segunda-feira, 12 de setembro de 2011

TANTA COISA E NADA

Sob este título, CONY, na FOLHA de hoje, recorda coisas da infância esquecidas. O estilo, envolvente, tanto me contagia que, pássaro à vista do gato sedutor, deixo-me arrastar na mesma trilha saudosa do articulista. Vejo-me, por exemplo, com medo também, diante da máquina de que fale CONY e que era um ancestral do rolo compressor, passando lento, barulhento, em cima dos cascalhos da estrada de terra, alisando com o peso do imenso rolo de aço e fixando os pedregulho no leito da rodovia São Paulo-Belo Horizonte. Era a década de 30 do século XX. Se tal máquina apitava, ouço-lhe o som de silvos agudos, vomitando negra fumaça cheirando a querosene. Um bicho doutro mundo, uma espécie de mula sem cabeça, visitando de tempos em tempos a rua que leva aos Quatro Coqueiros, alcunha protetora, guarda-chuva e guarda-sol, dos sonhos dos que dormiam no Campo Santo de minha terra. A COMPRESSORA! como bem lhe calhava esse nome! tão próprio para indicar sua função de quebrar a rotina modorrenta de nosso dia-a-dia infantil! Só muito mais tarde, estudando latim no Caraça, liguei o nome COMPRESSORA à máquina que roncava e mexia com a imaginação infantil de antanho. E a gente mirim estaticamente degustava a novidade! Presença, porém, mais frequente, pois naquele tempo a chuva, parece, corria paralela ao ano, era a derrapagem do Ford-29 do vigário de Dom Silvério no mesmo trecho da estrada caindo na vala lateral. A notícia corria logo as duas ruas, de Baixo e de Cima, reunindo a prudente distância uma patota de moleques. O carro saía, sim, do atoleiro, mas a torcida só se satisfazia, depois de tentativas coroadas de vitória. O padre, um alemão alto e forte, forte mas magro, empoleirava-se em pé, no estribo do lado do carro com as rodas na estrada e, agarrando-se na porta fechada depois de ordenar ao motorista que ligasse a primeirona, punha-se a saltar no estribo com movimentos tais que aos pulos o automóvel fosse saindo aos poucos do atoleiro. Quando saía! Mas só no momento exitoso a galera vibrava! apupar, assobiar, vaiar, criança não sabe, apreenderá depois com os marmanjões. Esse espetáculo, o vigário de chapéu eclesiásticp e batina preta, saltando, pulando e suando, você, nem CONY, nunca viu nem verá, era ciência da roça, o progresso extinguiu. "Deo gratias"!

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