quinta-feira, 29 de setembro de 2011

29/09/1941: O MAIS LONGO DIA DO ANO

Acreditem ou não, revelo um segredo jamais confessado. Um DIA ocorreu-me, e lá se vão 70 anos, que foi o dia mais longo de minha vida. Novidade? Não! E Josué falou diante dos filhos de Israel: "Sol, não te movas de sobre Gabaão, e tu lua, de sobre o vale de Ajalão". E o sol e a lua pararam. Não houve, nem antes nem depois, um dia tão longo" ("Livro de Josué", (XI, 11-15). O dia mais longo que vivi começou às 10h da manhã de 27/09/1941 e terminou às 19 h do dia 29/09/1941, ao ser recebido no Colégio do Caraça. Distinguiu-se o meu dia do outro, narrado pela Bíblia, pelo volume dos fatos no curso dele ocorridos: AFASTAMENTO do lar paterno de uma criança no final da infância e no início da adolescência; VIAGENS EXECUTADAS: uma primeira, interrompida pela PERMANÊNCIA DE UM DIA, em BEAGÁ, na casa de tios e primos só então conhecidos; outra e última viagem com final de chegada ao destino buscado: CARAÇA. Longo dia pelas emoções despertadas no filho, nos pais e irmãos cada vez mais distanciados. Longo ademais pela misteriosa natureza de um colégio oculto nos flancos de altíssimas montanhas. Longo dia pela lentidão dos passos do tempo em meio a um ócio indesejado. Longo dia pro filho, embora não tanto, pois a vida da criança mais se assemelha ao vegetal e ao animal, passivamente aceitando o que se lhe oferece. Longo dia, sim, e só quem é mãe ou é pai o enfrenta, quando se lhes solta da guarda e dos olhos e das mãos um primeiro filho - e mais dorido se for único - que busca outro mar para viver. Esse dia mais longo foi aquele vivido por Maria Santíssima quando Cristo, depois de crucificado e morto, deixou de dar notícias por três dias incompletos: parte da sexta-feira santa, todo o dia de sábado e parte do domingo da ressurreição. E com a agravante, no caso de filho que parte definitivamente: tanto mais longo será o dia quanto mais durar a ausência! A presença de um leito vazio, de um lugar de menos à mesa, o som de uma voz que se deixou de ouvir, a constante ilusória visão de um rosto sabidamente longinquo, vez ou outra vislumbrado, ou sonhado, o só sentimento da presença de uma ausência, sem perspectiva do momento de um regresso, isso, e tudo o mais que a maternidade e a paternidade engendram, só a força do coração de uma mãe, de um pai, para medir as dores de uma separação, sobretudo tratando-se de uma criança que mal começa a desabrochar para a vida. É pensando e vivendo as angústias do coração num tão longo dia que , vez outra, sobretudo nos primeiros meses de meu distanciamento de casa, e mais aguçadamente quando recebia uma carta de um dos pais, costumava, de repente, no silêncio da preparação de uma aula, ouvir a voz de minha mãe a me chamar, despertando-me a saudade: "Lulu, vem varrer o terreiro! Lulu, vai catar graveto pra acender o fogo!" Quanto deve ser por Deus recompensado o sacrifício de um pai, de uma mãe, em favor de um filho ou filhos à procura no mundo de um espaço onde construir seu futuro!

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