domingo, 22 de fevereiro de 2015

REFLEXÕES  PARA  A   SEGUNDA SEMANA   DA QUARESMA  NA  VISÃO  DE  MÉRTON

A VIDA nada mais é, ou não deveria ser outra coisa senão uma luta à procura da VERDADE! Mas, na realidade, a verdade que procuramos é a VERDADE que já temos! Que carregamos conosco! Que é minha já, na realidade da vida, assim como me é dada a viver! Mas... atenção!  Receber a vida estouvadamente, passivamente tal como nos chega, é RENUNCIAR  À  LUTA e à PURIFICAÇÃO  necessárias. Não se pode simplesmente abrir os olhos e ver! O trabalho de COMPREENDER envolve não somente a dialética, mas um longo trabalho de aceitação, de obediência, de liberdade e amor. A tentação da vida de um monge, por exemplo,  consiste na fuga dessa  austera responsabilidade, caindo-se numa indiferença passiva, num ressentimento ligeiramente velado, disfarçado em obediência e abandono (um deixar ficar). Uma vez que de fato não é preciso aceitar POSITIVAMENTE o que acontece, pode-se meramente permanecer em atitude resignada e negativa. Que outros tomem todas as decisões importantes, sim, mas a decisão mais importante sempre recai sobre mim, e, se tenho o hábito de nunca decidir, haveria certamente de fugir a ela.  A decisão básica de  aceitar a minha própria vida e obedecer às suas exigências pode desafiar a compreensão  dessas exigências e minha honestidade em relação a elas! A pior tentação  e à qual muitos monges  cedo sucumbem  na vida e pela qual são vencidos consiste simplesmente em DESISTIR de indagar e PROCURAR. Deixar tudo aos superiores nesta vida e a Deus na outra - uma esperança que, em realidade,  pode nada mais ser que um desespero velado, uma recusa a viver. Ora, não é cristão desesperar do presente, adiando-se a esperança até o futuro. Existe também uma esperança muito essencial que pertence ao presente  e está na proximidade do Deus oculto e do seu Espírito no presente. Qual é o futuro que pode ter algum sentido sem esta esperança PRESENTE? A RESIGNAÇÃO não basta!  Deus exige de nós um consentimento criativo em nosso ser mais oculto e profundo. É o ser do qual não temos experiência diariamente, e talvez  não a tenhamos nunca. Contudo ela está sempre aí.  Esse CONSENTIMENTO  CRIATIVO  é a obediência de todo o meu ser à vontade de DEUS aqui e agora! A "palavra" interior de consentimento é a COINCIDENCIA, no Espírito, a IDENTIDADE de minha própria  obediência À VONTADE de Cristo. Tal é a profundidade  de nossa FILIAÇÃO e VIDA NA GRAÇA. Gradualmente aceitando nosso lugar no mundo e nossas tarefas, libertamo-nos das limitações de um ambiente restrito e sem calor, e vivemos contentes com o momento e com a tarefa obscura que nos cabe. Ser verdadeiramente católico é saber sobretudo penetrar nos problemas e nas alegrias de todos, sendo tudo para todos. O que supõe  tenhamo-NOS aceitado completa e honestamente com nossos poblemas e fracassos. Em suma, com o CONSENTIMENTO  criativo e a responsabilidade  que nos une à vontade de Deus  e assim ao dinamismo da história em sua própria fonte ("Reflexões de Um Espectador Culpado", Thomas  Mérton, pp. 212).

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