terça-feira, 4 de janeiro de 2011

VELHO NÃO GOSTA DE CONSELHO

Narra o evangelista São Lucas (16.1a9) que um homem rico tinha um administrador de seus bens que foi um dia acusado de dissipá-los. Convocando-o, exigiu-lhe prestasse contas de sua função. Detestando o trabalho, com vergonha de mendigar, que fez o administrador para, perdendo o emprego, poder ser recebido nas casas de seus amigos? Reuniu os devedores de seu patrão e foi diminuindo a dívida de cada um. Sabedor do expediente inventado pelo espertinho, o patrão louvou-lhe a prudente atitude, concluindo que os filhos das trevas são mais prudentes que os filhos da luz. Mais inventivos, acrescento, conforme constatei no primeiro dia deste ano. Voltava eu tranquilo e feliz de uma visita ao cemitério São João Batista, meio-dia mais ou menos, caminhando pela rua Dona Mariana, duas quadras antes da São Clemente, quando vejo aproximar-se de mim, em sentido contrário, um rapaz moreno, de uns 2o anos, alto, de bermuda, e que ao passar por mim se detém e sem mais me avisa, apontando, que existe algo estranho na minha cabeça. Como sou agradecido aos amigos do além! Instintivamente liberto as mãos que trazia enlaçadas nas costas e sem nada dizer prossigo a caminhada, não sem, segundos depois, observar se o peregrino prosseguia seu destino. Logo passa por mim um senhor de uns trinta a quem peço me dizer o que há na minha cabeça. Sem me olhar, prossegue em frente, imitando exatamente meu procedimento de há pouco. Assustado, arrependido por ter desprezado o conselho de meu filho, lembrando o deserto das ruas do bairro em dias feriados, apertava os passos para afinal desvendar o misterioso objeto sobre minha cabeça. Podendo ter sido um presente de algum pássaro, não via o momento de em casa diante de uma torneira olhar-me no espelho. Investigando, tentando descobrir a intenção daquele gentil cidadão carioca, meu filho foi logo direto no óbvio. Pai, não se anda em dias como estes, fim e começo de ano, nas ruas desertas de Botafogo, sozinho, idoso como é, não se pode confiar, não, pai! Aquele cara queria saber se o senhor tinha relógio. Se levantasse o braço, dominava-o e adeus relógio, se o tivesse, e como o senhor não anda com ele, talvez o final da história fosse pior!

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