sábado, 2 de abril de 2016

COISAS   DO   ZÉ-PÉRRY

Tratava-se de um vôo de reconhecimento sobre Arrás, a 700 metros. Três aviões de caça são encarregados de proteger o avião de Saintex. Tempo fechado, embaixo era a guerra. Havia o capitão Schneider, o capitão Pepe e um terceiro capitão. Logo seis Messerschmitt vêm em cima de nós. Os companheiros atacam e os atraem para que eu possa passar. Pepe e o terceiro são atingidos e mortos. Schneider fica sozinho, recebe todo o choque e salta de paraquedas de avião em chamas. Posso passar! Alguns clarões e volto. Schneider, depois de me ter salvado, quase cego, cambaleando do dor vai a pé de Arrás a Dunquerque. Prossegue, as mãos nos olhos, mas chega. Mais tarde soube disto. Eu pensava que ele estivesse morto para me salvar. "Imaginem que um dia, passando por Paris, fico sabendo que Schneider estava sendo atendido  no hospital americano de Neuilly. Corro para lá.  Sua mulher grita: "Você  não está morto?" E o marido,  roído de remorsos, recrimina:  "É por minha causa que Saint-Ex morreu; agi como um idiota! "Exupérry pára e ternamente: "Não é incrível? E entro. Ah! A alegria do companheiro! Eu lhe trazia o mais belo presente que ele  desejaria para aliviar sua alma e o corpo: "Eu lhe dava de presente o fato de estar vivo!" Exupérry pára e seu sorriso, mudo, tem toda a doçura daqueles que sabem o que os outros apenas suspeitam: a admitrável fraternidade do "grupo", dos homens do ar entre si. Ainda quer insisitir, abre-se agora: "Vocês compreendem: "Esse rapaz de cuja morte eu me culpava e que se culpara da minha! estávamos alegres, podem acreditar! E pensei: todos os livros grandes da França são assim. Transmitem  a impressão de que a civilização existe apesar de tudo!"("Escritos de Guerra", Exupérry).

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