sábado, 22 de janeiro de 2011

CANINÓPOLIS, 12/01/2061

Em 11/12 de janeiro de 2011, nas cidades de Teresópolis e Friburgo, Brasil, há 50 anos, as montanhas se derreteram e engoliram parcialmente as duas cidades. Chegou a mil o número de mortos e a mais de 200 o de desaparecidos. A populacão canina só não foi dizimada graças à fidelidade de seus donos. Um exemplar de nossa raça entre todos os demais se celebrizou pela complexidade das circunstâncias que envolveram sua vida nos três primeiros dias da catástrofe e que o farão para sempre lembrado nos anais de nossa história pátria. Chamavam-me de CARAMELO. Assustado depois de me salvar do dilúvio, vi a porta do cemitério dos humanos arrebentada, entrei e me deitei perto de uma sepultura recém utilizada. Olhos esbugalhados, alguém assim me fotografou. E logo correu a notícia: "Caramelo postou-se ao lado da sepultura de sua dona há dias, recusando alimentar-se. Vendo-me na televisão assim muito triste ao lado do corpo enterrado da pessoa que eu amava, uma pessoa do Rio de Janeiro dirigiu-se ao depósito dos cães na cidade maltratada pela natureza e me adotou. A contra-gosto, passei a dividir com ela os salões de belo apartamento. Um verdadeiro palácio! Tinha, porém, ouvido havia pouco, na televisão, de um ex-presidente da república, não sei se mineiro ou baiano, que mineiro não gosta de palácio. Como bisneto de pais daquelas montanhas, como tais definidas por José Simão na Folha de São Paulo como sendo um "monte de montanhas com um monte de gente dando adeus", compreendi que por esses acenos meus antepassados me aconselhavam dar o fora. Foi o que fiz. Verdade é que botaram minha fuga na mídia, interpretando-a mesmo como intenção de regressar para o lado de quem tudo fora para mim na vida. Em resumo, esta história, que correu mundo, foi a causa de terem querido até trocar o nome que me fora dado de CARAMELO pelo de HEROI, quando até então eu só ouvia chamarem-me de LEÃO. Verdade, sim, que passei três dias sobre os escombros da casa em que vivia. Donde só à força e com o uso de focinheira de lá me retiraram. Corri então para o cemitério onde me fotografaram, aparecendo na televisão. Mas logo voltei para os escombros, onde acompanhei o coveiro, entrevistado, declarar que LEÃO, e não CARAMELO, foi. é, por enquanto, e será sempre o SEU BICHO DE ESTIMAÇÃO!

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