quarta-feira, 22 de maio de 2013

ABRIR-SE   ATRAVÉS   DE    UMA    LUPA

Se alguém quiser me entender hoje, muna-se de uma lupa. Procurou-me, há pouco, amigo de décadas e numa abertura de espírito incomum comunicou-me três razões de neste dia desabafar. Primeiro, porque, depois de quase dois meses de angustiosa espera, o resultado do exame médico lhe foi comunicado  pelo filho: que se tranquilizasse; nada de mais grave, baixasse a temperatura, sossegasse a pressão. Deus louvado! Segundo, neste dia, há 56 anos perdia o irmão caçula, aos 26 anos, num desastre em Minas, fato de que tomara conhecimento cinco horas depois no Rio por um telefonema de Belo Horizonte, às cinco da manhã, numa confirmação do sonho que cinco horas antes, o acordara, despertado exatamente pelo irmão falecido que, entrando no quarto, se dirigira a seu leito, deixando-o a contemplar seu joven rosto. Terceiro, a roseira, colocada no túmulo de sua esposa pela babá de seus filhos e que, antes de secar-se sob o sol causticante carioca, levada da sepultura para seu apartamento, rejuvenescera, florira, mas, esquecida, perdera todas as folhas e agonizava, e hoje se apresentara vestida de sorridentes brotos promissores! E nada mais me disse ele. Nem carecia dizer. Numa voz embargada se, pela alegria da notícia recebida do filho quanto ao estado de sua saúde, se  pela saudade do irmão tão cedo partido,  se pela visão da roseira renascida do nada, a bem dizer-se, e não minto, não sei. Imagino, porém.  Contudo, participo hoje sobretudo  das confidências que não merecera receber e que apertaram ainda mais os laços de uma amizade há setenta anos brotada à sombra da Nossa Senhora Mãe dos Homens, na Serra do Caraça.  

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