sexta-feira, 5 de abril de 2013

O DEUS DOS ATEUS

Na postagem anterior falei sobre GIOVANNI PAPINI.  Porque prometi a vocês o capítulo xxxii do livro dele "PAPINI  MEU ENCONTRO COM DEUS", três páginas de primorosa literatura que, para meu paladar,  me explicariam por que certas pessoas não se cansam de se dizerem ATEUS. Assim escreveu Giovanni Papini:  "Estou no meu  alpestre quarto de trabalho.  Por dois lados me cercam os livros; pelos outros dois, os montes.  Imagem de minha vida solitária e antiga,  passada entre as palavras dos mortos e o murmurar das plantas.  A noite se encaminha para apagar o mundo: cada dia diversa, cada dia mais bonita.  O cinzento ferruginoso dos crepúsculos do outono já ocupa as cadeias de montanhas  voltadas para o norte, mas no topo, que munificência de cinzas, de rosados, de cerúleos! Não fossem os golpes surdos do machado que tanto me fazem doer o coração (porque amanhã haverá uma árvore viva a menos),  não teria com que nutrir minha voraz melancolia. A muita gente o mundo parece feio.  Somos nós que somos feios. Somos nós que somos feios por dentro, às vezes,  e vemos nossa feiura triste refletida no mundo.  Um dia um ser com aparência de homem, mas que antes parecia um verme morto,  disse-me que ODIAVA  O  CAMPO.  Que é o mesmo que odiar a obra de Deus, porque somente as cidades são obra do homem - percebe-se!  Desconfiem daquele que odeia a solidão: significa que a sua companhia lhe é odiosa e que não sabe como encher a sua miserável vacuidade. Desconfiem daquele que não ama o campo:  quer dizer que tem medo de Deus. Tem medo de um testemunho, patente demais para ser facilmente refutado. Tem medo de ser obrigado a reconhecer Deus também em si mesmo, naquele silêncio dilatado e reverente que não permite fingimentos, subterfúgios, fugas.  Nos tumultos, nos barulhos, nas confusões das sociedades  amontoadas,  a hipocrisia para com nós mesmos e para com os outros nos concede, ano após ano,  alimentos e moratórias.  Mas querem vocês mentir ao céu, ao deserto, à noite? Experiente negar quando estiver sozinho, frente a frente com o universo. Ponha de lado as filosofias  do espírito  -   pobres sinais sem substância, sem conexão com o respiro da alma, com a riqueza infinita do ser  -  e experimente dizer bem alto, diante de uma peça qualquer da criação,   que Deus não existe, que esta maravilhosa máquina do universo não teve nem princípio nem autor e se rege  sem um   supremo patrão, por um milagre constante de   coincidências, de átomos, de mônadas, de espíritos.  Responde Deus:  você não procuraria matar-me se não soubesse  que sou vivo, o Deus dos viventes. Se Deus não existisse, você mesmo que O quer negar não existiria. Para negá-LO, você deve usar seu pensamento, pronunciar palavras: mas no primeiro ato do seu pensamento Deus já está presente, e logo que você pronunciou a primeira palavra ela contém , sem que você perceba,  a afirmação de Deus.  De Deus não se foge: se você O afirma, ama-O; se quiser suprimi-LO, reconhece-O.  Qualquer coisa que diga nada mais faz do que falar de Deus.  E de que se poderia falar se não de Deus?  Qualquer outra conversa é ininteligível, porque onde não se pressupõe o ser e a lei,  emitem-se sons sem sentido, e o ser e a lei não são pensáveis fora da Divindade"(termina na próxima postagem).

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