domingo, 3 de abril de 2011

SOLIDARIEDADE

"O mineiro só é solidário no câncer" ! Ainda bem que é mineiro o autor da afirmação. Atribui-se o dito e escrito a Oto Lara Resende, filho do fundador do Colégio Padre Machado, transferido de São João Del Rei para Belo Horizonte. Que com Paulo Mendes Campos, Fernando Sabino e Hélio Pelegrino, além de outros muitos mais, tanto elevou a elegância e o amor das letras oriundas das sístoles e diástoles do "coração de ouro no peito de ferro" (Gorceix) = Minas Gerais. Solidariedade, um vocábulo capaz de aceitar uma multiplicidade de significados. Se existisse uma "venda" de palavras, para qualificação de idéias ou expressões ou movimentos encerrando determinada iniciativa humana, aí está uma que nunca rejeitará ser convocada: solidariedade. Que sempre se encontraria numa loja "Multi-Uso". Lembro-me bem de que, após a segunda guerra mundial, levantando a cabeça o movimento comunista numa arregimentação dos operários, aqui como no mundo todo, a Igreja logo apelou para a ideia do Solidarismo Cristão. Fala-se em doutrina social e moral, baseada na solidariedade. Em teoria política, solidariedade designaria uma coexistência democrática. O que, porém, me traz aqui e agora a palavra solidariedade é o comentário de Luiz Felipe Pondé na Folha de S.Paulo de ontem. Escreveu ele: "Se o mineiro só é solidário no câncer, é porque sua solidariedade não passa de um gozo secreto pela miséria do "amigo" doente. Se a única solidariedade possível é essa, então não há solidariedade de fato, logo, não há esperança para o mundo". Este modo de interpretar a frase otolariana me despertou o desejo de saber de outros o que quis Oto Lara expressar com o célebre dito. Procurava eu sempre o sentido real dele sem jamais ficar satisfeito. Agora tudo se me tornou mais complicado. Quando minha sobrinha dentista me afirmou que em minha terra natal "só há há solidariedade no velório", entendi perfeitamente. Lá, de fato, em velórios desaparecem os partidos políticos, as desigualdades sociais, constituindo eles acontecimentos sociais conhecidamente sem convites. E as noites são prazerosas, quase uma como que celebração natalícia. Embora cristãmente falando, de fato o sejam, pois para um membro do Povo de Deus o "dies natalis", o verdadeiro dia do nascimento de um cristão é o dia da sua morte: "a vida começa com a morte", como gravado está na lousa que recobre o túmulo de meu genitor, no único cemitério local, conhecido antigamente e ecologicamente pelo nome das sentinelas que o guardavam: "Os quatro coqueiros", o qual a cidade julgou não carecer mais de substitutos.

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