sexta-feira, 4 de novembro de 2011

RUBEM ALVES E JULIEN GREEN E GIDE

A "DESPEDIDA", crônica com que RUBEM ALVES, no dia 01/11/11, parou de escrever na FOLHA DE SÃO PAULO, lembrou-me o que JULIAN GREEN deixou no dia 10/07/1935 em seu "JOURNAL 1935-1939". "Visitando GIDE (ANDRÉ GIDE 1869-1951), ele me disse que o que mais o impressionava em meus livros é que meu lápis nunca deixa o papel, que o impulso é contínuo até o final e que, se algum dia, tivesse que escrever algo sobre mim, SOBRE ISSO é que ele insistiria. Disse-me que o que é verdadeiro em meus romances é verdadeiro, a despeito do desacordo sensível com a realidade cotidiana. Confessou-me que me encontro numa encruzilhada, que minha verdadeura carreira começará quando meu público me abandonar, quando se descobrir que meus livros se assemelham realmente pouco aos modelos naturalistas que o público exige. "O público, diz ele, quer romances que se assemelhem aos romances que ele conhece". Ele acrescenta que não será preciso forçar, chegado o momento, mas deixar-ME levar pela inspiração, pelo meu verdadeiro temperamento de romancista de fantasia. E A ESSA ALTURA, ele volta sobre si mesmo e diz que no fundo ele não havia encontrado o seu verdadeiro público. "Que escritor encontra seu verdadeiro público?" pergunto então. "O que? quase todos! Vede Bourget! ( Charles-Joseph-Paul /1852-1935). "Falemos de grandes escritores. Dickens (1812-1870) não agradou a muitos leitores aos quais ele não teria devido agradar? Seu verdadeiro público se recruta ENTÃO". Gide então dá o braço a torcer e me fala de livros que ele teria podido escrever e que lamenta não ter escrito. "Se os escritores do século XVII tivessem podido prever que seriam ainda lidos trezentos anos mais tarde, teriam escrito de outra forma. Imaginemo-los voltando à terra e dizendo: "Se tivéssemos sabido!..." Sente-se que teriam podido fazer melhor e não se atreveram". Pergunto a Gide o que teriam sido esses livros que ele não escreveu. "Oh! respondeu com ar pensativo, livros de imaginação, romances..." Diz-me que chegará o dia em que abandonarei minha posição de escritor irrealista e que tomarei partido, pensando por certo nos grandes conflitos políticos que virão dividir o país em esquerda e direita, quando serei forçado a escolher. Pergunto-lhe se, depois de convertido ao comunismo, se sente livre. "Não", responde, citando Barres (Auguste-Maurice / 1862-1923) que, interpelado sobre o que lhe parecia mais penoso na vida de parlamentar, respondeu: "Votar com meu partido!"

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