sexta-feira, 21 de junho de 2013

ANGÚSTIAS  DE  UM  RECÉM CONVERTIDO

No meu  borboleteio diante das cartas trocadas entre ALCEU e JACKSON, trago-lhes o que TRISTÃO deixou na carta de 24/05/1928, três meses antes de sua conversão ao catolicismo (15/08/1928). "Quando me ajoelho de manhã ou à noite, quando esqueço o mundo, então sim, sinto-me egoisticamente com Deus, sinto-me desprendido, talvez mesmo alegre. Mas quando volto ao contato com o mundo, perco toda a segurança.  Volto àqueles momentos secos, horrivelmente áridos de que te falava.  E à mesma sensação de entrar na mediocridade, que é das que mais me acabrunham. Sentimento de decadência. De banalidade.  De mediocridade.  E sobretudo de incapacidade. É como se tivesse terminado a minha hora. Sofrimento de vaidade, bem sei, mas nem por isso mesmo de sofrimento. É tão mais fácil não ser católico no Brasil! Tudo convida à indiferença, aqui,  a partir de minha incompetência em defender a causa da Igreja. E sobretudo duas coisas me surpreenderam, que me enchem de dor e de cinza o coração: a falta de felicidade de ter encontrado Deus e a falta de entusiasmo. Vou ser um católico mais seco do que fui um descrente. Sinto ressecadas as fontes do entusiasmo e da alegria, as duas colunas da FÉ, em nosso coração. Será que a minha cruz vai ser essa? E depois, não tenho também ainda  nenhum sentimento de orgulho. Ao contrário, e isso o digo a custo, pois é humilhante, sinto-me envergonhado de CRER. O abominável respeito humano.Montanha a arrancar de cima de meu coração. Começo apenas a sentir quanto eu estava corrompido de caráter pela longa indiferença religiosa.Há 3 dias o Durval de Moraes me mandava um bilhete dizendo no final: "Já sei da sua felicidade espiritual".  Tive vergonha de ler essa frase.  Não sei ainda o que seja felicidade espiritual. Sinto momentos fugitivoas  de contato com Deus.  Momentos longos de  pensamento em torno de Deus, e todo dia penso em tudo em função de Deus, de Cristo, da Igreja. Mas tudo isso sem felicidade alguma. Vai ser isso toda a minha vida de convertido?  Ou ainda não estarei convertido? Ou devo socrrer-me dos sacramentos para chegar mais perto de Deus?  Mas como comungar se o coração ainda não rompeu com o mundo?  E como, quando, até que ponto romper com o mundo? Em que mundo? O que é mundo e o que é supramundo?  E a minha incapacidade, a minha ignorância nas coisas da FÉ. "E a inveja sutil dos que não crêem!" Vejo toda Inteligência fora da Igreja. E entre os católicos brasileiros só vejo você, como homem superior,  como homem cujo gênio e cuja alma sinto realmente superiores.  Tudo mais, um deserto de mediocridade! E o terror de me contaminar ainda mais  nessa multidão de medíocres, de agravar a minha própria mediocridade.  Estou sentindo que vou perder o pequeno nome que conquistei à custa de afastamento. Creia que a minha angústia é essa vaidade idiota, mais nada.  Vou ser um católico morno, como todos. Vou deeixar de ser o homem imparcial cujo juízo era respeitado, porque não se misturava. Agora vou ser forçado a misturar-me. Tenho de mostrar o que sou de fato. E não é famoso o que sou. Estarei errado?  Eu vejo um milhão de homens que têm FÉ, sem me comover.  Mas o sorriso de um só descrente me deixa aniquilado. Como convencer, como converter um só homem?  Bem dizia Santo Agostinho  que converter uma alma era mais difícil do que ressuscitar um morto. Eu sinto em mim e sinto nos outros. Dialogo comigo mesmo, vejo o absurdo de tudo isso, olho para o exemplo desses  homens firmes, serenos,  alegres que crêem  com o espírito, como o nosso inevitável  Chesterton, e caio sobre mim, contra mim, e termino por um sentimento de que tenho horror nos outros: o tédio! Tenho horror aos homens que dizem estar entediados, quando há tudo a fazer na vida. Gosto de acompanhar os tediosos a varrer as sarjetas, pois há lixo demais nas sarjetas, emprega-te ao menos  nisso se não preferes meditar na quadratura  do círculo. Tudo problemas a resolver! Mas quem é dono do tédio quando ele chega? Quando vou a Petrópolis, tenho o costume de passar alguns minutos numa capelinha perdida entre árvores, sozinho, pois à tarde não há ninguém por lá,  e aí me sinto em paz, só aí! E tenho vontade de largar os meus artigos, de mergulhar no silêncio, de me interrogar integralmente, longo tempo, sem pensar em outra coisa.  Mas sei que o não farei. E que talvez não o deva fazer. E que sou tolo em perturbar sua alma, já tão dilacerada por essas angústias banais de quem sente que nunca há de matar o homem velho! Alceu".

Um comentário:

  1. Olá, procuro há muito tempo este livro, harmonia dos contrastes tomo II, eu tenho o tomo I, mas o II é realmente difícil de encontrar. Sou pesquisador da obra do dr Alceu, haveria alguma possibiliadde de o sr me ajudar me enviando uma cópia dessa obra, ou algo similar, como uma uma digitalizaçã? Ficaria feliz em pagar um preço justo.

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