segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

TRISTÃO E GUIMARÃES ROSA

Em carta de 26/06/1964 à sua filha madre MARIA TERESA, Alceu Amoroso Lima (1893-1983) escreveu o seguinte: "A sessão de ontem trouxe para mim uma revelação - O GUIMARÃES ROSA como professor. Foi uma aula excelente sobre Coelho Neto. Julgava-o um sujeito caladão e chato. Foi uma aula - não um discurso - excelente mesmo, e confirmando a sentença de que, para falar, o que vale não é ser orador (ele não o é), mas, sim, conhecer bem o assunto. E está-se vendo que ele se movimenta em território coelho-netiano, com a facilidade de um peixe na água, não só porque tem lido todo o Coelho Neto para o discurso que vai ter de pronunciar quando for recebido na Academia (sucede a João Neves da Fontoura (1887-1962), político, advogado e jornalista que por sua vez sucedeu a Coelho Neto, mas ainda porque como romancista tem profunda afinidade com o Coelho Neto especialmente no amor da palavra, de que é um apaixonado, embora seu estilo seja totalmente diverso do outro. Foi realmente uma reabilitação do opositor do Graça Aranha em 1924, à luz de uma frase, entre outras: "Que pena que Coelho Neto não tenha sido modernista!" Foi uma frase de passagem, mas que disse bem a espécie de "reconciliação" a 40 anos de distância, que de certo modo também esteve latente no meu discurso. Os acadêmicos presentes,é engraçado, ainda conservam um inequívoco ressentimento contra o Graça. Até hoje! Mesmo não tendo estado presentes em 24! Senti bem isso pela efusão com que felicitaram o Guimarães Rosa. Não era apenas pela excelência da bela aula, e sim por sentirem o Coelho Neto, e portanto o espírito acadêmico que o Coelho Neto afinal representava. É engraçado. No fundo, só eu mesmo é que fiquei sempre antiacadêmico de coração..." Sabemos que JOÃO GUIMARÃES ROSA (1908-1967) que fora eleito para a Academia de Letras a 06/08/1963, só tomaria posse em 16/11/1967, falecendo três dias depois.

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