domingo, 18 de outubro de 2009

Curiosidade

Ontem, sábado, fui à missa na igreja do Colégio Santo Inácio. Aprecio o estilo do atual encarregado dessa capela. Lembra-me o Padre Sílvio Batista Martins, lazarista: pela cor, pelo físico, pelos modos mais comedidos de gesticular, pela simpatia e simplicidade no contato com o auditório. Os frequentadores me parecem satisfeitos, a frequência cresceu. Introduziu o costume dos pastores evangélicos: posta-se à porta do templo no final da missa e vai cumprimentando os que saem. Confesso que não aderi a tal ritual importado, bem como ao costume pós-vaticanista segundo de os fiéis se cumprimentarem por ocasião da PAZ , antes da distribuição da eucaristia. Léa Maria me contou que, quando esteve na Polônia, participou da celebração eucarística numa igreja católica. No momento chamado "da Paz" os fiéis longe de perturbarem  o ambiente com apertos de mãos e com sinais outros, com sorrisos e palavras e abraços e até deslocamentos de bancos, como se vê no Brasil, desde que não haja gripe suína, apenas movimentam levemente a cabeça em direção ao vizinho da direita e da esquerda, pronunciando baixinho a saudação: "A paz esteja contigo!" Ontem, porém, na missa eu me diverti um pouco, depois da comunhão,  face à cena vivida no altar com a participação do celebrante e de três ministros da eucaristia. Durante cerca de 5 minutos, os 4 nos proporcionaram um mini-balet silencioso, religioso e sério através de uma múltipla permuta de posições, de lugares, de movimentos e de ações recíprocas que chamariam a atenção de um estranho que o reparasse. Cálices eram levados à boca, ora de um ora de outro, todos cuidadosos de passar uma espécie de lenço (sanguíneo) na borda dos recipientes usados. De vez em quando alguém derramava água nos vasos e o movimento  de novo se repetia. De repente todos sossegaram e reparei que o ministro da eucaristia mais idoso se demorara bastante a sorver o conteúdo do seu cálice! E a missa prosseguiu. A cena facilmente se explica. Quando o sacerdote consagra o pão e o vinho em virtude do poder que Cristo lhe outorgou pela ordenação, sob as espécies do pão e do vinho a substância  do Corpo e do Sangue de Cristo está realmente presente no lugar das substâncias naturais correspondentes a essas espécies de pão e de vinho,  e permanece presente  verdadeiramente, realmente e essencialmente, durante todo o tempo em que permanecerem aquelas espécies, inteira e indivisível (a substância) sob cada uma das espécies como em cada uma de suas partes. Daí ter o celebrante, depois da consagração do pão e do vinho, pronunciado as palavras: "Mistério da Fé!" E então por que aquela cena no altar? Simplesmente porque, tratando-se do vinho consagrado, isto é, do sangue de Cristo, não podendo as espécies do vinho se conservarem por longo tempo, daí a prudência de não se guardar o sangue de Cristo no sacrário.  Os cálices, continentes do sangue de Cristo, uma vez sacramentalmente bebido o seu conteúdo, isto é, o sangue de Cristo, devem ser purificados por meio de água e enxugados por meio do sanguíneo, para que gota alguma do sangue de Cristo neles permaneça.

Um comentário:

  1. Caro Senhor Jair Barros, chegou às minhas mãos uma cópia do belíssimo texto do dia 18 de outubro. Resolvi então conhecê-lo virtualmente e apreciar seu blog. Meu nome é padre Adilson, sou jesuíta e prefeito da Igreja Santo Inácio. Estamos vivendo uma nova fase nesta Igreja, aliás, tentando seguir o que nos pediu o Concílio do Vaticano II. Neste concílio nos foi pedido que estivéssemos atentos ao papel dos leigos na comunidade.Liturgia é isso mesmo, um seguimento de gestos, movimentos e ações. Estamos engatinhando, aprendendo. O cumprimento da paz ainda precisa ser melhor compreendido e assimulado, não é um intervalo na missa e nem tampouco um "recreio", onde as pessoas se saúdam aleatóriamente. Deveria ser simples, leve e direcionado apenas àqueles que estão ao nosso lado, sem conversas paralelas, sem delongas. Mas vamos aos poucos nos educando e aprendendo. Esta é minha primeira missão na Companhia de Jesus, pois tenho dois anos de ordenado e aqui, com o povo do Rio de Janeiro, comemorei meu primeiro e segundo ano de padre. Por isso digo que estou aprendendo a ser padre com esta comunidade. Meu caro, já estou escrevendo muito no espaço que era apenas pra ser um breve comentário. Agradeço seu belo texto, sua apreciação e lhe asseguro que estou aberto para esclarecimentos, dúvidas, e para aprender com este povo que Deus me deu para cuidar como Pastor.
    Um abraço fraterno,

    Pe. Adilson Ap. Silva, SJ

    ResponderExcluir