quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

A SEGUNDA MORTE DO LATIM

Deu na FOLHA DE SÃO PAULO de hoje, 12/01/11: "Agora o novo delegado-geral de São Paulo comete o desatino de matar uma língua morta ao proibir o latim nos boletins de ocorrência". Pena que não se mencionou a causa da proibição, o que me leva a imaginar uma porção de suposições. Aguardemos, contudo, demos tempo ao tempo, até que a coisa se esclareça. Enquanto esperamos, lembro que a bandeira do Estado de São Paulo, proposta em 16/07/1888 por Júlio Ribeiro, logo depois da abolição da escravatura, foi adotada como símbolo dos paulistas às vésperas do Movimento Constitucionalista de 1932. Durante o Estado Novo, obra de Getúlio Vargas, seu uso foi suspenso, uma vez que se suprimiram no país os símbolos nacionais. Com o retorno do estado de direito, a bandeira de São Paulo foi oficializada em 27/11/1946. Existe também a bandeira da capital de São Paulo que traz uma CRUZ deitada e o brasão da cidade. É branca, com a CRUZ de Cristo em vermelho e o brasão do município no centro. A CRUZ evoca a fundação da cidade. Foi instituída por Janio Quadros, em 06/03/1987. Janio, autor de uma gramática da língua pátria, determinou que nela figurasse uma frase em latim: "DUCO, NÃO DUCOR", o que quer dizer: "CONDUZO, NÃO SOU CONDUZIDO". É toda branca. A frase, dizem, teve a felicidade de demonstrar que a capital não apenas ocupa a posição central, mas também a liderança do Estado. Como ignoro a razão da suspensão do latim nos boletins de ocorrência, pensei com meus botões: está-se discutindo muito sobre o emprego de símbolos religiosos nos próprios públicos. Irão em breve atacar a CRUZ na bandeira do Estado de São Paulo e a frase grandiloquente do Janio na bandeira da Capital do Estado, escrita em LATIM? Lembrem-se de que 25 de janeiro vem aí! Data de fundação da capital do Estado e que traz - et pour cause - o nome nada mais nada menos do que o do Apóstolo das Gentes, SÃO PAULO APÓSTOLO. Se o Latim desaparecesse, com ele desapareceria a língua que tem como lindo lema dado por Piccinello em seu Mundo Simbólico: "PROMIT INTIMA CORDIS", a saber: " Expõe, declara, as coisas íntimas do coração". Esqueceu-se o que escreveu Camões nos Lusíadas, canto I, v.33: "...E na língua na qual, quando imagina, com pouca corrupção crê que é LATINA"?

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