terça-feira, 18 de janeiro de 2011

O QUINTO CÃO É O CARAMELO

O primeiro foi a FUSARCA! Ela morreu nos meus cinco ou seis anos. 1936 ou sete. Levantamos-lhe eu e meus irmãos Anésia e Luiz um túmulo florido que até hoje não sai de meus olhos. No fundo do quintal de nossa casa em Minas. O segundo foi o PRÍNCIPE, o circo levantou barraca poucos dias depois de tantas vezes sairmos na rua atrás do palhaço, pulando e dansando e gritando "Hoje tem marmelada, hoje tem goiabada - e nós respondendo "Tem sim senhor! - O Palhaço o que é? - É ladrão de mulher!!!" Mas o PRÍNCIPE não gostou de abandonar a molecada da cidade mineira. E foi esconder-se no sobrado de minha mãe. E dela se tornou filho em substituição dos seis rebentos homens que a esta altura procuravam serviço no mundo cão. E o circo partiu e o PRÍNCIPE ficou fazendo companhia a minha mãe viúva e cujos doze filhos tinham esvaziado a casa. Mas ai de quem ousasse sequer tocar na saia da sua nova protetora! A quem fiel se dedicou até morrer. Do terceiro já deitei comentários aqui. Um viralatas da cidade de Tiradentes que, um dia, aceitou um pão-de-queijo meu. E na praça, defronte da pousada, numa fria manhã, enquanto distraído eu palestrava com Léa Maria se pôs a roçar-me o sapato com a patinha e lambê-lo. O quarto foi o cão chamado Veludo! Descobri-o numa antologia usada no meu curso primário. Poesia sublime, emocionante, de Luiz Guimarães Junior: "História de um Cão". O dono afinal acertou como se desfazer do bicho asqueroso: de uma barca alugada, lançou-o no mar e foi à noite dormir intranquilo, porque notara que perdera nas águas uma preciosa relíquia de sua mãe. E assim termina a poesia: "Duas vidas tivera, duas vidas, Eu arrancara àquela besta morta E àquelas vis entranhas corrompidas. Nisto senti uivar à minha porta. Corri. Abri...era VELUDO! Arfava: Estendeu-se a meus pés - e docemente Deixou cair da boca que espumava A medalha suspensa da corrente! Fora crível, ó Deus? ajoelhado Junto do cão - estupefato, absorto, Palpei-lhe o corpo: estava enregelado; Sacudi-o, chamei-o! Estava morto!" O quinto é o CARAMELO. QUEM NO BRASIL HOJE NÃO GOSTARIA DE ADOTÁ-LO?

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