terça-feira, 25 de janeiro de 2011

DON CAMILLO E PEPPONI

A televisão mostrou ontem, dia 24/01/11, uma manifestação de moradores da cidade goiana de Descoberto, causada pelo aumento das passagens dos ônibus e pelo mau estado das rodovias. O comércio da cidade fechou, a polícia local foi reforçada, houve prisões e alguns feridos. A polícia confessou que houve excesso na repressão por parte de uns dois policiais que foram afastados para futuras investigações. O que.sobremodo, me chamou a atenção foi, no meio da população em correria sem destino, aos gritos, o aparecimento de uma batina preta - coisa rara em ruas de nossas cidades na atualidade - trajada por um sacerdote de meia idade, que desassombradamente, defensor zeloso e compenetrado de seu dever pastoral, de braços erguidos, apito na boca, conclamava o povo e se proteger no recinto da igreja paroquial, cuja porta principal foi imediatamente por ele aberta, enquanto de seus lábios e mais certamente de seu coração de autêntico representante de Cristo brotavam as seguintes palavras que traziam a minha mente episódios similares de perseguições da Igreja: " Como posso deixar meu povo sofrer deste jeito?" E a multidão logo atendeu ao chamado do pastor que de imediato me lembrou as figuras muito pitorescas de dois personagens, Don Camillo e seu rival Peppone , de romances escritos por Giovannino Guareschi, no final da segunda guerra mundial. Já antes, Guareschi se indispusera com Mussolini pelas críticas a seu movimento , tendo-lhe valido o ingresso forçado no exército e três anos de cadeia. Tendo com seus burlescos romances satirizado comunistas e democratas cristãos, muito contribuiu para a derrota do comunismo na eleição de 1948. Dom Camillo, pároco da aldeia de Reggio, e Pepponi, seu rival, prefeito comunista, eram os personagens bastante celebrados pelos milhares de leitores na Itália e no exterior. O moderador de seus embates violentos era o Cristo do altar da igreja local. O último diálogo violento entre os dois deu-se, creio, numa noite de natal, passada na casa paroquial de Reggio. Sentados junto de uma mesa, em misterioso silêncio, olhos fixos nas personagens do presépio, deram-se as mãos e a PAZ se fez. Parabéns ao sacerdote, que me despertou com o belo gesto a figura de Dom Camillo, pela atitude peregrina que suas ovelhas nunca hão de esquecer!

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