terça-feira, 12 de abril de 2011

VIA SACRA DE THOMAS MERTON

Era junho de 1940. Voltando de Cuba, THOMAS MERTON , 25 anos, soube em Nova Iorque que seu pedido para entrar no convento tinha sido aceito. "Por este tempo as divisões alemãs estavam invadindo e penetrando França adentro. No dia de seu desembarque em Nova Iorque, o exército alemão fizera sua primeira grande brecha entre as linhas francesas, tornando-se claro que a inexpugnabilidade da Linha Maginot era um mito. Em poucos dias as vigorosas divisões blindadas dos nazistas, sob a proteção da Luftwaff, retalharam o desmoralizado exército francês e apertaram a nação traída com suas tenazes de aço. Por essa época descobri um lugar onde podia ficar sentado numa tora ou numa sebe ao longo do caminho empedrado, olhando para as montanhas distantes, rezando o terço. Senti que fora chamado para o claustro. Escolhi os franciscanos por achar que poderia seguir sua regra sem dificuldades e porque era atraído pela vida de ensino e de escritor que ela poderia me proporcionar. Não ia ser assim, porém.O meu próprio gosto em selecionar um modo de vida não era de todo merecedor de confiança. Era uma noite fresca de verão. Senti que havia algo de profundo e aflitivo numas linhas do livro de Jó. Achava que apenas me comoviam como poesia. No entanto, também sentia que havia algo de pessoal nelas. Deus às vezes planta na Escritura palavras cheias de verídicas graças, e de repente significados encobertos se abrem em nossos corações, lendo com a mente em atitude de oração. No que lia havia uma espécie de aviso prévio duma acusação que me traziam realidades esquecidas: "Mesmo que eu fosse sincero, Ele provaria que sou perverso. E multiplicaria as minhas feridas mesmo sem causa". Fechei o livro. Certo dia percebi que toda a paz adquirida com os Franciscanos por mais de 6 meses havia sumido. Vi-me do lado de fora do convento, nu e sozinho. Tudo começou a desmoronar, sobretudo minha vocação monástica. Terei realmente essa vocação? Esquecera-me de todo que já havia sido pecador e que nenhuma das pessoas com quem conversara sobre minha vocação sabia o que eu tinha sido. Aceitaram-me porque eu era mais ou menos apresentável, parecia sincero, franco. Pareceu-me que uma pessoa em seu perfeito juízo não poderia ver em mim um material adequado ao sacerdócio. Parti pra Nova Iorque onde na casa dos capuchinhos procurei um amigo, o frei Edmundo. Pensou cuidar do caso, quando minha convicção era que resolveria o problema. A seu pedido, voltei no dia seguinte. E pus-me a rezar mais. Frei Edmundo entendeu que eu era um convertido recente, não havendo nem dois anos que me convertera. Viu que eu tinha levado uma vida irregular e que num noviciado com tal acúmulo de gente cumpria cuidar não sucedesse que alguns poucos, menos desejáveis, flutuassem na maré alta, arrastando os demais. Aconselhou-me escrever ao Provincial dos Franciscanos, despedindo-me. Fiquei calado, pendendo a cabeça e olhandp à minha volta as ruínas da minha vocação. Descendo os degraus do convento, atravessando a Seventh Avenue, enveredei-me na igreja dos capuchinhos. Pus-me na fila dos penitentes e chegando minha vez ajoelhei-me e vi no confessionário um frade magro e barbado. O confessor me pareceu não disposto a ouvir tolices de um espírito instável, emotivo e estúpido. Disse-me que eu não dava para a vida monacal, quanto mais para a do sacerdócio. Levantei-me sem conseguir deter as lágrimas que me escorriam pelos dedos, enquanto escondia o rosto. Diante de um crucifixo de pedra por cima do altar, só entendia uma coisa: deixar de vez de considerar que tinha vocação para o claustro".

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