sábado, 9 de abril de 2011

POLÍTICA EM JULGAMENTO

Tenho um amigo, cujo caminhar pelas montanhas alterosas acompanho desde alguns anos, que, julgando um belo dia ter-se encontrado de frente com a oportunidade de se engajar na política, não hesitou um instante. Mesmo sabendo que trabalharia de graça pois a ditadura proibira remunerar vereadores de municípios com um número de eleitores inferior a determinado teto - e era o caso dele - topou a parada. Como professor e morando com a genitora aposentada, não morreria de fome. Com os votos de amigos, obteve o quorum suficiente para ser o nono vereador eleito. A cidade tinha direito a nove. Moral da história: o amigo, dois anos ali passados, perdeu a ilusão, muito tempo alimentada, de, como político, dedicar-se ao bem da sociedade. A meio caminho do mandato, porém, "foi procurar outro mar". Dezoito anos passados, Tristão de Athayde, vislumbrando o nascimento do partido dos trabalhadores, dedicou-lhe dois artigos no Jornal do Brasil. E meu amigo de novo se empolgou. No fundo do poço faiscaram-lhe luzentes pintas de dormida ilusão. E votou no candidato desse partido para presidente da república por algumas vezes, menos na última. Tinha-se-lhe esgotado para sempre o cabedal de ilusão, à vista do "mensalão" e quejandos. Estando eu no momento empolgado com a leitura da filósofa francesa Simone Weil ( 1909-1943), enviei ao meu amigo o seguinte trecho do livro "OPRESSÃO E LIBERDADE" para sua meditaçào: "...De tal situação resulta para todo homem amante do bem público uma ruptura cruel e irremediável. PARTICIPAR, mesmo de longe, do JOGO DE FORÇAS que movem a história não é possível sem se sujar ou sem se condenar de antemão à derrota. Refugiar-se na INDIFERENÇA ou NUMA TORRE DE MARFIM também não é possível sem muita INCONSCIÊNCIA. A fórmula do "MAL MENOR", tão desacreditada pelo uso contínuo que dela fazem os social-democratas, permanece então a única aplicável, com a condição de que seja aplicada com a MAIS FRIA LUCIDEZ...As lutas entre concidadãos não resultam de uma FALTA DE COMPREENSÃO ou de boa vontade; elas têm a ver com a natureza das coisas, e não podem ser apaziguadas, MAS APENAS ABAFADAS PELO CONSTRANGIMENTO. Para qualquer um que ame a liberdade não é desejável que aquelas desapareçam, mas somente que permaneçam aquém de um certo limite de violência".

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