sábado, 12 de maio de 2012

PRECE A UMA MÃE

"Se alguém julgar que eu pequei, chorando uns breves minutos por minha mãe, agora sarado de minha sentimentalidade, derramo outra espécie de lágrimas. Manam de um espírito comovido pelos perigos que não a cercam mais, vivificada que foi em Cristo, ainda antes de sua libertação da carne: viveu de tal forma que o nome de Deus era louvado na sua fé e nos seus bons costumes. Não ouso dizer que desde o tempo em que Deus a regenerou pelo batismo, não caissem de sua boca algumas palavras opostas à lei divina. Esqueço um momento as boas ações de minha mãe, pelas quais dou graças a Deus, para lhe pedir perdão de suas faltas. Sei que ela praticou a misericórdia e perdoou de coração as ofensas contra ela cometidas. Que vossa misericórdia, Deus meu, supere a vossa justiça, pois são verdadeiras vossas palavras e prometestes misericórdia aos misericórdiosos. Sei que já fizestes o que vos suplico, mas desejo que aproveis esta oblação voluntária de minha boca. Perto do dia de sua morte, minha mãe não desejou que seu corpo fosse pomposamente sepultado, nem ungido com aromas, nem ambicionou um túmulo magnífico, nem se preocupou com tê-lo na pátria. Mostrou apenas que nos lembrássemos dela junto de vosso altar, onde nunca tinha faltado um só dia a render-vos homenagem. Que ela esteja em paz com o marido, já que, anteriormente ou posteriormente à sua união com ele, com ninguém mais se desposou. Serviu-o com paciência, alcançando méritos para tembém o ganhar para vós. Inspirai aos vossos servos a quem sirvo pelo coração, pela voz e pela pena, inspirai a todos os que lerem estas páginas, que se lembrem, junto do altar, de MÔNICA, vossa serva, de PATRÍCIO, OUTRORA SEU ESPOSO, PELOS QUAIS ME INTRODUZISTES NESTA VIDA. Que se lembrem com piedoso afeto dos que foram meus pais nesta vida transitória e meus irmãos em Vós, e na Igreja Católica, nossa Mãe, e meus concidadãos na eterna Jerusalém. Por esta suspira o vosso povo na sua peregrinação desde a partida até ao regresso. Assim, graças a estas CONFISSÕES, o desejo último de mina mãe será mais copiosamente cumprido, com as orações de muitos, do que somente com as minhas" (do livro "CONFISSÕES', de Santo Agostinho (354/430), filho de Patrício e Santa Mônica, falecida quando voltava da Itália para a África, sua pátria).

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