segunda-feira, 26 de setembro de 2011

27/09/2011 = 70 ANOS DE PROCURA DO CARAÇA

27/09/2011: dia de São Cosme e São Damião e também aniversário da morte de SÃO VICENTE DE PAULO (1581/1660) comemoro os 70 anos do afastamento meu do lar de meus pais e de meus 11 irmãos, para procurar o caminho que me levou ao Colégio do Caraça. Um período de tempo expresso numa data, o bastante redonda ou significativa para merecer uma comemoração à altura! E que ontem eu sentia necessidade de celebrar a data de maneira diferente dos outros anos. Tentando desde alguns dias entender o gesto do garoto de 12 anos que atirara na professora e se matara, no Rio, recorri a dois livros que me acompanham há mais de 50 anos: "IDADE, SEXO E TEMPO", de Tristão de Athayde, e "A CRISE DO ADOLESCENTE", pelo mesmo Tristão, Alvaro Negromonte, A.Piquet Carneiro, Mon. Hélder Câmara e Joubert Barbosa. Encontrado o que procurava, acendidas as 70 velas, é só comemorar! Sete horas, 27/09/11. Ontem, 26, conversando com minha médica, Dra. Sheerlene, minha ex-aluna de direito, só me faltava babar, ao descrever a alegria de minha neta de ano e meio, a Giovanna, que na véspera fora daminha de honra num casamento. E ao dizer que a garotinha radiava de vaidade ao elogiá-la e dar-lhe os parabéns, a doutora deu de pronto a lição preciosa: "Qual nada! Longe isto dela! Ela simplesmente exercia seu papel de criança". Absorvida a resposta, foi aí que vislumbrei o tema da histórica comemoração do dia: 70 anos da separação de minha família, isto é, de inopino veio-me à mente aquele ponto misterioso, invisível, que anos e anos foi-me trabalhando até desviar-me do caminho então iniciado! Naqueles dias, há 7o anos, entre o fim da infância e boa entrada na adolescência, 12 anos de idade, eu só via e vivia o presente e seus entornos imediatos. Incapaz de sofrer a ausência, o vácuo deixado na família, o futuro que ia me acolher, misterioso, eu nadava usufruindo as novidades, tal e qual a minha netinha, dama de honra no casamento, sem atentar para o que se passava; uma canastra que ia recebendo o enxoval: duas batinas, uma de algodão, outra de merinó, sabonetes, pastas de dente, cuecas, que novidade! um boné, meias novinhas, fronhas por mim bordadas, meus objetos de igreja: manual dos Congregados Marianos, fita azul, um copo de baquelite, ganho num sorteio de palavras cruzadas, etc. Mas, já no terreno pisado da adolescência, 12 anos, "quando tudo o que então se vive deixa marca e fica definitivamente gravado em nosso caráter, idade em que predomina o temperamento, como na mocidade as paixões, na maturidade a inteligência, na velhice a evocação e na infância os instintos" ("Idade, Sexo e Tempo", Tristão de Athayde), um primeiro espinho brotara dias alguns antes: o Sô Passos, que me conseguira no Caraça estudo de graça, observara: "lá você terá o Padre Cruz, superior, que fica por trás das portas observando os alunos!" E um pouquinho antes de deixar a casa, brotando-me afinal a saudade, um segundo espinho ouvi de minha irmã mais velha: "Lulu, não seja bobo, diga à mãe que não quer ir! Está em tempo ainda "! Sem conhecimento algum de psicologia, a adolescência me dava sinal de vida! Era seguir em frente, partir, outro meio não havia. E fui. E passei um dia, 28/09, em Belô, na casa de uma tia, sem falar, sem comer, tímido, em meio de primos de cidade grande, efusivos, esperei o dia 29/09/1941 e sua madrugada escura para tomar o trem às 4 da matina e demandar, sob apitos melancólicos envoltos em fumo preto cheirando a carvão, a bitola estreita da Vitória-Minas que me deixaria em Santa Bárbara, donde de caminhão, sob chuva forte, aportaria à noite no Caraça, a mil e quatrocentos metros de altitude. E assim comemoro hoje os 70 anos , desde que um ponto final interrompeu minha infância ao lado dos pais e irmãos, ficando para trás a terra em que nasci e onde nunca mais residi.

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