carta).

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