sexta-feira, 21 de outubro de 2011

PASCAL e BOSSUET = CONTRASTES NO ESTILO

"Conversando com um jornalista, afirmei que PASCAL (1623-1662) foi o maior dos autores franceses. Eu já afirmara isto quando era moço ainda. Longe de um elogio imaturo, acho que Pascal tem direito ao título. Foi ele que fixou a Língua Francesa num momento da História em que ela corria o risco de desvirtuar-se por superabundância e falta de rigor. A língua de BOSSUET era como um muro indestrutível, mas tratava-se de uma língua de orador, ao passo que a de PASCAL era perfeitamente empregada no uso corrente. Linguagem leve, sem arcaísmos, sempre atual. De uma resplandecente clareza, ela é capaz de apresentar uma frase longa, de página inteira até, sem que se perca o fio, ao passo que em Prroust (1871-1922) um período mais longo nos embaraça. Atualmente o emprego da língua francesa se deteriora. O mesmo fenômeno de usura ocorre em outros países (Inglaterra, Alemanha), fenômeno de usura, não de usura da língua, mas usura da mentalidade nacional.
No começo do século XVII houve um começo de purificação da língua entre os romancistas de 1630, mas ficou apenas numa tentativa. Julgo hoje que PASCAL deve ter sido leitor de CALVINO (1509-1564) cuja língua transparente e um tanto rígida nos leva a considerar o autor da "INSTITUIÇÃO CRISTÃ", uma das mais notáveis obras da antiga literatura francesa, o primeiro escritor do século XVII.
Em PASCAL quase não se lê um arcaísmo. Seja qual for o Francês de educação normal, comum, mesmo do curso fundamental, lê-se PASCAL de uma ponta a outra sem qualquer dificuldade. O sentido é translúcido, o vocabulário usual. RABELAIS (1494-1553) por vezes bastante confuso. PASCAL empobreceu a língua para lhe dar a admirável clareza. Sem dúvida falta-lhe a cor. Para o colorido, busque-se SAINT-SIMON (1675-1755).
Interessantes as observações de JULIEN GREEN (1900/1998) no dia 04/08/1993, no seu "POURQUOI SUIS-JE MOI", JOURNAL 1993-1996.

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