REFLEXÕES PARA A SEGUNDA SEMANA DA QUARESMA NA VISÃO DE MÉRTON
A VIDA nada mais é, ou não deveria ser outra coisa senão uma luta à procura da VERDADE! Mas, na realidade, a verdade que procuramos é a VERDADE que já temos! Que carregamos conosco! Que é minha já, na realidade da vida, assim como me é dada a viver! Mas... atenção! Receber a vida estouvadamente, passivamente tal como nos chega, é RENUNCIAR À LUTA e à PURIFICAÇÃO necessárias. Não se pode simplesmente abrir os olhos e ver! O trabalho de COMPREENDER envolve não somente a dialética, mas um longo trabalho de aceitação, de obediência, de liberdade e amor. A tentação da vida de um monge, por exemplo, consiste na fuga dessa austera responsabilidade, caindo-se numa indiferença passiva, num ressentimento ligeiramente velado, disfarçado em obediência e abandono (um deixar ficar). Uma vez que de fato não é preciso aceitar POSITIVAMENTE o que acontece, pode-se meramente permanecer em atitude resignada e negativa. Que outros tomem todas as decisões importantes, sim, mas a decisão mais importante sempre recai sobre mim, e, se tenho o hábito de nunca decidir, haveria certamente de fugir a ela. A decisão básica de aceitar a minha própria vida e obedecer às suas exigências pode desafiar a compreensão dessas exigências e minha honestidade em relação a elas! A pior tentação e à qual muitos monges cedo sucumbem na vida e pela qual são vencidos consiste simplesmente em DESISTIR de indagar e PROCURAR. Deixar tudo aos superiores nesta vida e a Deus na outra - uma esperança que, em realidade, pode nada mais ser que um desespero velado, uma recusa a viver. Ora, não é cristão desesperar do presente, adiando-se a esperança até o futuro. Existe também uma esperança muito essencial que pertence ao presente e está na proximidade do Deus oculto e do seu Espírito no presente. Qual é o futuro que pode ter algum sentido sem esta esperança PRESENTE? A RESIGNAÇÃO não basta! Deus exige de nós um consentimento criativo em nosso ser mais oculto e profundo. É o ser do qual não temos experiência diariamente, e talvez não a tenhamos nunca. Contudo ela está sempre aí. Esse CONSENTIMENTO CRIATIVO é a obediência de todo o meu ser à vontade de DEUS aqui e agora! A "palavra" interior de consentimento é a COINCIDENCIA, no Espírito, a IDENTIDADE de minha própria obediência À VONTADE de Cristo. Tal é a profundidade de nossa FILIAÇÃO e VIDA NA GRAÇA. Gradualmente aceitando nosso lugar no mundo e nossas tarefas, libertamo-nos das limitações de um ambiente restrito e sem calor, e vivemos contentes com o momento e com a tarefa obscura que nos cabe. Ser verdadeiramente católico é saber sobretudo penetrar nos problemas e nas alegrias de todos, sendo tudo para todos. O que supõe tenhamo-NOS aceitado completa e honestamente com nossos poblemas e fracassos. Em suma, com o CONSENTIMENTO criativo e a responsabilidade que nos une à vontade de Deus e assim ao dinamismo da história em sua própria fonte ("Reflexões de Um Espectador Culpado", Thomas Mérton, pp. 212).
domingo, 22 de fevereiro de 2015
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