segunda-feira, 29 de abril de 2013

universalistas  e   curialistas   no   vaticano  II

Tristão  de Athayde, comentando o Concílio Vaticano II, observa que duas correntes se revelaram entre os 2870 padres conciliares. Duas correntes não no sentido de partidos antagônicos de princípios, embora com respeito à mesma fidelidade democrática ao pluralismo partidário. O Vaticano II, visto como um parlamento espiritual, mesmo universal, numa unidade  de princípios substancial, foi palco daquela pluralidade de posições, psicológicas ou sociológicas, num reforço à unidade com o elemento insubstituível da liberdade. Nesse sentido, duas vertentes muito diferenciadas, claramente se manifestaram:  a da maioria absoluta, de sentido universalista ou ecumênico, e a da minoria, de sentido curialista. A primeira, por uma autonomia maior da unidade episcopal e portanto de uma sensível descentralização da autoridade e da administração eclesiástica. A outra, de sentido centralizador, defendendo a manutenção da autoridade da Cúria Romana sem qualquer atenuante. A primeira corrente, de caráter renovador. A segunda,  de caráter conservador. A primeira apontando para a variedade dos ambientes sociais em que crescentemente atua a missão apostólica da Igreja e a necessidade  de levar muito em conta as particularidades continentais, raciais, nacionais. A outra, a curialista, insistindo na necessidade de se manter de modo intransigente e intocável a fixidez e a imutabilidade da Igreja num mundo em estado de fluidez e de mudança. A vertente universalista, de caráter democrático. A curialista, de caráter aristocrático. Se a primeira acredita numa Igreja de todos e para todos, a segunda parece acreditar mais nas elites e nas minorias que nas massas e no povo.  Um dos pontos em que muito se manifestou essa dualidade de pensamento foi na questão do uso do latim. Para os curialistas mister se faz conservar o latim, língua oficial da Igreja, tanto nos ritos mais sagrados como em todas as cerimônias litúrgicas e ainda no ensino da Filosofia e da Teologia nos seminários. Para os ecumênicos essa intolerância latinocêntrica é que contribui em grande parte cada vez mais para o número crescente dos "irmãos separados", visto que o protestantismo e a ortodoxia há muito se valem das línguas nacionais. Ademais, impedindo o surto das filosofias cristãs e fechando o ensino escolásttico em fórmulas anacrônicas. Esquece-se que o latim, quando foi adotad como língua oficial da Igreja, era  uma língua viva, substituindo o grego e o aramaico, línguas primitivas da Igreja patrística, mas tornadas línguas mortas em face do latim. Como hoje ocorre com o latim em face das línguas vivas, muitas delas neolatinas. Esquece-se que os Evangelhos foram traduzidos, na chamada Vulgata, precisamente para permitir que o vulgo, o povo, tomasse parte mais direta na vida profunda do Crstianismo. Esses e outros argumentos tornaram a corrente dos latinistas intolerantes bastante minoritária no seio do próprio Vaticano II, mostrando, assim, que aqueles que queriam o latim, em tudo e a todo transe, estão perdendo o seu latim... como escreve Alceu Amoroso Lima,  terminando a secão O  LATIM, no livro que dedicou ao papa JOÃO  XXIII,  que há meio século providencialmente deu o chute inicial para a abertura do Concílio Vaticano II.

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